21 de junho de 2014

Televecinos na Copa de 70




Televecinos na Copa de 70



Jorge luiz Neves Passos (*)
A Copa de 1970 foi a primeira a ser televisionada para o mundo inteiro. E Jaguarão fazia pouco tempo que estava incluída nesse “mundo inteiro”. Parece que foi na Radio Luz que vendeu-se o primeiro aparelho “Admiral”, uns dois anos antes. Mas o sinal era precário. Conta-se que o comprador ligava indignado ao balconista quando tentava olhar sem sucesso a então mais falada novela “Véu de Noiva”, com o galã Cláudio Marzo e a novíssima atriz Regina Duarte, que viria a ser depois a namoradinha do Brasil e, mais recentemente, a que fez fiasco com medo do Lula em 2002. Dizia o nosso infeliz primeiro televidente de Jaguarão: “Tchê, esse troço que tu me vendeu não dá! Quando tem voz , não tem semblante! E quando tem semblante, não tem voz!”


Nós morávamos no Rio Branco, meu pai ainda não tinha comprado TV. “Quando as coisas melhorarem”, dizia ele. E ia nos cozinhando. Nós torcendo pra se vender mais cobertor Aurora, mais poncho de lana, mais blusões Burma, mais chocolates Águila. Mas por mais que se vendesse, não sobrava grana pra investir na nossa TV tão sonhada. E vinha chegando a Copa. Para nossa alegria, vimos desembarcando na nossa vecina, Doña Mercedes, uma flamante Philco, 20 polegadas. Preto e Branco, que cores não tinha mesmo. Quando queria dar-se um colorido na imagem, apelava-se para um papel celofane em três tons: verde, azul e vermelho. Era uma belleza!


Não lembro ao certo se foi a Doña Mercedes que nos convidou ou se foi nós mesmos que sutilmente sugerimos que ela nos convidasse para assistirmos à estreia do Brasil na Copa do México contra a fortíssima seleção da Tchecoslováquia, numa quarta-feira à noite. Como fica na memória tanto tempo depois! Eu tinha 12 anos e minha irmã, companheira de futebol, e que nas peladas no campinho dos Cardoso quebrava o galho jogando de goleira, tinha 10. Pois bem, depois de um inicio apavorante, quando saímos perdendo, viramos o jogo e ganhamos por 3 a 1, com espetacular atuação daquele que seria chamado o “Furacão da Copa”, Jairzinho.


E a Celeste também tinha um timaço. E chegou o dia fatídico da semifinal em que nos tocou enfrentar o Uruguay. E agora, desde este longínquo 2014, elogio o espírito esportivo da Doña Mercedes. Nos acolheu para ver o jogo. A condição era ficarmos quietos e torcer pro Brasil de maneira discreta. Nos pareceu justo. Na janela, a bandeira Azul e Branca. No campo, a Celeste melhor. Saiu ganhando com gol do atacante Cubillas. A coisa tava feia, quando o Clodoaldo empatou. Apertei a mão da minha irmã e vibramos por dentro. Doña Mercedes já nos olhava de cara feia, quando a Canarinho fez o segundo com Jairzinho e depois selou o resultado com uma bomba do Rivelino vencendo o goleiraço Ladislau Mazurkiewicz. Estávamos na Final!


“Bueno miijos, por acá se acabó la farra”, sentenciou com uma certa animosidade, Doña Mercedes. Respeitando a dor da nossa televizinha e também para participar da festa, fomos ver o jogo contra a Itália em Jaguarão. Não lembro como, me vi com mais de vinte pessoas na Casa do seu Erni Pólvora, onde hoje é a Loteria Federal, na 27. Depois, o que me lembro é do povo todo na rua fazendo algazarra. Encostado na Casa Ao Paraguaio, atual Confeitaria São José, via a multidão quando uma bombinha estourou ao meu lado me deixando atordoado. Mas valeu a emoção! Causos de Copa!
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(*) Texto publicado na Coluna Gente Fronteiriça, do Jornal Fronteira Meridional, com a parceria dos manos Elizabeth Maria Neves Passos e Luiz Fernando.


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