26 de junho de 2014

As copas que eu ouvi e vi



Última etapa da copa de 70, em um carnê da época

As copas que eu ouvi e vi

Willy Cesar (*)

Eu não tenho um time do coração, não tenho um clube para acompanhar, alegrar-me ou sofrer com suas campanhas. Porém, isto acontece de quatro em quatro anos, desde 1966. A Seleção Brasileira de Futebol passa a ser este “time do coração” e com ele, vêm as alegrias e tristezas.

Nascido em dezembro de 1956, não tinha noção do que era Copa do Mundo até que, em 1966, aos nove anos, vi-me atento ao rádio da família, um legítimo PYE modelo 1952, caixa de madeira e valvulado. Ouvíamos o Pedro Carneiro Pereira falar da Inglaterra, com o Lauro Quadros, Ruy Osterman e outros pela então jovem Rádio Guaíba, de Porto Alegre.

O velho PYE, modelo 1952, da família Ferreira
 
Foi indescritível ouvir os gols do Brasil frente à Bulgária, nossa única vitória naquele mundial, mas foi dramático ouvir o Pedro narrar os gols de Portugal e Hungria contra nós. Lembro das lágrimas de minha mãe Ada e aí compreendi que o futebol é alegria e tristeza, tudo ao mesmo tempo. Voltou a nossa seleção com Pelé derrotado para casa e a Copa continuou até a vitória da Inglaterra. Alguns meses depois, vi na tela do cinema Glória, em Rio Grande, algumas cenas daqueles jogos. Era o que havia em 1966.

Com o interesse já despertado antes pela comunicação (eu já sabia desde menino que iria trabalhar com isso na vida profissional), acompanhei com interesse o avanço da tecnologia que nos colocaria Pelé, Tostão, Rivelino e os outros na nossa sala de casa. A Copa do Mundo no México 1970 seria transmitida pela TV, ainda que em preto & branco, mas ao vivo. Uáu!

A escalação da equipe Canarinho, todo mundo sabia de cor. Quando começaram a jogar, foi uma vitória atrás da outra até Carlos Alberto, o capitão, levantou a Jules Rimet em sinal de vitória. Naqueles cerca de 30 dias do inverno sulino, o Brasil era todo sorrisos. Mas tinha ranger de dentes com gente presa nos porões da ditadura e tal, incluindo a Dilma Roussef e outros que, à época, ninguém sabia seus nomes.

Se o Brasil havia conquistado 1958 e 1962, poderia conquistar 1970 e 1974, em vitória de dobradinha, novamente. Engano. A Copa da Alemanha, em 1974, foi uma derrota para os brasileiros. Lembro do técnico Zagalo dizendo na TV ao Armando Nogueira que “o Brasil caiu, mas caímos de pé!”.

Uma Copa atrás da outra e nada do Brasil passar às finais. Até que vieram as conquistas do Tetra, em 1994, e do Penta, em 2002. As emoções da segunda Copa no Brasil ainda estamos vivendo. Apontar o campeão é difícil, mas continuamos torcendo como sempre! Vai lá Brasil!

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(*) Willy Cesar, jornalista e escritor, Rio Grande/RS, publicou, entre outros títulos, O Centenário do Colégio Lemos Júnior, Um século de futebol popular - a história do Sport Club São Paulo, e a biografia de Francisco Martins Bastos, fundador das Empresas Petróleo Ipiranga, Chico Bastos, o Pescador.
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