"Terminei o exército em 1967, com honra ao mérito. Meu desejo era partir em busca de um futuro melhor. Bagé nessa época pouco oferecia em termos de Faculdades (Ciências e Letras, Filosofia e mais uma – não lembro) e empregos? O nível de vagas em qualquer área era baixo.
Quem podia ficar na cidade que estava em decadência nos anos 60? Os fazendeiros de raízes centenárias, os pecuaristas de sucesso, os agricultores bem estabelecidos, os comerciantes turcos (no bom sentido, a maioria libaneses), era onde brotava o dinheiro. Mesmo assim, seus descendentes partiam para os estudos em (Pelotas, Santa Maria, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e alguns para Estados Unidos e Europa). Os bageenses da classe média trabalhavam na Rede Pública Federal, Estadual e Municipal. E os bancários ainda ganhavam bem. Os outros tinham obrigatoriamente que partir em busca de um mercado de trabalho melhor, para poder estudar numa universidade. Assim que fui liberado pelo exército, comprei minha passagem pela empresa "Ouro e Prata", com destino a Porto Alegre. Dia 17 de dezembro de 1967, às seis horas da manhã, ainda escuro, as luzes da cidade davam a claridade para os passantes, lá estava eu na antiga rodoviária. O ônibus foi passando pelas ruas e casas tão conhecidas por mim (quando adolescente, trabalhei de cobrador e desbravei Bagé por todos os cantos e becos), então começou o aperto no coração. E para minha alegria ou tristeza, o ônibus seguia pela Rua General Osório, atravessando a Rua Félix da Cunha onde ficava a minha casa. Olhei e lá estavam minhas irmãs e minha mãe, chorando me abanaram. Logo adiante os fundos do Colégio Estadual (hoje é a entrada). Com lágrimas nos olhos fui lembrando de tudo que passei na minha cidade e sabia que não mais voltaria morar na minha querida Bagé. A foto mostra um jovem e tímido soldado, jeito assustado, meio moleque, de poucas palavras, mas com coragem para enfrentar a estrada, encarrar outra cidade e conviver com outras pessoas. Aqui estou em São Paulo com 61 anos e muita saudade do Estadual e de Bagé.
A explosão do meu coração
é uma aclamação da minha Alma
'Por Bagé' "
Enviado pelo colega
Manoel Ianzer
.
13 comentários:
Infelizmente, se quiséssemos dar asas as nossas petenssões e sonhos, tínhamos que sair da nossa terra natal e nos aventurarmos no desconhecido. Muita gente não sabe o que é deixar uma estrutura familiar para traz, todavia, nós fazemos parte desse pequeno e seleto time que viveu essa aventura, quando ainda éramos pouco mais que meninos, de tomarmos o nosso futuro pela frente e encaminha-lo da maneira que fizemos, limpo, honesto e corajosamente, tal façanha deixa-nos muito orgulhamo hoje, e ainda temos o prazer de compartilhamos aqui nossas passagens.
Caro Ianzer parece-me que todos nós somos cumplices nessas lágrimas, na loucura de as vezes, sequer, ter uma pessoa da familia para nos ouvir, na dor da solidão, porém, tudo isso forjou nosso carácter e nos temperou como o mais puro aço.
Amigo Gerson, você falou com muita clareza a nossa realidade dos anos 60.
O seu livro segue a próxima semana. Abraço
BAGÉ
MUITO ALÉM DO MINUANO
MUITO ALÉM DOS RODEIOS
MUITO ALÉM DOS PAMPAS
MUITO ALÉM DA SAUDADE
O VENTO LEVOU PARA FRENTE
E RAPIDAMENTE
"O TEMPO"
NEM POR ISSO DEIXEI DE AMÁ-LA
A outra faculdade daquela época era Ciências Econômicas.
Olmiro complementou, então em 1967 Bagé só tinha 3 Faculdades:
Ciências e Letras, Filosofia e Ciências Econômicas.
Hoje Bagé possui 03 UNIVERSIDADES:
Urcamp - Universidade Particular
Urgs - Universidade do Estado
Unipampa - Universidade Federal
Estou certo?
Abraços a todos
Um belo texto, sem dúvida nenhuma páginas de uma vida. Que lindo soldado. Abraços
TUA FOTO...UMA CARINHA DE MENINO...SABES, AMIGO, EU SEMPRE ADOREI VIAJAR... MAS SEMPRE MEU CHÃO...MEU PONTO DE REFERÊNCIA É E SEMPRE SERÁ BAGÉ... INÚMERAS VEZES ACONTECEU COMIGO DE SENTIR EXATAMENTE A SENSAÇÃO QUE RELATASTE...DE IR E QUERER IR E ACOMPANHANDO ISSO UMA SAUDADE ANTECIPADA... ATÉ UMA VONTADEZINHA DE CHORAR...
"Não gosto de cidade pequena,
só de Bagé" -Edy Lima
Bia - obrigado pelo "lindo soldado", agora estou quase velho. E você está na flor da idade, parabéns pelas duas belezas: física e interior.
Vamos lá pessoal, sigam o exemplo do Ianzer, Gerson, Pedro, Salvadoretti... mandem suas histórias contando a aventura que foi sair de Bagé.
Verdade seja dita... o relato do Manoelito é primoroso. Logo vou mandar o meu. Aguardem.
... estamos aguardando.
Argemiro Brito, já estava com saudade de você e de sua participação no blog. Acabei de lembrar e por acaso ví o seu comentário. Isso é bom, é sinal de troca de energia positiva, desejo muita saúde, muita alegria e muita comunicação no nosso blog - do Vaz. hehehe
Postar um comentário