10 de setembro de 2010

"As lanternas da cidade..." - IV, Adeus às armas

O jovem soldado deu "adeus às armas" e foi para São Paulo
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"Terminei o exército em 1967, com honra ao mérito. Meu desejo era partir em busca de um futuro melhor. Bagé nessa época pouco oferecia em termos de Faculdades (Ciências e Letras, Filosofia e mais uma – não lembro) e empregos? O nível de vagas em qualquer área era baixo.

Quem podia ficar na cidade que estava em decadência nos anos 60? Os fazendeiros de raízes centenárias, os pecuaristas de sucesso, os agricultores bem estabelecidos, os comerciantes turcos (no bom sentido, a maioria libaneses), era onde brotava o dinheiro. Mesmo assim, seus descendentes partiam para os estudos em (Pelotas, Santa Maria, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e alguns para Estados Unidos e Europa). Os bageenses da classe média trabalhavam na Rede Pública Federal, Estadual e Municipal. E os bancários ainda ganhavam bem. Os outros tinham obrigatoriamente que partir em busca de um mercado de trabalho melhor, para poder estudar numa universidade. Assim que fui liberado pelo exército, comprei minha passagem pela empresa "Ouro e Prata", com destino a Porto Alegre. Dia 17 de dezembro de 1967, às seis horas da manhã, ainda escuro, as luzes da cidade davam a claridade para os passantes, lá estava eu na antiga rodoviária. O ônibus foi passando pelas ruas e casas tão conhecidas por mim (quando adolescente, trabalhei de cobrador e desbravei Bagé por todos os cantos e becos), então começou o aperto no coração. E para minha alegria ou tristeza, o ônibus seguia pela Rua General Osório, atravessando a Rua Félix da Cunha onde ficava a minha casa. Olhei e lá estavam minhas irmãs e minha mãe, chorando me abanaram. Logo adiante os fundos do Colégio Estadual (hoje é a entrada). Com lágrimas nos olhos fui lembrando de tudo que passei na minha cidade e sabia que não mais voltaria morar na minha querida Bagé. A foto mostra um jovem e tímido soldado, jeito assustado, meio moleque, de poucas palavras, mas com coragem para enfrentar a estrada, encarrar outra cidade e conviver com outras pessoas. Aqui estou em São Paulo com 61 anos e muita saudade do Estadual e de Bagé.

A explosão do meu coração

é uma aclamação da minha Alma

'Por Bagé' "

Enviado pelo colega

Manoel Ianzer

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13 comentários:

Gerson Mendes Corrêa disse...

Infelizmente, se quiséssemos dar asas as nossas petenssões e sonhos, tínhamos que sair da nossa terra natal e nos aventurarmos no desconhecido. Muita gente não sabe o que é deixar uma estrutura familiar para traz, todavia, nós fazemos parte desse pequeno e seleto time que viveu essa aventura, quando ainda éramos pouco mais que meninos, de tomarmos o nosso futuro pela frente e encaminha-lo da maneira que fizemos, limpo, honesto e corajosamente, tal façanha deixa-nos muito orgulhamo hoje, e ainda temos o prazer de compartilhamos aqui nossas passagens.
Caro Ianzer parece-me que todos nós somos cumplices nessas lágrimas, na loucura de as vezes, sequer, ter uma pessoa da familia para nos ouvir, na dor da solidão, porém, tudo isso forjou nosso carácter e nos temperou como o mais puro aço.

Manoel Ianzer disse...

Amigo Gerson, você falou com muita clareza a nossa realidade dos anos 60.
O seu livro segue a próxima semana. Abraço

Manoel Ianzer disse...

BAGÉ
MUITO ALÉM DO MINUANO
MUITO ALÉM DOS RODEIOS
MUITO ALÉM DOS PAMPAS
MUITO ALÉM DA SAUDADE
O VENTO LEVOU PARA FRENTE
E RAPIDAMENTE
"O TEMPO"
NEM POR ISSO DEIXEI DE AMÁ-LA

olmiro muller disse...

A outra faculdade daquela época era Ciências Econômicas.

Manoel Ianzer disse...

Olmiro complementou, então em 1967 Bagé só tinha 3 Faculdades:
Ciências e Letras, Filosofia e Ciências Econômicas.
Hoje Bagé possui 03 UNIVERSIDADES:
Urcamp - Universidade Particular
Urgs - Universidade do Estado
Unipampa - Universidade Federal
Estou certo?
Abraços a todos

BIA disse...

Um belo texto, sem dúvida nenhuma páginas de uma vida. Que lindo soldado. Abraços

BLOG DA JAN disse...

TUA FOTO...UMA CARINHA DE MENINO...SABES, AMIGO, EU SEMPRE ADOREI VIAJAR... MAS SEMPRE MEU CHÃO...MEU PONTO DE REFERÊNCIA É E SEMPRE SERÁ BAGÉ... INÚMERAS VEZES ACONTECEU COMIGO DE SENTIR EXATAMENTE A SENSAÇÃO QUE RELATASTE...DE IR E QUERER IR E ACOMPANHANDO ISSO UMA SAUDADE ANTECIPADA... ATÉ UMA VONTADEZINHA DE CHORAR...

Manoel Ianzer disse...

"Não gosto de cidade pequena,
só de Bagé" -Edy Lima

Manoel Ianzer disse...

Bia - obrigado pelo "lindo soldado", agora estou quase velho. E você está na flor da idade, parabéns pelas duas belezas: física e interior.

Luiz Carlos Vaz disse...

Vamos lá pessoal, sigam o exemplo do Ianzer, Gerson, Pedro, Salvadoretti... mandem suas histórias contando a aventura que foi sair de Bagé.

Argemiro de Brito disse...

Verdade seja dita... o relato do Manoelito é primoroso. Logo vou mandar o meu. Aguardem.

Luiz Carlos Vaz disse...

... estamos aguardando.

Manoel Ianzer disse...

Argemiro Brito, já estava com saudade de você e de sua participação no blog. Acabei de lembrar e por acaso ví o seu comentário. Isso é bom, é sinal de troca de energia positiva, desejo muita saúde, muita alegria e muita comunicação no nosso blog - do Vaz. hehehe