17 de setembro de 2010

Uma República no Pampa – V, Um Hino capado

O mineiro Mendanha que compôs o hino na prisão 
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O Hino Nacional da República Farroupilha
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No combate do Rio Pardo, ocorrido no dia 30 de abril de 1838, os farrapos além de obter a vitória, prenderam todo o 2º Batalhão Imperial. Entre os presos estava o maestro Joaquim José de Mendanha, todos os seus músicos e instrumentos. O mestre Mendanha, que vinha das Minas Gerais, era um grande compositor e músico dos mais famosos e por isto foi convidado e convencido a compor,  preso, uma música para homenagear a vitória das forças farroupilhas. Depois de composta a música, o capitão Serafim Joaquim de Alencastre escreveu uma letra que se referia à tomada de Rio Pardo, que foi considerado como o primeiro hino:

Salve o dia venturoso
Risonho 30 de abril
Que os corações patrióticos
Encheram de gozos mil

Um ano depois, quando se comemorava a Tomada de Rio Pardo, apareceu uma nova letra, de autor desconhecido, e que foi cantada pela primeira vez em Piratini com o nome de Hino da República Rio-grandense. Essa letra foi publicada nas páginas do jornal O POVO, edição número 63, de quatro de maio de 1839, com o título de “Hino Nacional”.

Nobre povo Rio-Grandense
Povo de heróis, povo bravo,
Conquistaste a Independência,
Nunca mais serás escravo.

(estribilho)
Da gostosa liberdade
Brilha entre nós o clarão,
Da constância e da coragem
Eis aqui o galardão.

Avante ó povo brioso
Nunca mais retrogradar,
Porque atrás fica o inferno
Que vos há de sepultar.

(estribilho)
Da gostosa liberdade...

O majestoso progresso
É preceito divinal;
Não tem melhor garantia
Nossa ordem social

(estribilho)
Da gostosa liberdade...

O mundo que nos contempla,
Que pesa nossas ações,
Bendirá nossos esforços,
Cantará nossos brasões.

(estribilho)
Da gostosa liberdade...

Essa letra não agradou ao gosto popular e não “pegou”. Mais tarde então começou a se cantar uma nova letra de autoria de Chiquinho da Vovó – como era conhecido o poeta Francisco Pinto da Fontoura, e que caiu na boca do povo. Além disso, Chiquinho da Vovó, que ficou conhecido como “o poeta dos farrapos”, passou muitos anos ensinando a todos a cantar o seu “Hino Nacional”.

Como a aurora precursora
do farol da divindade
foi o Vinte de Setembro
o precursor da Liberdade.

(estribilho)
Mostremos valor, constância,
neste ímpia e injusta guerra,
sirvam nossas façanhas
de modelo a toda a terra
de modelo a toda a terra
sirvam nossas façanhas
de modelo a toda a terra.

Entre nós reviva Atenas,
para assombro dos tiranos,
sejamos gregos na glória
e na virtude romanos

(estribilho)
Mostremos...

Mas não basta p’ra ser livre
ser forte aguerrido e bravo
povo que não tem virtude
acaba por ser escravo.

(estribilho)
Mostremos...


Até o ano de 1933 os hinos eram cantados livremente, com as suas diversas letras, quando o Instituo Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, por sugestão de Augusto Porto Alegre, definiu letra e música. Otelo Rosa, também do IHGRS, apresentou uma proposta fazendo algumas considerações sobre qual o poema que deveria ser adotado para o hino. Considerou o de Serafim Joaquim de Alencastre, como o primeiro; o de Francisco Pinto da Fontoura – o Chiquinho da Vovó, como o mais popular e, quanto a letra do hino de autor desconhecido, que foi cantada no primeiro aniversário do Combate de Rio Pardo, ele a desaconselhou e indicou para o IHGRGS, como autênticos e legítimos, os poemas de Serafim Alencastre e os de Francisco Pinto da Fontoura. Foi então nomeada uma comissão para dar parecer sobre a indicação de Otelo Rosa, formada por Manoel Joaquim de Faria Corrêa e João Cândido Maia que, em sessão ordinária de 14 de junho de 1934, se manifestaram em favor do poema de Chiquinho da Vovó. O Hino foi adotado no ano de 1934, véspera do ano do Centenário Farroupilha, 1935, mas só foi oficializado através de lei em 1966. A Lei 5.213, de cinco de janeiro de 1966, foi assinada pelo governador Ildo Meneghetti que, no entanto, suprimiu a estrofe:

Entre nós reviva Atenas,
para assombro dos tiranos,
Sejamos gregos na glória
e na virtude romanos.

Talvez falar em “assombrar tiranos” poderia – novamente - desagradar o “Império” e,  naquela época, isso estava fora de cogitação. Além do mais, o bravo sangue farrapo de Netto, Bento, Canabarro e outros, já tinha se diluído há muito tempo nas veias dos gaúchos e novamente o Império nos venceu.
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Trecho da lei 5.213 que institui os símbolos estaduais:

“Secção III
Do Hino
Art. 7º - O Hino é o que se compõe da música de Joaquim José de Mendanha, com harmonização de Antônio Côrte Real e orquestração do mesmo para piano, orquestra e banda (Anexo nº 2), com versos de Francisco Pinto da Fontoura, estes de forma abreviada, consagrada pelo uso popular: a primeira e a última estrofes do poema original com o estribilho. (Anexo nº 3).”
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Fontes:
1. Subsídios para a História da Música no Rio Grande do Sul, de Antônio Corte Real;
2. Ordenamento Jurídico do Estado do Rio Grande do Sul.
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2 comentários:

Gerson Mendes Corrêa disse...

Não só a música é agradavel ao ouvido, como a letra foi de uma inspiração tremenda, remontando a grande Odisséia Farroupilha. E o interessante disso é, principalmente para que está fora do Rio Grande do Sul como eu, esse hino faz os nossos pelos assanhar-se num arrepio de saudades do velho pago riograndense.
Olha sómente o povo gaucho canta o hino estudaual em cerimônias cívicas e populares, como por exemplo nos jogos de futebol Mandados pelo pelo INTER e pelo gremio, e quanto a isso quero dizer que escuto comentários de pessoas de outros estados, que dizem ficarem surpresas com a alegria e respeito que nós gauchos temos quando cantamos o hino.

Manoel Ianzer disse...

"RESGATE HISTÓRICO NO BLOG DO ESTADUAL IV"

O AMOR À TERRA, QUE FAZ O GAÚCHO HASTEAR A BANDEIRA E CANTAR O HINO RIO-GRANDENSE, vem desde o tempo em que teve que lutar contra os projetos do ditador argentino Rosas, que idealizara uma república Cisplatina, anexando o Rio Grande do Sul.