20 de setembro de 2010

Getúlio Vargas em Bagé - II, 20 de setembro de 1953

O presidente Getúlio Dornelles Vargas esteve duas vezes em Bagé. Nas duas oportunidades, o objetivo principal foi a inauguração da tradicional Exposição Agropecuária na Associação Rural. A primeira visita foi em 10 de outubro de 1943, cujas fotos apareceram no post do dia 26 de agosto passado, "Getúlio Vargas em Bagé". A segunda vinda foi em 20 de setembro de 1953, ambas aconteceram em um domingo. Esta fotografia rara, mostra a visita de Getúlio em 1953, há exatamente 57 anos atrás. Um veículo militar conduz o presidente Vargas. A viatura está na rua General Sampaio, defronte a praça Silveira Martins. No assento dianteiro do veículo, usando uniforme militar, está o governador do estado, o General Ernesto Dornelles. A viatura se desloca, tendo seguranças à paisana caminhando em torno. Compõe ainda o cenário, prédios já tradicionais do começo da década de 50: a Casa Ramos, de Otto Ramos (calçados), a Casa Lira, da família Figueiró (brinquedos), ambas fechadas há muitas décadas, e o belo sobrado da Sociedade Espanhola, no último plano.

"A visita que o presidente Getúlio Vargas fez a Bagé em 1953 ficou muito bem fixada na minha memória. Eu estava no 2º ano primário na Escola Dr Penna. Quando dessa visita de Vargas a Bagé, os alunos foram convocados para irem nesse domingo à escola, bem uniformizados, pois todos iriam em grupo até o centro assistir da calçada a passagem do Presidente do Brasil. Mas os meus interesses eram outros. Eu havia chegado à cidade com a minha família há poucos meses, o movimento urbano era para mim muito desagradável, a falta daquela vida tranquila de campo, era ainda muito sentida. Naquele domingo eu devia ter alguma coisa mais interessante que me convidava a ficar em casa, e resolvi não ir ao desfile do presidente. Minha mãe não se importou com a minha decisão, e somente minha irmã foi na escola para assistir esse desfile. Logo acabei me arrependendo. Minha irmã chegou em casa dizendo que tinha visto o Presidente e que ele estava de roupa verde. Eu logo pintei na minha cabeça Getúlio Vargas de terno "verde-garrafa", e fiquei lembrando que havia perdido a oportunidade de conhecer pessoalmente o Presidente do Brasil. Lembrei muito desse fato no ano seguinte, quando ele se suicidou.

E assim tem sido através dos anos, qualquer lembrança a respeito, me vem à memória a imagem que não vi, mas a que construí, do Presidente Getúlio Vargas de terno verde-garrafa, acenando para os alunos da Escola Dr Penna, e que eu perdi de ver. Minha irmã, mais moça do que eu, não só conheceu pessoalmente, mas ganhou um “abano” do Presidente do Brasil, aqui em Bagé, na centro da cidade, no ano de 1953...

Esta narrativa terminaria aqui, mas, na semana passada, falando com minha mãe sobre essa vinda de Getúlio Vargas e a história que a minha irmã contou, que eu nunca havia comentado com ela, D. Loracy foi logo dizendo: "Olha, tua irmã tinha só 6 anos, ela deve ter feito confusão, os políticos importantes nessas ocasiões só usavam roupas de cores sóbrias, como preto, azul-marinho e cinza escuro". Aí, quase num estalo, tudo ficou bem claro para mim, sobre a origem daquela novidade que ela chegou contando em casa: a grande figura em destaque naquele veículo em que o presidente desfilava, era um militar, com a farda de cor verde, o General Ernesto Dornelles, governador do estado, sentado no banco dianteiro. O Gereral Dornelles era o Getúlio de roupa verde, da minha irmã ! Essa posição é a que chamava a atenção de crianças pequenas, não só porque estava na frente, mas pelo uniforme e também pelo "chapéu", o quepe, de cor verde e adereços dourados. O presidente estava sentado no banco traseiro, conforme determina o protocolo, em trajes civis, sem chapéu, tinha estatura bem mais baixa; como iria chamar a atenção dela ? De repente, para meu desaponto, aquela minha imagem do Getúlio começou a desaparecer. Mas, a minha frustação durou pouco tempo, a minha cena desenhada quando menino foi mais forte do que a realidade atual que deduzi desses fatos tão claros. Agora eu olho para essa foto em preto e branco do desfile naquele dia da visita, e minha "fotografia a cores", do Getúlio Vargas de roupa verde, em tom forte e persistente, se soprepõe a essa real, continuando na minha lembrança."

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Nota: O General Ernesto Dornelles havia passado para a reserva em 1949. Em 1950 aceitou o convite do primo Getúlio Vargas para concorrerem juntos nas eleições daquele ano. Ambos foram eleitos. Embora ele já estivesse na reserva, usou a prerrogativa que havia, de envergar a farda militar, quando em solenidades especiais, como o desfile com o presidente.

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Enviado pelo colega

Hamilton Caio

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3 comentários:

Luiz Carlos Vaz disse...

Nessa esquina da "Casa Lira" foi instalada a primeira "Sinaleira de Trânsito" de Bagé, em 1959...

Gerson Mendes Corrêa disse...

Casa Ramos, muito próspera quando eu era guri, vendia calçados, principalmene botas e aperos para o gaucho e patrocinava um programa de musica tradicionalista nas radio Cultura de Bagé no horario compreendido entre 12:45 e 13:00, lá em casa não se perdia um programa, e no velho e vistoso sobrado da Sociedade Espanhola morava uma madrinha do meu pai, uma espanhola que era chamada pela minha vó e toda familia de "a comadre Jovita", inclusive um neto dela, foi meu conteporâneo no Estadual com um ou dois anos a minha frente e se não me falha a memória o nome dele é Sanderson Rivadavia, ele era um dos cestinhas da seleção de basquete do Estadual nos anos 70.

Aldo Ghisolfi disse...

VAZ: não era Casa Lyra; ela estava localizada um pouco mais adiante da esquina. Atrás da foto, aparce a CASA RAMOS, o QG do Gaúcho, do seu Oto Ramos, que durante anos patrocinou um programa de músicas gaúchas, o 'Programa da Casa Ramos', se não me engano na Rádio Cultura.(aldoghisolfi@gmail.com)