21 de setembro de 2010

Um baú no Pampa – VII, A família que desenhava navios

As raízes mais antigas de Dom Guasque nos levam a um homem de uma família...

... que desenhava navios (e como desenhavam!),
Don Alexo Berlinguero de la Marca (y Gallego),


... e que foram publicadas em livro em 1955.

No livro, a árvore genealógica - Nicolas e o tio,
Alexo Berligero, respectivamente pai e irmão de Dom José Guasque.
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Nasceu em dez de setembro de 1792 aquele que seria chamado de José Cipriano Eduardo Joaquim Berlinguero Guasque. Este homem logo daria um jeito para abreviar tudo isso e ser chamado simplesmente de Don José Guasque. Perdeu a mãe cedo, que deveria ser uma mulher de muita sensibilidade, pois vinha de uma família que se dedicava a pintar quadros da, até então, orgulhosa Marinha Espanhola. Seu pai e seu irmão eram famosos, os Berlinguero, pelas belíssimas gravuras de navios que estão conservadas até hoje. Educado sem a mãe, sua personalidade deve ter se moldado para tirar proveito e ser aceito, sob qualquer forma.

Ainda jovem viu a Espanha ser invadida e humilhada por Napoleão. Torna-se militar da marinha, mas irá em breve se apresentar como jornalista. Ao se casar com Maria de La Cabeza Josefa Juana Terron y Hidalgo, se vê perseguido por suas posições políticas e tem que fugir. Ele havia participado ativamente do chamado “Triênio Liberal”, período que a Espanha teve uma constituição, mas o Rei Fernando VII, através de um golpe, restaurou um regime reacionário, os liberais foram expulsos, presos e alguns mortos. Ele já havia escrito o seu primeiro livro e colaborava em jornais.

Sem ter saída acaba desembarcando no Brasil, após passar por inúmeros portos da Europa e Estados Unidos. Seu desembarque se deu no Rio de Janeiro, em 1828. Ele é admitido no serviço militar do Exército Imperial e planeja fazer o dique da Ilha das Cobras, para melhorar o porto. As autoridades não ficam de acordo com as obras e retém seu diploma de Engenheiro Hidráulico. Sim, era assim que ele se apresentava também. Furioso, escreve seu único livro em português, “O Manifesto da Conducta Militar”, e dedica-o ao Imperador Dom Pedro I. Mas o imperador abdica no ano seguinte e volta para Portugal.

Em 1831 um barco inglês, o “Thetis”, afunda na costa de Cabo Frio e José Guasque tenta resgatá-lo. Sem obter sucesso - e pelo temperamento que vai desenvolvendo cada vez mais, atazana a paciência do pobre capitão inglês que relata tudo em correspondência ao Almirantado. Hoje, essas referências a José Guasque, por na conta deste episódio por vezes burlesco, estão relatadas nos arquivos do Parlamento Britânico.

Três anos depois ele se envolve com a tentativa de iluminação da cidade do Rio de Janeiro, muitas décadas antes do Barão de Mauá conseguir este intento. Ainda no ano seguinte tenta fazer o aterro do Mangue, bairro carioca que até o início do século XX era o pior lugar daquela cidade, conhecida como uma zona infecta e de meretrício.

Já em 1838 ele começa a se desgostar e inicia tratativas com os Farrapos que haviam proclamado a independência aqui no Rio Grande do Sul. Ele é nomeado pelo próprio Bento Gonçalves, como está registrado no jornal de Rossetti, se declarando republicano e pronto para lutar pela construção da nascente nação.

Por ser maçon, faz parte de um nebuloso plano para arrecadar dinheiro junto aos confrades nos Estados Unidos e Europa, já que o império vinha fazendo uma campanha militar cruenta para sufocar a rebeldia no estado. Mas ele também entra em conflito com Garibaldi, Rossetti e Canabarro, e passa a ter como interlocutor mais frequente o ministro Domingos José de Almeida. Desgostoso com os rumos que as coisas estão tomando vai para Bagé, e dali para Cerro Largo, onde rompe com todos e se exila.

Nos próximos 10 anos ele irá se entediar e escrever tanto ao Governador da Província de Entre-Rios, o General Urquiza, quanto ao novo Imperador do Brasil, Dom Pedro II, tecendo rasgados elogios ao pai dele.

Ele consegue regressar à Espanha em 1850. Lá escreve seu último livro, que assim como o primeiro, se encontra na Biblioteca Nacional da Espanha. Nesse trata das guerras e perda das colônias pela decadente Espanha que estava enfrentando as graves consequências da sua política colonial ditada pela rainha Isabel II.

Seu biógrafo, o professor espanhol Alberto Gil Novales, publicou um artigo pela Universidade Carolina de Praga, em 1970, intitulado “El Periodista Liberal”, onde relata muitos aspectos de Don José Guasque.

A família permaneceu no Brasil. Sua esposa falece viúva em Melo, no Uruguai, já em 1867. Nada se sabe dos últimos anos e de quando se deu a morte de José Cipriano Eduardo Joaquim Berlinguero Guasque, o nosso Don Guasque.

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Enviado por

Gerson Luis Barreto de Oliveira

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