o inspetor Wilson Lucarelli aparece nesta foto (6º da Dir p Esq)
Ao olhar a postagem de ontem o colega Hamilton reconheceu a foto e procurou outras que possui em seu baú. Encontrou sua cópia, já com as marcas do tempo, e uma outra, tomada no mesmo dia. Mostrando sempre possuir uma excelente memória, dá o nome a quase todos os colegas e recupera lembranças dos anos dourados do nosso velho e querido Estadual. Vamos compartilhar dessa memória notável no texto a seguir:
"Tenho muitas lembranças desse desfile, e recordo bem desse "retrato" e dos nomes dos colegas de turma que aí aparecem.
Como vemos, a Vera Luiza desfilou com "apoio civil e militar". O civil era meu colega na então 4a série ginasial, o Gilberto Paiva. O motorista militar e o jeep eram do 3o. R Rec Mec. Esse pelotão de desfile era um grupo misto do ginásio e do científico. A colega no "laboratório", na esquerda da foto, é a Lecy Caravaca. "Este que vos fala" está logo atrás do jeep. Na sequência, na coluna onde estou, vem o Paulo Roberto Salgado Fico, o quarto é o Geraldo Vignol Pereira, logo a seguir o Ubirajara Machado Vieira e o Euclides Alberto Morais Silva, e fechando a coluna o Luis Humberto Willian Lagos Teixeira Guedes (Billy). O Prof Mouchet está de terno mais claro, à frente da coluna em que aparece, em primeiro, O Ivoncléo Moreira Monteiro. O quinto e penúltimo, nessa coluna, não era da minha turma, trabalhou muitos anos no Banco do Brasil, na agência local, não lembro o nome. Na primeira coluna da direita, o segundo é o Fernando Grillo Gomes e o terceiro é o Paulo Prates. O último parece ser o Belmiro de Oliveira Dantas.
Na segunda foto, aparece o Inspetor Wilson Lucarelli, parcialmente encoberto, virado em posição contrária ao grupo de alunos, em cima da calçada, comandando a turma; e o segundo colega, em primeiro plano, da esquerda para a direita, também aparece na primeira fotografia.
Esse defile não teve o charme de outros, pois não teve banda. Por vários problemas, ficamos sem ela nesse ano. O Prof Frederico Petrucci procurou dar mais brilho com detalhes como esse do laboratório, e com o uniforme mais clássico, o terno completo, e para compensar a falta da banda, a marcha no estilo escoteiro, com a quarta passada batendo forte. Para nós guris, isso foi uma péssima ideia. Funcionou um pouco no início do desfile, mas logo houve descompasso na marcha, e aquilo começou a soar pessimamente, e acabou sendo abandonado em certa altura do desfile. Na frente da Casa Kalil, como vemos, já não tinha mais essa cadência.
O pior lugar do pelotão caiu pra mim nesse desfile, respirei todo o tempo os gases do escapamento daquele jeep. Fiquei sentindo no nariz, durante o resto do dia, aquela fumaça terrível. Ninguém se lembrou de manter o pelotão numa distância maior do veículo !
O motorista militar eu não conhecia, mas a história do seu jeep, sim, tinha sido uma das estrelas da 2a guerra mundial.
O Billy foi o maior gênio e aluno estudioso daquela época no Estadual. Frequentou também o curso de canto junto com o Frei Plácido e a colega Clara Marineli, no IMBA. Quando entrei no ginásio em 1957, ele já estava bem adiantado, talvez pela 2a ou 3a série, e tinha minha idade. Eu chegava mais cedo no colégio, aproveitando a carona do meu pai que saía cedo. Quando chegava no Estadual, éramos os primeiros a entrar no portão, o Billy e depois eu. O Billy já estava lá sentado, naquela "posição de lótus", em um balcão de mármore que tinha naquela sala vazia que ficava na frente da Inspetoria, estudando, com sua pasta bem cheia de livros e material escolar, e munido de sua indefectível régua de madeira, de um metro (ou quase isso). Ela tanto servia para as aulas, como arma de defesa contra a turma do bullying, já presente naqueles anos. Claro, alguém diferente, estudioso, gênio, sempre foi motivo de chacota na história da humanidade, infelizmente. Mas, ele era um guri de bom trato, educadíssimo, e se dava muito bem com colegas que lhe davam o devido valor. Como todo gênio, gastava muita energia nos estudos, e, volta e meia, era visto se reabastecendo de combustível, o popular "Crush" (um refrigerante de laranja dos anos 50/60) com uma "recheada" (pão com queijo e presunto), que não era comprado na padaria Sul Brasil ao lado, mas no barzinho que havia no colégio, do lado direito daquela escadaria do pátio de entrada, que era atendido por uma moça muito linda, que eu nunca esqueci a fisionomia: morena, cabelos negros, lábios bem pintados, voz macia, uma mescla de Gina Lollobrigida (aquela do post de 31 de agosto) com Catherine Zeta-Jones, duas deusas do cinema.
O Fernando Grillo Gomes sempre foi lembrado pela boa educação e boas maneiras com os colegas. Nunca esqueci de uma vez, quando descíamos sempre a Avenida Sete, após a aula, que ele me convidou para tomar um frappé no bar Amarelinho, na frente da Livraria Predileta. Aquela batida tinha uma cor roxa e aveia na composição. Era muito boa, tentei muitas vezes, ao longo do tempo, imitar aquela mistura em casa, mas nunca consegui, aquele "ponto" da aveia devia ser um segredo da casa.
O Paulo Prates foi colega de Aero Clube, mas ele já tinha saído quando entrei no curso em 1961.
O Ivoncléo, sempre primando pela elegância, e invejado pelos dotes musicais, usou no desfile um moderno óculos de sol, já de uma geração mais moderna que os óculos do Prof Mouchet, os "óculos Ronaldo" (nome derivado de Ronaldo Guilherme de Souza Castro, do rumoroso caso "Aída Curi", de julho de 1958 - ele usava óculos desse tipo).
O Geraldo Vignol Pereira, às vezes, inventava para a turma umas "olimpíadas" em baixo do bosque do Estadual. E lá iam os colegas, fazendo salto em distância, salto triplo ...
Os colegas Euclides Alberto e Belmiro, encontraríamos anos depois trilhando veredas militares.
O Paulo Roberto Salgado Fico, falecido há alguns anos, era filho do prefeito João Batista Fico, que faleceu no exercício do segundo mandato (1960-1962), sendo substituído pelo vice-prefeito Camilo Gomes até 1963, que era pai do colega Fernando Grillo Gomes. O Paulo Roberto Fico era colega da Clara Marineli.
Os efetivos da Brigada Militar eram pequenos naqueles tempos, cabia então ao Exército apoiar, com homens, equipamentos e segurança, esses desfiles. Na foto, seus militares aparecem cerrando a fileira do pelotão.
Esse foi um daqueles desfiles da Semana da Pátria, bem marcante, na adolescência do fim do ginásio. O glamour dessa época ingênua já ia cedendo lugar para comportamentos mais disciplinados, estava chegando o Científico, que já esperávamos como um preparatório do vestibular e da vida de adulto. Os namorinhos e flirts, patrulhados pelo inspetor Catalino Brasil Machado, já iam ficando na lembrança e se tornavam compromissos mais sérios. A vida já começava a ficar mais séria. Foi meu útimo desfile no Estadual. No ano seguinte eu passaria para o período noturno e agora seria apenas aluno espectador dos nossos desfiles, mas continuando a vibrar com todos os acontecimentos dessa época movimentada e glamourosa. Já havíamos cumprido mais da metade da jornada. O Estadual já estava marcando indelevelmente e para sempre, nossas vidas. Já pensávamos na saudade que ainda não tínhamos, mas que já se avizinhava. A banda do Estadual, que silenciou nesse meu último desfile, ainda continuaria soando pelos anos afora.
Mas temos este blog; e esses filmes, em rolos que estavam muito bem guardados na nossa memória, podem agora ser rodados de vez em quando, na hora que quisermos, pois foram digitalizados no Blog da Velha Guarda do Estadual.
Nota:
Dedico este texto para a colega Maribel, que chega a sentir saudade desses tempos dourados, tempo que não viveu."
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Enviado pelo colega
Hamilton Caio
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11 comentários:
Obrigada por lembrar de mim, Hamilton! E obrigada por ter essa memória privilegiada que consegue trazer à tona fatos tão marcantes! Imagino o quanto ficam felizes ao ler estas páginas estes colegas de quem tu lembraste. Felizes por saber que alguém guarda com tanto carinho a memória daqueles tempos idos do Estadual. Grande abraço e continua abrilhantando com tuas letras precisas este espaço já tão bom!
Caro Hamilton, o nosso viver é uma imensa encruzilhada, pois a cada segundo dela temos que tomar certas decisões, e fatos são acumulados a cada tic-tac os quais nem chegamos a perceber muitas vezes. Vamos partir do fato de a Banda do Estadual não ter tocado nesse desfile, te digo que esse fato e o de respirar o insuportável cheiro do CO2 da descarga daquele jeep te marcaram tanto naquele dia que, com toda certeza nos premiou com esta narativa impressionante que tive o prazer de ler hoje.
Gerson, é uma satisfação ver que as nossas narrativas agradam aos colegas. Elas saem dos filmes da nossa memória, pois realmente "vemos" todos esses acontecimentos passarem na frente dos olhos novamente. São imagens com trilha sonora. As vozes dos professores e colegas ecoam sempre, basta recordar o fato, e a cada um lembrado, vem a sua voz característica. Quando falei sobre o Billy, eu primeiro "vi" ele ali sentado naquele balcão de mármore, logo que cheguei ao colégio de manhã, com todos aqueles detalhes, aí foi só escrever o que eu estava observando. Quando falei daquela moça linda que atendia o barzinho, eu "vi" ela no balcão com todos aqueles atributos e a voz agradável, então fui logo descrevendo essas imagens para vocês.
E aquele coquetel de gases de escapamento de motor, sem dúvida que não estava previsto no cardápio daquele dia!
Impossível adjetivar tua narrativa, Hamilton! É ler e... reviver... Não sei definir o sentimento de que sou tomada hoje ao ler tua narrativa, todavia ele é tão forte como se aquela tarde tivesse acontecido ontem... Bom que o Vaz proporcina este espaço para registro de fatos tão simples, no entanto tão significativos para uma geração de filhos do Estadual.
Hamilton Caio - parabéns pela qualidade da descrição dos fatos. Escreves com a imaginação da época "a beleza" e com o coração de hoje "a saudade".
Só posso dizer que continuas nos empolgando.
Vera Luiza, fico muito gratificado em saber que consigo fazer os colegas reviverem os tempos de colégio com essas narrativas. Elas são tão autênticas que eu mesmo me emociono quando estou passando as recordações para a escrita.
Ianzer, obrigado pela tua perfeita definição em poesia. As histórias reais de todos nós vão continuar empolgando os colegas.
Prezado Hamilton, de fato é o meu pai (Belmiro de Oliveira Dantas) que está na foto. Ele já é falecido e viemos morar em Florianópolis há 24 anos.
Abraços,
Jéferson Dantas.
Jéferson Dantas, fiquei emocionado ao comentares esse texto que está fazendo um ano hoje, e ao saber que teu pai, o Dantas, nome pelo qual o conhecíamos, é falecido. Não é pelo fato deste comentário, mas era um dos colegas de que sempre lembro, tanto do tempo do quartel como dos anos do Estadual. Sempre alegre e brincalhão, mostrava uma deferência especial quando tratava de qualquer assunto comigo. Ele marcou nosso tempo, nossa convivência e a minha geração. O Belmiro Dantas saiu mais cedo desse mundo terreno, mas certamente sua missão já estava cumprida aqui, outras designações o esperavam no mundo espiritual.
Não parece, mas se passaram exatamente 50 anos daquele meu último desfile no Colégio em que teu pai também esteve presente.
Todos os tempos sempre nos perecem difíceis, mas aqueles anos foram também muito agitados para quem, como nós, vivíamos o fervor da adolescência já madura. Esse desfile foi bem na época fervilhante da chamada Legalidade, assunto já tratado aqui no Blog e agora também no último dia 25, pelo Luiz Carlos. Na área internacional acompanhávamos a Guerra Fria (os colegas desculpem de eu tanto falar nesse termo, mas foi importantíssimo na época), e o lance mais recente nesse xadrez mundial tinha sido a crise do Muro de Berlin, há menos de um mês, e foi mais uma grande ameaça de nova guerra, e esse drama duraria até 1989 com a queda do muro.
E a propósito de guerra e desfiles, se por acaso tiveres fotos de desfiles militares do teu pai, envia por mail para o blog para aproveitarmos futuramente em textos. O Dantas era especialista em Carros de Combate (Tanques).
E esperamos que continues fazendo visitas por aqui.
Um grande abraço.
Jéferson Dantas, fiquei emocionado ao comentares esse texto que está fazendo um ano hoje, e ao saber que teu pai, o Dantas, nome pelo qual o conhecíamos, é falecido. Não é pelo fato deste comentário, mas era um dos colegas de que sempre lembro, tanto do tempo do quartel como dos anos do Estadual. Sempre alegre e brincalhão, mostrava uma deferência especial quando tratava de qualquer assunto comigo. Ele marcou nosso tempo, nossa convivência e a minha geração. O Belmiro Dantas saiu mais cedo desse mundo terreno, mas certamente sua missão já estava cumprida aqui, outras designações o esperavam no mundo espiritual.
Não parece, mas se passaram exatamente 50 anos daquele meu último desfile no Colégio em que teu pai também esteve presente.
Todos os tempos sempre nos perecem difíceis, mas aqueles anos foram também muito agitados para quem, como nós, vivíamos o fervor da adolescência já madura. Esse desfile foi bem na época fervilhante da chamada Legalidade, assunto já tratado aqui no Blog e agora também no último dia 25, pelo Luiz Carlos. Na área internacional acompanhávamos a Guerra Fria (os colegas desculpem de eu tanto falar nesse termo, mas foi importantíssimo na época), e o lance mais recente nesse xadrez mundial tinha sido a crise do Muro de Berlin, há menos de um mês, e foi mais uma grande ameaça de nova guerra, e esse drama duraria até 1989 com a queda do muro.
E a propósito de guerra e desfiles, se por acaso tiveres fotos de desfiles militares do teu pai, envia por mail para o blog para aproveitarmos futuramente em textos. O Dantas era especialista em Carros de Combate (Tanques). E esperamos que continues fazendo visitas por aqui. Um grande abraço.
Grande Hamilton,
Eu já estava achando falta dos teus comentários e colaborações. Que bom que voltaste! Agora com o teu retorno, este blog do Vaz, vai ficar mais "turbinado" ainda...
Eu pude reconhecer o inspetor Wilson Lucarelli, bem novo, naquela bela foto do desfile do Colégio Estadual. O "seu" Wilson, também trabalhou como inspetor de alunos, no antigo "Colégio XV de Novembro", onde eu cursei o ginasial, de 1969 a 1972. Ele costumava ser rigoroso no trato com os alunos, mas, ao que eu saiba, nunca foi desleal com ninguém. Em 2005, eu passei a conhecer melhor o "seu" Wilson, porque ele se associou no "Shazam Cine-Clube", e como bom cinéfilo que é, não perdia uma sessão sequer. Ao término das sessões ele sempre ficava um pouco mais, para conversarmos sobre o filme exibido, e sobre as antigas matinés que ele assistia nos extintos "Cinemas" de Bagé. As vezes, nós conversávamos sobre a origem dos nomes, e dos negócios de família. Ele gostava de lembrar que desde muito cedo, começou trabalhando ao lado do pai, um imigrante italiano, e que fora dono de uma pequena distribuidora de produtos, aqui na cidade. Quando eu perguntei se ele concordaria que eu fizesse uma reportagem para publicar no Jornal, sobre a família Lucarelli. Prontamente ele trouxe para mim, alguns recortes e fotos antigas da empresa e da família... Ultimamente, eu não tenho visto o "seu" Wilson, que apesar dos sérios problemas com a sua "visão", sempre costuma andar sozinho pelas ruas da cidade. Que Deus Todo Poderoso, o tenha são e salvo!!!
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