16 de setembro de 2010

Uma República no Pampa - IV, Netto perde sua alma (*)

Mausoléu do General Netto no Cemitério de Bagé
(foto de Elaine Bastianello, 2006)

Sepultamento dos restos mortais de Netto, em 1966
(arquivo de Jorge Reis, 1966)





"Aqui descansam os restos mortais do
Brigadeiro Antônio de Souza Netto,
falecido na cidade de Corrientes,
em 1º de julho de 1866"
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  Quem visitar o Cemitério de Bagé, no quadrante C, da Primeira Divisão, TP 37, poderá ler esta inscrição na lápide do mausoléu do General Neto. O homem que, nascido no Povo Novo, distrito de Rio Grande, escolheu Bagé para viver e lutar por seus ideais e que, numa tarde ensolarada de um domingo, dia 11 de setembro de 1836, no campo dos Meneses, após a vitória heroica da Batalha do Seival, proclamou a “República Rio-grandense”.

  Foram as circunstâncias históricas que colocaram na responsabilidade de Neto essa atitude. Era necessário que naquele momento importante da guerra contra o Império os revolucionários gaúchos, liderados por Bento Gonçalves, dessem um rumo mais definido aos seus comandados, seguidores e simpatizantes do movimento separatista. Neto, que comandara a vitória sobre as tropas imperiais nos campos do Seival, leu o seguinte texto aos seus comandados:

“Bravos companheiros da 1ª Brigada de Cavalaria!

  Ontem obtivestes o mais completo triunfo sobre os escravos da Corte do Rio de Janeiro, a qual, invejosa das vantagens locais de nossa província, faz derramar sem piedade o sangue de nossos compatriotas, para deste modo fazê-la presa de suas vistas ambiciosas. Miseráveis! Todas as vezes que seus vis satélites se têm apresentado diante das forças livres, têm sucumbido, sem que este fatal desengano os faça desistir de seus planos infernais.

  São sem número as injustiças feitas pelo Governo. Seu despotismo é o mais atroz. E sofreremos calados tanta infâmia? Não, nossos companheiros, os rio-grandenses, estão dispostos, como nós, a não sofrer por mais tempo a prepotência de um governo tirânico, arbitrário e cruel, como o atual. Em todos os ângulos da província não soa outro eco que o de independência, república, liberdade ou morte. Este eco, majestoso, que tão constantemente repetis, como uma parte deste solo de homens livres, me faz declarar que proclamemos a nossa independência provincial, para o que nos dão bastante direito nossos trabalhos pela liberdade, e o triunfo que ontem obtivemos, sobre esses miseráveis escravos do poder absoluto.

  Camaradas! Nós que compomos a 1ª Brigada do Exército Liberal, devemos ser os primeiros a proclamar, como proclamamos, a independência desta província, a qual fica desligada das demais do Império, e forma um estado livre e independente, com o título de República Rio-grandense, e cujo manifesto às nações civilizadas se fará competentemente.

Camaradas! Gritemos pela primeira vez: viva a República Rio-grandense!
Viva a independência!
Viva o exército republicano rio-grandense!
Campo dos Menezes, 11 de setembro de 1836

Antônio de Sousa Neto, coronel-comandante da 1ª brigada."
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Colaborou com a pesquisa cemiterial Ms Elaine Bastianello
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3 comentários:

Ana Maria Ribeiro disse...

Cumprimentos ao BLOG pelas postagens que nos trazem passagens importantes da história dos bravos revolucionários, bem como do reconhecimento por seus descendentes e das ações mais recentes em prol da memória deste povo heróico.
Pretendo visitar o túmulo do Netto a partir deste post. Certamente irei lá na minha próxima vista a Bagé.

Luiz Carlos Vaz disse...

Ótimo, Ana Maria. O Cemitério de Bagé está sendo "descoberto" por pesquisadores da região, e do resto do país, e vários trabalhos de mestrado e doutorado já utilizaram seus registros e sua arquitetura. Um exemplo é a pesquisadora - ex-aluna e atual professora do nosso Colégio Estadual, Elaine Bastianello.

Aldo Ghisolfi disse...

Salve!
Participei da recepção dos restos mortais do General Neto. Foi algo grandiosamente merecido. Na foto, o prefeito e o então Coronel Heitor Fontoura de Morais, hoje honradíssimo General residindo em Jaguarão. (aldoghisolfi@gmail.com)