11 de setembro de 2021

Os 130 (?) anos de um 11 de setembro inesquecível

Diadorim, xilogravura de Arlindo Daibert, 1952-1993


Luiz Carlos Vaz (*)

Tudo já foi dito uma vez

mas como ninguém escuta,

é preciso dizer de novo.

Andre Gide

 

Para Ricardo Petrucci

 

            Quando recordamos os “11 de setembro” na história, ou nas nossas vidas, temos sempre alguns desses dias para lembrar ou comemorar em especial; os fotógrafos certamente se referem ao do ano de 1816, ano do nascimento de Carl Zeiss, o cara que revolucionou as nossas lentes; mas há muita gente famosa, claro, que nasceu nessa mesma data. São de 11 de setembro Theodor Adorno, D. H. Lawrence, Valentino Fioravanti, Brian De Palma... mas nesse dia a cegonha também trouxe ao mundo pessoas bem mais populares como Leivinha, Everaldo e Franz Beckenbauer.

            Muitos acontecimentos, da mesma forma, marcam esse dia. Alguns deles trouxeram sorte ou alegria para o mundo. Outros, nem tanto. Talvez o mais triste para os tempos em que vivi tenha sido o 11 de setembro de 1973, quando foi bombardeado o Palácio La Moneda, em Santiago, e que colocou fim na normalidade institucional e democrática do Chile. O que veio a seguir envergonha o gênero humano pela violência, pelas incontáveis e anônimas mortes e sequestros de cientistas, professores, jornalistas, artistas e intelectuais.

            Mas para enfrentar tudo isso precisamos lutar; lutar muito; lutar com as palavras, vencer pelo convencimento das palavras, pela explicitação da verdade contida nas palavras. Nem que se tenha que repetir muitas vezes, pois as pessoas não escutam...

Talvez nenhum homem ou mulher – nascido num 11 de setembro, tenha tido tanta garra, coragem e determinação para viver e lutar por sua causa como Maria Deodorina. Sua vida foi narrada por João Guimarães Rosa com uma fartura de atos de bravura e coragem de dar inveja a muita gente metida a valente que anda por aí; tipo os “valentes de rede social”, como feicibuque, tuíter e uátis, onde se esgotam seus argumentos e atos de suposta bravura.

Conversando outro dia com o amigo Ricardo Petrucci, ele me recordou que Ela também havia nascido nesse dia. Coisa que eu jamais lembraria por ter lido essa história lá nos tempos “da mocidade”.  Deixo então esse pequeno recorte da obra do João para a apreciação de vocês, sobre o achado do registro de nascimento dessa mulher que nunca teve medo.

“Aonde fui, a um lugar, nos gerais de Lassance, Os-Porcos. Assim lá estivemos. A todos eu perguntei, em toda porta bati; triste pouco foi o que me resultaram. O que pensei encontrar: alguma velha, ou um velho, que da história soubessem  ̶ dela lembrados quando tinha sido menina  ̶ e então a razão rastraz de muitas coisas haviam de poder me expor, muito mundo. Isso não achamos. Rumamos daí então para bem longe reato: Juramento, o Peixe-Crú, Terra-Branca e Capela, a Capelinha-do-Chumbo. Só um letreiro achei. Este papel, que eu trouxe  ̶  batistério. Da matriz de Itacambira, onde tem tantos mortos enterrados. Lá ela foi levada à pia. Lá registrada, assim. Em um 11 de setembro da éra de 1800 e tantos... O senhor lê. De Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins  ̶  que nasceu para o dever de guerrear e nunca ter medo, e mais para muito amar, sem gozo de amor... Reze o senhor por essa alma. O senhor acha que a vida é tristonha?

Mas ninguém não pode me impedir de rezar; pode algum? O existir da alma é a reza... Quando estou rezando, estou fora de sujidade, à parte de toda loucura. Ou o acordar da alma é que é?”

♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥

Em um 11 de setembro da éra de 1800 e tantos nasceu Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins. Ou terá nascido Reinaldo?
Ou terá nascido Diadorim  ̶  “a mulher dada por Deus”?

_____________________________________________

(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo e Editor deste Blog

Nenhum comentário: