22 de junho de 2014

1970 e 2014 – Dois shows prá nunca mais esquecer



Foto: Lemyr Martins


1970 e 2014 – Dois shows prá nunca mais esquecer


Ivan Duarte (*)


Nasci no campo, em 1961, em Bagé, hoje Candiota. "Tarado" por futebol.


Eu dormia com a bola embaixo da cama. Acordava, e a primeira coisa que fazia era começar a chutá-la. Na verdade, ia acordando enquanto chutava a bola. Após um rápido café, o máximo de tempo possível, eu queria era ficar no campinho. Nem que fosse sozinho, driblando adversários imaginários. Fazendo gols incríveis... enquanto imitava os narradores que escutava no rádio... "Lá vai Ivan... driblou um... driblou dois..."


Se chegasse um amigo, ou vinte, só ia mudar a forma de jogar. Se só um ou dois, ocupariam o lugar dos imaginários. Se três ou quatro, começava-se uma disputa de dribles ou "gol a gol". Com seis, mais ou menos, já dava pra jogar o "fogueirão", com um goleiro contra dois times, em meio campo. Oito ou dez em diante, e estavam formados dois times, com jogos que só paravam quando a mãe chamava para almoçar ou jantar.


E o rádio era o único meio de saber como era o futebol "de verdade".


Éramos seis irmãos, e só havia UM rádio no qual meu pai escutava "o noticioso" da Guaíba, o Correspondente Renner, todos os dias, às oito horas da noite. "Aqui fala o correspondente Renner, com as últimas notícias da United Press, France Press e UPI... E atenção! Saigon! O Presidente Richard Nixon acaba de declarar que voltará a atacar os vietcongs..."


E minha mãe não perdia "os avisos", da Rádio Difusora de Bagé, onde os moradores "de fora" mandavam recados da cidade para o campo... "Atenção Senhora Zaida. Segunda zona de Pinheiro Machado, seu filho Ivan saiu do hospital. Passa bem. Seguirá amanhã para Candiota no ônibus da uma e meia".


Foi pelo rádio que escutei o Brasil ser Tri Campeão no México, em 70.


Aquilo me marcou tanto, que decorei o 4-3-3 brasileiro: Félix, Vem Pra Cá-rlos Alberto, Brito, Piaza e Everaldo; Clodoaldo, Gerson e Tostão; Jairzinho, Pelé e Rivelino. Sei todos os adversários e de quanto ganhamos.


Nenhuma Copa teve o mesmo sabor pra mim. Nada foi mais incrível do que aqueles passes, dribles e chutes que o Pelé fez. As copas seguintes eu assisti sem apressar o passo para assistir a um jogo sequer...


Abro pequenas ressalvas ao gol do Maradona, que driblou a Inglaterra inteira, ao Brasil do Telê em 82, à Holanda do Cruiff e ao Zidane.


Mas... quando eu pensava que só teria memórias de grandes jogos e grandes seleções... volto a me emocionar com Copa do Mundo. Eu já estava achando que era saudosismo da era do rádio... Só que não!


Aquele gol de cabeça do Van Persen, na goleada contra a Espanha, nunca mais vou esquecer.


Esta Copa do Mundo no Brasil tá me fazendo vibrar de novo com o futebol.


E como tem jogadores bons. E a TV mostrando absolutamente tudo. E esse congraçamento festivo entre povos e torcidas... Polêmicas à parte...


Dentro de campo tá demais! Que Copa boa de acompanhar! Como eu ainda gosto de futebol!
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(*) Ivan é bageense de Candiota, Psicólogo e Vereador em Pelotas há quatro mandatos.
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