9 de setembro de 2014

Miltinho, que Saudade...



Quatro sucessos de Miltinho em um "compacto duplo" da gravadora RGE

Miltinho, que Saudade...

J.J. Oliveira Gonçalves

 Que saudade, Miltinho, daqueles tempos! Dos anos 50... Dos anos 60... Estes, apelidados romântica e carinhosamente, de “Anos Dourados”! Saudade de ti, Miltinho. Saudade de mim. Saudade de minha “Menina Moça” – lá, então... Saudade das bucólicas tardes - no Outono luminoso e pacato de minha cidade do interior. Saudade do Colégio. Dos livros que carregava sob o braço. Saudade de quando cantarolava tuas músicas, teus sucessos, teu romantismo, para um grupo de colegas do 3º Científico do “Estadual”. Imagina! Apesar de tímido, eu até tentava, (audaciosamente!), imitar tua voz sonora e clara de clarinete... 

A mais solicitada? “Meu Nome é Ninguém”. A que eu mais gostava de cantarolar? “Lembranças”. Quem sabe, premonição de um Amor shakespeareano e apaixonado de adolescente... De um Amor cheio de Luz e de Azul – feito aquela “luminosa manhã” que, feliz, tu cantavas... “Lembranças”, no presente daquele ano de 1963, era uma música emblemática que prenunciava o desencontro amoroso de meus futuros e doídos passos! Ah, em escassos dois anos, o prenúncio se anunciou realidade. A Profecia se fez, e, até hoje, te ouço cantar “Lembranças” e não posso deixar de cantarolar contigo! Mas, sabes? Às vezes, a volta ao Passado é tão forte, tão latente, tão visceral... que não  consigo te acompanhar até o fim. Então, comovido, te ouço... abraçado em silêncio e Solidão... Tua interpretação, lírica e magistral, mexe com meus calados Sentimentos. E viajo por entre os acordes e os arranjos da orquestra... Orquestra à moda gostosamente romântica e antiga!

Ah, quando recebi a triste notícia de tua partida, meu peito arfou num grande suspiro... Voltei àquele cenário pretérito – debruado de Lirismo e Encantamento... De Nostalgia e de Ternura... E entre doces e doídas reminiscências, o tempo parou e me perdi entre ruas e calçadas... Entre rostos familiares e sorrisos doces – e sons que me embalam a Alma até hoje... Ali, estava tua voz, Miltinho. Estava eu. Estava a Musa que inspirava as garatujas que ainda escrevo... Ali, estavam os Sonhos, as Ilusões... E, te garanto: o meu Céu-Interior vestia aquele Azul e aquela Luminosidade da alvissareira manhã que, feito pássaro, cantavas!

Que Saudade, Miltinho! Daqueles tempos. Da tua voz. Da minha adolescência. Saudade da Esperança. E daquele olhar que carrego na memória já acinzentada das retinas! Ah, que Saudade, Miltinho...

 Ah, que SAUDADE!! Quantas LEMBRANÇAS, Miltinho!!

O verso do "compacto" informava outros lançamentos RGE

Artista: Miltinho
Ano: S/D
Gravadora/Fabricante/Selo:  RGE
Formato: Compacto / 7 polegadas
Nº Série:  CD-80.094
                                             
Lado A –  Confidência (Raul Sampaio / Benil Santos) / Devaneio (Djalma Ferreira / Luis Antônio)

Lado B – Mulher de trinta (Luis Antônio) - Menina moça (Luis Antônio) – Recado (Djalma Ferreira / Luis Antônio) / Poema das mãos (Luis Antônio)

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Porto Alegre, 09 de setembro/2014. 01h08min
jjotapoesia@gmail.com – www.cappaz.com.br
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Um comentário:

J.J. Oliveira Gonçalves disse...

Pois, Vaz...
Aqui estou para dizer-te, (ou escrever-te?), da emoção de ver esta crônica belamente estampada no nosso bageense e democrático "Velha Guarda"! Só posso agradecer-te, mais uma vez, pelo apreço ao meu trabalho e pela divulgação do mesmo.
Aplaudo teu trabalho jornalístico e, mesmo, sentimental, do resgate daquelas memórias - tão belas e tão caras - que nos levam de volta ao Passado, ao qual nos é proibido voltar... Refiro-me às claras e importantes informações que expões sobre o leve e sonoro "33 Compacto" - mostrando as quatro músicas que contém e, na contracapa, a divulgação de outros "33 Compactos". Confesso-te, Vaz, que ao ver a listagem romântica de cantores, intérpretes, orquestras e compositores, viajei num gostoso "Túnel de Tempo" - rumo ao bucolismo de nossa Bagé, daqueles "Anos Dourados", das "paixonites" malucas e belas daquela época, do meu grupo de amigos e colegas, de elegantes professoras e professores, dos carrões flamantes e maravilhosos, do nosso Estadual, do colorido e enamorado "Colégio das Irmãs" - de onde saíam as gurias lindas, namoradas, jovens Musas e Divas que esperávamos – cheios de Sonhos, de Ilusões, de esmeraldinas e ingênuas Esperanças! – do outro lado da rua...
Por todo esse filme, visceralmente reminiscente, que rolou mais no coração, na Alma - do que na cabeça - te agradeço, emocionado, a portagem em que meus Sentimentos escrevem sobre Miltinho! Miltinho que se Eternizou. Virou Saudade! Se foi. Mas continuará, pertinho. Dentro de cada um que tem o coração saudosamente romântico e agradecido! Eu, por exemplo, serei sempre grato a Miltinho que, entre outros, fez mais bela, lírica e intensa minha adolescência!

Com meu abraço franciscano!
JJ!