16 de outubro de 2022

A Taça do Mundo é Nossa

 

Fotografia de capa Luiz Carlos Vaz

A TAÇA DO MUNDO É NOSSA


Luiz Carlos Vaz (*)


Como vou lançar na próxima Feira um livro sobre futebol – “A Taça do Mundo é nossa”, vou começar a postar alguma coisa sobre o tema para provar a vocês que eu entendo (ou pretendo aprender com vocês) alguma coisa do assunto.

Tenho aqui nas prateleiras vários livros sobre futebol; títulos como Cuentos de Futbol, do Schlee, Futebol ao Sol e à Sombra, do Galeano ou o maravilhoso livro sobre o Heleno, aliás, sobre o “Dr. Heleno de Freitas”, do Marcos Eduardo Neves, e 99% dos livros publicados por GGM. Às vezes até pesquiso sobre o assunto e quando posso colocar meu guru, o Gabo, nessa coisa toda, fico até entusiasmado.

Pois foi com um ar de Jean-François que consegui localizar um raro texto do GMM, publicado no El Heraldo - um “periódico” de Barranquilla, em 1951, sobre o Heleno, que me ocupou esses últimos dias. Heleno ainda era famoso, mas estava já na fase final da sua carreira e jogava, segundo diz García Márquez, pela segunda vez no “Club Deportivo Popular Junior Fútbol Club”. Aí já me achei em condições de usar o nome completo do grande Jean-François Champollion. Até porque já me sentia o próprio.

Heleno, que nasceu em 1920, já contava com 31 anos; atuara desde 1939 no Botafogo, e em 234 jogos marcou 204 vezes; jogou em outros clubes por poucas temporadas. Foi convocado para a Seleção Brasileira pela primeira vez em 1944, e esteve presente nessa lista de jogadores até 1948; atuou em dezoito jogos e marcando 14 gols com a “camisa branca” da CBD.

Sobre ele, diz Ruy Castro: “Heleno de Freitas deixava um rastro de carnaval por onde passava. Primeiro pelos dribles e gols com a camisa do Botafogo – foi o grande ídolo da Estrela Solitária na era pré-Garrincha. Depois, pelo aroma de lança-perfume que o envolvia, e não apenas nos três dias de folia”... “em campo era o carrasco dos adversários e dos companheiros, que ele humilhava por igual com seu inatingível perfeccionismo; fora dele, era o sedutor irresistível, que circulava pela sociedade carioca dos anos 1940 e arrebatava as mulheres”... “da praia aos estádios, das boates ao hospício, tudo isso em 39 anos de vida”...

Sobre o jogador há inúmeras definições de antigos companheiros a respeito do fato de ser um verdadeiro craque, muito catimbeiro, boêmio inveterado e arrumador de encrenca; mas sobre o Dr. Heleno, Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, casado, pai de um único filho, isso pouco interessa ao futebol.

Na segunda e última passagem por Barranquilla, Garcia Márquez diz que ele “era um homem completamente diferente, dois anos mais velho... já passado pelo torno de uma consciente e multitudinária análise, cujos resultados ainda são desconhecidos, o que impediu a todos que entendem de futebol atrever-se a dizer se Heleno é um gênio ou um palhaço sem o perigo de ter que se retratar no domingo seguinte.” Num outro trecho de seu texto ele diz: “Em nenhum caso uma partida da qual participe Heleno tem a probabilidade de se transformar num logro, porque vaiar, da mesma maneira que aplaudir, é uma forma coletiva de reconhecer publicamente um fato.”

Galeano diz no seu livro Futebol ao sol e a sombra, que em um jogo contra o Flamengo, em 1947, “Heleno estava de costas para o arco. A bola chegou lá de cima. Ele parou-a com o peito e se voltou sem deixá-la cair. Com o corpo arqueado e a bola no peito, enfrentou a situação. Entre o gol e ele, uma multidão. Na área do Flamengo havia mais gente que em todo o Brasil. Se a bola caísse no chão, estava perdido. E então Heleno pôs-se a caminhar, sempre curvado para trás, e com a bola no peito atravessou tranquilamente as linhas inimigas. Ninguém podia tirá-la sem fazer falta, e estavam na zona de perigo. Quando chegou às portas do gol, Heleno endireitou o corpo. A bola deslizou até seus pés. E ele arrematou”.

No conto Verdad y mentira sobre Hugo Del Carril y el gran Heleno de Freitas (na época, 1949, jogando no Vasco da Gama), Schlee, já quase ao final, narra: “En esso apareció Heleno. Heleno de Freitas, de cabello bien peinado repartido a los dos lados. Heleno, el gran Heleno de Freitas, el inigualable, como em um cuadro, em uma fotografia de revista... (não vou contar o final...)

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A Taça do Mundo é nossa, meu próximo livro, que já tem sessão de autógrafos marcada para o dia 9 de novembro, é uma publicação de Edições Ardotempo, de Alfredo Aquino. Aguardo todos vocês lá... Vamos conversar sobre tudo, menos sobre futebol, coisa que vocês entendem muito mais do que eu. Eu só sou metido a Champollion.

A 48º Feira do Livro de Pelotas acontecerá de 28 de outubro a 15 de novembro nos tradicionais corredores e passeios da Praça Coronel Pedro Osório.

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Aldyr Garcia Schlee - Verdad y mentira sobre Hugo Del Carril Y El Gran Heleno de Freitas. Cuentos de futbol; Ediciones de Banda Oriental, 1995, pp 88/94

Eduardo Galeano – Futebol ao sol e à sombra. LPM Pocket, 2004

Gabriel Garcia Márquez - Heleno de ponta a ponta. Textos do Caribe vol 2; Record, 1981, p 181

Marcos Eduardo Neves – Nunca houve um homem como Heleno. Editora Zahar, 2012.

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(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo, Escritor e editor deste Blog