1 de julho de 2012

Réquiem para Ada



Réquiem para Ada
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"Nascer, viver e morrer, tal é a lei".
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Willy Cesar Rodrigues Ferreira
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   Ada, minha mãe, cumpriu exemplarmente sua missão nesse plano terrestre. Ela nasceu em 17 de outubro de 1924, na cidade de Bagé. Era a 13a. filha de meus avós Alcides e Isabel. Os encantos pela arte da poesia brotaram desde cedo. A menina Ada sentiu necessidade de expor seus sentimentos no papel, manifestas alegrias e angústias. Sempre que algo a chamava a atenção ela se punha a escrever e a sonhar. Ao ouvir um violinista tocar, pediu ao pai que a colocasse para aprender, mas a mãe se opôs. Tolhida em demonstrar pendores para a arte da música, ela escrevia seus versos escondida, não mostrava a ninguem em familia, especialmente depois que o pai morreu, quando ela tinha 13 anos incompletos, em 1936. Estudou mais um ano no colégio particular, porém nao concluiu o ensino fundamental. Veio a Segunda Guerra e ela com as irmãs Nina e Bothia se apresentaram como enfermeiras voluntárias (hoje seria auxiliar de enfermagem). 
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   Casou-se fortemente estimulada por sua mãe e, talvez, para dar uma guinada em sua vida aborrecida em casa, sem estudar. Veio p/ Rio Grande com Anselmo e o filho de 16 dias, Valdelirio (Mom), em fevereiro de 1945. O casal tinha em seus braços a única fortuna e no bolso, nada. Anselmo conseguiu alguns cobres em empregos temporários, numa época dificíl em que farinha de boa qualidade faltava nas padarias. O pão que comiam era preto, o pão de guerra, que custava mais barato. Enquanto Anselmo saía para trabalhar, Ada passava horas na fila para comprar pão preto, com o filho nos braços.
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   As dificuldades foram sendo superadas, graças a ajuda de amigos e familiares sensíveis em Bagé, como a irmã de Anselmo, Ondina, gesto que Ada agradeceu e reconheceu sempre. Anselmo, por fim, empregou-se na estiva do porto e a familia pode até aumentar. Em 1948, nasceu o segundo filho, Erlon Jacques. Quando Ada estava grávida do terceiro, Willy Cesar, em 1956, o casal comprou o terreno de esquina, na segunda quadra da Vila dos Estivadores (rua Ernani Fornari atual) e construiu ali a primeira casinha de madeira, com 5 peças, e alugou o imóvel. A familia foi morar nesse endereço em 1963. Continua sendo até hoje o endereço da familia Rodrigues Ferreira.
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   Ada trabalhou como costureira, cabeleireira e advogada. Depois de educar os filhos e encaminhá-los na vida, Ada foi completar os estudos de 1o. e 2o. graus (fundamental e médio), nos cursos supletivos. O sonho era formar-se em Direito, que foi alcançado em 1979, na Furg. Exerceu a advocacia até os 70 anos, quando passou a se dedicar somente à cultura. Sua produção de poesias aumentava cada vez mais. Mas ela nunca deixou de escrever, na verdade. Os primeiros versos tinham sido escritos aos 5 anos, em 1929, Trovinhas. Em Rio Grande, as primeiras poesias foram publicadas a partir de 1968, em O Peixeiro. Venceu o concurso de poesias da Semana de Cultura de 1982 com o poema O amor tem asas. Em 1994, publicou Passos, seu primeiro livro, lançado na Feira do Livro, da Furg. Dois anos depois, fundou a Oficina Literária em Rio Grande. No mesmo ano, vai a Brasilia, onde participou do Concilio de Ética pela Literatura, no Parlamundi. Mandala verde, em 2002, e O infinito dos sonhos, em 2004, são os outros dois livros publicados. A produção é imensa, talvez 2,5 mil poemas. Participou de várias antologias em Rio Grande e Brasilia. Integrava o Grupo de Poetas Girassol e participava dos eventos do site Papareia. Pintou mais de 200 telas a óleo e deixou a coleção 'Navios', com 24 quadros, a maioria prontos.
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   Ada nao foi exatamente feliz no casamento e separou-se de Anselmo em 1976. Teve alguns namorados, mas nunca se casou novamente. Dedicou-se aos filhos, à cultura e a filantropia. Fazia roupinhas para as orfãos do orfanato Maria Carmen até o fim da vida. Morreu em 4 de junho de 2011, vitimada por câncer de intestino. Disse em um de seus poemas:
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"É o poeta um rezador tenaz
Que veio despertar os corações.
Faz de seus versos tantas orações,
E com eles e os sonhos, oferta a paz!"
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Muito obrigado, Ada.

Willy Cesar Rodrigues Ferreira (*)
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(*) Willy Cesar é jornalista e escritor. Publicou recentemente a biografia de  Francisco Martins Bastos, fundador das Empresas Petróleo Ipiranga. Também é autor, entre outros, do livro do Centenário do Colégio Lemos Júnior, de Rio Grande.
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