O sinete mandado fazer pela Vó Orphelina Guasque |
O Sinete Guasque
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Gerson Luis Barreto de Oliveira
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Como todo guri que tinha uma avó com
casa no campo, quando chegava dezembro... záz, eu ia para o Cunhatay, nos Três
Cerros, já em Dom Pedrito, distante 45 minutos de carro de Bagé. Depois de uma
sofrida entrada pelo Paço da Ferraria, sete porteiras de arame ainda me separavam
da casa da minha avó Orphelina Guasque Barreto.
Nos dias de chuva a televisão não
pegava direito, os livros que levava, na maioria das vezes, acabavam
rapidamente e eu ficava sem nada para fazer. Então lá ia eu revirar os
guardados da família. Por esse motivo escrevo sobre tantas coisas variadas e
divido algumas dessas lembranças com vocês. Uma vez encontrei um pequeno objeto.
O que era? Era um sinete.
Os “sinetes” eram utilizados desde a
Grécia antiga. Eram produzidos como um carimbo pessoal ou até em forma de anel.
Na Europa do medievo faziam as vezes de assinatura, até porque os seus donos, na sua
grande maioria, eram analfabetos. O imperador da China tinha um do tamanho de
um tijolo, todo feito em jade.
Mas no ocidente geralmente eram de alguns
figurões que usavam para “assinar documentos”. Eles jogavam um pouco de cera
quente, ou “lacre vermelho”, ao final do texto, e prensavam esse material com o
sinete - ou o anel - e estava feita a
assinatura que garantia a veracidade e a procedência do documento.
Até hoje é feito um anel específico para
os Papas quando quando assumem o cargo, e ele usa a torto e a direito. Quando o Papa
morre o anel é quebrado em uma cerimônia específica para esse ato simbólico.
Descobri que isto era amplamente
utilizado em Bagé no final do século XIX e início do XX. O meu tataravô Guasque
tinha o seu, o filho dele também possuía um, e a filha deste, minha avó Orphelina Guasque
também. Mas eles usavam o sinete com uma almofada de carimbos, com tinta apropriada, para personalizar
cartas livros ou cartões pessoais.
No entanto as mulheres da família Guasque usavam
os sinetes de uma maneira muito prosaica. Usavam para "marcar a roupa
branca", segundo contava minha avó Orphelina. E isso incluía lençóis,
toalhas e toda a roupa íntima. Tudo era carimbado e personalizado.
Todos os livros do meu bisavô aos quais
tive acesso, e também os do pai dele, estavam marcados com os sinetes para
deixar bem claro quem era o dono.
Hoje guardo com carinho o sinete que
minha avó mandou fazer para ela ao casar com meu avô. Ela carimbou tudo o que achava que
valia a pena dizer que era seu. É um pedacinho da infância que ainda trago comigo, já longe do cheiro de mato molhado depois da chuva, do café com leite de vaca
tirado na hora, do bolo recém saído do forno e da manteiga batida especialmente
para o lanche da tarde...
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Enviado por
Gerson Luis Barreto de Oliveira
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