Já podeis, da Pátria Filhos
Hamilton Caio Vaz
.
A
partir do final dos anos 40 e início da década de 50, eu lembro de várias
viagens à Bagé. Nós morávamos na Hulha Negra e minha mãe vinha com frequência,
comigo e os irmãos menores, para visitar familiares e atender outros assuntos
habituais. Na maioria das vezes, vínhamos nos ônibus da empresa do Sr Lauro
Reis. O meu hábito costumeiro era viajar de pé, virado para a janela, olhando a
paisagem passar.
Em
uma dessas vindas, que deve ter sido em 1951, eu ainda não tinha feito sete
anos, vim acompanhado pelo meu pai e assisti meu primeiro desfile militar.
Lembro bem que ficamos perto de uma das torres, que me pareciam enormes, do
Mercado Público.
Aquelas
imagens e sons do desfile me impressionaram muito. Para quem estava acostumado
com a tranquilidade de um lugar pacato, rodeado de muitos animais e poucos
veículos, aquela quantidade enorme de jeeps, caminhões, e dos
"tanques" que os adultos falavam muito, chegavam até a assustar. O
ruído e o andar desses tanques com aquelas lagartas eram uma visão fantástica.
Depois apareceram uns caminhões enormes, fechados, muito estranhos, que anos
depois descobri que eram caminhões-oficinas. Mas assisti a tudo firme e acabei
gostando. Incrivelmente, a minha visão era essa que mostram as fotografias do
post, na mesma quadra, apenas que nós estávamos na esquina do Mercado, do lado
da joalharia do Turíbio Martins, que fazia esquina com o primeiro edifício da
cidade, o Salim Kalil. Talvez tenha sido esse o desfile que assisti!
E
quando poderia imaginar, naquele meu êxtase de menino de sete anos, diante
daquelas máquinas grandes e barulhentas, que uns 13 anos depois, eu trocaria de
lugar naquela parada? Imaginar que estaria dentro daquelas viaturas fazendo meu
primeiro desfile como militar servindo ao Exército, e maravilhando e
impressionando outros tantos meninos naquela mesma calçada...
Nesse
dia, quando a parada militar descia a Avenida Sete e passei nessa mesma esquina
- mesmo agora sem o velho mercado público, de dentro da minha viatura,
instintivamente, olhei para aquele lado tentando localizar um menino ao lado do
seu pai que ainda poderia estar por ali maravilhado. Talvez ele sorrisse,
talvez até me acenasse... mas o menino agora era eu.
Nota:
Dedico este texto ao meu Pai, que me levou para assistir este primeiro desfile,
e que neste 7 de setembro de 2010 (*) completaria 91 anos.
Enviado pelo colega
Hamilton Caio Vaz
.
3 comentários:
Hamilton, lindas memórias de infância que fundamentaram ações e decisões a partir daí.
Belo texto, linda imagem da antiga esquina por onde tantas vezes passei a caminho do Estadual...
Abraço!
Vera, foram cenas marcantes que ficaram indelevelmente gravadas na memória. Realmente, aquele desfile no início dos anos 50 sempre ressurge como um flashback: aquela grande multidão nos dois lados da rua, e a parada militar descendo a Rua Sete, e eu, com a minha “altura”, procurando uma posição melhor para observar, pois parecia que só “gigantes” estavam olhando o desfile. Os “tanques”, com o intenso ruído dos motores de aviação que eles usavam e o característico ranger das lagartas, polarizavam a atenção da assistência. Eles ainda eram veículos muito estranhos para a população, e vê-los de perto, era um privilégio para quem tinha unidades militares na sua cidade.
Pois, ora veja, anos depois fui servir nesse quartel de tanques, não por escolha própria, mas porque a seleção verificou a minha vocação para as “máquinas”. Bem, pelo menos aquele motor radial de avião eu já conhecia, com os estouros que assustavam a assistência, motivado pelo “retorno de chama”, quando a rotação do motor era reduzida muito rapidamente. E com toda aquela aparência e ronco de brutamontes, os tanques usavam gasolina cor-de-rosa...
Obrigado pelo teu belo comentário.
Mano, aprecio muito a riqueza de detalhes que adicionas às informações, fazendo-as ainda mais atraentes e deliciosas à leitura.
Teu texto me levou de volta aos tempos de menina, orgulhosamente assistindo aos desfiles em que meu irmão era figura importante.
Grande abraço a ti pela escritura do texto e ao Luiz Carlos pela Xoportuna publicação!
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