Foto LC Vaz |
Lembranças do Estadual
Álvaro Barreto (*)
Vaz:
Há tempos
que as lembranças do estadual andam meios esquecidas. Então, segue um pequeno
relato de minhas recordações como aluno, vindas diretamente dos anos 1980.
Estive no Estadual de 1983 a 1985, cumpri lá todo o então
segundo grau. No primeiro ano minhas aulas eram no turno da tarde e nos dois
seguintes pela manhã. Bem, o que posso dizer daquele período: era feliz e
sabia, pois sempre me senti muito bem por lá. Mas hoje sei de modo ainda mais
forte o quão era feliz e também o quanto a felicidade custava tão pouco.
Apesar de ser um sujeito tímido e retraído, tinha muitos
amigos e me dava bem com muita gente. Participei ativamente do Grêmio
Estudantil em 1985 e tive a oportunidade de brincar de jornalismo, então a
profissão com a qual sonhava, ao editar o jornalzinho “Cem Juízo”. Saíram uns
três ou quatro números. Ainda guardo alguns exemplares e qualquer dia divulgo
para conhecimento de uns e recordação de outros.
Como participava do Grêmio, ainda em 1985 fui a Santa Maria
participar de um curso oferecido pelo governo do estado. A minha intenção era
conhecer aquela cidade, pois estava dividido entre fazer a faculdade de
Comunicação Social na UFSM ou em Pelotas, onde já havia morado e que claramente
era a minha preferência. Esse fato mostra o valor de meus pais: minha mãe era
professora do estado e meu pai, comerciário. Vivíamos como a classe média
daquele período, sem luxos e folgas orçamentárias. A possibilidade de escolher
Santa Maria ou Pelotas, simplesmente pelo meu gosto sempre esteve em primeiro
lugar. Jamais eles disseram: “meu filho, a escolha é entre uma universidade
pública e uma privada, entre um custo alto no orçamento familiar e entre um
custo que nem sabemos como vamos suportar”, pois jornalismo em Pelotas
significava cursar a UCPel. Gostei de Santa Maria, mas Pelotas já estava no meu
coração, assim destemperadamente optei pela católica, universidade pela qual me
formei. Bravamente, meus pais não disseram nada e suportaram o custo a mais que
a minha vontade impôs a eles.
Lembro do dia, ainda em 1985, que saí do Estadual e fui ao
fotógrafo que ficava ali na frente para “tirar o retrato” para fazer a Carteira
de Identidade. Era o documento necessário para fazer a inscrição no vestibular.
Ainda guardo aquela carteira de identidade. A foto, aliás, é um registro de
alguém que se perdeu no tempo: nem minha mãe me reconhece nela. Não sei se isso
é bom ou ruim. Mas a foto existe, aquele era e sou eu.
No Estadual tive excelentes professores. São doces lembranças
que tenho, alguns nunca mas vi, de outros esqueci o nome, por falha minha, bem
entendido. Tive ótima formação e não precisei de cursinho para passar nos dois
vestibulares que fiz: jornalismo na UCPel e filosofia na UFPel. Fiquei em
segundo e em quarto lugar, respectivamente.
Muitos professores ficaram em minha memória em razão das aulas, mas
também da palavra certa, proferida na hora exata para um bando de adolescentes,
arrogantes e barulhentos, como todos eles são e um dia nós fomos.
Sei que para quem viveu determinada experiência, ela parece
única e especial, ainda mais quando se refere à juventude, período que se torna
mais vigoroso e belo à medida que nos tornamos mais velhos. Não posso garantir
que o Estadual fosse uma exceção naquela época, mas tenho que testemunhar: ele cumpriu
integralmente aquilo que se espera para a formação de um estudante de nível
médio. Não tenho reparos a fazer à qualidade das aulas que recebi, passados
tantos anos e quando eu próprio já acumulo 20 anos de experiência docente. Das
possibilidades de conhecer pessoas, fazer amizades e trocar ideias, então, nem
se fala. Das perturbações da adolescência também. Das inseguranças e
incertezas, mais ainda. Contudo, era reconfortante – e hoje é mais ainda –
passar por tudo isso naquele ambiente. Para mim, o Estadual não era e não foi
apenas o colégio em que fiz o segundo grau, um entre tantas opções, ele foi
algo muito importante em minha vida e continua a ser.
Este texto, aliás,
comprova isso.
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(*) O nosso conterrâneo Álvaro
Barreto estudou no Estadual e atualmente é professor da Universidade Federal de
Pelotas. Diretor em segundo mandato do Instituto de Filosofia, Sociologia e
Política (IFISP/UFPel), é Doutor em História pela PUC/RS, Mestre em História
pela UFRGS, Especialista em Ciência Política pela UFPel, graduado em
Comunicação Social pela Universidade Católica de Pelotas e em Filosofia pela
Universidade Federal de Pelotas.
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Ah!, já ia
esquecendo, o Álvaro me deu o prazer de ser meu aluno no Jornalismo da UCPel...
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