Retrô!
J.J. Oliveira Gonçalves
Sou retrô! Aliás, sempre fui. Por
quê? Porque já nasci retrô! Sem vergonha nenhuma, eu confesso. Pelo contrário,
sinto orgulho disso. Sou um homem-comum retrô. Um poeta retrô. Gosto da roupa
antiga. Da moda antiga. Da moça antiga. Vestida femininamente de mulher. De
saia. De blusa. Ou de vestido elegantemente belo. De sapatos nostalgicamente
retrôs. Com meia fumé. Ou, com delicadas anabelas, calçando pezinhos sensuais
de gurias - com unhas pintadinhas de rosa desbotado ou de vermelho vivo. Sou um
saudosista gostosamente retrô. Serei piegas, por isso? E daí? Isso não é
problema meu. É de quem assim me acha, me vê assim, me interpreta assim.
Afinal, até esta timidez que trago, em meu meio-sorriso acanhado, mantém sua
nuança indisfarçável e desavergonhadamente retrô!
(Amo ser retrô. Por isso, te amo
também. Com teu riso rosa-antigo. Com teus olhos meigos e graúdos de
dama-antiga. O que te deixa maravilhosamente retrô. Apesar de tua jovial
modern(a)idade...)
Sou do tempo das cartas de Amor...
escritas à mão. Nelas, o coração tem asas. Diz bobagens. Tece fantasias.
Confessa toda uma arquitetura amorosa de Sonhos. Eis que jura, leviana e
gentilmente, sua despudorada Paixão... Há coisa mais ridiculamente bela e
piegas do que as longas e apaixonadas cartas de amor? Ah, e aqueles bilhetinhos
curtos - mensageiros das coisas amorosamente íntimas do coração? Quase uma
mensagem telegrafada, onde a Poesia é o próprio Amor! Um bilhetinho, por
exemplo: "João, me espera, amanhã, na saída do colégio. Beijinho, D. Meu
Deus, haverá lembrança tão belamente retrô quanto esta?
Quando Charles Aznavour esteve em
Porto Alegre, faz alguns anos, fui vê-lo. Foi um show retrô de enternecimento.
De Lirismo. De Romantismo. Só eu sei a Emoção que mexeu com meus Sentidos e com
meus Sentimentos! Foi uma enorme e cândida volta ao Passado... Como se eu
voltara à Mágica e Luminosa Paris... Aznavour, com uma voz mais potente e mais
redondamente melodiosa, apesar de seus mais de 80 anos, não só cantou
divinamente, mas interpretou e também dançou alguns de seus números musicais.
Dançou e interpretou - como se fora um fogoso adolescente no palco - "La
Bohème" e "The Old Fashioned". No Silêncio do coração, agradeci
àquele Artista que ali estava, à minha frente, e que jamais imaginei vê-lo
cantar, dançar e interpretar, para mim. Charles Aznavour me conquistou quando
eu era ainda um guri. Um garoto. Um adolescente. Ele, assim como outros
"monstros sagrados", (expressão retrô ou saudoso clichê ?), fez mais
bela, colorida, esperançosa e rica minha adolescência. Vivi, durante seu show
de voz, de dança e interpretação, um momento genuinamente retrô! E voltei ao
Passado. Embora, lá, não se possa voltar...
Reafirmo: sou retrô! Afinal, retrô
não é doença. Não faz mal a ninguém. Muito pelo contrário... E quem afirma é
meu coração, é minha Alma... Ser retrô é simplesmente uma maneira de ser. Um
comportamento. É uma moda que não morre. Seja no vestir. No calçar. No assistir
a um filme. No ouvir vinis, LPs... No decorar da casa - ou de um espaço só seu
dentro dela. No possuir um automóvel de românticas e priscas eras. Enfim, entre
outros tantos aspectos, no ser e assumir-se retrô. Ah, e de não "estar nem
aí", para o que pensem ou digam... Sendo Aquariano, creio seja bem mais
fácil declarar-me um cara prazerosa e assumidamente retrô!! Ao fim e ao cabo,
retrô é um Estilo: único e gostosamente charmoso de ver, sentir e viver a Vida!
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Porto Alegre, 04 de março/2013. 10h
jjotapoesia@gmail.com -
www.cappaz.com.br
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2 comentários:
Pois, Vaz...
Mui grato, pela surpresa "très agréable" de encontrar meu texto, aqui, no "Velha Guarda"!
Realmente, me sinto exatamente assim. Esse é um tema com muitas facetas e muito rico para quem gosta de escrever. E se presta muito ao exercício literário, principalmente para quem é saudosista e sabe, (sem qualquer prepotência do saber!), o que é o belo, o que é a música, o que é a poesia, enfim, o que é a Arte. Curti os meados dos anos 50, e, dali em diante, me encantei com os "Anos Dourados." Ah, se eu fosse pintor, pintaria aqueles anos em tons pastel, tendo ao fundo um nostálgico e inocente Rosa-Antigo...
Parabéns, pela feliz escolha dessa bela foto de Charles Aznavour. Nela, Aznavour tem um "ar retrô" de filósofo... Pelo menos, essa é a leitura que faço. (Possuo alguns vinis - relíquias - e CDs desse singular cantor - francês e universal!)
Com franciscano abraço!
JJ!
Continuando nessa linha, JJ:
http://www.youtube.com/watch?v=9LKMN8-azPc
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