4 de março de 2013

Retrô!



Retrô!
J.J. Oliveira Gonçalves

Sou retrô! Aliás, sempre fui. Por quê? Porque já nasci retrô! Sem vergonha nenhuma, eu confesso. Pelo contrário, sinto orgulho disso. Sou um homem-comum retrô. Um poeta retrô. Gosto da roupa antiga. Da moda antiga. Da moça antiga. Vestida femininamente de mulher. De saia. De blusa. Ou de vestido elegantemente belo. De sapatos nostalgicamente retrôs. Com meia fumé. Ou, com delicadas anabelas, calçando pezinhos sensuais de gurias - com unhas pintadinhas de rosa desbotado ou de vermelho vivo. Sou um saudosista gostosamente retrô. Serei piegas, por isso? E daí? Isso não é problema meu. É de quem assim me acha, me vê assim, me interpreta assim. Afinal, até esta timidez que trago, em meu meio-sorriso acanhado, mantém sua nuança indisfarçável e desavergonhadamente retrô!

(Amo ser retrô. Por isso, te amo também. Com teu riso rosa-antigo. Com teus olhos meigos e graúdos de dama-antiga. O que te deixa maravilhosamente retrô. Apesar de tua jovial modern(a)idade...)

Sou do tempo das cartas de Amor... escritas à mão. Nelas, o coração tem asas. Diz bobagens. Tece fantasias. Confessa toda uma arquitetura amorosa de Sonhos. Eis que jura, leviana e gentilmente, sua despudorada Paixão... Há coisa mais ridiculamente bela e piegas do que as longas e apaixonadas cartas de amor? Ah, e aqueles bilhetinhos curtos - mensageiros das coisas amorosamente íntimas do coração? Quase uma mensagem telegrafada, onde a Poesia é o próprio Amor! Um bilhetinho, por exemplo: "João, me espera, amanhã, na saída do colégio. Beijinho, D. Meu Deus, haverá lembrança tão belamente retrô quanto esta?

Quando Charles Aznavour esteve em Porto Alegre, faz alguns anos, fui vê-lo. Foi um show retrô de enternecimento. De Lirismo. De Romantismo. Só eu sei a Emoção que mexeu com meus Sentidos e com meus Sentimentos! Foi uma enorme e cândida volta ao Passado... Como se eu voltara à Mágica e Luminosa Paris... Aznavour, com uma voz mais potente e mais redondamente melodiosa, apesar de seus mais de 80 anos, não só cantou divinamente, mas interpretou e também dançou alguns de seus números musicais. Dançou e interpretou - como se fora um fogoso adolescente no palco - "La Bohème" e "The Old Fashioned". No Silêncio do coração, agradeci àquele Artista que ali estava, à minha frente, e que jamais imaginei vê-lo cantar, dançar e interpretar, para mim. Charles Aznavour me conquistou quando eu era ainda um guri. Um garoto. Um adolescente. Ele, assim como outros "monstros sagrados", (expressão retrô ou saudoso clichê ?), fez mais bela, colorida, esperançosa e rica minha adolescência. Vivi, durante seu show de voz, de dança e interpretação, um momento genuinamente retrô! E voltei ao Passado. Embora, lá, não se possa voltar...

Reafirmo: sou retrô! Afinal, retrô não é doença. Não faz mal a ninguém. Muito pelo contrário... E quem afirma é meu coração, é minha Alma... Ser retrô é simplesmente uma maneira de ser. Um comportamento. É uma moda que não morre. Seja no vestir. No calçar. No assistir a um filme. No ouvir vinis, LPs... No decorar da casa - ou de um espaço só seu dentro dela. No possuir um automóvel de românticas e priscas eras. Enfim, entre outros tantos aspectos, no ser e assumir-se retrô. Ah, e de não "estar nem aí", para o que pensem ou digam... Sendo Aquariano, creio seja bem mais fácil declarar-me um cara prazerosa e assumidamente retrô!! Ao fim e ao cabo, retrô é um Estilo: único e gostosamente charmoso de ver, sentir e viver a Vida!
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Porto Alegre, 04 de março/2013. 10h
jjotapoesia@gmail.com - www.cappaz.com.br
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2 comentários:

Anônimo disse...

Pois, Vaz...

Mui grato, pela surpresa "très agréable" de encontrar meu texto, aqui, no "Velha Guarda"!
Realmente, me sinto exatamente assim. Esse é um tema com muitas facetas e muito rico para quem gosta de escrever. E se presta muito ao exercício literário, principalmente para quem é saudosista e sabe, (sem qualquer prepotência do saber!), o que é o belo, o que é a música, o que é a poesia, enfim, o que é a Arte. Curti os meados dos anos 50, e, dali em diante, me encantei com os "Anos Dourados." Ah, se eu fosse pintor, pintaria aqueles anos em tons pastel, tendo ao fundo um nostálgico e inocente Rosa-Antigo...
Parabéns, pela feliz escolha dessa bela foto de Charles Aznavour. Nela, Aznavour tem um "ar retrô" de filósofo... Pelo menos, essa é a leitura que faço. (Possuo alguns vinis - relíquias - e CDs desse singular cantor - francês e universal!)

Com franciscano abraço!
JJ!

Luiz Carlos Vaz disse...

Continuando nessa linha, JJ:
http://www.youtube.com/watch?v=9LKMN8-azPc