Mario Lopes, alguém capaz de guardar uma cidade inteira no coração
Elvira Nascimento
Ninguém
desconfia que, em sua própria casa, ele retém o tempo de sua aldeia. São muitas
as vozes, as vidas, os muitos olhares, feitos e fatos de nossa história,
registrados nas inúmeras publicações que compõem, hoje, o curioso e singular
pequeno grande Museu que ele montou na rua General Osório.
Mas todo mundo
agradece quando ele partilha, com zelosa
e pontual generosidade, com todos nós, nos jornais e publicações locais,
como esta, a fecunda provisão de uma memória
coletiva ali, cuidadosamente, guardada.
Desde a cultura
Inca narradores são designados para contarem seu mundo porque, sabia ela, da
grande e indefensável distração humana. Também nós sabemos dela e de um tempo
volátil e líquido que nos atravessa, desfaz pegadas, descarta ciclos e rostos e
nos confunde nas engrenagens brumosas da incerteza. Por isso os documentaristas
e as biografias se multiplicam.
A História
precisa se olhar em várias perspectivas, fazer, incessantemente, sua autocrítica,
avançar e se revisar. Precisa ,ela, sempre de rumos mais humanos. Mario Lopes
colecionador de personagens, atento habitante do território da Memória, em seu
severo ofício, comemora aqui suas contribuições. É integrante do Núcleo de
Pesquisas Tarcísio Taborda, dirigido, hoje, pelo incomum dinamismo de Heloisa
Beckman.
Ele tem 90 anos
e, dentro, todas as idades do mundo.
Com certeza, a
um canto de sua alma um ATOR do Teatro em Família, dos sonhadores anos 40,
conversa com o experiente JORNALISTA e, este, com o perspicaz COMENTARISTA
ESPORTIVO e, todos eles, com o ESCRITOR E MEMORIALISTA. Dessa roda plural de
conversa nós recolhemos o mais caloroso resultado: o convívio com um ser humano
sensível, especial, plenamente presente na
cena cultural da cidade, inquieto e vitalizante e apaixonado pelo que faz. Um
ator de nossa história enquanto narrador, aquele que nunca abandonou a cena mas
deslocou-a e alargou-a para o
grande palco das narrações.
Mario Lopes é
patrimônio humano de Bagé.
Quando sobe a
sua Rua 7, dentro de seus passos, vai
alma dessa cidade, seus silêncios, resistências e a cintilante música da
memória.
2 comentários:
Pozolha, como fala o meu amigo Vaz, inclusive tem como título aqui no blog, "Só podia ser em Bagé", ter uma personalidade destas em nossa querida Bagé. Um baita abraço índio velho.
Pozolha, Gerson, os livros desse homem são uma verdadeira viagem no tempo por Bagé. Recomendo.
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