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Quarta-feira, dia nacional do sofá - LVIII
Promessa feita,
promessa cumprida!
Giséle Maria
Costa da Silveira
Compartilhamos
muitos solavancos nesta vida.
Carrocerias de caminhão, de camionete e até de carroça. Foram muitas mudanças.
Primeiro (faz tempo!), da loja, na
Avenida Sete, em Bagé, até a casa de nossos primeiros donos, no bairro Getúlio
Vargas. Naquele trajeto, me contaste da tua curiosidade em conhecer a Praia do
Laranjal, quando ouviste dois clientes da loja discutirem a compra de móveis
para levarem até Pelotas. Depois nos mudaram para o interior do município e
continuavas com a mesma ladainha: “Como queria conhecer a Praia do Laranjal!
Deve ser muito linda!”
Fomos adquiridos na mesma empreitada, mas não
ficamos juntos. Naquela época eu pertencia ao chamado “terno estofado”- sofá de
três lugares acompanhado de duas poltronas. Foste para o quarto do casal; eu e
minhas companheiras, para a sala. Um belo, jovem e garboso sofá, recém-saído da
loja, revestido de tecido reluzente, ladeado por poltronas dotadas de fofas saliências
e reentrâncias recobertas de tecido acetinado ao toque... Um paxá sempre me senti
e se me passou pela cabeça alguma preocupação, logo tratei de tirar, dada a naturalidade
com que sempre foi vista essa bigamia. Vejam só como são as coisas...
Ganhei lugar de
destaque na chácara sobre o tapete de couro de boi, com vista para o açude. Já
tu, poltrona amiga, respeitada só nos primeiros tempos (mais tarde me
confidenciaste), colocada num canto do quarto, logo começaram a te atirar
roupas por cima ou esqueciam a janela aberta e te deixavam torrando ao sol, no
verão. Prova disso é tua coloração ocre muito longe da beleza original.
O tempo,
acompanhado da TV, da pipoca, do refrigerante, do tênis sujo, das pontas do
espiral dos cadernos das crianças, das agulhas de tricô esquecidas, dos caldos
de sopa ou café derramados e tudo mais se encarregaram de me detonar e eu
acabei neste estado deplorável. Minhas poltronas companheiras há muito me abandonaram.
Foram revestidas de tecido novo e levadas para o consultório da filha do casal.
Daí te trouxeram pra perto de mim. E também teu choramingo: ”Não posso morrer
sem conhecer a Praia do Laranjal!”
Querendo ou não,
passei a tomar esse compromisso como meu. Passei a conversa no cara que ia nos
deixar no lixo reciclado, contei a nossa história, coisa e tal. E aqui estamos
os dois, juntinhos, no caminho para o Pontal da Barra, apreciando a calmaria
das águas da Lagoa dos Patos. Promessa feita, promessa cumprida!
Setembro/2013
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4 comentários:
Tchêêê Vaz, muito interessante essa estória, como diz na música dos Feevers "Promessa é uma dívida e você tem que, pagar"....
Mas, bah! Essa minha irmã sabe escrever bonito!!! Parabéns, Giséle!Que beleza a trajetória desse sofá e dessa poltrona. E que continuem os "causos" dos sofás abandonados.
Abraços
Claudete
Verdade, Gerson. A Gisele é outra cronista bageense que vamos contratar aqui para o Blog.
Isso vai virar minissérie, Claudete, A saga dos sofás abandonados, rsrsrs
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