Figurinhas de álbuns de Copas passadas |
"O que a memória amou é eterno"
Paulo Otávio Pinho (*)
Copa do Mundo remete-nos às lembranças afetivas. Por isso,
nunca as esquecemos. Sou capaz de lembrar onde e com quem estava em 70, 74, 78,
82... Mas não lembro por onde andava quando o Corinthians terminou com a fila
de mais de 20 anos sem ganhar título.
Alguém disse que futebol é a coisa mais importante, das
menos importantes.
Não lembro nada de extraordinário do jardim de infância, no
Colégio Pedro Osório, em 1970. Pois foi exatamente neste ano que aprendi que
existiam países comunistas. Tinha um, de nome esquisito, que se chamava Tchecoslováquia.
Cheguei até a torcer por ela, só pelo nome. Fiquei sabendo, também, que
existiam “duas Alemanhas”: a Oriental e a Ocidental.
Acho que foi naquele ano, ao lado do meu pai, aos cinco
anos, que me apaixonei pelo futebol. De lá brotam, talvez, as minhas mais
remotas e fortes lembranças de vida. Como escreveu Adélia Prado, o que a
memória amou fica eterno. Por isso, nunca fui Garrincha, mas Pelé e Tostão no
pátio da minha infância.
No dia em que o
Brasil foi campeão meu pai nos levou ao apartamento de meus padrinhos, Iva e
Jacob Bainy, e da sacada do terceiro andar do edifício Ferreira Diniz,
assistimos ao mais delirante carnaval da rua Quinze de Novembro. Foi também o
dia da minha primeira experiência com o lado obscuro do futebol. Surgiu no meio
da multidão um carro alegórico com uma foto gigante do presidente ditador do
Brasil, Emílio Garrastazu Médici. Lembro como se fosse hoje, não tanto pelo
tamanho da foto, mas pela surpreendente descoberta e suas implicações.
Meu pai, Paulo Pinho, sabia das coisas.
No dia 20 de julho de 1969, após assistirmos as cenas do
homem pisar na lua, meu pai chamou os filhos para o pátio de nossa casa, ali na
Deodoro, 865, entre Major Cícero e Cassiano. Ficamos por longos minutos
contemplando a lua, que brilhava, como sempre, magnificamente.
- Vocês vão lembrar deste momento para sempre – avisou.
Meu pai tinha dessas coisas. Certa vez, ele “moveu o
mundo" para nos levar a Porto Alegre para ver a última apresentação de
Pelé, pelo Santos, na Capital. Foi em 1977, quando o Rei estava de malas
prontas para ir mostrar sua arte nos EUA. Lembro-me não só do dia, mas também
de seu comentário:
- Será a última oportunidade para assistirmos o maior
jogador de todos os tempos.
Palavras proféticas. Ao ver o futebol apresentado por todos
os melhores jogadores do planeta, nesta Copa do Mundo de 2014, resta-nos torcer
não mais para o surgimento de um novo Pelé, mas por alguém que consiga driblar
no meio de tantas pernas de pau ou “feridas”, como diria meu pai.
Daqueles tempos, herdamos apenas a magia do futebol e das
Copas do Mundo.
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(*) Paulo Otávio
Pinho é jornalista e, entre outras atividades como editor de jornais, faz o
blog Dia desses
.
4 comentários:
Gostei! A propósito, coleciono figurinhas das Copas desde a do México, em 70. E dessas aí, que aparecem na ilustração (74) ainda me faltam o W. Seguin, da Alemanha Oriental, e bandeira da Escócia. Uma das obsessões da minha vida é consegui-las!
Gostei! A propósito, coleciono as figurinhas das Copas desde a do México 70. Essas que aparecem na ilustração são da Copa de 74 (cujo álbum não completei, faltando-me o jogador W. Seguin, da Alemanha Oriental, e a bandeira da Escócia). Uma das metas que tenho na vida é encontrá-las!
Puxa, Aldyr, se conseguires será sem dúvida mais uma boa história para ser contada aqui.
Abraço
Vaz
Olhem só: eu tenho os álbuns de 70,74 e 78. Nenhum completo. O de 70 tá quase completo e o de 74 ( acho que tenho até dois álbuns). Dei pro meu filho e tenho a certeza que ele não vai se importar de te ofertar se tivermos a figurinha.Ainda mais por uma causa dessas. Em tempo - temos também uma relíquia que o Vaz deve lembrar: o álbum Bola de Prata, de 1970. As "figurinhas" eram chapinhas de lata adesivadas. Tá quase completo. Muito bom olhar pra eles e lembrar daqueles tempos.
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