30 de junho de 2012

E elas voltaram...


A gente nem sabia mais para que serviam.... Mas elas voltaram. Voltaram com a chuva. São as "sombrinhas" que, além de deixar a pessoa que usa "na sombra", também impede que a chuva molhe o vivente...
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29 de junho de 2012

Fogueiras da alma


Foto Maribel Felippe. Fogueira junina da EMEF João da Silva


Fogueiras da alma
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Paulo Mendes
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As imagens perdem a nitidez em junho. A gente olha, mas pouco enxerga através dos vidros embaçados. Surgem nevoeiros semoventes que, apenas ao chegar bem perto, se transformam em gente, bicicletas, cavalos, e carroças. Meus recuerdos também são brumas envoltas num passado alvo, recoberto por brancuras de ar. Ouço cordeonas de oito baixos e vejo espectros de parentes e amigos ao longe, envoltos em névoa, a abanar suas saudades. Balões, pinhão assando nas chapas avermelhadas dos fogões, gosto de quentão na boca. O calor de uma fogueira ardendo dentro da noite imensa. Então tudo volta, de novo, na meninice reinventada, no calor dos lenços e palas, e na lã das boinas, numa mistura insólita de sons e sombras, imagens contrastadas como uma cena triste de filme noir.
Nós, a gurizada, passávamos os primeiros meses do ano a catar gravetos, moirões, taquaras podres, varas de eucalipto, tocos de cinamomo, escoras de ciprestes, caibros de cabriúva, cambões extraviados, cangas quebradas, tábuas apodrecidas, restos de construção. Tudo que parecesse queimar. Minha mãe, uma ativista ecológica campeira, sempre alertava. "Só não cortem mato nativo." Nós respeitávamos. Juntávamos até pneus velhos na oficina dos Mello, ali perto dos trilhos. Aquilo se transformava em uma montanha que seria usada na fogueira na noite de São João.
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Ah, meus amigos, eram lindas aquelas festanças que fazíamos, eu, o Luiz e o Clécio Dal Forno, e que atraíam as famílias para brincar, comer e dançar ao som da gaita do velho Lara. Uns traziam quitutes, pamonhas, rapadurinhas, canjica. A cachorrada brigava, os vizinhos se abraçavam, os primos namoravam escondido. A Verinha, gringa sapeca, vinha pela mão da Nona, com seu vestido colorido, enrolada em mantas, com longas tranças e sempre mentia: "Si tu salta il fuoco io te do um bacio, é vero". Eu pulava e ela dizia que eu não tinha conseguido. Então pulava três, cinco, dez, 20, até morrer de cansaço, mas quando ia cobrar o beijo ela já tinha ido embora. Nunca me beijou. Não era vero. Passaram-se muitos anos até que beijei outros lábios, mas nunca esqueci aquela boquita encarnada, de onde brotava uma voz cândida e italiana, como desses pássaros matinais.
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Hoje, depois de tanto tempo, compreendi que a vida também é assim como aquelas fogueiras que aqueceram nossa infância, lá na Vila Rica. No início crepitam forte, alumiam, clareiam tudo, fazem barulhos, as labaredas dançam, soltam faíscas e depois, lentamente, vão mermando, devagar, até sobrarem brasas. Essas também vão sumindo, perdendo o calor. Ao fim, por mais que se mexa no borralho, restam só as cinzas mortas...
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Paulo Mendes
pmendes@correiodopovo.com.br
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Jornal Correio do Povo, coluna Campereada, 24 de junho de 2012
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28 de junho de 2012

O Cemitério das Tunas


Túmulo pertencente à família do Cel. Antonio Xavier de Azambuja, em foto da autora
No Cemitério das Tunas repousa o primeiro Intendente de Bagé


Profª Ms Elaine Maria Tonini Bastianello

"O jornal Folha do Sul, de Bagé, publicou
que o Cemitério das Tunas havia se tornado um local histórico
através do decreto lei municipal.
Esse fato instigou-me a ir em busca desse espaço de sepultamento
de cuja existência, confesso, não sabia".
 EMTB
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  Localizado no interior do Município de Bagé, na localidade das Tunas, este cemitério de campanha fazia parte da propriedade do Cel. Antônio Xavier de Azambuja. Hoje, propriedade do Sr. Artur Renato de Campos Rodrigues, que, gentilmente, me acompanhou nesta visita.
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  O Cel. Antônio Xavier de Azambuja foi o primeiro Intendente Municipal desta cidade. Sobre essa questão (TABORDA, 1966, p.110) afirma que Azambuja foi nomeado no dia 8 de abril de 1893 pelo Presidente do estado, Dr. Julio Prates de Castilhos, sendo que no dia 20 de abril tomou posse do cargo de Intendente. Naquela época, a sede da intendência, onde se despachava, localizava-se onde hoje funciona a escola Monsenhor Constábile Hipólito, localizada na rua Conde de Porto Alegre, ao lado da Catedral de São Sebastião.
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  No entanto, há que se ressaltar que seu mandato foi interrompido, pois estourou a Revolução Federalista de 1893, na qual, pela primeira vez na História do Brasil, o exército brasileiro estava sitiado pelas tropas federalistas. Conforme argumenta (TABORDA, 1966, p.110), o Cel. Azambuja “mandou vir das Tunas uma força de 200 homens, que colocou à disposição do Cel. Carlos Maria da Silva Telles”. Na Praça da Catedral o Cel. Azambuja permaneceu na defesa da legalidade juntamente com o Cel. Telles.
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  Terminado o “Sítio de Bagé” o nosso primeiro intendente retorna às suas funções políticas e conclui o seu mandato, que se encerra no dia 12 de abril de 1897. Concluída a sua função de Intendente, ele retira-se para a estância nas Tunas a fim de administrar a sua propriedade rural. Veio a falecer no dia 29 de dezembro de 1913, aos 83 anos de idade, na residência de seu amigo, Dr. Lybio Vinhas, na cidade de Bagé, e sendo sepultado nas suas terras no Cemitério de sua família, nas Tunas. Deixou muitos descendentes, que circulam por esta cidade, mantendo como legado a forte ligação com o campo.
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  Assim, o Cel. Antonio Xavier de Azambuja encontra-se repousando no Cemitério das Tunas que é um cemitério secular, pois ali encontramos enterramentos realizados a partir do ano de 1885. Esse espaço cemiterial é todo fechado com um muro que se diferencia por ser feito de pedras e revestido externamente com argamassa.
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  Ao entrar pelo portão desse sepulcro, logo se percebe a grandiosidade da volumetria de seu túmulo, pois essa sepultura apresenta um suntuoso frontão aberto o que estabelece uma diferença em relação aos demais túmulos. Essa edificação funerária, que foi erigida em memória do Cel. Azambuja, é uma construção vernacular, sem nenhum tipo de ostentação, quanto ao material empregado na sua feitura. De tijolos, apresenta como acabamento uma pintura caiada na cor branca.
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  Esse túmulo sofreu uma intervenção, pois como é possível perceber, a sua lápide não é contemporânea à sua época. O emprego do granito nas construções mortuárias ocorre aproximadamente a partir dos anos 50 do século XX. Nessa lápide, à esquerda, encontramos a foto em preto e branco, em porcelana, do casal Cel. Antonio e Flora Xavier de Azambuja. Essa fotografia está emoldurada por um material cromado, que não corresponde à data desse túmulo. Também merece ser destacado que seu epitáfio diz: “O tempo passa e resta saudade”.
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  Além da intervenção do granito e da foto, percebe-se também a utilização de ladrilho tipo mosaico, muito utilizado na época, mas aqui é empregado como um friso para proteger a lápide. Como adorno se destacam em suas laterais dois belos vasos confeccionados em mármore italiano, estes provavelmente da mesma época da construção do túmulo. Passado um século de seu falecimento, as suas atitudes em vida tiveram o seu reconhecimento através do tombamento desse espaço funerário que ganhou visibilidade e assim foi contemplado como patrimônio histórico deste município, conforme a Lei Municipal Nº 5126, de 03 de abril de 2012.
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  Através dessa Lei ficou garantida a perpetuidade do Cemitério das Tunas, pois esse espaço mortuário transcende a sociedade que o erigiu. Assim, é de extrema pertinência para Bagé, pois ali está sepultado o primeiro Intendente deste município.
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  Compartilhar com os leitores um pouquinho dessa história significa resgatar a memória pública desse político, guerreiro e estancieiro que tanto contribuiu para a vitória das forças democráticas desta cidade no final do século XIX. Conhecer parte desse passado significa reafirmar a sua identidade e ao mesmo tempo interditá-lo do esquecimento.

Profª Ms Elaine Maria Tonini Bastianello
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Professora e ex-aluna do Estadual, Elaine é também
Membro do NPHTT, Núcleo de Pesquisas Históricas Tarcísio Taborda
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27 de junho de 2012

Para Lennon & McCartney


Escultura em homenagem a Eleanor Rigby, inaugurada em Liverpool, em 1982.
Imagem do Google


Para Lennon & McCartney
ângelo alfonsin


cada dia de casamento
lá estava ela na porta
da igreja
vendo os noivos chegar
e sair
juntava cada grão de arroz
jogado
e guardava para o dia
que casasse
se não se chamasse Eleanor Rigby
se chamaria solidão
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Mais de Ângelo Alfonsin Aqui
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Quarta-feira, dia nacional do sofá - XXVIII, Ladeira abaixo


Acho que vou rolar ladeira abaixo! É só alguém me dar um empurrãozinho e lá vou eu, rolando. Muitos rolaram em cima de mim, mas isso já é passado, não "rolou" mais clima e me jogaram fora, sem enrolação, sem me enrolar. Vou me ralar...

26 de junho de 2012

A primeira vista



Uma linda visão
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Rodrigo Monteiro
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  A inteligência de um encenador está quando o que é dito e a forma como o que é dito é dito se casam. “A primeira vista” (A Beautiful View”), escrito em 2006 pelo canadense Daniel MacIvor, ganha a direção de Enrique Diaz num belíssimo exemplo dessa inteligência. Os personagens de MacIvor são fluídos, são livres, habitam um mundo onde as barreiras são inconvenientes, estranhas, deslocadas. Sendo algo, esse é o conteúdo. E a forma? MacIvor não começa, nem termina as cenas de um jeito claro. As palavras se perdem no meio das frases, os encontros e os desencontros se misturam, os assuntos nascem e morrem sem que o leitor (estamos falando do texto) perceba, as emoções se confundem. Por sua vez, Diaz opta por manter o palco limpo (estamos falando da peça) com poucos recursos em cena e dirige as interpretações das atrizes no sentido de estarem tão próximas do real além da narrativa que o limite entre teatro e não-teatro parece não existir. O resultado é a construção de uma dramaturgia cênica intimista, acolhedora, humana. Estar na plateia de “A primeira vista” é como simplesmente ouvir duas amigas contarem a sua história. Você as conhece, logo não precisa ouvir seus nomes. Elas conhecem você, logo não precisam trocar de roupas para te receber. Estamos todos em um local amigável, logo sentir-se à vontade é conseqüência.
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  Duas mulheres, delicadamente interpretadas por Drica Moraes e Mariana Lima, se conhecem em uma loja de artigos para camping. Reencontram-se casualmente depois em um show. Um dia, uma noite, elas ficam juntas. Uma pensa que a outra é lésbica, sem que nenhuma das duas saiba que, para outra assim como para si, aquela foi a única experiência sexual com uma pessoa do mesmo sexo que teve. A vida segue e novos encontros entre as duas acontecem. O ponto de partida de MacIvor é um lugar no futuro em que ambas lembram o passado, tentando unir as peças, buscando, talvez, algum sentido para a vida que, de alguma forma, compartilharam. O ponto de partida de Diaz é apagar qualquer obstáculo que impeça que elas se encontrem e, sobretudo, que o público as encontrem.
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  Metateatro, ator rapsodo, stand-up comedy com história, indietheater… Teoricamente, há vários conceitos confortáveis a partir dos quais é possível analisar “A primeira vista”. De uma forma geral, a consciência de que estamos num teatro em que duas atrizes interpretam duas personagens é mantida pelo visível esforço no apagamento das marcas que redundem essas noções. Enrique Diaz que, nos mesmos moldes, dirigiu o sucesso “In On It” (do mesmo Daniel MacIvor), mantém o que é imprescindível para o efeito de espetacularidade acontecer: um perfeito desenho de luz, esse assinado não menos por alguém como Maneco Quinderé, cujo ponto alto é o black-out reflexivo no meio da peça, e uma sonoplastia/trilha sonora criada, escolhida (Fabiano Krieger e Lucas Marcier), operada (Lucas Marcier) e interpretada (Moraes e Lima) de forma excelente nos mínimos detalhes. Pontuais, seguros, ricos: os usos da iluminação e da trilha sonora não são ilustrativos, mas informacionais. As escolhas, assim como a opção por figurinos simples (Antônio Medeiros), mas não menos interessantes, expressam a concepção como um todo, definem o espetáculo como uma estrutura circular e, talvez, por isso, confortável, palatável, agradabilíssima.
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  Ainda que os focos caiam sobre Drica Moares que, com a saúde recuperada, volta aos palcos, não é possível dizer que ela apresenta um trabalho melhor que Mariana Lima. Ambas estão igualmente ótimas em cenas: exibem um discurso dito aos solavancos, com movimentos dispersos e palavras cortadas pela metade. Tudo que o que poderia parecer ruim, aqui é excelente porque perfeitamente coerente com o texto e com a concepção. Em momentos determinados, gestos disciplinados em giros certeiros, pausas bem marcadas, entonações bem dirigidas. A personagem citada Sasha, o camping, o medo do urso, a visão da cachoeira ganham importância, fazem sentido, são marcas de coesão. E só são porque o devido valor lhes foram dados.
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  “A primeira vista” corta de uma forma muito sutil, enquanto nos oferece “uma bonita visão”. O passado, no seu lugar idealizado, é humanamente mais bonito. Quanto à tona, ele nos pergunta: “Por que estou aqui? O que farão comigo agora vocês que me despertaram?” Então, vem a catarse, o choro, a reflexão e o aplauso. Aquele do tipo grato, sincero, orgulhoso, honrado de compartilhar com elas (?) as suas histórias recém contadas.
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Rodrigo Monteiro
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Rodrigo Monteiro edita o Blog Crítica Teatral
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Terça (26/06/2012) às 21h o Theatro Guarany será palco da peça A primeira vista, com Drica Moraes e Mariana Lima, direção de Enrique Diaz. Ingressos antecipados na Otros Aires (Anchieta, 2.399 – em Pelotas), mediante um quilo de alimento não perecível, por R$ 60,00 (plateia), R$ 45,00 (camarote 1ª ordem) e R$ 30,00 (camarote 2ª ordem).

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25 de junho de 2012

Bury My Heart at Wounded Knee


Foto: Juliana Vaz


   Quando eu era guri, influenciado pela leitura dos quadrinhos da Disney e pelas aventuras de David Crockett, tinha uma admiração inenarrável pelos “totens” dos primeiros índios da América do Norte. Esses totens habitavam meu imaginário infantil e me causavam uma satisfação estética enorme. Perguntava aos professores de história do Estadual tudo que podia perguntar sobre eles e pesquisava nas enciclopédias da Biblioteca Pública tudo o que havia sobre o assunto. Isso me levou naturalmente a ler Winnetou, de Karl May, e apreciar como ninguém o Bury My Heart at Wounded Knee (Enterrem meu coração na curva do rio), do Dee Brown, já mais tardiamente, nos anos 70, e que virou filme com a direção de Yves Simoneau. De modo que os totens sempre tiveram para mim uma referência mais atávica do que antropológica...
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   Na semana passada, aproveitando uma folga em Washington, Juliana foi visitar uns amigos em Vancouver, na British Columbia. Lá conheceu o Stanley Park, onde fotografou os “meus totens” e me mandou algumas imagens deles...  Ao vê-los na fotografia todos os meus sonhos de infância voltaram. Ouvi os tambores da “dança da chuva”, as invocações de guerra e a desconfiança nativa aos homens de caras pálidas. Acho até que senti de novo a ardência das bolhas em minhas mãos causada pelo manuseio forte de um canivete com o qual eu tentei esculpir alguns totens numa acha de lenha mais dura...
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   Desses povos, imagino que só ficaram mesmo os seus totens. A valentia, a cultura e a arte totêmica, devem ser hoje apenas uma referência cultural do passado. Certo mesmo estava o Grande Chefe Touro Sentado, o sábio líder Lakota, que não submeteu seu povo às políticas do governo americano que, evidentemente, visavam tão somente acabar com a cultura e a terra sagrada dos índios Sioux...
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24 de junho de 2012

Carlos Gardel – Julio de Souza Netto Escayola


Julio de Souza Netto Escayola em foto do My Heritage


Carlos Gardel – Julio de Souza Netto Escayola
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José María del Rey Morató
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             Este domingo 24 de junio se volverá a recordar la muerte de Carlos Gardel en Colombia, 1935. Julio de Souza Netto Escayola había fallecido en Montevideo diez años antes, en 1925. ¿Existió alguna relación entre ambos? El apellido Escayola, ¿podría ser la clave de una relación entre Carlos Gardel y Julio de Souza?
            Muchos sostienen que el coronel Carlos Escayola fue el padre de Gardel.  Elodina Escayola, hermana del coronel, fue la madre de Julio de Souza Netto Escayola; su padre era Gravacio de Souza Netto, hermano del Brigadeiro Antônio de Sousa Netto.
            Julio de Souza Netto Escayola había nacido en San Fructuoso Tacuarembó, Uruguay, en 1868. Julio era primo de los hijos del Coronel Escayola. En la misma línea –para quienes admiten que Gardel era hijo de Escayola– Julio y Gardel habrían sido primos hermanos.
            Julio de Souza Netto Escayola se casó con su prima Clarita Escayola, hija mayor del Coronel Carlos Escayola. Por este  matrimonio, Julio pasó a ser  cuñado de los hijos de Carlos Escayola. En consecuencia –si Gardel era hijo de Escayola–Julio habría sido, además de primo carnal, cuñado de Gardel.
            El Brigadeiro Antônio de Sousa Netto era tío de Julio de Souza Netto Escayola. Después de la “Revolução Farroupilha”, el Brigadeiro se vino a vivir al Uruguay.      A lo largo de la margen izquierda del río Queguay Grande, estableció su gran estancia “La Gloria” (Piedra Sola,  Paysandú) y se dedicó a la cría de ganado. La estancia del Brigadeiro estaba relativamente cerca de “Santa Blanca”, la estancia del Coronel Carlos Escayola, en la cual podría haber nacido –como muchos dicen– aquel niño que se hiciera famoso como  Carlos Gardel…
            En este nuevo aniversario de la muerte de Carlos Gardel quisimos tener en cuenta otra perspectiva: entre Brasil y Uruguay existe una frontera invisible. En largos tramos, la frontera no es perceptible por los ojos. Tampoco vernos a muchos que caminan para un lado o para el otro.
            Por encima de los verdes campos y de la dura cerrillada, las almas de los muertos pasan, por donde ellas quieren…

José María del Rey Morató
Uruguay

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José María del Rey Morató nació en Montevideo (1940). Se formó en el Colegio y Liceo del Sagrado Corazón (Compañía de Jesús). Es Abogado. Publicó varios libros de Derecho y Ciencias Sociales desde 1976. Reside en Atlántida. Le gusta pintar al óleo cuadros de paisajes. Se dedica a escribir cuentos y publicó Llevo cuentos (2007), Vidas y leyendas en la costa del Queguay (2008) y La valija (2010). Sus relatos han sido distinguidos en certámenes de Argentina, Bolivia y Uruguay.
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23 de junho de 2012

Cartas guardadas


Foto Danieli


Cartas guardadas
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Danieli Guadalupe

Não costumo comemorar o dia dos namorados.
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Não é só pelo motivo de não ter namorado, mas porque realmente sou péssima com datas. Lembro dias antes do aniversário das pessoas mas, no dia mesmo, acabo esquecendo ou lembrando tarde da noite... O mais engraçado é que, meu primeiro namorado, que tinha uma memória horrível, esquecia tudo e perdia tudo também, sempre lembrava do aniversário de namoro e coisas assim. E eu, que não perco nada, e lembro de quase tudo (na época lembrava de tudo, agora eu estou parecendo a Dory), nunca lembrava dessa data. Até hoje não faço nem ideia do dia, lembro só que foi em agosto de 1996. Já serve, né?
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Neste ano eu dei uma revirada nas minhas caixas de lembranças, com mil cartinhas, postais, bilhetes e tudo mais. Encontrei um chaveiro que meu pai tinha feito pra mim, há séculos, onde meu amigo Alexandre tinha escrito o nome dele. Tri abusado! Encontrei até a logomarca de uma meia da Gang que tinha guardado como lembrança de um presente de amigo secreto do colégio. Meu amigo secreto tinha sido o Alexandre, e aquele foi o último ano em que nós estudamos juntos. Depois a gente se perdeu, mas agora se reencontrou pelo Facebook.
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Encontrei uns cartões de Natal das amigas e o convite de um aninho do filho de uma amigona! Tem tanta coisa lá! E algumas daquelas coisas eu jurava que já tinham ido fora! É que quando mudei da casa em que nasci, cresci e quase envelheci, tive que me desapegar de muitas coisas, tipo cadernos velhos da primeira série, agendas e mais agendas cheias de adesivos e histórias da minha adolescência, papéis de carta, e mais uma série de cousas que li e reli, abracei e beijei, e depois me despedi... O engraçado, ou não, é que tem coisas de que me desfiz que penso que ainda tenho, chego a procurar nas caixas! E outras, que penso que já foram fora, e estão lá, e vez por outra dou de cara com elas!
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Tenho guardado alguns trabalhos da faculdade, uns "xerox", e um caderno em que colei a foto do Johnny Depp.  Sim, e tem as cartas... Estas são as mais importantes de tudo que tem ali. As cartas que troquei com meu primeiro namorado! Algumas, inclusive, que são rascunhos das que eu mandei pra ele, são raras, mas tem. Cartas, cartões e postais que recebi de amigos. Expressões e palavras de amor e carinho que guardo nas cartas guardadas nas caixinhas, mas que me aquecem o coração e a alma toda vez que as releio.
Comemorar o dia dos namorados é bom, mas eu gosto mesmo é de celebrar o amor. Todo dia e toda vez que remexo nesses baús de lembranças trago esses amigos prá pertinho de mim.
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A verdade é que, quando remexo nestas lembranças, posso sentir o afago de alguns que já fizeram a viagem. São amigos e familiares queridos dos quais sinto uma imensa saudade!

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Danieli Bispo Guadalupe (*)
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Leia mais de Danieli AQUI 
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(*) Sou uma pessoa que quer um mundo melhor e creio que a melhor forma de se fazer isto é começar por melhorar a si mesmo. Também sou crítica e me revolto com as barbaridades da política e a podridão que fazem com o mundo.
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22 de junho de 2012

Resistência primaveril



Mesmo com a entrada do Inverno algumas flores mostram, do alto dos telhados, e com toda esta estiagem, que é preciso resistir, resistir sempre. Elas parecem repetir que "O Inverno pode até matar algumas flores mas não pode impedir a chegada da Primavera".
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21 de junho de 2012

Bem-vindos ao Inverno!


Juliana Vaz no Inverno Boreal de 2.012


"O Inverno do Hemisfério Sul é chamado de Inverno Austral. O do Hemisfério Norte é chamado de Inverno Boreal. Aqui ele tem início no Solstício de Inverno do Hemisfério Sul, que ocorre por volta do dia 21 de Junho, e termina com o Equinócio de Primavera, que acontece perto de 23 de Setembro". 
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Esta foi a descrição mais cultural que achei para esta estação que é a mais fria, a que nos deixa com dores nas costas de tanto que andamos encolhidos, a que nos proporciona vários resfriados (e até gripes ou pneumonias), a que faz a gente se entocar, ficar à beira do fogo, ler bastante e tomar umas boas canhas. Praia, agora, só nos velhos filmes da Sessão da Tarde. Calor, agora, só o do coração. Dormir de janela aberta... nem pensar. Mas aqui não neva. Quando isso ocorre é até notícia de jornal. Muitas pessoas tem gana de conhecer a neve (menos eu) e até viajam para cidades da região serrana onde esse fenômeno meteorológico pode - ou não - ocorrer. Mas só quem enfrentou temperaturas negativas de -40º C pode saber mesmo o que é NEVE e FRIO. É o caso da Juliana, que estuda nos Estados Unidos, e que foi rever durante o Inverno Boreal de 2012 seus amigos do Canadá, onde também já morou, e aproveitou para congelar o momento nesta fotografia.
Brrrrrrrr.....
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Bem-vindos ao Inverno Gaúcho!
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20 de junho de 2012

Quarta-feira, dia nacional do sofá - XXVII, Fui...


Fui... Até pensei que poderia ficar por mais tempo na beira da calçada aguardando um destino melhor. Sabe cono é, uma carrocinha bem intencionada me levaria para algum outro lar... Mas não deu tempo, a caçamba já estava lá, então... Fui, vejo vocês no lixão.
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19 de junho de 2012

visita


foto marcelo soares


visita
ângelo alfonsin
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batem na porta
o cão não late
a janela uiva
o silêncio rosna
o vento morde o cão
a porta abre
é a solidão
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17 de junho de 2012

Ernesto Wayne - o Poeta de Bagé

Aplicação de cor sobre foto do Correio do Sul

15 anos sem o maior poeta de Bagé

Jucelaine Rodrigues Viegas

“Era o ideólogo e era o líder. Um artista não morre”, foram as palavras de Glauco Rodrigues, há exatamente 15 anos, quando Bagé perdeu seu filho ilustre.  Ele, Ernesto Calo Wayne, o mestre das letras, professor poeta e jornalista, era filho do escritor Pedro Rubens de Freitas Wayne e Leopoldina Calo Wayne. Nasceu em Bagé, a 14 de abril 1929 e faleceu na mesma cidade em 17 de junho de 1997. Casado com Vitória Gamboa Wayne teve sete filhos: Pedro, Valmir, Ramon, Cláudio, Dolores, James e Naira

Um homem apaixonado pela literatura desde a infância por influência do pai que guardou seu primeiro rabisco em livro quando contava tão somente 11 meses e 28 dias. Rabisco este que era considerado por Ernesto como o melhor texto que escreveu em toda sua vida. O Poeta, professor, e jornalista, homem do povo que sabia tão bem inventar palavras novas, que davam uma simbologia perfeita aos sonetos que escreveu.

Em seu soneto “Ramos de Ramon” Ernesto descreve com singular maestria a saga da família Ramon da Espanha ao Brasil. De charqueadores a escritores, a família Ramon soube tão bem dissecar a carne do gado quanto a alma humana. Basta analisar este pequeno trecho do soneto para perceber o lirismo presente nos versos:

Findam os Ramóns rurais,
Começam Ramóns urbanos
Termina o tempo do charque,
Charque de reses e tropas.
Não mais ressecam a carne
Do gado, Ramóns dissecam
As almas da carne humana,
Que o charque é de almas agora,
Carne e alma que conservam
Na branca cal do papel,
No sal fino que recobre
A lisa pele da página.

Especialista em Língua Portuguesa, Ernesto atuou por vários anos na Urcamp (Universidade da Região da Campanha) e na UFSM (Universidade Federal de Santa Maria). Em Bagé também lecionou no Colégio Auxiliadora.  Lembrado com carinho pelos alunos que afirmam em um blog na internet que ele nunca reprovou ninguém, e que era um incentivador da leitura.

Ernesto Wayne pode ser considerado um jovem prodígio visto que, com apenas 16 anos, fundou em sua própria casa, no ano de 1945, o “Grupo de Bagé”. Neste dia, o pai,  Pedro Wayne, estava em São Paulo por ocasião do 1º Congresso Brasileiro de Escritores. Ernesto assim descreveu a formação do Grupo de jovens cuja idade não passava de vinte anos na época: “O Grupo de Bagé formado por artistas plásticos e poetas. Danúbio Gonçalves, Glauco Rodrigues, Glênio Bianchetti, Clóvis Chagas, João Honorino e Júlio Meireles, todos pintores. A turma do Teatro e do conto: Ernesto Costa, Ramón Wayne e Vicente Braile; Jaci Maraschin, músico, tocava piano, hoje é pastor protestante; Wilson Santos, pianista, cronista e poeta; eu (Ernesto Wayne) que lidava com versos naquela época e que tinha um volume, obra prima intitulada “os Carnavais Póstumos” onde se podia encontrar coisas assim: “Céus abobadados reboam infinitos/ aviões abobadados já soam como risos/ e grávidas aves ávidas de gritos/ são vidas vazias graves como avisos/. (Centro Cultural Machado de Assis -1959).

Ernesto Wayne amava o jornalismo e o fazia com imensa dedicação. Era no jornal que o autor deixava aflorar com mais intensidade o lado humorístico. Em um artigo autobiográfico, publicado no jornal Correio do Sul, o autor diz: “Não nasci em berço de ouro - eu não! Nasci em berço bem mais rico. Nasci em berço de papel impresso em tomos enfileirados nos armários do humilde escritório de Pedro Wayne”. Segundo a poetisa Norma Vasconcellos ele era “delator das hipocrisias do cotidiano; mágico das metáforas, humorista irreverente, mas ao mesmo tempo um “Terno lírico”. Gilmar de Quadros o considerava “dono de uma bagagem de conhecimentos invejável e até mesmo um merecedor do Oscar”.

(Fonte: Correio do Sul em abril de 1996)

Obra: Ernesto Wayne, além de ser dono de um imenso acervo poético, escreveu diversos artigos científicos publicados em revistas e jornais. O autor também realizou ensaios sobre a obra de autores gaúchos, porém publicou em vida apenas cinco livros: “Ossos do Vento”, “Extrato de contas”, "Baile na Ponte em Noite de Chuva” e “Anjo Calavera” (queimado pelo autor na noite do lançamento). “Pedro Wayne”, ensaio sobre a vida do escritor PW publicado em Letras rio-grandenses. Dos artigos científicos, destacam-se entre eles “Momentos do Modernismo em Bagé" (1972). Seus livros impressos, além dos poucos exemplares que existem na Biblioteca Pública de Bagé e Biblioteca da Urcamp, só são possíveis de encontrar em sebos, visto que não foram mais editados. Do livro "Ossos do Vento”, destaco uma estrofe deste soneto que retrata a profundidade de análise de sua própria vida ao observar um retrato seu, pintado pelo artista plástico Glauco Rodrigues em 1949:

Glauco Rodrigues fez este retrato
Me vendo mais por dentro que por fora:
O quadro cada vez mais fica exato,
Quem não era antes, vou ficando agora
Rugas e lágrimas, eis que constato
Nesse rosto esfolado de quem chora,
Na cor acesa em brasa em que desato
Fogos do inferno pela face a fora.
O esvair-se em estrelas foi-se pelos
Mil caminhos grisalhos dos cabelos,
Restam rastros de prata na moldura,
Mas, o que mais estranho na pintura
É que me ponha a contemplá-la e sinta
Que nos meus olhos nunca seca a tinta.


A vida: Ernesto era homem simples que soube conviver com a dor e as carências materiais. Durante toda sua vida trocou várias vezes de residência, muitas por problemas financeiros, fato este que lhe impulsionou a escrever o poema: “As muitas moradias:

...E, se exagero um pouco e digo
Que a soma dessas casas todas
Totalizaria uma vila e
Se continuar ocupando mais
Casas, pronto se teria,
De certo, cidade cubista
Constituída, inteiramente,
Da sucessão das moradias
Em que vivi meus dias.

Sua irreverência e humor foram a magia que cativou alunos, professores e pessoas das mais distintas camadas sociais. Ao analisar sua atuação jornalística percebemos, através de seus escritos, que sua dedicação ao ensino o acompanhava em todos os momentos.

O poeta deixou muita saudade entre companheiros de magistério e principalmente entre poetas do Cultura Sul. Suas amigas mais próximas, Norma Vasconcellos e Elvira Nascimento, relembram com pesar a ausência daquele que era o primeiro a comparecer em todas às reuniões com um maço de papel embaixo do braço. Papeis estes, repletos de belíssimos sonetos e poesias, que até hoje são guardados com carinho pelas amigas que anseiam vê-los um dia transformados em livro póstumo.

Nesta foto podemos ver a grande quantidade de polígrafos datilografados com sonetos e poemas de EW, que encontram-se em posse de uma amiga, também escritora e membro do Cultura Sul (*).


 
(*) Entidade autônoma, reunindo forças culturais da comunidade para estímulo a todas as manifestações artísticas.
 
Desta série de sonetos, alguns nos chamam a atenção pelo título que ostentam. “Poeta Na Cadeia” conta sua própria história na cadeia por três meses, por ocasião do golpe militar em 1964, e "O último Trem de Bagé", fala sobre a última viagem do trem que partiu de sua cidade.

Quando realizei o Trabalho de Conclusão de Curso, na Unipampa, sobre a Constituição de Acervo Literário de Ernesto Wayne, fiz um apelo veemente às professoras que participaram da minha banca para que o Curso de Letras da Universidade se encarregasse de tornar o autor conhecido no meio acadêmico e que sua obra fosse divulgada e reconhecida como Patrimônio Histórico de Bagé. Se isso acontecer será a concretização de um sonho que permeia a mente dos companheiros e admiradores de Ernesto Wayne. Afinal, ninguém mais do que ele soube descrever tão bem as ruas, as praças e a gente da nossa terra. Sua obra está permeada da vida na sociedade bageense em sua época. O soneto “Bares de Bagé” revive sua trajetória como homem do povo acostumado à boemia. O soneto descreve os mais variados tipo de bares da cidade, todos do seu conhecimento. Em todas as décadas, o mais frequentados, os mais simples e os mais luxuosos. O poeta vai descrevendo o que acontece em cada um deles, citando nomes de personagens literários mesclados com figuras do seu cotidiano.Vejamos alguns trechos:

Era uma vez os bares de Bagé,
Em que tanto bebi, para fazer de conta
Não ser facada nem ferida a vida,
Se vista for de dentro da alma tonta
No corpo bambo com cabeça zonza.
Meu espírito aos tombos e trancos, tropeços
Espalhados ao longo dos meus passos
Junto a meus pares pelos bares de Bagé...

Era uma vez os bares de Bagé
De que se seguirá prestando conta
Cabaret do Alfaia
Por entre garçons
De gravata e borboleta
E compridos aventais.
O tempo passado
De frack e polaina
Tomando pileque
Com uma cocote
Que é tempo de orgia...

Ele perambulou por todos, ou quase todos, bares e cafés da cidade, conviveu com gente como ele. Poetas, professores, jornalistas, artistas plásticos... enfim, trabalhadores de diversos ofícios. Ele se foi, mas como disse a poetisa Elvira Nascimento, "ficou seu jeito teimosamente bageense de não sair das casas e fazer de Bagé a sua Macondo e lugar de imaginação". (Correio do Sul, 21 junho de 1997).

Como admiradora deste que é considerado o “Poeta Maior de Bagé”, foi que decidi não deixar passar em branco esta data de seu falecimento, por isto dediquei um pouco do meu tempo para relembrar a contribuição de EW para a literatura bageense e nacional.

Concluo, transcrevendo um de seus sonetos, para que aqueles que não leram sua obra possam conferir a beleza e a tessitura de suas metáforas. Para os bageenses que o conheceram - e conhecem sua obra - deixo as palavras do professor Alcyr Britto, genro do poeta, na ocasião do seu falecimento em 97: “Wayne será para Bagé o prólogo, não o epílogo”. Mas para isto é preciso concordar com Elvira Nascimento, que disse que "devemos falar sempre de Ernesto Wayne até que se partam as pedras do esquecimento e seu  delírio poético jorre sobre a Bagé que ele tanto amou".

Soneto Diante Da Cidade

Do alto do Cerro, o precipício ao lado,
Vista de cima, à noite, se desata
Desta cidade a imagem mais exata:
Muito a cidade temos contemplado.

Um lenço branco como que a retrata,
Lenço em que a luz após haver chorado,
Sobre a treva atirasse, marejado
Da luz de sua pálpebra de prata.

Há sereno de cinzas e saudade
(O orvalho é como o pranto das estrelas)
E desliza, dos olhos, a cidade.

Como se nossas lágrimas rolassem
Encosta abaixo e, sem poder contê-las,
Luzes azuis nas ruas se tornassem.
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Jucelaine Rodrigues Viegas (*)

(*) Graduada em Letras pela Universidade Federal do Pampa, passou a estudar a obra do escritor Ernesto Wayne dentro do projeto "Vozes ao Pampa", liderado pela professora Dra. Vera Lúcia Medeiros. Seu Trabalho de Conclusão de Curso teve como título: “Procedimentos iniciais para constituição do acervo literário de Ernesto Wayne”.
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