22 de setembro de 2012

Enfim, Chegou a Primavera...

Flores de Limão Bravo -  Poncirus trifoliata , Foto LC Vaz


Enfim, Chegou a Primavera...
(Ao Espírito da Amada Margarida Bastos!)

J.J. Oliveira Gonçalves

Enfim, ela chegou: a Primavera! Não era, ainda, meio dia deste 8 de setembro... Fui recebê-la ao portão. Ela vestida de vestes estampadamente multicores - suaves e discretas - à moda de antigamente... Delicadamente cheirosa, esguia, sensual, linda... Eu com um sorriso de criança nesta face onde Kronos anda a perambular - diuturnamente - com Cinzel indiferente de andanças e porfias... Mas, sei: sorria mais meu coração que guarda suspiros de Saudades e Distâncias... Ah, sorria ainda mais minh'Alma - sempre umedecida pelas lágrimas feitas de Vazios, Distâncias e Reminiscências...

Assim, a Primavera chegou. Me olhou. Também sorriu. E em seu retumbante silêncio, me disse: "João, estou aqui. Cheguei. Abre o portão. Para que meu corpo em flor possa abraçar o teu... Para que minh'Alma - inocente  e angelical - possa perfumar a tua..."

Então, com toda a Emoção desse diálogo silencioso me percorrendo recônditos abissais - e à flor da pele - eu a peguei e a coloquei numa esquininha da casa, bem próximo à janela. E contemplando-a com este olhar-menino, (que nem o Tempo me apagou!), lhe disse: "Sê muito bem-vinda à singeleza de minha casa, querida irmã! Aqui, zelarei por ti e hei de me encantar, contigo. E serás doce companhia aos meus Sentidos e hás de, sabiamente, pastorear meus Sentimentos... Farás mais espontâneos meus escassos sorrisos e me ensinarás a amenizar as tantas Dores... Enfeita e perfuma esta casa que, a partir de agora, também é tua indevassável morada!"

Ao fundo de todo este diálogo tácito e amoroso, uma Nívea Lembrança e uma Saudade sem fim... A Primavera chegou para me enfeitar o pequeno jardim que batizei da "Kika" - minha inesquecível e saudosa "Branquinha"... Quem sabe, minha enluarada "Branquinha" passeie por ele a aspirar o gostoso aroma da Primavera e das outras  flores... Quem sabe... Quanto a mim - devo confessar - que aspiro dessas mesmas e delicadas flores os diversos e Etéreos aromas da Saudade...

Por esses Mistérios da Existência que jamais saberei desvelar, (Desígnios de Deus?), ando a escrever quase nada... Todavia, não é por falta de inspiração. É por um momento de desânimo, de desvontade, de alheamento em que me encontro. Apesar dos pesares, não poderia deixar de escrever esta crônica. Afinal, esperei tanto por esta Primavera! E, agora, que ela resolveu vir morar comigo, como não escrever sobre e para ela? Como poderia o homem-comum que sou não pedir ao poeta - que divide o mesmo corpo, a mesma Alma e o mesmo coração - que escrevesse algumas palavras sentimentais e amorosas para saudar a Musa primaveril, fragrante e bela?

E é o que faço. O Espírito pastoreado pela Aura Angelical da Beleza. E o coração no rumo de Arrebóis e Calmarias... Afinal, como bem escreveu Fernando - o Pessoa: "Tudo vale a pena se a Alma não é pequena."

Enfim, chegou a Primavera... Em minha casa. Em minha poesia. Em minha prosa. Em minha vida... E a ela eu a batizo com o nome de "Margarida". Uma grande Mulher e Amorosa Amiga que passou por este Plano. Me viu nascer e, para meu contentamento e o de minha Família, quase 30 anos depois, fez os saborosos docinhos para meu casamento. Certo dia, com quase 100 anos - voou como voam os Anjos ao chamado de Deus. Ah, foi em seu humilde e aconchegante bangalô - na Vila Dois Irmãos, em Bagé - que, entre meus dois e três anos, conheci a primeira arvorezinha Primavera, junto à janela de seu quarto. Nunca mais a esqueci! Ainda hoje eu as vejo - na memória terna, grata e embevecida do coração!

Lá fora, (apesar do céu chumbado, carrancudo), os sabiás são um concerto entusiasmado de Doçura e Alegria! E as carochinhas - nas figueiras em minha calçada - são cicios lépidos e contentes... Ah, os sabiás, as carochinhas, o irmão Vento: Sinais que valeu a pena este amoroso ato de escrever... E que não escrevi em vão...

JJ de Oliveira Gonçalves

Porto Alegre, 08 de setembro/2012. 18h30min
jjotapoesia@gmail.com - www.cappaz.com.br

2 comentários:

Anônimo disse...

Pois, Vaz...

Ontem, a Primavera chegou às 11h49min... Antes, porém, de a nova Estação chegar, chegou esta Primavera - que me floriu o coração e desabrochou em Emoções... Quando vim até o "VG", pela manhã, e vi esta postagem nele estampada, reli o texto e fiquei viajando no Tempo - como se quisesse diminuir distâncias e reviver na pele, no coração, na Alma, afetos outros de outros e mui caros tempos...
Dona Margarida - ou Sia Margarida -como a chamavam alguns, era uma Amiga de minha avó materna (Mama)e que conhecia minha mãe desde que esta era menina. Pessoa trabalhadora, honesta, sofrida... Muito, muito sofrida!! Todavia, o Sofrimento nunca tirou de sua face e do seu jeito de ser, aquele olhar meigo que vinha d'Alma e aquela calma que mantinha, mesmo nos momentos mais difíceis e mais tristes da Vida... (Certa vez, ela me disse, consoladora: "Deus sabe o que faz, Joãozinho..." Nunca mais esqueci do que me disse.) Em sua pobreza exterior, havia uma riqueza interior que me cativava: era a riqueza do seu coração bondoso... Margarida foi um Anjo encarnado que passou por este Plano para nos dar Lições de Paz e Bem - com seus olhos graúdos, mansos, Amorosos... Quem sabe, quando eu for Caminhar entre as Estrelas, o Grande Pai me permita o Privilégio e a Ternura de (re)encontrá-la...
Gratíssimo, Vaz, por registrares esses momentos de pura Emoção em nosso "Velha Guarda do Estadual!" Parabéns, pela belíssima e nativa imagem com que ilustraste - primaverilmente! - meu texto!

Abraço franciscano!
JJ!

Luiz Carlos Vaz disse...

O melhor da Primavera, amigo JJ poeta, é que ela anuncia o Verão!
Um abraço fraterno,
Vaz