29 de junho de 2013

Goethe no curso de Língua Alemã


Hallo alunos de Pelotas!

O Curso de Língua Alemã da professora Renata Dietrich fará o encerramento do 1º Semestre de 2013 com o filme Goethe!. As projeções acontecerão na Rua Andrade Neves, 1125, em Pelotas, nas seguintes datas: Terça-feira, 2 de julho, 9h30min e 13h30min. Na quinta-feira, 4 de julho, 15h30min e 18h30min.

Programe-se!

Título original: Goethe! (com legendas em português). Lançamento de 2010 (Alemanha), com direção de Philipp Stölzl, o filme, com 100 minutos de duração, representa a luta entre a razão e o sentimento através da história juvenil de um dos escritores mais importantes da Alemanha (para muitos, o mais importante), que influenciou, com sua personalidade e sua obra, a construção do romantismo alemão e europeu, o jovem Goethe.

Herzlich Willkommen!

Novas turmas de Língua Alemã a partir de 13 de agosto de 2013.
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26 de junho de 2013

Melancolia


O Ciclo "A Filosofia e o Cinema Existencial" exibirá, na próxima sexta-feira, dia 28 de Junho, o filme "Melancolia", de Lars von Trier. Cineasta dinamarquês (1956), Trier é autor de obras cinematográficas polêmicas como "Dogville" e "O Anticristo". O IV Ciclo de Cinema, promovido pelo Departamento de Filosofia da UFPel, sob a coordenação do professor dr. Luís Rubira, ocorre todas as sextas às 20h, no Centro de Integração do Mercosul, em Pelotas. A entrada é FRANCA (retire sua senha no local, no dia da sessão, em horário comercial).

A programação completa do CICLO está disponível na página da UFPel:


MELANCOLIA, (Melancholia), 2011, Dinamarca/Suécia/França/Alemanha. Direção: Lars Von Trier;  Com: Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg e Kiefer Sutherland.
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24 de junho de 2013

Where Were You When the Lights Went Out?

O cartaz francês do filme que também fez sucesso em Paris

Uma das poucas lembranças boas de 1968, a estreia de
Onde estavas quando as luzes se apagaram.


Durante o enorme blecaute ocorrido em 9 de novembro de 1965 que obscureceu toda Nova York e grande parte da Costa Leste. Margaret (Doris Day) é uma atriz de Broadway preocupada porque seu marido, o arquiteto Peter Garrison (Patrick O´Neal), passa tempo demais com uma bela jornalista que o entrevista. Waldo Zane (Robert Morse) é um executivo que foge de sua empresa com dinheiro roubado e tem um problema com o carro perto da casa de Margaret. Zane se intromete na casa e depois de beber um drinque contendo um elixir adormece placidamente, por engano, ao lado de Margaret. Como era de se esperar, aparece o marido e o filme deriva em divertidas confusões de identidades. Ainda que estreada alguns anos depois do grande blecaute, a comédia foi realmente baseada no filme "Monsieur Masure", obra do francês Claude Magnier escrita nos anos 50.




21 de junho de 2013

Inverno

Foto maudepoesia

Inverno
Vera Vaz

olho
calo
embalo...

céu nublado
faz claridade
na calma da tarde...

tarde do dia
não tarde da vida
sempre assumida...

tarde de inverno
da introspecção
da reflexão...

inverno na lembrança
infantis atividades dançam
no sopro do minuano...

inverno na tarde
ameno tempo
recolhimento...

inverno assim cinzento
conforto no abandono
sentimento...
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Publicado em maudepoesia
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18 de junho de 2013

Guarany com camiseta Adidas

Um dos modelos estudados pela direção do Clube

Guarany prepara lançamento de
sua nova camiseta patrocinada pela Adidas

O Guarany lançará a nova camiseta, patrocinada pela Adidas, para a próxima temporada em um evento no Novotel, em Porto Alegre. A primeira amostragem oficial do modelo na capital é uma solicitação da multinacional alemã.

O diretor de futebol, Cléo Coelho, está em Berlim, na Alemanha, onde participa de um congresso e tem retorno agendado para a próxima semana. Em contato, o dirigente revela que trabalha para finalizar a negociação com um patrocinador master de fora da cidade. “A procura é por apoio financeiro, posteriormente, faremos a solicitação do material para começarmos a comercialização”.

É provável que as novas camisetas, com um valor aproximado de R$ 110, estejam no mercado a partir de julho.

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17 de junho de 2013

Devolva-lhes a liberdade!

Atividade de campo coordenada pelo NURFS/UFPel (*)

Devolva-lhes a liberdade!

Vera Luiza Vaz

Nas mãos, a carta de Maneco. Hermínia recorda os acontecimentos que resultaram na prisão de seu filho. A memória anda entre a grossa camada de poeira depositada, no propósito, talvez, de cobrir a dor e a vergonha avivadas a cada chamado da realidade.

Ainda jovem, Hermínia já se considerava uma mulher idosa. Pouco pelo costume da época, muito pela condição de viúva desde os, agora, tão longínquos 24 anos. Os dias, passa-os a sonhar com tempos distantes de aconchego e conforto.

Longo suspiro ajeita o corpo cansado na cadeira de balanço, único berço capaz de trazer o tempo passado para mais perto. Trêmulas mãos de menina, criada no conforto de uma vida regada a agrados de todas as amas à disposição para lhe concretizarem o mínimo desejo, agora mostram-se indecisas, receosas, diante da crueldade incompreendida. Hermínia sempre fizera questão de manifestar seu desentendimento diante dos fatos alheios a sua vontade.

Outro longo suspiro, agora mais longo, mais fundo, leva-a para uma tarde de domingo, lá pela segunda metade da década de 20.

As carreiras de cancha reta eram o ponto de reunião dos moradores do interior de Cacimbinhas. Encontrar conhecidos, fazer novas amizades, deliciar-se com as iguarias da culinária da época, além de apostar nos melhores "pingos", trazidos por seus donos e condutores na maratona digna de exímios cavalos e cavaleiros.

Maneco, naquela tarde, apostara num certo alazão que, segundo alardeava com conhecidos, não perderia a carreira em nenhuma hipótese.

O dono e condutor de um outro animal ouvia, desgostoso, as bravatas de Maneco. Ouvia, queimado em seu orgulho de vitorioso costumeiro.

Maneco tinha razão. O alazão ganhou a carreira com absoluta folga. Gargalhava Maneco, quando foi atingido no rosto, inesperadamente, por um violento tapa, que o deixou paralisado por alguns segundos.

Ora, gaúcho não admite tapa no rosto! Ao soar do tapa, uma voz anunciou: Pra não te gabares, guri!

A turma do "deixa disso" entrou em ação. Maneco, impedido de reagir naquele momento, anunciou no olhar obtuso  que a contenda não tivera seu desfecho final.

No domingo seguinte, não houve carreiras. Hermínia deu graças pela trégua, quem sabe, definitiva, à desavença.

Um leve balançar na cadeira, traz a lembrança de uma outra tarde. O tempo, como Hermínia esperara, não  trouxera a serenidade ao coração do jovem Maneco.

Ao avistar, naquela tarde, seu agressor, Maneco partiu para cima dele. A lição, proposta por Maneco, veio através de ruidosos relhaços.

"Assim age um homem" esbravejou o rapazito. Não satisfeito, relampejou uma lâmina no ar! Seu oponente, sem tempo para reagir, sangrou até o fim...

Maneco voltou para casa. Não se arrependeu. Lavara, em sua opinião, sua honra com sangue, numa atitude de homem, conforme dissera e não de guri, como fora chamado.

O fato resultou na prisão e condenação de Maneco que, em nenhum momento, mostrou-se arrependido.

A carta, agora aberta, se agita nas hesitantes mãos de Hermínia.

Uma foto e um bilhete caem de dentro do envelope. Na foto, um quase menino, fisionomia triste, esquálida aparência, braços entrelaçados nas grades, numa atitude comoventemente pensativa.

Com o olhar umedecido, Hermínia passa os olhos pela caligrafia rabiscada." Mãe, diz à Dulcina que liberte todos os pássaros que estão na gaiola. Devolva-lhes a liberdade! Não há nada pior do que viver sem ela!"

No mesmo instante, Dulcina, irmã de Maneco, vai até as gaiolas e, abrindo-as, uma a uma, cumpre o pedido do irmão prisioneiro.

Alguns meses depois, enfraquecido pela tuberculose, Maneco foi libertado. Em casa, faleceu em algumas semanas.

Hermínia, pensativa, olhar perdido, parece carregar o mundo... o tempo...
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Publicado em contos ao entardecer
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(*) Durante Curso de Capacitação, em 2011, funcionários da UFPel devolveram à natureza pássaros apreendidos pelas autoridades ambientais e tratados pelo Núcleo de Reabilitaçãoda Fauna Silvestre. Na oportunidade, o editor deste blog teve a satisfação de libertar um filhote de Canário da Terra que saiu da gaiola deixando um rastro colorido captado sutilmente pela cãmera fotográfica de um colega.
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16 de junho de 2013

Bloomsday


Dia 16 de junho é o Bloomsday. É o dia dedicado ao livro Ulisses, de James Joyce. É o único “feriado” que se conhece em  todo o mundo dedicado a um livro.

O Bloomsday é comemorado na Irlanda com diversos eventos oficiais e não oficiais. Também é comemorado em vários lugares e em várias línguas. Em comum, entre os muitos dedicados entusiastas e simpatizantes envolvidos nestas comemorações, há o esforço por relembrar os acontecimentos vividos pelos personagens de Ulisses pelas dezenove ruas de Dublin, cidade que serve de cenário para o romance de Joyce.




Ulisses relata a odisseia do personagem Leopold Bloom durantre 16 horas do dia  16 de junho de 1904, e é considerado um marco na literatura contemporânea.

E se criássemos em Bagé um Waynesday ?
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15 de junho de 2013

Lucrécia Bórgia revisitada em novo livro

Ilustração da capa por Alisson Affonso

Já está disponível na livraria Vanguarda o livro do professor Oscar Brisolara, Sancta Lucrezia dei Cattanei, que foi prefaciado pelo escritor Aldyr Garcia Schlee. O romance, escrito depois de uma intensa pesquisa realizada diretamete em cidades, conventos, mosteiros e cemitérios da Europa, apresenta aos leitores uma nova abordagem sobre a vida e a personalidade de Lucrécia Bórgia, a filha do Papa Alexandre VI com a maior e mais famosa prostituta de Roma. Durante o lançamento feito ontem, no Instituto João Simões Lopes Neto, em Pelotas, o professor Brisolara conversou com o público presente e discorreu sobre como era construído e exercido o poder durante a Idade Média.

Antonio Carlos Leite, presidente do IJSLN, Brisolara e Schlee.
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14 de junho de 2013

COISAS DA VIDA (terra em transe)

Foto Marcelo Soares

COISAS DA VIDA (terra em transe)
Sergio Vaz

Hoje
Eu vi uma criança acordada
comendo pão dormido.
Um homem desempregado
empregando uma arma.
Uma mulher vestida em trapos
lavando roupa cara.
Um policial desalmado
separando um corpo da alma.
Uma menina desnutrida
com a barriga cheia.
Uma bala perdida
procurando uma veia.
Senhoras de joelhos
andando sem destino.
Velhos com olhos vermelhos
chorando como menino.
Poetas loucos
cuspindo razão.
Anjos e demônios
na mesma religião.
A miséria na coleira da fartura
a vida fácil
às custas da vida dura.
Gente sorrindo
com o coração em pranto
surdos ouvindo
a canção dos falsos santos.
Vi mãos calejadas
beijando mãos macias
José nas enxadas
no cabo delas, Maria.
Com mansos olhos de fel
E a boca dura de fera
vi um país no céu
E o inferno na terra.
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Do livro Colecionador de pedras (Global Editora)

Imagens do cotidiano - XC, A regra é clara!

Foto Anderson Largue

Anderson Largue, o guri de Candiota, estacionou sua câmera por aqui.
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13 de junho de 2013

Santo Antônio, rogai por mim...

Fachada do Santo Antônio, fotografada por mim em 2011

Fui matriculado no primeiro ano do Curso Primário, em 1959, no Colégio Santo Antônio, em Bagé. Lembro que no dia 13 de junho distribuíam aos alunos um pãozinho salpicado com sal grosso, de cheiro e sabor inesquecíveis. Esta é a melhor lembrança que tenho de Antônio, o santo que nomeava o estabelecimento de ensino onde aprendi, na cartilha Sodré, que a pata nadava. Alguém sabe a origem dessa tradição? Será que ainda distribuem os pãezinhos por lá? 

Ah! Santo Antônio, rogai por mim, mas é do pãozinho que sinto saudade...
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12 de junho de 2013

Namoro Anos 60...

Foto Marcelo Soares

Namoro Anos 60...
J.J. Oliveira Gonçalves

Ah, nos Anos 60 - em seu Lirismo
A gente de mãos dadas namorava...
Tempo de ledo Amor e Romantismo
Quando Cupido, rindo, nos flechava!

No ar, pairava um certo Hermetismo
Quando o verbo Amar eu conjugava...
Na Vida, um curioso Surrealismo:
Adolescência, em flor, desabrochava!

Passear... ir ao cinema... estudar
A guria, (a mais bonita!), ir buscar
Ao portão da escola em que estudava!

No chá-dançante, a Alma a Flertar
Apaixonado o coração cantava
Numa canção de Amor que Amor jurava!
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Porto Alegre, 10 de junho/2013. 11h44min

9 de junho de 2013

Eu me recordo

Artigo que escrevi a pedido do Joanes Araujo para a primeira edição do Nosso Jornal, o jornal da Hulha Negra, que teve seu primeiro número circulando no dia 25 de março de 2013, em comemoração ao aniversário de 21 anos de emancipação política da nossa Terra Mãe.

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Eu me recordo
Luiz Carlos Vaz (*)




A Vida não é a que a gente viveu,
e sim a que a gente recorda,
e como recorda para contá-la.

 G.G.Marques
(Viver para contar)


Eu não me lembro de nada da Hulha Negra. Mas eu me recordo de tudo da Hulha Negra. Recordo desde o dia em que trocaram o nome da localidade do Rio Negro, pois lá estavam as minas de carvão, as negras hulhas minerais que mudariam não só o nome mas a história do lugar.

Lembro dos vagões do trem, que chegavam cheios de mineiros, que cheios também de esperança, sonhavam ganhar uns bons cobres na árdua tarefa de cavar as entranhas da nossa terra. Recordo que um tempo depois, um outro vagão que chegou, cheio de moças, que cheias de amor incondicional, fizeram surgir a famosa Marambaia, lugar onde os mineiros deixavam uma boa parte da riqueza adquirida nas profundezas secretas e úmidas do nosso chão.

Como se fosse hoje, eu me recordo da professora Albertina Medeiros levando meu irmão de carona até o Colégio da Usina, na aranha, conduzida elegantemente por ela. Recordo daquele bando de crianças alegres, com seus tapa-pós  brancos, aprendendo que Ivo havia visto a uva...

Recordo do Cartório do Bruno Petry, que funcionava em uma peça da nossa casa, o cartório onde eu, meu irmão e minhas irmãs fomos registrados como cidadãos nascidos na Hulha Negra. Um dia meu pai abriu a porta e disse para ele: “Registra aí, Bruno, nasceu o Luiz Carlos”, e logo dois ou três amigos que estavam no balcão do armazém Casa Nova assinaram como testemunhas daquela naturalidade hulhanegrense, um verdadeiro privilégio de poucas pessoas que vieram a este mundo...

Eu me recordo de tudo isso e não me lembro de nada da Hulha Negra. Não vi nossa vaca Chiquita ser estraçalhada pelo trem, mas me recordo perfeitamente do ringido das rodas metálicas tentando parar a locomotiva, do barulho do choque, da notícia correndo de casa em casa, e dos restos do animal pintando de vermelho os trilhos por dezenas de metros afora. Recordo muito bem que naquele dia o grupo 25 foi condenado, pois se desse na cabeça, poderia quebrar a banca que ficava na venda do seu Jadir. Lá eu vi, a roleta vermelha, montada numa roda de bicicleta, que girava todas as tardes e apontava, com testemunha de homens probos da vila, qual o bicho que saíra.

Eu recordo do crescimento e da decadência das minas e do comércio. Das pessoas conhecidas, e de muitas pessoas estranhas, de longe, que falavam a nossa língua com um acento esquisito. Recordo dos namoros proibidos e dos casamentos consentidos. Recordo de muitos nascimentos e também de muitas mortes. Dos animais de estimação, das árvores frondosas, dos frutos e dos sabores antigos. Dos primeiros retratos em preto e branco, dos primeiros sapatos de verniz, da primeira comunhão e do primeiro e único amor. Recordo da guerra, das notícias do front trazidas pelas ondas curtas da rádio Mayrink Veiga, das marchinhas de carnaval e das misses na revista O cruzeiro.

Eu não me lembro de nada da Hulha Negra, mas vivi todas essas coisas. Vivi todas essas coisas pelos olhos da minha Mãe. A memória dela é a minha memória. Tudo o que ela viu ela me contou. Todos os fatos, todas as histórias – verdadeiras ou não – que compõem a minha memória sobre a Hulha pertencem a ela.


Por isso é que eu recordo, com clareza, do dia em que o meu pai chegou já tarde da noite em casa depois de uma passada pela Marambaia, e ouviu de minha mãe, que ajeitava uns pelegos no chão da venda, a frase curta e seca:

“Hoje tu dormes aqui!”.
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(*) Luiz Carlos Vaz
Jornalista, Especialista em História da Arte, Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural; pesquisa fotografia, memória social e arquivos fotográficos; edita um blog de memórias sobre o antigo Colégio Estadual de Bagé, hoje Carlos Kluwe. Nasceu na Hulha Negra em 21 de dezembro de 1951.

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Fotografia que ilustra o artigo Eu me recordo
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8 de junho de 2013

Ora agora, vira - II, A faca no engraxador

 
Restaurante Sabores de Goa

Ora agora, vira - II
A faca no engraxador
Antunes Ferreira

O homem vinha do Luxemburgo pela primeira vez depois de trinta e quatro anos, era pedreiro, o que justificava esse tempo, além disso era da Província, mais precisamente de Bragança, Trás-os-Montes. Isso era a questão pois fora para aquele pequeno País da União Europeia, que então ainda se chamava CEE, e não conhecia Lisboa. Muito menos o Bairro das Províncias Ultramarinas. No aeroporto da Portela, deu ao motorista a morada do primo Manuel Francisco que morava lá na Rua do Zaire, 11, por cima do restaurante «Sabores de Goa» dissera-lhe que nunca se chamara Bairro das Províncias Ultramarinas, pois fora sempre o Bairro das Colónias. Então o Salazar não lhe mudara o nome, tudo que se dizia Colónias para Províncias Ultram…O primo Manel Francisco, explicou-lhe com um sorriso nos lábios que o ditador não conseguira mudar o Bairro das Colónias.

O bragantino (sempre lhe cheirava a esturro, Bragança era Bragança porquê bragantino?) de nome João Miranda foi alojar-se na pensão Flor, à Almirante Réis, depois do primo Manuel lhe explicar os transportes que devia utilizar, as paragens dos mesmos e essas coisas todas. Também podia viajar de metro ou de eléctrico  No dia seguinte apanhou o metro para o Rossio, pois queria confirmar no seu banco (seu, deles, claro pois nunca teria um banco, apenas os dos jardins…). Estava tudo certo, o que enviara do Luxemburgo para construir uma casita lá na terra como emigras.

Como se espantou quando chegou ao Rossio, uma bela praça com um belo edifício com colunas e tudo e depois explicou-lhe um preto que por ali andava com outros pretos, que era o Teatro Nacional D. Maria II. Abriu os olhos e andou. Mas o que mais lhe deu nas vistas eram os engraxadores que ali estavam com os seus instrumentos para o desempenho da sua profissão, havia dois senhores que poliam os sapatos. E ficou a ver a habilidade de engraxar os sapatos de puxar-lhes o brilho com um pano esticado passa e repassa. Resolveu tirar-lhes uma fotografia, pediu-lhe licença e já está! Resolveu dar um passeio a pé, seguindo as ruas e praças como o primo lhe indicara.

No dia seguinte voltou ao Rossio e aos engraxadores e começou o busílis da questão. Um deles, o Nando Serrador, a quem perguntara uma qualquer coisa, de resto não era ela de pequena monta, dissera-lhe que um colega, o Chico do cais do Sodré, fora encontrado com uma faca no peito, ou seja fora assassinado. A Judiciária já tomara conta do acontecido, porém ele, João Miranda achava, recordou-se de um crime no Luxemburgo que a Polícia de Investigação não conseguira resolver um assassínio e fora um dective privado que desfiara o caso à mealha num crime que ali houvera, pensara que seria melhor um tipo de tal quilate. Assim fizera fora à lista telefónica, páginas amarelas secção DECTIVES PRIVADOS e escolhera à sorte um nome de um tal Miguel Castanho com o escritório na Rua da Prata, 128, 2º esquerdo.

Por isso estava eu, Miguel Castanho, que recebi no meu escritório, onde lhe perguntei qual era o caso que o levara ali. O senhor Miranda, antes mesmo de relatar-me o ocorrido, disse-me que tirasse o senhor, pois era simplesmente o Miranda. Assenti no Miranda e então ele começou a contar-me o caso do engraxador que fora encontrado com uma faca no peito. Se eu deslindasse o crime ele pagar-me-ia… Nestas coisas o segredo é a alma do negócio. Aceitei o encargo que me pedira, disse-lhe que ia começar a investiga-lo e indiquei-lhe o preço que levaria pelo meu trabalho. Achou o preço muito elevado, era carote para as suas posses, mas que já se metera no caso, iam-se os dedos, mas ficavam os anéis, e disse-me que se desenrascaria e arranjaria o pilim, talvez com a ajuda do primo, e portanto que eu seguisse em frente. Assim fiz!     


Despedira-me da minha adorada Vanessa, tínhamos comprado uma vivenda no Restelo (pois a vida corria-me bem e ganhado uns bons pilins) já entende o que se passou, ou seja foi um beijo, língua com língua e só parámos porque eu tinha que fazer. Voltei ao Rossio, cheguei-me a um dos engraxadores, que se chamava Nando Serrador, poliu-me me os sapatos, e começámos a conversar, ele era um falador sobretudo do futebol e era um benfiquista, Eu era sportinguista, por isso entrei a brincar, ele era um lampião ferrenho, eu, sendo um leão, não alinhava nessas exaltações.

No meio da conversa repetiu-me o que revelara ao Miranda, ou seja que outro engraxador chamado o Zé do Cais do Sodré aparecera debaixo dos arcos do Terreiro do Paço (que era onde dormia, a crise estava fortíssima e a austeridade era uma chatice), com uma faca cravada no peito, uns bons quatro centímetros. Fiquei intrigado como se soubera, fora um transeunte que trabalhava no Ministério das Finanças que dera o alarme e participara à PSP e depois viera a Judiciária e novamente encontrei-me com o Inspector Xavier Pintado, que ao ver-me comentou com um ar azedo, puta de coincidência. Eu retorqui-lhe o habitual, chegara primeiro…Ele franziu o cenho e de que maneira, no fundo dávamos-mos  bem, mas fingíamos para disfarçar. Vieram os gajos naturais na coisa, uma ambulância para levar o corpo até ao edifício onde se fazem as autópsias que é o Instituto de Medicina Legal, na Capital e onde ficam depositados os corpos depois dela à espera que alguém venha identificá-los.

Pareceram-me estranhos todos os contornos do caso e por comecei a averiguar. Voltei uma vez mais ao Rossio, indicou-me o mesmo engraxador que havia um sujeito, de nome Vicente Caldeira, que morava na rua da Trindade, mas não sabia o número. È fácil, mas vou-me desenrascar e dei-lhe dois euros para lhe pagar a informação e ele agradeceu-me. Fui até à rua e perguntei no restaurante que por ali há, o Trindade, o número da porta de um cliente habitual, o senhor doutor Manuel Montenegro. Era o número 16, 2º Direito. Fui visitar o médico, ao seu consultório, mas como não marcara a consulta, tive de esperar um bom bocado. Finalmente duas horas depois entrei e ele convidou-me a sentar-me. Então de que se queixa?

Respondi-lhe que não, que somente queria perguntar-lhe se conhecia o Zé do Cais do Sodré. Não teve a menor dificuldade em responder-me e perguntou-me se não era o tipo que levara uma facada no Terreiro do mas por que bulas tinham-lhe enterrado uma faca no peito? Aí é que estava o busílis. Mas deu-me o nome e a morada de um advogado, o Dr. Ravi Mascarenhas que era goês. Ali me desloquei, voltaram as muitas horas de espera já sabem porquê… Lá comecei a mesma ladainha que não o fora visitar para me dar uma consulta ou mesmo uma opinião, mas muito simplesmente queria saber onde parava pelas tardes o engraxador. Mas por que queria eu saber? Porque lhe haviam dado uma facadela no peito. Esbugalhou os olhos pois que não sabia nada de tal ocorrência. Era um tipo porreiro, por que raios lho haviam feito? Era isso mesmo que eu averiguava. Recuperado do espanto, retorquiu-me que tinha de perguntar a uma enfermeira do Hospital São Francisco Xavier, de seu nome Noémia da Conceição porque ela devia saber.

Já estava cansado de tantas deslocações, mas que remédio… a vida tem destes ossos que é preciso roer. Recordei-me então que, apesar de todas as dificuldades, eu devia seguir em frente. Portanto, e de acordo com o Nando que continuava a ser-me muito útil e me dava o incentivo para que o criminoso fosse punido e com pena severa, ele espetar-lhe-ia uma naifa também, ao que lhe atirei quemalandro que é malandro não estrilha, muda de esquina, e que ninguém podia fazê-lo. E recordei-lhe que o julgamento de Salomão não era para ali chamado. Resumindo e concluindo: meti-me no meu carro e fui procurar a Noémia da Conceição no hospital que ficava no Restelo.

Entrementes o Serrador (que se transformara num verdadeiro secretário para mim) telefonara-me dando-me a informação de que o Inspector estava pior do que estragado por causa das minhas idas e vindas, o que lhe parecia muito suspeito. Por isso já tinha um mandato de captura com o meu nome estampado. Eu que não achava piada ir para a grelha, disse para mim mesmo que tinha de deslindar o crime o mais depressa possível. Portanto, dei corda às sapatilhas e cheguei ao Hospital de S. Francisco Xavier. Coincidência lixada: Xavier da Pê Jota e Xavier hospital.

Noémia da Conceição que vinha a sair pois terminara uma noite de serviço, usava uma minissaia muitíssimo mini e um top com a mesma dimensão. Era uma brasa e ela sabia que era. Aproximei-me dela e convidei-a para umas bóbidas, ao que ela aquiesceu. Fomos até um café bar próximo, sentámo-nos numa mesa, ela pediu um café cheio em chávena escaldada e eu um Black Bushmills com água Castello e muitas pedras de gelo.

Enquanto aguardava-mos que o empregado nos trouxesse o que lhe tínhamos pedido, informei-a do motivo que me levara ali, ou seja do Chico do cais do Sodré esfaqueado no peito, debaixo de uma arcada do Terreiro do Paço. Esbugalhou os olhos, tremeram-lhe os lábios carnudos, não podia acreditar. Porém eu disse-lhe que fora assim mesmo, sem tirar nem pôr. Contou-me que fora amante do Chico, mas que acabara a relação porque ele era muito ciumento. Perguntei-lhe há quantos meses não se viam. Carregou o cenho, você está a considerar-me suspeita? Abanei a cabeça, nem sim nem não.

Entretanto ela roçara-me a minha perna e inclinara-se sobre a mesa, para me exibir descaradamente as mamas, nem sequer soutien trazia a mesmo tempo que me pestanava e me piscou o olho. Se você quisesse pois é um belo homem, poderíamos dar um salto a minha casa pois moro aqui perto. Disse-lhe que tirasse o cavalinho da chuva, pois a minha resposta era não. E voltei a ataca-la: há quanto tempo não via o Sodré? Vai para uns dez meses, mais coisa menos coisa. Agora acentuavam-se as minhas suspeitas. Inclinei-me para ela, dei um murro na mesa: matara-o mesmo, tou certo!?!?!? Não diga disparates, retorquiu-me a menina, mas com um olhar a modos que esgazeado, tremiam-lhe as mãos.

Julga-me burro? Sublinhei eu. Porque o matou? Eu não matei ninguém… Muito bem, eu fico na minha e você na sua enquanto não chegar a Judiciária… Mas ela estava assustada, mesmo assustadíssima e confessou-me que o assassinara pois o Chico começara a chantageá-la pois ela tinha um affair com um médico otorrinolaringologista lá do hospital. Saquei o meu mini gravador que estava na minha algibeira. Tinha tudo registado. Desatou a chorar, Não lhe liguei peva, pois não merecia que eu me apiedasse dela.

Nisto apareceu o Pintado que me seguira e tinha ouvido tudo. Trazia o mandato na mão, mas meteu-o no bolso. Você é um gajo fodido, um dia hei de apanhá-lo. Mas por agora, desande. Mais uma vez esta merda é uma porra! Repetiu a graça de me apanhar com as calças na mão. Cave. Imediatamente. Sou bem mandado e bem educado, por isso abri.

O Miranda deu saltos de contente e passou-me um cheque de zeros mais do que combináramos pois o primo fora um gajo bué da fixe, não lhe emprestara a massa, dera-lha. Despedimo-nos, combinámos um jantar num dia destes. Disparei para a nossa casa. Avisara a minha Tânia do desfecho final e por isso ela abriu-me a porta envergando um negligé quase transparente ou mesmo transparente. O Miguelzinho já estava deitado por isso fomos como era nosso hábito até ao vale de lençóis e de outra coisa encaracolada enrolá-mo-nos e etc. e tal. Daí que passados três meses o puto esperava um mano ou uma mana que oxalá viesse saudável.
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Antunes Ferreira por ele mesmo: Jornalista, antigo chefe da Redacção do Diário de Notícias (1975/1991). Rádio: TSF e outras; TV: RTP1 e TV2. Cronista: A Bola, maior jornal desportivo; Elan, a primeira revista para homens; Correspondente das espanholas Tiempo, Interview, Gaceta de los Negocios e da RNE e da TVE. Política: candidato a deputado e Chefe da Redacçao do Portugal Socialista. 
Sou militante do PS, Partido Socialista, de Mário Soares. Antes, da ASP (1969). Lutei contra a ditadura desde a campanha eleitoral do Gen. Humberto Delgado (1958). Três vezes interrogado pela então PIDE. Etc... Dos livros escritos, o primeiro de ficção (Abril 2008): «Morte na Picada», contos da guerra colonial em Angola 1966/1968. Assessor para a Informação do ministro das Finanças, Prof. Sousa Franco, meu colega desde o Liceu até à Faculdade de Direito. Director de Comunicação da Comissão Euro (divulgação da nova moeda única). Dei aulas em duas universidades (privadas) em Lisboa. Gosto muito de leccionar e... os alunos diziam que gostavam de mim... Pelo menos, até lhes dar as notas... Imeile ou Imilio: hantferreira@gmail.com
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6 de junho de 2013

Travail, Liberté, Patrie


E chegamos ao 100º país. Essa era a curiosidade, desde o dia 21 de maio, quando completamos noventa e nove países no nosso marcador. O Togo chegou até o Blog da Velha Guarda do Estadual e marcou presença. Mas onde fica mesmo o Togo? Segundo a Wikipedia,


"o Togo, oficialmente República Togolesa, é um país africano, limitado a norte por Burkina Fasso, a leste por  Benim, a sul pelo Golfo da Guiné e a oeste por  Gana. Capital: lomé. Localizado no oeste da África, Togo é constituído por um estreito território que reúne povos de diferentes origens. O grupo étnico euê, o mais numeroso (45,4% da população), concentra-se no sul, perto do litoral, a região mais desenvolvida. 


A maioria dos habitantes vive da agricultura, cujos principais produtos são o algodão e a cana-de-açúcar. O país é importante centro de comércio regional graças ao porto de sua capital, Lomé."

Benvindo, Togo! Puxa o banco, vamos conversar...
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3 de junho de 2013

Dentro de Mim!

Foto e gato da Eliana Valença


Dentro de Mim!

J.J. Oliveira Gonçalves

O Outono ele está dentro de mim
Em sua Nostalgia e em sua Beleza!
Por isso, em minha face lê-se assim:
Silêncios Outonais - por natureza!

Da nívea "Kika" eu vejo o Jardim
Com ares Outonais, já, com certeza!
Ao peito, o coração de um Curumim
Bate em velada e íntima Tristeza!

O Outono - com seus olhos espichados
Me olha - e em seus braços me abriga
E a Alma ele me afaga com sua mão!

Outono, choro meus Sonhos Dourados
Que a Vida - que era u'a Cantiga Antiga
Se fez dura e sem graça, Áureo Irmão!

Saudades Outonais de Amores ledos...
Ó, Outono, de meus Cândidos Segredos!
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Porto Alegre, 26 de fevereiro/2013. 09h08min

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