23 de outubro de 2013

Contacto! Companheiros! ou, Do céu de Santa Maria

Pelo menos oito fotógrafos, de ontem e de hoje, fotografaram a cidade do alto
Contacto! Companheiros!
ou,
Do céu de Santa Maria
Hoje, 23 de Outubro, Dia do Aviador, quero mencionar duas coisas: 1- parabenizar os aviadores do Brasil, especialmente meu irmão, o Hamilton, o aviador da família, que soube, como ninguém, plasmar esse gosto pela aviação em mim. 2- compartilhar com vocês o magnífico presente que ele me deu há pouco tempo: o livro, fartamente ilustrado, Do céu de Santa Maria, que apresenta, creio eu, todas as fotografias aéreas feitas de Santa Maria da Boca do Monte, desde 1930 até os dias de hoje. O livro foi organizado por José Newton Cardoso Marchiori, Paulo Fernando dos Santos Machado e Valter Antonio Noal Filho, por ocasião das comemorações dos 150 anos da cidade, em 2008. Deixo com vocês o estribilho do Hino do Aviador, que eu cantava tão certinho como se fosse o Parabéns a você... 

Contacto! Companheiros!
Ao vento, sobranceiros,
Lancemos o roncar
Da hélice a girar.

A capa do livro mostra fotos de ontem e de hoje

9 comentários:

Hamilton Caio Vaz disse...

Obrigado, Luiz Carlos, por Alberto Santos-Dumont (*), pelos aviadores e por mim!
Pois, nesse dia (23 de outubro) faz 107 anos do primeiro voo de um aparelho mais pesado que o ar, o 14-Bis, que decolou por seus próprios meios, e sem auxílio de catapulta, ao contrário do que teria feito o aparato dos Irmãos Wright, se alçando aos ares três anos antes do voo realizado por Santos Dumont. Lembrando ainda que o voo dos americanos não teve testemunhas imparciais, apenas os auxiliares da experiência. Já o Monsieur “Santô”, como chamavam os parisienses, fez o voo na presença de grande multidão e da imprensa. Além disso, estavam presentes os dirigentes do Aero Clube da França, que havia lançado o desafio, instituído as regras e o prêmio correspondente, para quem conseguisse a façanha. E ainda, o 14-Bis foi fotografado e filmado fazendo o histórico voo. Logo, se o voo dos “Wright bros” realmente aconteceu, as experiências são bem distintas. Os americanos fizeram o primeiro voo a motor com auxílio de catapulta: é um feito. O brasileiro realizou o primeiro voo decolando do chão com a força única do seu motor, como o fazem até hoje os aviões modernos: é outra marca.
Agora, a discussão de quem é realmente o “Pai da Aviação” é interminável, vai continuar. E todos os outros que vieram antes do brasileiro e do americano, cada um deles fazendo a sua experimentação, com que parte desse bolo ficam? Como tenho uma simpatia especial pelos heróis anônimos, prefiro conceder esse galardão para, quem sabe, aquele chinês desconhecido, cuja identidade perdeu-se na voragem do tempo, que observando sua roupa, um tipo de saiote, secando em um varal, enfunada pelo vento, teve a ideia de prendê-la em um fio e deixá-la “voar” mais alto. Ele acabava de inventar a pipa (ou pandorga). E os primeiros “aeroplanos” nasceram com esse formato, eram pipas celulares (que não usam cauda), aviões planadores, sem motores. Depois criaram motores leves para acoplar nesses pássaros mecânicos, e a coisa ficou mais séria. O homem custou a largar esse formato de pipa, lhe parecia que era o mais seguro e estável. Eram os aviões biplanos! Os biplanos, que inauguraram a guerra aérea, durante a 1ª Grande Guerra, ainda chegaram a combater na 2ª Guerra Mundial. Mas, os pássaros, que voavam melhor e não eram biplanos, então foram imitados! E continuaram a copiar as aves até hoje. Sabem daquelas pontas esquisitas que todos os aviões modernos usam nas pontas das asas, dobradas em certo ângulo, para cima? Aquilo não é bossa, não! São os “winglets” destinados a reduzir bastante o vórtice (redemoinho) criado nas pontas das asas e que aumentam a “resistência ao avanço”, freando o avião e aumentando o consumo de combustível. Pois, o tal dispositivo foi copiado, "sem pagamento de direito autoral", das águias, dos urubus... Notem aquelas penas dispostas como os dedos de uma mão, nas pontas das asas dessas grandes aves, que planam muito tempo sem bateram as asas: são os “winglets” delas. Antes disso já se fabricavam jatos velozes com as asas enflechadas, para aumentar a velocidade, imitando uma ave de rapina que encolhe as asas quando mergulha no espaço na direção de uma presa.
E assim caminha a aviação... Ou quem sabe, voa...
(*) Em tempos de antanho, a grafia do nome do nosso primeiro aviador era usada dessa maneira, Santos-Dumont, com “trait d’union”, como dizia nossa professora de francês do Estadual, Madame Louise Collares. Santos Dumont era de origem francesa, seu avô paterno François Dumont nasceu em Paris e veio da França em 1825, com a família.

Luiz Carlos Vaz disse...

Mais do que um agradecimento ou comentário, uma breve aula sobre Aviação...
Apareça mais vezes por aqui.
Abç
Vaz

Hamilton Caio Vaz disse...

Ora vejam, a primeira lembrança que o hino do aviador me traz é do cinquentenário do voo de Santos Dumont! Era o ano de 1956. Eu estava no 5º ano primário (Admissão ao Ginásio) do Colégio Santo Antônio, dos Freis Capuchinhos (Franciscanos). Havia naquele ano, e já no anterior, uma certa euforia no “ar”, pelos cinquenta anos da façanha do brasileiro no campo de Bagatelle, em Paris. A Irmã Gisela Grings, diretora do colégio, ao piano durante as aulas de canto, era a maestrina da turma. E esse hino, fazendo parte do “espírito aeronáutico” daquele ano, e constando das partituras da Irmã Gisela, é o que mais lembro quando nós alunos cantávamos. Também nesse ano participei de um concurso nacional de redação, lançado pela revista “Sesinho”, e o tema que eu escolhi, naturalmente, foi a vida de Santos Dumont. Ganhei como prêmio o livro “Vida de Rua”, de Vicente Guimarães, um belo romance juvenil. Continua na minha biblioteca até hoje.

Hamilton Caio Vaz disse...

Esse livro é um álbum excepcional com 252 páginas, tamanho 27 x 31cm, com excelentes textos de entrada, uma fotografia por página com a descrição e um pequeno histórico de cada uma.
Logo, na folha de rosto, em dupla página, vemos uma foto espetacular, de 1936, mostrando em primeiro plano, a exemplo de Bagé, duas belas arquiteturas: os prédios do antigo “Banco Nacional do Commercio”, na esquina, e do Clube Caixeiral, ao lado. Ambos estão preservados até hoje. O primeiro foi adquirido e reformado internamente pela Caixa Econômica Federal, preservando toda a fachada original (eu lembro de ver o apoio das paredes da fachada com madeiramento, para segurança, durante as obras de reforma). Em segundo plano, notamos, voando rasante, três magníficos exemplares de aviões biplanos militares, pertencentes a um núcleo do antigo 3º Regimento de Aviação (3º R Av), do Exército, sediado em Santa Maria. A sede do 3º R Av era em Porto Alegre. Como era comum em outros países, as aviações militares nasciam como forças pertencentes aos exércitos. No Brasil, a aviação militar se desmembrou do Exército em 1941, e os regimentos de aviação foram transformados em bases aéreas, sendo criada a Aeronáutica.
A “volta do filho pródigo” ou “o bom filho à casa torna” se deu em 1986, quando foi criado o Batalhão de Aviação do Exército. Mas, agora, “ele” voltava com “asas rotativas”, com os helicópteros, próprios para apoio às ações terrestres, com grande mobilidade tática.

Luiz Carlos Vaz disse...

Esse livro merecia uma postagem... lembro bem da história. Vê só, naquela época os "meninos de rua" já eram uma preocupação social...

Anônimo disse...

Pois, Vaz e Hamilton...

Na metade desta tarde escura e tormentosa, aqui, em Porto Alegre, saio de meu "esconderijo"... Quem sabe, para, a imitar a natureza corajosa da Águia, voar, planar sob o céu chumbado... sem temer a chuva, o vento, o raio, o trovão... E já que o assunto é avião e aviação, agradeço a inspiração que veio deste olhar espichado além da vidraça, onde os cristais da chuva forte batem, rebatem, tilintam, rebentam... feito estóicos e barulhentos suicidas...
Quando li este belo texto do Hamilton, quase comentei... Mas, não o fiz. Lá, eu não teria escrito o que escrevi, acima... Neste momento, um trovão ressoa retumbante e gutural... Então, volto à Águia, ao céu fechado, ao vôo, à coragem de voar sob um tempo adverso e perigoso... Fazendo isso, estou - velada e oportunamente - me reportando ao avião, ao piloto, à aviação... De repente, abrem-se páginas de leda memória, onde releio Saint-Exupéry e Richard Bach: exímios aviadores e espiritualizados escritores!
Ah, ainda é tempo de lhes contar, Vaz e Hamilton, que, desde pequenininho, sou um cara fascinado por avião, pelo Vôo - para mim, sinônimo perfeito de Liberdade!
Parabenizo ao Hamilton! Ao qual agradeço, também, pelas relembranças aqui gostosamente tecidas. Senti grande Emoção ao ler-te e funda Saudade de nossa Bagé, nossos tempos, nossas escolas, nossas professoras, nossos professores - especialmente ao citar nossa querida professora Louise Colares, genuinamente francesa, que comprava na mercearia de meus pais, "ali", na General Sampaio, entre a Marcílio Dias e Marechal Floriano - bem em frente ao pequeno edifício onde morava, então, com seus pais, nosso brilhante professor Juca.
Parabéns, Vaz, por este BLOG que trabalha, democraticamente, para manter viva a memória de nossa gente bageense - essa grei fronteiriça e culta, da qual muito me orgulho de pertencer!!
(Desculpem-se se me estendi em demasia!)
Um abraço franciscano a ambos os guris sabidos do "Estadual"!
JJ!

Luiz Carlos Vaz disse...

JJ, aqui, depois do "cuera" cruzar a porteira, não se vê cercas no nosso horizonte. Toma conta do campo à vontade...

Hamilton Caio Vaz disse...

Uma fotografia mostrando a antiga ponte do Passo do Verde, sobre o Rio Vacacaí, na rodovia que liga Santa Maria a São Sepé, me lembrou de dois episódios de aviação, envolvendo o mesmo piloto. Quem passa hoje pelo local ainda pode ver as ruínas dessa ponte, ao lado da atual. No primeiro desses episódios, ocorrido no final de 1951, ou início de 1952, Irineu Noal voou por baixo dessa ponte com um avião do Aero Clube de Santa Maria. Como era época de verão, o local que é usado como balneário estava cheio de banhistas. Podemos imaginar o alvoroço que o avião provocou ao passar voando por baixo da ponte, e ainda rasante aos banhistas que estariam na água ou nas margens arenosas. Essa aventura me foi contada pelos filhos dele, há dois anos, quando eu o procurava para uma “entrevista técnica”, para obter aqueles detalhes que escapam ao leigo, de aviador para aviador, a cerca do segundo episódio, este, inusitado, pois ele teve o avião laçado em pleno voo por um peão de fazenda, em 20 de janeiro de 1952. Eu pretendia escrever um texto por ocasião dos sessenta anos desse “pialo aéreo”.
Em um voo rasante numa fazenda próxima de Santa Maria, Euclides Guterres, um peão que manejava o gado, não gostou do atrevimento do piloto, com uma sequência de passagens rente ao solo, e jogou o laço, acertando em cheio o nariz do avião. Naturalmente, a hélice cortou o couro, mas o avião sentiu o impacto, e o piloto mais ainda, que se assustou e tratou de voltar para o Aero Clube. A hélice foi danificada e ficou com uma ponta do laço enrolada no eixo. Pior, foi contar o que aconteceu para a diretoria. O peão virou heroi. A história correu o Brasil e o mundo inteiro. Foi noticiada na Revista “O Cruzeiro” e na “Time Magazine” de Londres.

Na façanha anterior, a época presumível em que ele voou por baixo da ponte do Verde eu estabeleci entre a época do seu “brevet” e a data em que foi “laçado pelo gaúcho”, porque após esse incidente, o Aero Clube aplicou-lhe uma suspensão, e ele, descontente, não quis mais voar. Quando falei com os filhos dele, já não o encontrei, infelizmente Irineu já havia partido há alguns meses para outros voos, além deste mundo.
Na casa da família, observei o material que eles guardam sobre esse fato, inclusive a hélice com o pedaço de laço, que está exposta como troféu no alto de uma parede do estabelecimento comercial deles, que eu fotografei.

Quanto à proeza de voar por baixo de pontes, voar entre duas torres, dar rasantes em praias, e coisas do gênero, não eram fatos muito incomuns naquelas décadas. A par de uma habitual pilotagem sem muita responsabilidade, a aviação ainda vivia uma época de muito glamour, mesmo já passada a era das “corridas aéreas” e das primeiras mulheres aviadoras.

O cinema também explorou o filão dos doidos aéreos. Assisti em 1968 ao filme “Os aventureiros”, uma produção francesa de 1967, que contava a história de um piloto que tentaria voar por baixo do Arco do Triunfo, em Paris. Na história, a aventura custou ao piloto a sua licença de voo. A trilha sonora era excelente.

Outro filme realmente muito bom, agora sobre corrida aérea, foi “Esses Homens Maravilhosos e Suas Máquinas Voadoras”, de 1965, uma mistura de aventura e comédia muito bem dosada, mostrando mais de uma dezena das clássicas águias da segunda década do século XX, “correndo” entre Londres e Paris. O ator Terry-Thomas, inglês, e o alemão Gert Fröbe fazem as melhores cenas cômicas da película.

Bons e "perigosos" tempos da aviação heroica!

Hamilton Caio Vaz disse...

Pois, não é que a chuva, com a água “molhada e fria”, como diz um dos Sete Anões com medo do banho, não conseguindo atravessar a vidraça, logo virou um belo texto poético, pelo olhar do JJ!

E merecida lembrança desses aviadores que descreveram com profundidade o espírito do voo. Pois, minha vontade de aprender a arte dos pássaros começou assim, pela sensação de liberdade. Qualquer dia, eu ainda conto por aqui a minha verdadeira inspiração de voar, deveras singular, e que ao mesmo tempo irá explicar porque não adotei a aviação profissional. No momento, estou à procura da ilustração dessa fonte, talvez lá nos confins de um canto, dobrando à direita do meu arquivo, dois passos à esquerda.

Da nossa querida Madame Louise Collares, ainda guardo aquela pronúncia do francês nativo, que ressoa aos meus ouvidos como se fosse da aula de ontem. Por exemplo: quando ouço em noticiário a expressão “A Torre Eiffel”, que, por influência do inglês, é falada “êifel”, lembro sempre da Madame que pronunciava “la tur efél”.
Como já se comentou aqui antes, a língua inglesa foi substituindo, aos poucos, no pós-guerra, a influência da francesa na cultura e nas atividades em geral.
Fomos as últimas turmas que tiveram o idioma francês nos quatro anos do Ginásio, sem falar no Latim e no Espanhol que também davam adeus às aulas. Até o ensino se rendia à “nova ordem” anglo-saxônia de se expressar. E deu no que deu: gente pronunciando francês como se fosse inglês, jornalistas (isso mesmo, jornalistas do centro do país!) pronunciando espanhol como se fosse português, como os irritantes “Rivéra” (Rivera, cidade do Uruguai), “Santa Cruz de La Siérra” (Santa Cruz de La Sierra, cidade da Bolívia). E apesar do Brasil ser “uma ilha de língua portuguesa” cercada por “um mar de língua espanhola” por todos os lados.

Mas, provocando um amigo do Blog, o Ferreira e sua Travessa, talvez, certos estejam os portugueses. Eu estou aqui a manipular o “mouse”, enquanto digito, mas eles acolá chamam o dito pelo seu nome de batismo em Portugal: rato!
Aliás, estou precisando varar o “Atlántico” e dar uma boa espiadela na Travessa, e, quiçá, “cumentar” no seu “blogue”. Não leve a mal a brincadeira, pois tenho fascínio pelo sotaque da nossa língua em Portugal e pelo estilo de redação.

Quanto ao idioma francês, bem, o que era “chic”, passou a ser “fashion” e o que tinha “charme” ficou com “glamour”.

Obrigado, e um abraço, JJ! Escreves à vontade, virando a página. Conversa agradável, como aqui no Blog, pode varar a noite, ninguém sentirá tédio ou sono!