7 de julho de 2014

Há quem sonhe com Copa, sem sonhar em ser jogador


Jonathan, realizando o sonho de cobrir uma Copa do Mundo...

 Há quem sonhe com Copa, sem sonhar em ser  jogador

Jonathan Costa da Silva (*)

Quando recebi o convite para escrever para o Blog, vindo do ilustre amigo - e inspirador jornalista - Luiz Carlos Vaz, me deparei com uma sensação de grandeza, afinal este espaço é recheado de boas histórias e de maravilhosos textos. O sentimento lisonjeador me fez refletir o momento que vivi. Meu primeiro desafio como jornalista,  após conquistar o registro profissional, é uma Copa do Mundo.

A pergunta que todos os amantes do futebol recebem, nessa ocasião, é sobre qual a Copa mais marcante de suas vidas. Que me permitam os leitores do Blog, mas eu não posso descrever a sensação de cobrir uma Copa do Mundo sem fazer uma referência às minhas Copas e a minha chegada ao jornalismo.

Nascido em 1990, no mês de outubro, eu precisei esperar quatro anos para saborear o meu primeiro mundial. Logo à frente, todos perceberão que a espera foi minha companheira. Em 94, aos quase quatro anos de idade, eu vibrei com a conquista do tetra. Mas o que uma criança nesta fase da vida entenderia da importância de um título que não vinha ao Brasil já há 24 anos? A mesma importância de uma brincadeira de pular ou de esconde-esconde. A mesma importância de jogar bola com o pai no pátio de casa. Todos riam, comemoravam, se emocionavam. Eu, criança, fui na onda. A minha primeira Copa foi com título, mas sem muita participação. 

Em 1998, eu já estava um pouco mais adaptado a vida e ao futebol. Já era um amante do esporte e já tinha, anos atrás, definido que queria estar ilustrando as páginas esportivas do jornal. Contrariando a maioria dos sonhos dos garotos brasileiros, eu não queria ser o jogador de futebol entrevistado. Eu queria ser o entrevistador do jogador de futebol. E aquela Copa da França me marcou demais. Eu vi um Ronaldo arrasador. Eu vi um Zagallo calando a boca de milhares de críticos. Eu vi um Zidane mostrando ao mundo que era um mágico com a bola nos pés. Eu vi, também, a minha primeira frustração em Copas. 

Chegou 2002 e eu já estava calejado do que ocorrera quatro anos antes. O mundial pela primeira vez seria sediado em conjunto por dois países. Coréia e Japão, o povo do olho puxado, mostrava toda sua doideira em criar coisas. Mas o que mais impressionou não foram os magistrais estádios construídos pelos asiáticos. Foi a superação de um campeão. Depois de erguer o caneco em 94, destruir a Copa de 98 e sucumbir exatamente na final, Ronaldo deu a volta por cima e conduziu o Brasil novamente ao título. Nesse ano, eu já vivia de forma mais intensa o futebol. Álbum de figurinhas, guia de informações, tabela atualizada e conhecimento sobre cada um dos jogadores que disputaram a Copa, me faziam estar sempre em evidência nas discussões do mundial. 

Em 2006 e 2010 não foi diferente, mas foi mais intenso. Aí, já crescido e com novas formas de colher informações, eu montava a minha redação pessoal. Eu tinha fontes, dados, estatísticas e milhares de curiosidades sobre o mundial. Eu escrevia textos para serem publicados na minha mente. Eu recriava, em um mundo isolado, a minha participação jornalística em um mundial. Em 2006 eu estava prestes a entrar na faculdade, mas só havia jornalismo em uma instituição privada. Era preciso, para um garoto jovem, sonhador e sem abastados recursos financeiros, esperar. E eu esperei. No mundial de 2010, eu já estava na faculdade de jornalismo e isso me proporcionou a primeira aventura na competição.

... que já se fazia presente na festa do 1º ano de vida.
Ao saber que o Brasil se prepararia para a Copa da África em Curitiba, não medi esforços e com mais dois colegas fui até a capital paranaense cobrir a preparação brasileira para o mundial. Obviamente que passamos trabalho. Dormimos no aeroporto, almoçamos pão com mortadela no muro de um cemitério e caminhamos muito. Era o primeiro passo para a realização de um sonho que viria quatro anos depois.

E ele chegou. Quando o Brasil foi anunciado como sede do mundial, lá em 2007, eu coloquei uma meta: estarei formado, registrado e cobrirei a Copa no meu país. Assim como os outros 200 milhões de brasileiros, enfrentei horas de desafios para chegar ao tão sonhado objetivo. E ele veio. Mas como a dificuldade é natural na vida, restou-me cobrir apenas os jogos no Rio Grande do Sul. Oras, quem se importaria, afinal é Copa do Mundo.
Foram cinco maravilhosos jogos. Cinco emoções diferentes. Foram conversas com pessoas de todos os países do mundo. Franceses, hondurenhos, australianos, holandeses, argelinos, sul-coreanos, argentinos, nigerianos e alemães. Mistura étnica. Tradições, culturas, línguas, gestos, jeitos, gostos, manias. Tudo muito intenso, diferente e saboroso.

Me preparei para cada partida. Cada confronto era uma decisão. Eu precisava estar atento, focado, observando cada detalhe. Não foi uma tarefa fácil. Mas foi a mais importante, divertida e feliz missão. Não faltarão histórias sobre como os argentinos transformaram Porto Alegre na capital da Argentina. Sempre estará na minha memória o sufoco argelino sobre a poderosa Alemanha. Sempre recordarei do primeiro gol da história das Copas resolvido com o uso da tecnologia.

Mas o mais marcante, felizmente, não foi o que presenciei dentro das quatro linhas. Pude, finalmente, presenciar um povo organizado. Um estádio luxuoso e sem problemas. Duas torcidas convivendo misturadas, juntas, sem que brigas acontecessem. Pude presenciar craques do futebol mundial elogiando as condições do Rio Grande do Sul. Pude presenciar uma Copa do Mundo.

Aquele moleque, amigos leitores, que enfrentou cinco Copas do Mundo para realizar seu sonho, pode, finalmente, cobrir uma Copa. Muitas histórias estão ainda fervilhando na minha memória. Mas elas precisam ser recontadas depois que todo esse turbilhão de emoções passar. Quando a Copa esfriar, reaquecerão as lembranças do mundial na memória de cada um que participou deste magnífico evento. Depois de 23 anos sonhando em cobrir uma Copa do Mundo, eis que eu consegui realizar o sonho. E eu cobri a Copa das Copas. 

Seja uma Copa do Mundo, seja uma partida de bocha no interior do estado, se tu sonhas com algo, busca e não desiste. Somos feitos de persistência, emoção e muito sofrimento.
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Jonathan é jornalista, formado recentemente na primeira turma deste novo curso da Universidade Federal de Pelotas.
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