10 de outubro de 2014

Lomography


A Lomo flamante do Marcelo Soares


Lomography

Marcelo Soares
 
Mil novecentos e oitenta e dois foi um ano especial. Assisto pela TV a inauguração da Usina de Itaipu e vibro por ter visitado as obras no ano anterior na primeira viagem sem meus pais. Primeira namorada, debutante das noites até a madrugada, descobertas, observações,  emoções intensas num ambiente a ser desbravado. A lembrança destes tempos é imprecisa, exageradamente colorida, vazada pela luz da curiosidade e da liberdade da  juventude onde embora cheio de surpresas, tudo parecia ser possível. Sem câmera fotográfica, também foi o ano que tive contato com a magia da fotografia no cultuado laboratório de meu tio artista.

Do outro lado do mundo e antes que  guerra esfriasse de vez um general russo decreta a socialização do registro fotográfico e assim meio como ordem militar começa a ser produzido na Lomo Russian Arms and Optical Factory  uma máquina compacta e acessível ao proletário, versão em plástico da Cosina  CX-1 - câmera robusta de lentes bem lapidadas em cristal, límpidas e com alta sensibilidade à luz. Enfim em 1984 se inicia a produção me massa da Lomo LC-A sucesso entre os comunistas.

Foi preciso mais um tempo até que as barreiras políticas permitissem o transito ocidental  e em 1991 um grupo de estudantes vienenses em uma viagem a Checoslováquia enfim descobrem em uma pequena loja de produtos fotográficos a Lomo LC-A e primeiramente encantados pelo som do clique saíram a fotografar as ruas de Praga. Foi no entanto na revelação já em Viena que veio a surpresa das cores vibrantes, saturadas e todos os estranhos e extravagantes efeitos que a máquina imprimia ao filme. O formato escolhido foi o e 10 x 7 cm tornando a brincadeira ainda mais barata. A febre espalhou-se pela Europa, era outro tipo de fotografia, mais divertida, liberta de normas, selvagem  e excitante. Com o fim da União Soviética nos anos 1990 o Leste Europeu abriu-se para o ocidente e a localização de Viena fez dela passagem de vários outros países.

Mil novecentos e oitenta e dois, se eu tivesse uma máquina para registrar minhas memórias teria que ter sido uma Lomo.

Agora tenho.
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Publicado em fotocometario
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