18 de março de 2015

Hoje, de novo



O time do Xavante em 1985 em foto do site brasildepelotas.com


Hoje, de novo


Por Aldyr Rosenthal Schlee


18 de julho de 1985. Foi nessa data, num meio de semana, à noite, que o Xavante derrotou o Flamengo por 2x0 no Bento Freitas (repetindo a vitória, só que por placar mínimo, do ano anterior). 


Na época eu estava trabalhando em Panambi, razão pela qual não estava presente no nosso estádio. Encerrado o expediente no foro, fui correndo para o hotel Eusenau, onde morava. O jogo seria televisionado para todo estado pela RBS (ou ainda era Gaúcha naquela época?).


Havia uma televisão grandona no hall do hotel e eu, claro, fui um dos primeiros a garantir um bom lugar para acompanhar a transmissão (na voz de Celestino Valenzuela). Coloquei uma toalha com o escudo Xavante em posição estratégica, ao lado da tevê. Muitos hóspedes encheram a sala antes do inicio da partida.


Quando o jogo já ia começar, chegou um cara que, ao ver a toalha do Brasil gritou: "quem é o viado de Pelotas que tá aí?", ao que o gerente do hotel respondeu, apontando para mim: "o juiz ali". Foi-se minha "otoridade"!


Depois do constrangimento (o cara era de Pelotas e também era Xavante, por óbvio!), vibramos todos os presentes (inclusive uns paranaenses) com a histórica vitória.


E, acreditem, muitos foguetes espoucaram na noite panambiense, naquele longínquo e insquecível inverno!

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Publicado no Bipolar Flexível, em 25 de fevereiro de 2015

O gol de Nena, no dia 25, que leva o Xavante ao Maracanã, mais uma vez,
para disputar a segunda partida com o Flamengo. Foto Paulo Rossi.
 

17 de março de 2015

O cultivo do arroz em São Gabriel no ano de 1930 registrado por Izaias Evangelho



Algumas imagens da exposição


O cultivo do arroz em São Gabriel em 1930 na visão de Izaias Evangelho

Acervo da Sra. Eulália Salgado Leitão


A exposição será inaugurada dia 17 de abril no Museu Nossa Senhora do Rosário Bom Fim


Por Gerson Luis Barreto de Oliveira (*)


Admirar o acervo da Sra. Eulália Salgado Leitão é saber da importância de preservar a memória, contribuir para o futuro mostrando às futuras gerações como foi a gênese de toda a atividade, das mais comuns e mundanas até os grandes atos que regem uma nação.


D. Eulália além de admirável ser humano era uma filha carinhosa que cuidou do álbum do pai, Nabor Salgado. Ele, um visionário, quis registrar a incipiente modernização do cultivo do arroz através das lentes do fotógrafo Izaias da Silveira Evangelho, na então moderníssima Fazenda do Campestre, aqui no município de São Gabriel.


O Rio Grande o Sul até meados da segunda década do século anterior sabia produzir um único produto, o charque.


Estado conflagrado por guerras e revoluções foi pacificado pelo Acordo de Pedras Altas, firmado após a Revolução de 1923, entre Borges de Medeiros, e o gabrielense Joaquim Francisco de Assis Brasil, no castelo de sua propriedade na localidade de Pedras Altas.


Borges de Medeiros ficava impossibilitado de se reeleger, e na eleição seguinte ( 1928 ) surgia a figura de Getúlio Vargas, eleito com praticamente totalidade dos votos do Rio Grande.


Já era um homem de visão diferenciada frente ao mundo que se modificava cada vez mais rápido, procurou implementar novas fontes de produção no estado, como o arroz e trigo, trouxe técnicos para alavancar a produção, tudo isto enquanto planejava se candidatar à Presidência da República, nas eleições que seriam em 1930.


A São Gabriel da época tinha uma pujança invejável, alguns proprietários rurais seguiram o exemplo de Nabor Salgado trazendo o milenar cultivo do arroz para que este se tornasse o principal pilar da nossa economia, gerando trabalho e renda.


Histórico:

A visão comumente aceita é que o arroz foi cultivado primeiro na região do vale do Rio Yangtzé na China. Em 2011, um trabalho conjunto da Universidade de Stanford, da Universidade de Nova York, da Universidade Washington em St. Louis e da Purdue University forneceu a evidência mais forte de que existe apenas uma única origem de arroz cultivado, a do Vale do Yangtzé.


A produção de arroz em Portugal começou a ser documentada nos primeiros anos do século XVIII. Embora se cultivasse muito antes nas regiões do Sul e como herança dos Muçulmanos, só a partir desta data houve registros da presença do cereal nas zonas limítrofes do estuário do Tejo.


Arroz e presunto foram os alimentos que os portugueses deram aos índios, ao chegarem aqui no ano de 1.500, como informa Pero Vaz de Caminha em sua famosa carta.


No Brasil, as notícias sobre cultivo do arroz remontam ao início da colonização, em especial na Capitania de São Vicente (1530-1540). Mais tarde o produto se espalha por outras regiões do litoral e, especialmente, no Nordeste brasileiro. Em todos esses locais, são pequenas lavouras, para subsistência.


Com a abertura dos portos por D. João VI, em 1808, é que o cereal começou a ser importado para o país, fazendo sucesso a ponto de modificar os hábitos alimentares da população da época: o angu e a batata doce, que eram os alimentos mais consumidos no Brasil, cederam então lugar ao recém-chegado cereal.


Auguste de Saint Hilaire, em sua viagem realizada nos anos de 1820/21 ao Rio Grande do Sul, atual estado maior produtor de arroz, já fala da ocorrência de lavouras desse cereal. Vários autores citam os colonos alemães de Santa Cruz do Sul e Taquara como os introdutores da cultura no estado, sempre em pequenas lavouras, em estilo colonial.


Em 1904, no município de Pelotas, surge a primeira lavoura empresarial, já irrigada. Depois, a cultura chegou a Cachoeira do Sul e, a partir de 1912, teve grande impulso, graças aos locomóveis, veículos movidos a vapor produzido pela queima da lenha. Os locomóveis acionavam bombas de irrigação, o que facilitava a inundação das lavouras de arroz.
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Gerson Luis Barreto de Oliveira

Associação Amigos do Museu N.S. Rosário Bom Fim

15 de março de 2015

Eu sou gari


Garis do Rio de Janeiro no blog Integrada e Marginal


Eu sou gari

Helena Ortiz (*)

Do que eu me lembro, comida era para comer e o resto era para as galinhas. A carne era embrulhada em jornal e o pão vinha num saco de papel.

Hoje as galinhas não precisam mais de comida porque também não são mais as galinhas que eram e a gente nem tem mais quintal e muito menos galinheiro. Além disso, os jornais também estão contaminados e os sacos de papel custam os olhos da cara em lojas de embalagens.

Nada era descartável. Nem a palavra existia. A ordem era guardar. Sempre havia como aproveitar. E é claro que havia oficinas de consertos que consertavam mil vezes o mesmo aparelho.

E então chegou a palavra: descartável. E as embalagens, indestrutíveis.

Fomos inapelavelmente invadidos pelas embalagens em nome da higiene.

Até para tomar um côco tem que ser na garrafinha de plástico, para gelar. E lá vem o canudo com envelope. E tudo para o mesmo lixo.

Faço compras na feira. Um abacaxi descascado vem envolto num plástico dentro de uma sacola de plástico.

No supermercado: frios em bandejas de isopor cobertos por plásticos. Para doces, dois docinhos só, uma caixa (com tampa, de plástico) Se você quiser comprar uma salada pronta, ela vem até com bandeja (descartável) para comer na cama.

Li recentemente que agora, nos restaurantes, até mesmo os pratos (os talheres já são) terão que receber invólucros de plástico.

Se você resolve comprar um equipamento eletrônico ou eletrodoméstico levará dois séculos para se livrar da caixa de papelão, do isopor, do plástico bolha, da fita colante. Mas você pensa que é só botar na lixeira e tudo está bem. O problema não é mais seu.

Toda essa sujeira foi inventada para resguardar a sua saúde, amigos. Para livrá-los das bactérias, dos vírus, dos coliformes fecais e outros resíduos – enfrentados diariamente por quem? Pelo gari. Aquele mesmo, que passa correndo, suando, sentindo o cheiro infecto da sua comida, do seu cocô, ouvindo buzinas e desaforos de pessoas que “precisam” chegar em casa para fazer mais lixo.

Onde foi que tudo isso começou? Porque esse deslumbramento com o lixo plástico? Coisa de subdesenvolvidos. A gente vira e mexe e dá sempre nesse lugar-comum. Emergentes, só se conseguirmos romper a camada de plástico e metais que infestam lagoas e mares.
A única coisa certa é que foi tudo uma armadilha.

Os garis estão em greve no Rio de Janeiro. Mas nem por isso as pessoas deixarão de consumir o “seu” iogurte, a “sua” água com gás, “o seu” refrigerante favorito. Brasileiro não junta uma coisa com a outra.

E francamente: Alguém precisa se desfazer da tampa do vaso sanitário, daquela poltrona velha ou do entulho da obra no banheiro justamente quando os garis estão em greve? Isso é sujeira.

A coisa mais importante dos últimos tempos foi a invenção de uma máquina, por um japonês, que converte plástico em petróleo, resolvendo dois problemas de uma só vez.

Muita gente fala até hoje em como o Japão conseguiu recuperar as cidades bombardeadas na guerra. Verdade que recebeu uma montanha de dinheiro. Mas e daí? Não fosse o povo empenhado na ação coletiva, nada teria acontecido.
Mas aqui é o Brasil, um país que cultua o lixo. E esquece o lixeiro.
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(*) Helena Ortiz é escritora, poeta e publica o Blog Integrada e Marginal
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