28 de junho de 2020

Os filmes que só eu vi

Montagem com cartazes dos filmes comentados


Os filmes que só eu vi

Luiz Carlos Vaz (*)

Bem, então fui convocado pelo meu querido ex-aluno Claudio Schuster para publicar a relação de filmes que me impactaram, só com imagens, sem comentários... ah! tá, me aguarda! Como já passei pela brincadeira das Fotos em P&B do Cotidiano da Quarentena, convidado pela Eliana, sobrevivi à relação de capas de livros “sem poder comentar nada” (rsrsrs) com o Amílcar, onde viajei na lista, vamos à rebeldia outra vez! Azar, eu estou quieto no meu canto... vem o pessoal e me provoca, e eu não sei falar pouco, dizem, então lá vai!

Fui pela primeira vez a um cinema de verdade em 1960. Eu tinha nove anos. Meu irmão me levou para assistir O Leão Africano (*). Entrei pela primeira vez no Cine Capitólio, em Bagé, com o coração batendo forte; aquele enorme ambiente escuro, embora o relógio marcasse quatro horas da tarde, era muito diferente do Cinema do Sesi, que seguido nos brindava, em noites de verão, com projeções em uma parede branca da casa de algum vizinho, com filmes do Mazzaropi, antecedidos de pequenas produções educativas, filmadas em 16mm, em preto e branco, sobre cuidados com a saúde, higiene, educação e coisas do gênero.

Mas aquela tarde no Cine Capitólio foi mágica, foi amor à primeira sessão. Nunca mais consegui me afastar das salas de cinema. Assisti logo depois o clássico Simbad, o Marujo; Tonka e o Bravo Comanche; um que nunca vou esquecer o nome, Mogambo; e A História de Elza. Logo em seguida vieram os “filmes do Elvis”, as comédias do Jerry Lewis, e as chanchadas nacionais com Ankito - depois Oscarito - e Grande Otelo.

Os filmes demoravam muitos anos para chegar por lá. Mas o sonho de Francisco Santos de formar plateias para a sétima arte, ao fundar um “cinema” em Bagé, em 1934, permanecia vivo. Afinal, num tempo em que o tempo levava mais tempo para virar tempo, um, dois ou três anos era um tempo normal; sem pressa alguma para que passasse como tempo.

Quem nos informava das novidades nas telas do mundo, do Brasil e da Capital eram o Correio do Povo ou a jovem Rádio Guaíba, que começara suas transmissões em 1957. Além da lista dos dez mais do Correio, havia um programa, nos meses de dezembro na Guaíba, que listava os melhores filmes do ano, mas nós sabíamos que eles levariam muito tempo para que passarem em Bagé. Mas tempo era o que mais nós tínhamos naquele tempo.

Muitos filmes, aliás, nem passavam na nossa distante cidade do interior do RS, saíam de cartaz já mesmo em Porto Alegre por falta de público. Mas apesar desses critérios de custo/benefício ou público e renda, consegui assistir, mesmo nos cinemas de uma cidade da campanha, diversos filmes com as salas abrigando meia dúzia de espectadores curiosos, ou de “cinéfilos”, que já existiam, antes mesmo de criarem essa palavra.

Essa lista de filmes que me impactaram, ressalvo - não é a lista dos melhores filmes que eu vi - é a lista dos filmes que “só eu vi”! São eles: O Diabo é Meu Sócio (Bedazzled), de Stanley Donen; Cover me Babe, de Noel Blake; Atentado ao Pudor (Les Risques du Métier), de André Cayatte;  O Colecionador (The Collector), de William Wyler; As 7 Faces do Dr. Lao (7 Faces of Dr. Lao), de George Pal; Vergonha (Skammen), de Ingmar Bergman; 10:30 P.M. Summer, de Jules Dassin, que teve no Brasil o nome tolo de Corações Desesperados; Duas ou Três Coisas Que Sei Dela (Deux ou trois choses que je sais d'elle), de Jean-Luc Godard; Macunaima, de Joaquim Pedro de Andrade; Vento Norte, de Salomão Scliar; Matadouro Cinco (Slaughterhouse Five), de George Roy Hill, e A Viúva (La Veuve Couderc), de Pierre Granier-Deferre. Alguém assistiu algum deles?

Mas, nesses tempos modernos, também tenho assistido alguns filmes - também impactantes – e que não ouço ninguém comentar ou falar que já viu, embora sejam mais fáceis de ser achados, principalmente através das “redes”. Filmes como Incêndios (Incendies), de Denis Villeneuve; Mel de Laranjas (Miel de Naranjas), de Imanol Uribe, e REC (REC), de Jaume Balagueró e Paco Plaza. E, para não deixar fora dessa lista dos “modernos”, incluo o uruguaio, Em La Puta Vida, de Beatriz Flores Silva.

Aí eu pergunto outra vez: Alguém mais assistiu esses filmes? “Não me deixem, só”, disse um rapaz faz algum tempo... E, não esqueçam, “Aqui é o lugar da di-ver-são!!”

Pronto, falei!

(*) Segundo o Dr Google, O Leão Africano “é um filme-documentário de 1955 dos Estados Unidos, dirigido por James Algar. Filmado durante três anos, com foco na vida dos leões e do complexo ecossistema da selva africana. Participou do 6º Festival Internacional de Berlim e ganhou o Urso de Prata. De acordo com os créditos, as filmagens ocorreram em Tanganica (atual Tanzânia), Uganda, Quênia e África do Sul (inclusive a Reserva de Zululândia). Música de Paul Smith. As imagens foram dos biólogos Alfred e Elma Milotte para a série de documentários da Walt Disney Productions chamada True-Life Adventures.”

Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo e Editor deste Blog.

17 de junho de 2020

Minha lista de sete livros


Imagens de divulgação do filme no Google

Minha lista de sete livros
Luiz Carlos Vaz (*)

O Amílcar, dentro da brincadeira da atualidade no Facebook, me pediu para listar sete livros que gosto, que tenham me influenciado, e postar só as capas, sem comentários e etc...

Claro, não se trata de uma sessão do Senado para sabatinar meu nome para o STF, ainda não cheguei a esse pondo de safadeza, pelo menos eu penso, mas eu só penso mesmo, e acho que ficarei devendo a lista.

Mas... outro dia quando a amiga Eliana me convocou para uma outra brincadeira dessas, a das fotografias em preto e branco, havia “exigências” que tornavam mais fácil cumprir a meta; as fotos precisavam ser do cotidiano, em preto e branco, sem pessoas, sem comentários e batidas durante a Quarentena. Foi fácil. Nada de mexer em arquivos, procurar pastas, temas, nada! Era só fotografar em casa mesmo, publicar e convidar outro amigo para seguir a brincadeira.

Mas essa dos livros é mais complicada, pois não se refere aos dias de hoje, e sim a toda minha vida! E são somente sete! Caramba!! O Amílcar, que é meu “codesorientado” no seu Mestrado em História, e que a toda hora troca o meu título, quando passo de coorientador para fonte (e dessa fonte nem sempre jorra só água, por vezes jorra água com café, com cevada e lúpulo, e até com malte escocês...) já esteve aqui em casa mais de um vez e conhece o lugar onde amontoo os meus sete livros; e ele volta seguido, não pelos livros, ou pelas gravações, ou depoimentos sobre a Gazeta - o seu tema, volta, isso sim, por causa das panquecas da Dona Terezinha; e isso até poderia se transformar em uma outra brincadeira do Face: “Enumere sete motivos para visitar o Vaz perto do meio-dia!”

Mas sete livros... Olha, eu já passei dos quarenta anos. Aliás, já passei dos quarenta, dos cinquenta, dos sessenta... e ele me pede para listar sete livros! Lembro que sempre dizia aos meus alunos na faculdade que só existem três “textos” originais: a Tragédia Grega, a Bíblia e Shakespeare. Tudo que foi escrito depois é cópia.

Quem sabe coloco isso na resposta? Pô, sacanagem, dirá ele. Então, baseado no acontecimento verídico que intitulei A Trilogia do Cavalo Sem Nome (*), que publiquei no meu blog e no Facebook, pensei em relacionar esses tais sete livro/autores, com as pessoas que me indicaram e que foram fundamentais na minha vida de guri, na minha formação política e social de moço e na reafirmação das minhas ideias e ideais de adulto.
O primeiro livro que li, ainda no tempo da Pandemia da Gripe Asiática (já passei dos sessenta, lembra?), foi o Almanaque Biotônico; portanto, Monteiro Lobato foi o primeiro autor a chegar às minhas mãos através do meu Pai, que fazia todos lá em casa ler a Seleta em Prova e Verso, a edição antiguíssima, de capa dura, de 1884, e recitava de cor os versos de Martín Fierro: “Aqui me pongo a cantar/ al compás de la vigüela,/ que el hombre que lo desvela/ uma pena estrordinaria/ como la ave solitária,/ con el cantar se consuela...” 

Depois, meu irmão mais velho (sim, foi um privilégio ter um irmão mais velho), me apresentou Júlio Verne. Ah! que que horizontes se abriram ao dar a Volta ao Mundo, conhecer a Ilha Misteriosa ou fazer parte da tripulação do Náutilus! Alguns anos se passaram até que os colegas mais safados da escola, que já fumavam Marrocos 10, me apresentaram Carlos Zéfiro; as mãos suavam manuseando os “catecismos” criados pelo pacato funcionário público que morava no Rio, e que nas horas vagas criava as histórias, desenhava e publicava clandestinamente nos seus famosos, e hoje cults, livrinhos de sacanagem.

Já no Ginásio do Colégio Estadual de Bagé, a professora Maria Veleda me apresentou o principezinho de Exupéry e os meninos que fugiam com o circo, também de um autor francês, o Henri de la Vaux. Com os primeiros pelos escuros crescendo no rosto já lia, incentivado por ela, Alencar, Machado e Jorge. Que Professora! E não tive, confesso, uma boa relação com o Érico; sei lá, coisas daquele tempo e daqueles ventos que sopravam fortes nos anos finais da década de 60.

Ao chegar por aqui, o Schlee achou que eu tinha jeito para alguma coisa e me emprestou o livro que mudou meu modo de ver o mundo: Week End na Guatemala, do Astúrias; e foi na casa da família Rosenthal Schlee, onde a Marlene me acolheu como filho, que o Mário Magalhães me falou de um tal de Cortázar, o João Manuel, de uma senhora chamada Clarice, e o Walter, de Lorca; a Vera Guido um dia me comentou sobre um livro com um nome muito comprido: A incrível e triste história de Cândida Erêndira e sua avó desalmada. Acabei caindo em Macondo, e nem sei se já sai de lá.

O saudoso poeta e amigo Joaquim Duval me apresentou Gullar dentro de sua noite veloz; o professor Cristovam Buarque, visitando Pelotas, numa conversa com o reitor Amílcar Gigante, no pátio do antigo Malg, ali na Deodoro, nos falou de um tal Pedro Páramo... eu já era grande e nunca tinha ouvido falar em Juan Rulfo, que coisa, hein? No mês seguinte, visitando a Feira Internacional do Livro de Guadalajara, eu quis comprar “todos os livros dele”! Incrédulo com a minha ignorância, o moço que atendia a banca me disse: mas ele publicou só um, o Pedro Páramo... e, para autenticá-la em cartório, há pouco tempo precisou o Alexandre me dizer: Vaz, Rulfo também foi fotógrafo! Vivendo e aprendendo é um ditado que se aplica muito bem num momento desses.

A Maribel diz que Camus não pode ser um estrangeiro nessa lista, o Dámian exige Benedetti, José Maria del Rey, Onetti e Benavides, claro, Juana de Ibarbourou. Pessoa será uma dica do alfacinha Ferreira, e valter hugo mãe, assim com minúscula, sem remorsos, como serapião, nos causará um efeito borboleta, como em José Mario Silva; seremos condenados a uma cegueira temporária com Saramago e Borges, abrindo as nossas veias com Galeano e Neruda. Mas aí já estarei perdido nas cinco esquinas de Llossa.

Ao traduzir Facundo e Güiraldes, e versar para o espanhol Simões Lopes Neto, Aldyr nos abre uma janela incomensurável para o Prata, seu Dicionário nos revela um Pampa a ser ainda descoberto por nós, e descobri, há poucos anos, ouvindo justamente ele, durante uma palestra na Sociedade Sigmund Freud, que Cervantes colocou a voz humana nos cachorros no fabuloso El colóquio de los perros, e que precisa, Amílcar, estar nessa lista de sete. Até porque quando alguns amigos estão reunidos falando sobre literatura, eu arremedo uma cara de culto perguntando se já leram esse livro, afinal estamos vivos e prontos para seguir aprendendo. Já comprei todos os exemplares dele, editados pela Edelsa e disponíveis no Brasil, para dar de presente a esses parceiros; dessa forma já receberam essa raridade o Pedro Moacyr, o Paulo Sousa, a Juliana e o Fabio Amaro.

Quem primeiro me falou no africano Mia Couto foi o Marcus Cunha; na pós graduação, a professora Letícia através de Hobsbawm, nos mostrou que as tradições eram todas inventadas, todas elas, e o professor Fábio Cerqueira indicou Buenos Aires Negra, do Daniel Schávelzon, que nos dias atuais é leitura fundamental para entender as lutas que envolvem os preconceitos sociais e étnicos na américa e no mundo; o Wladmir Ungarety - que é amizade nova da rede social, me apresentou A história do Olho, do Bataille; o Aquino me aconselhou a comprar somente as edições da Editora Ulisseia d’O quarteto de Alexandria, do Durrel, que são Justine, Balthazar, Mountolive e Clea. Meu filho Marcelo, que sabe que amo os cachorros, me presentou o ano passado com o Padura...

Com esse terraplanismo todo assolando nosso planeta redondo, nem sei se devo colocar nessa lista A Origem das espécies, ou o raro Codex Romanoff, do Da Vinci. A tragédia da Piedade, do Dilermando Cândido, faz parte dos meus assuntos de pesquisa, pronto, falei!
O que mais posso dizer? Que levei a sério demais a brincadeira na impossibilidade de listar somente sete? Ou que penso, sim, no efeito futuro que pode causar o livro que dei aos “filhos da Elis Regina”, os vendedores de legumes, Pedro e João Marcelo, e que conta a história do dono do Rocinante?

É, mas penso também no Fahrenheit 451, e no destino que pode ter o meu Grundrisse, ou o outro livro do velho Karl, da Boitempo, que foi maravilhosamente traduzido e em três grossos volumes por um guri aqui de Pelotas, que hoje mora na Alemanha, o Rubens Enderle. Penso em tudo isso durante essa Quarentena, quando olho pela janela vejo os efeitos do outono no chão e lembro do Valder, e aí me sinto sofrendo em Paris, com o Athos.

Eu escrevo essas linhas imaginando o nome dos sete livros para tua lista, que são quase Memórias de o que já não será, num frio que lembra um pouco o inverno que Don Frutos enfrentou em 1853 em Jaguarão; pelo menos eu penso, mas eu só penso mesmo, e acho que ficarei te devendo a lista.

Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo e Editor do Blog

Ilustra esta postagem uma composição de imagens do filme O Nome da Rosa, que trata do amor pelos livros, fanatismos, perseguições, fogueiras e outras coisas.
_____________________________________________________
(*) Para ler a Trilogia do Cavalo Sem Nome, clique AQUI
ou copie e cole na barra do navegador:
http://velhaguardacarloskluwe.blogspot.com/2020/06/o-cavaleiro-da-triste-figura-encontra.html


12 de junho de 2020

A última noite no Hotel Sinuelo

Fotos: Luiz Carlos Vaz


A última noite no Hotel Sinuelo

Luiz Carlos Vaz (*)

Aprendi com minha Mãe que dia de chuva é dia de mexer na Caixa de Retratos. E hoje foi um desses dias. Mas as atuais Caixas de Retratos não são mais aquelas antigas e fortes caixas de sapatos Vulcabrás, feitas de papelão rígido, tipo para durar uma vida inteira. São os tais HDs (já foram CDs, lembram?), as memórias dos celulares ou a tal “nuvem”, que aliás, sempre quando alguém se refere a ela, lembro logo do Hermes Aquino, e da enorme chuva que cai há mais de 12 horas por aqui. Se o nome fosse castelo, muralha... tudo bem, eu até confiaria; mas “nuvem” é coisa passageira, que se precipita no primeiro ventinho mais frio ou quente e leva tudo por água abaixo; casas, pessoas e álbuns inteiros de fotografias familiares, apagando de vez a memória das gentes e das suas histórias.

Hoje cedo, lá pelas dez horas da manhã, quando nem o galo ainda tinha tido disposição para cantar, comecei a fuçar em uma dessas “caixas” e encontrei fotos que havia feito em Jaguarão, em setembro de 2018. Havia agendado para o Schlee, ainda em maio daquele ano, sua participação num Encontro de Literatura na Unipampa/Jaguarão para setembro. Percebi que era a oportunidade apropriada para o lançamento de seu mais recente trabalho, a noveleta pueblera, O Outro Lado, que eu acompanhava dia a dia.

Não informei isso à época ao Carlos Rizzon, coordenador do evento, nem à Catia, com quem confirmara a presença dele, pois precisava saber se o Aquino conseguiria editar o livro em tempo hábil. Mas tudo correu da melhor forma possível. O Schlee driblava uns assuntos relativos à sua saúde e a data de 26 de setembro ficou confirmadíssima. Teríamos o Escritor para a palestra – junto com seu novo livro, para, pela primeira vez, fazer um lançamento de uma obra sua, inédita, na sua Terra Natal! Isso me dava uma alegria muito grande, só comparável ao fato de ter sugerido ao prefeito Cláudio Martins que nomeasse como Uma Terra Só uma pequena rua ao lado do Mercado, até então sem nome, e que dá acesso ao Rio Jaguarão.

A edição da Ardotempo ficou primorosa, como sempre, e somente lá pelo dia 10 ou 15 de setembro, telefonei para a Unipampa e perguntei ironicamente ao Rizzon e à Catia, se era possível arranjar dentro da programação “hora e local para os autógrafos do livro inédito O Outro Lado!” Lembro da euforia deles, quase incrédulos com essa notícia.

Publiacação de Edições Ardotempo

Schlee havia finalizado esse livro, quase desapercebidamente, durante o árduo, longo e esmerado trabalho de finalização e correção do Dicionário da Cultura Pampeana Sul-rio-grandense, quando uma equipe de profissionais revisava, verbete por verbete, das mais de mil páginas do trabalho com que ele se ocupara nos últimos dez anos. O Outro Lado, previsto para ser lançado depois do Dicionário, nascia assim “antes do seu tempo”.

No dia 26 fomos de manhã cedo para aquela terra, que é uma terra só, o Schlee, o Paulo Sousa e eu. Nos hospedamos no hotel de sempre, o Sinuelo, e ao meio dia, depois de atravessar a Ponte, encontramos com o Perin e o Aquino na Fogatta. Schlee pediu todas as “achuras” de costume e, conversamos muito, rimos muito, mas não tínhamos como perceber as coisas como as percebia José Jacinto. Havíamos atravessado, juntos, a Ponte, mas com a certeza e a convicção de que faríamos isso muitas e muitas outras vezes, mesmo que fosse só por atravessar, sem ter nada o que fazer...

Numa agenda movimentadíssima durante a tarde, a Catia dirigiu a gravação de um documentário com ele no Theatro Esperança, tivemos tempo para um café com leite, conversas com amigos pelas ruas da cidade, e fomos para o Campus. Lá, centenas de alunos, vindos inclusive dos outros campi da Unipampa, ex-colegas do IPA, parentes, amigos e muitos professores, superlotavam o auditório.

Ele falou, respondeu perguntas e teve início a sessão de “autógrafos conversados”, coisa da qual ele nunca abriu mão, desde seu primeiro lançamento aqui em Pelotas, de Contos de Sempre, no dia 15 de junho de 1983. Já era quase meia noite quando telefonei ao hotel para pedir que “não fechassem o restaurante”, nós iriamos chegar em seguida. Não lembro a que horas conseguimos chegar para o jantar, mas teve mais conversa, mais risadas, agora estávamos sem ter nada para fazer, e pensamos uma porção de coisas. Depois fomos dormir. 

A noite era um encanto. Só podia ser encanto. Puro encantamento.

Pela manhã, quando saíamos pelo corredor para o café, bati despretensiosamente essas fotografias. Eu não poderia imaginar que estava registrando seus últimos passos por aqueles corredores, que aquela havia sido a nossa última noite no Hotel Sinuelo e que ele não atravessaria a Ponte uma outra vez.

Hoje, depois de achar essas imagens na “Caixa de Retratos”, eu lembrei de José Jacinto, sorrindo, olhando a sombra da ponte refletida na água, agarrada à sua própria sombra,
sem ter ido, porque sombra, mas indo porque rio.

Da mesma forma que José Jacinto eu procuro sorrir. Mas estou chorando.
_________________
Luiz Carlos Vaz e Jornalista, Fotógrafo e Editor deste Blog

11 de junho de 2020

O Cavaleiro da Triste Figura encontra um lar

A entrega solene!


E o Livro foi entregue

Trilogia do Cavalo Sem Nome - III

Luiz Carlos Vaz (*)

Pois chegou o dia de entregar o livro que prometi ao Pedro e o João Marcelo, os “filhos da Elis Regina”. O Fidalgo Dom Quixote agora faz parte das leituras dos dois guris. Espero que outras pessoas da casa deles, parentes e amigos, também tenham a oportunidade de manusear, olhar e ler o livro que conta as aventuras do Cavaleiro da Triste Figura, de seu fiel escudeiro Sancho, de sua amada Dulcineia, e de seu cavalo, o Rocinante.

O cavalo deles, que agora também se chama Rocinante, e que era o Cavalo Sem Nome, foi quem serviu, na verdade, de mote para essa epopeia toda, digna de um Cervantes do século XXI. Um livro não muda o mundo, um livro pode mudar as pessoas que, por sua vez, são quem podem mudar o mundo, porque, como disse o nosso personagem, “Mudar o mundo, amigo Sancho, não é utopia ou loucura, é justiça!”

Que o Livro que dei a eles possa cumprir sua tarefa, já que “o vento não pode ser impedido, mas você tem que saber como fazer Moinhos de Vento.”
__________________
(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo e Editor deste Blog