25 de junho de 2021

“Alunos, questionem sempre seus professores!”

                                            Frase do Professor e Escritor Aldyr Garcia Schlee – 1934-2018

                                                                            Fotos Luiz Carlos Vaz

                                                                                  

Luiz Carlos Vaz (*)

Hoje, mais uma vez, assisti pela tevê uma cena lamentável...

Mas... primeiro vamos relembrar algumas coisas. Quando eu acompanhava o Schlee por diversas cidades em palestras, feiras do livro e outros eventos ligados à literatura, sempre havia um bom público de estudantes de diversas séries para ouvir o escritor; a melhor parte - e que eu já aguardava com expectativa, era o recado final. Depois de discorrer sobre Literatura - a sua e a dos outros, ele, que conseguia sempre prender a atenção absoluta de turmas enormes de jovens, dava ao final, um conselho: “Nunca aceitem tudo o que os professores de vocês dizem! Questionem, perguntem, duvidem! Esse é o caminho da melhor convivência e da verdadeira sabedoria!”

Mas, vejam bem! Esse conselho não era, de forma alguma, um simplório convite à desobediência coletiva! O experiente Professor ensinava aos alunos a eficácia do diálogo, da troca de experiências, do questionamento necessário das condições sociais e de certas atitudes coletivas repetidas sempre sem o necessário porquê!

Há algum tempo eu (...que minto muito, mas sempre mostro as provas), passava com o meu amigo e também fotógrafo, Alfonso Montone (neste caso, a minha prova!) lá perto do meio dia pela Praça. Era um sábado ensolarado de um setembro já distante. De repente percebemos uma movimentação própria de crianças em grupo se aproximar dali. Era uma turma bem grande de alunos de uma escola, acompanhados por diversos professores, que estavam indo até ali a Praça fazer o encerramento festivo de uma Semana do Meio Ambiente! Puxa, que legal, faremos muitas fotos interessantes, comentei com o Alfonso.

Mas para desespero meu e dele, que é Gestor Ambiental, as crianças todas portavam muitos BALÕES COLORIDOS, inflados com gás, que seriam soltos ao céu – e ao léu! Imagino até que carregassem dentro algumas sementes...

Que horror, pensamos e comentamos ao mesmo tempo! Estamos já no século XXI e as crianças ainda são incentivadas e ensinadas a soltar os assassinos balões de borracha para “comemorar alguma coisa”; balões que irão parar dentro do estômago de peixes e pássaros e que, em consequência disso, irão morrer!

Que forma estranha de brindar o Meio Ambiente! Espalhando a morte! E pior, com o engodo da cor e da suposta beleza, ao ascenderem ao céu azul, num espetáculo multicor e em movimento.

Mas... voltemos ao dia de hoje.

Ainda há pouco vi pela tevê que numa cidade do interior do RS acabaram de fazer alguma coisa parecida. Só que em um tipo de evento para celebrar a vacinação da população contra o Covid, ou algo assim, era uma coisa positiva da cidade! Como sempre, deram às crianças uma aula equivocada... Essa “celebração da vida”, com a soltura dos balões, irá causar a morte de centenas de pássaros e de peixes etc. etc. etc. além de produzir mais lixo não reciclável!

Então lembrei das conversas do Schlee com as crianças! E digo eu agora: Alunos, questionem seus professores sobre o destino final desses balões! Sobre a necessidade de soltar balões. Não aceitem mais, alunos, celebrar a nossa vida com a morte de outros!

Aí eu me pergunto, até quando vamos soltar balões (que matam animais), foguetes (que também matam pássaros e enlouquecem os cães) e realizar outras “manifestações primárias de regozijo” com sérios prejuízos para o Planeta - que é a nossa Casa - e para nós mesmos?

Mas que coisa, hein, Blau?

Em tempo: Bem que um chinês poderia nos fazer um favor e inventar um balão de papel reciclável...

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(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo e Editor deste Blog

21 de junho de 2021

A inalcançável Estrela

 

 

                                                                                    Antigo Cine América, em foto da internet


Eu o declaro culpado!

Culpado de ser idealista, mau poeta e homem honesto.

E você, como se se declara?

Eu me declaro culpado!

 

  Luiz Carlos Vaz (*)

Aí a minha querida amiga Mirian me acorda às oito e meia da madrugada, com uma mensagem pelo whats, onde aparece uma imagem em tom sépia, como das velhas fotografias, e me pergunta se eu lembro do antigo Cine América. Ainda meio dormindo... (tá, é domingo, estamos em quarentena, está frio, o céu está nublado e cai uma cerração muito densa) ...e meio desperto, antes de responder, viajo para o distante ano de 1975 e me vejo entrando pelas portas do Cine América. Está em cartaz, já no último dia de apresentação, O Homem de La Mancha, com Peter O’Otoole e Sophia Loren... chego a pensar em outras coisas lembrando de Aldenza... mas, recordo claramente que, após uns 30 minutos de projeção, “faltou luz”!

 Educadamente, o lanterninha entrou na sala do Cine América, abriu as portas “de saída” que davam para o hall, e anunciou com a calma necessária: “Senhoras e senhores, tivemos um corte de energia elétrica. A sessão recomeçará tão logo o problema seja resolvido”.

 A plateia, que já estava suficientemente impressionada com a interpretação do Cavaleiro da Triste Figura, esperou tranquila. Naqueles tempos mais civilizados só se comia balas de goma no cinema. Não se era obrigado a assistir um filme respirando o cheiro insuportável de pipoca com aditivos e, o consequente barulho da mastigação frenética de potes e potes de pipoca salgada, doce, com chocolate e com sei mais lá o quê...

 Mas... a “luz” não voltou!

Acabaram-se as balas de goma, acabou o tempo respeitoso de espera; nossos ingressos foram devolvidos, e... era o último dia de apresentação do filme. Não vimos o final da “película” dirigida por Arthur Hiller, com Peter O'Toole, Sophia Loren, Ian Richardson e James Coco, que tivera estreia mundial em 11 de dezembro 1972, mas que chegara aqui um pouco mais tarde.

 Passadas quadro décadas percebi, evidente, que o filme - que recebera a classificação popular de “filme difícil”, na linguagem da época, nunca esteve na programação da Sessão da Tarde, da Tela Quente, do Cine Band... e eu tinha ficado, sim, sem ver o final!

Puxa, que belo insight teve a Mirian naquela madrugada de domingo! Ela nem sabe disso! Saí da cama, arrumei minha armadura, ajeitei meu elmo, empunhei minha lança e fui direto buscar nas “redes” na esperança de encontrar o filme.

E achei!

Não havia um só ruído na rua naquele domingo às nove da madrugada. Nem os cuscos da zona haviam acordado ainda... fiz o mate, me ajeitei na poltrona do “meu Cine América” particular, apertei o play e voltei àquele inverno de 1975! Não consegui, claro, lembrar exatamente em que parte havia se dado o corte de luz, mas pedia que não acontecesse de novo, afinal, o Senado havia aproveitado que a boiada estava passando lá pelo Cerrado, numa tal caçada humana, e aprovara na véspera, com ampla maioria de votos, a “doação” da nossa Eletrobrás, possivelmente aos perigosos comunistas chineses. Aliás, nosso governo adora a China!  Tudo que produzimos aos zilhões de toneladas vai para lá: soza, flango, calne, minélios... Vá que queiram justificar a doação mostrando a “ineficiência” da nossa Estatal que comanda a energia, justo agora, e... eu fique, novamente, sem ver o final.

Fui sendo tomado por forte emoção. Sorte minha que o mate foi me hidratando. Procurei esquecer o que já sabia, não apenas sobre os primeiros 30 minutos do filme, mas sobre Cervantes, sobre Don Quixote e Dulcineia... e mergulhei naquele calabouço da Santa (Santa, hein?) Inquisição junto com o mau poeta e idealista Cervantes.

Assisti comovido as duas horas e doze minutos do espetáculo. Esqueci do ano de 1975. Tomei a mensagem do filme como um recado para os dias de hoje, do nosso inverno de 2021!

E a trilha, marcante na época, não só no filme, mas também na adaptação para o teatro, com algumas variações na letra, ressurgiu na minha memória onde estava guardada, pela metade, há 45 anos!

Sonhar, mas um sonho impossível   Vencer o inimigo cruel   Clamar com a voz da Justiça   Manter da balança o fiel ....   Alcançar a estrela inalcançável ....   Viver com o coração elevado   Tentar sempre alcançar a longínqua   E inalcançável Estrela

        Grato, Mirian! Te devo essa minha alegria dominical. Mesmo que ela tenha 

chegado “às oito e meia da madrugada!”

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(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista Fotógrafo e Editor deste Blog