17 de fevereiro de 2025

NDH/UFPel recebe dissertação e coleção da Gazeta Pelotense

 

Entrega da Dissertação e dos exemplares do Jornal ao NDH

Sissa Moreira - CCS UFPel

Nesta sexta-feira (14), o Núcleo de Documentação Histórica (NDH) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) recebeu a doação da dissertação de Amílcar Alexandre Oliveira da Rosa sobre a Gazeta Pelotense e uma coleção de exemplares do periódico. A dissertação, intitulada Gazeta Pelotense, ensaio para uma imprensa de transição, foi defendida em 2021 no Programa de Pós-Graduação em História da UFPel. O material será digitalizado, seguindo a perspectiva adotada pelo NDH, de democratização do conhecimento e estará disponível para consulta.

A cerimônia contou com a presença da coordenadora do NDH, Lorena Gill, do diretor do Instituto de Ciências Humanas, Sebastião Peres, do jornalista e historiador Amílcar Alexandre Oliveira da Rosa, do juiz de direito aposentado, Aldyr Rosenthal Schlee, filho de Aldyr Garcia Schlee, um dos fundadores do periódico, e do jornalista Luiz Carlos Vaz, que auxiliou na busca e organização do material.

Lorena Gill destacou a importância do material para a preservação da memória jornalística regional. Segundo ela, o grupo de pessoas que atuou no periódico mostra a qualidade dos escritos e das imagens, já que se tinham nomes como Aldyr Garcia Schlee, Mario Osorio Magalhães, João Manuel Cunha, Valter Sobreiro Júnior, Salomão Scliar, Maria do Carmo Lessa, Luiz Carlos Vaz, dentre outros. “A equipe do NDH ficou muito feliz com a doação de uma coleção quase completa do jornal Gazeta Pelotense, o qual durou poucos meses, mas foi um projeto bastante inovador para a cidade”, afirmou.

O autor da dissertação ressaltou a relevância do jornal como objeto de estudo. De acordo com Amílcar, o surgimento da Gazeta Pelotense em 1976 foi uma iniciativa cercada de simbolismos, em uma época em que apareciam os primeiros sinais de esgotamento da ditadura civil-militar que tomou o poder 12 anos antes no Brasil. “A crise econômica e a reorganização da resistência política desembocaram na anistia negociada de 1979. Por isso, analisar o jornal, veículo integrante de uma categoria que em meu estudo chamo ‘imprensa de transição’, é importante para termos ciência de que em todos os momentos sempre há resistência”, explicou Amílcar.

Aldyr Rosenthal Schlee, filho de Aldyr Garcia Schlee, relatou sua experiência ao revisitar os exemplares do jornal. Ele contou que, ao ser procurado por Amílcar para colaborar com a pesquisa, revisitou a coleção da Gazeta Pelotense guardada na biblioteca do sítio onde seus pais viveram os últimos anos. Segundo ele, o jornal foi idealizado por seu pai a pedido do empresário Manoel Marques da Fonseca Júnior, que tinha aspirações políticas e via no periódico um instrumento estratégico. “Meu pai mergulhou completamente no projeto, desde o conceito gráfico até a escolha dos equipamentos e da equipe. Ele até projetou o prédio que abrigaria a redação. Infelizmente, o jornal durou pouco, pois o empresário decidiu encerrar a publicação. Foi um golpe para os profissionais envolvidos, que investiram talento e dedicação em um projeto inovador para a cidade”, relatou Aldyr.

Já Luiz Carlos Vaz, que participou da organização da coleção doada, enfatizou o esforço para recuperar os exemplares. “Motivado pela dissertação do Amílcar e pela recente recuperação das imagens de uma fita VHS, onde registramos o jantar em comemoração aos 25 anos de lançamento da Gazeta, em 2001, decidimos entregar ao NDH-ICH/UFPel a coleção quase completa das edições do ‘Novo Jornal’, como era chamado o projeto editorial do Schlee antes de ser rebatizado”, comentou. O jornalista está trabalhando em uma atividade preparatória para os 50 anos da Gazeta Pelotense, a ser comemorado em 25 de setembro de 2025.

A doação reforça o compromisso do NDH com a preservação documental e histórica, permitindo que as futuras gerações tenham acesso a registros fundamentais sobre a imprensa e a sociedade brasileira nos anos 1970.

Exemplares da Gazeta Pelotense

Gazeta Pelotense

Nos anos 1970, período de ebulição política e social no Brasil, a Gazeta Pelotense surgiu em Pelotas (RS) como um veículo inovador de jornalismo. Financiado pelo empresário do ramo de transportes, Manuel Marques da Fonseca Júnior, e criado com um projeto gráfico ousado por Aldyr Garcia Schlee, o jornal combinava expressão artística e compromisso político, sendo um espaço para jornalistas, fotógrafos e intelectuais da região. Sua circulação, entre setembro de 1976 e janeiro de 1977, trouxe inovação e resistência ao cenário da imprensa local.

A Gazeta Pelotense era um jornal tabloide diário com 24 páginas e um caderno dominical com 16 páginas. Surgiu vespertino, mas, após apenas a primeira edição, passou a ser matutino. Na Bibliotheca Pública Pelotense existem apenas 42 exemplares do jornal, dos 91 publicados. Além desses, foi possível reunir exemplares que estavam de posse de antigos integrantes da redação do jornal ou de seus familiares, que foram cedidos para esta pesquisa. No total, foram obtidos 88 números.

A história da Gazeta Pelotense e sua preservação pelo NDH reforçam a importância de manter viva a memória da imprensa alternativa no Brasil. Quase meio século depois de sua publicação, a relevância do jornal ainda é sentida, servindo como referência para as futuras gerações de comunicadores e pesquisadores.

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