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Entrega da Dissertação e dos exemplares do Jornal ao NDH |
Sissa Moreira - CCS UFPel
Nesta sexta-feira (14), o
Núcleo de Documentação Histórica (NDH) da Universidade Federal de Pelotas
(UFPel) recebeu a doação da dissertação de Amílcar Alexandre Oliveira da Rosa
sobre a Gazeta Pelotense e uma coleção de exemplares do periódico. A
dissertação, intitulada Gazeta Pelotense, ensaio para uma imprensa de
transição, foi defendida em 2021 no Programa de Pós-Graduação em História da
UFPel. O material será digitalizado, seguindo a perspectiva adotada pelo NDH,
de democratização do conhecimento e estará disponível para consulta.
A cerimônia contou com a
presença da coordenadora do NDH, Lorena Gill, do diretor do Instituto de Ciências Humanas, Sebastião Peres, do jornalista e historiador
Amílcar Alexandre Oliveira da Rosa, do juiz de direito aposentado, Aldyr
Rosenthal Schlee, filho de Aldyr Garcia Schlee, um dos fundadores do periódico,
e do jornalista Luiz Carlos Vaz, que auxiliou na busca e organização do
material.
Lorena Gill destacou a
importância do material para a preservação da memória jornalística regional.
Segundo ela, o grupo de pessoas que atuou no periódico mostra a qualidade dos
escritos e das imagens, já que se tinham nomes como Aldyr Garcia Schlee, Mario
Osorio Magalhães, João Manuel Cunha, Valter Sobreiro Júnior, Salomão Scliar,
Maria do Carmo Lessa, Luiz Carlos Vaz, dentre outros. “A equipe do NDH ficou
muito feliz com a doação de uma coleção quase completa do jornal Gazeta
Pelotense, o qual durou poucos meses, mas foi um projeto bastante inovador para
a cidade”, afirmou.
O autor da dissertação
ressaltou a relevância do jornal como objeto de estudo. De acordo com Amílcar,
o surgimento da Gazeta Pelotense em 1976 foi uma iniciativa cercada de
simbolismos, em uma época em que apareciam os primeiros sinais de esgotamento
da ditadura civil-militar que tomou o poder 12 anos antes no Brasil. “A crise
econômica e a reorganização da resistência política desembocaram na anistia
negociada de 1979. Por isso, analisar o jornal, veículo integrante de uma
categoria que em meu estudo chamo ‘imprensa de transição’, é importante para
termos ciência de que em todos os momentos sempre há resistência”, explicou
Amílcar.
Aldyr Rosenthal Schlee,
filho de Aldyr Garcia Schlee, relatou sua experiência ao revisitar os
exemplares do jornal. Ele contou que, ao ser procurado por Amílcar para
colaborar com a pesquisa, revisitou a coleção da Gazeta Pelotense guardada na
biblioteca do sítio onde seus pais viveram os últimos anos. Segundo ele, o
jornal foi idealizado por seu pai a pedido do empresário Manoel Marques da
Fonseca Júnior, que tinha aspirações políticas e via no periódico um
instrumento estratégico. “Meu pai mergulhou completamente no projeto, desde o
conceito gráfico até a escolha dos equipamentos e da equipe. Ele até projetou o
prédio que abrigaria a redação. Infelizmente, o jornal durou pouco, pois o
empresário decidiu encerrar a publicação. Foi um golpe para os profissionais
envolvidos, que investiram talento e dedicação em um projeto inovador para a
cidade”, relatou Aldyr.
Já Luiz Carlos Vaz, que
participou da organização da coleção doada, enfatizou o esforço para recuperar
os exemplares. “Motivado pela dissertação do Amílcar e pela recente recuperação
das imagens de uma fita VHS, onde registramos o jantar em comemoração aos 25
anos de lançamento da Gazeta, em 2001, decidimos entregar ao NDH-ICH/UFPel a
coleção quase completa das edições do ‘Novo Jornal’, como era chamado o projeto
editorial do Schlee antes de ser rebatizado”, comentou. O jornalista
está trabalhando em uma atividade preparatória para os 50 anos da Gazeta
Pelotense, a ser comemorado em 25 de setembro de 2025.
A doação reforça o compromisso do NDH com a preservação documental e
histórica, permitindo que as futuras gerações tenham acesso a registros
fundamentais sobre a imprensa e a sociedade brasileira nos anos 1970.
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Exemplares da Gazeta Pelotense |
Gazeta Pelotense
Nos anos 1970, período de ebulição política e social no Brasil, a Gazeta
Pelotense surgiu em Pelotas (RS) como um veículo inovador de jornalismo.
Financiado pelo empresário do ramo de transportes, Manuel Marques da Fonseca
Júnior, e criado com um projeto gráfico ousado por Aldyr Garcia Schlee, o
jornal combinava expressão artística e compromisso político, sendo um espaço
para jornalistas, fotógrafos e intelectuais da região. Sua circulação, entre
setembro de 1976 e janeiro de 1977, trouxe inovação e resistência ao cenário da
imprensa local.
A Gazeta Pelotense era um jornal tabloide diário com 24 páginas e um
caderno dominical com 16 páginas. Surgiu vespertino, mas, após apenas a
primeira edição, passou a ser matutino. Na Bibliotheca Pública Pelotense
existem apenas 42 exemplares do jornal, dos 91 publicados. Além desses, foi
possível reunir exemplares que estavam de posse de antigos integrantes da
redação do jornal ou de seus familiares, que foram cedidos para esta pesquisa.
No total, foram obtidos 88 números.
A história da Gazeta Pelotense e sua preservação pelo NDH reforçam a
importância de manter viva a memória da imprensa alternativa no Brasil. Quase
meio século depois de sua publicação, a relevância do jornal ainda é sentida,
servindo como referência para as futuras gerações de comunicadores e
pesquisadores.
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