Foto Marcelo Soares |
No Ventre da
Terra... No Éter de Deus!
J.J. Oliveira
Gonçalves
No ventre da
terra deitei minha face...
Aninhei-me todo
como se feto fosse. Cerrei a cortina dos olhos. Corri a tranca dos lábios. E os
ouvidos eu os fechei para os barulhos absurdos do mundo. Chorei lágrimas feitas
de infância. E libertei gemidos nascidos do coração... Ah, este mundo feito de
deletérios progressos... Progressos que aniquilam o homem – corroem, corrompem,
escravizam... E o bicho-homem, acuado entre materialismo, sexo e droga, faz de
sua existência uma droga de vida: estressante, cheia de violências, de medos,
vazia, sem sentido... O bicho-homem: um bicho sobrevivendo nos rastros sombrios
do que restou do homem... Cortou arrogantemente sua ligação com Ele e, não
tendo, ou até fazendo de conta que tem uma religião, perdeu o contato com o
Divino, com suas Raízes Espirituais. Esquecido, desligou-se do Alto. Não
consegue mais (re)ligar. Pois perdeu mesmo o cacoete de ser religioso. Baniu as
palavras mágicas do Livro da Vida. Relegou à indiferença os gestos sagrados.
Renegou os Rituais que celebram o Pai, a Mãe e o Filho! Não mais reconhece os
Símbolos! Não quer mais comungar do Éter de Deus!
E assim caminha
a Humanidade sobre o dorso dorido da Terra. Murchado da Fé, corre em todas as
direções para não chegar a lugar nenhum. Quando abatido pelas andanças do
cotidiano e pelas dúvidas que carrega consigo, se questiona. Perdido, procura
por Deus. Desiludido e vazio, comete graves pecados... Descuida do corpo.
Ignora a Alma. Se socorre nos vícios. É o fumo. O álcool. A droga. Sem forças
para aguentar o tranco da Vida, desespera-se. Olha em volta e, moribundo
voluntário do ato de viver – ou sobreviver – transfigura-se em potencial
suicida. (Bomba-relógio no tic-tac do tempo linear...) Pensando ser o fim de
seus tormentos, de suas dores, de seus ferrenhos sofrimentos, volta-se contra a
própria Vida. Crê que a porta da salvação é essa Chave instigante, proibida,
velada... Vê-se agraciado descobridor da Panacéia que o livrará, de uma vez por
todas, do peso insuportável da Cruz que se julga incapaz de carregar. Infeliz
em sua ilusória e radical concepção, fecha o Portal da salvação: sua Jornada
terrena – lições de aprendizado, resgates cármicos, crescimento espiritual.
Engorda seu karma. Protela e acresce às suas dívidas o imperioso resgate de si
mesmo. Renega a evolução de seu eu
divino. Transgride a Lei Universal... Enfim, joga fora suas tão necessárias e
irreversíveis Dores de Crescimento!
Pobre homem!
Veio ao mundo terreno. Viu. Mas não venceu. Antes, entregou-se às coisas
mundanas, como se estas fossem eternas. Como se ele próprio eterno fosse. Os
olhos, cegos, não romperam o Véu da ilusão – Maya. A boca, “faminta” e
arrogante, fala demais, quer demais, exige demais. Os ouvidos, viciados, ouvem
torto... As mãos, egoístas, lavam apenas o próprio rosto. O coração, frio e
calculista, fossilizou-se. A Alma, baça e pesada, vagueia pelos guetos sombrios
da Existência... E o Espírito... ah, o Espírito... esse é o Sopro Etéreo do
Criador que – Imagem e Semelhança! – é o Anjo-da-Guarda que sempre salvará o
homem! Que o resgatará de seus pecados! E o fará, um dia, voltar à Casa Augusta
do Pai – sua luminosa e original Morada!
1º lugar – Concurso de Prosa e Verso/2001 – Grêmio Literárário Castro Alves – Porto Alegre/RS.
1º lugar –
Concurso Nélson Fachinelli de Efemérides/2003 – Casa do Poeta Rio-Grandense –
Porto Alegre/RS
Porto Alegre, 08/maio/2001. 18h17min
jjotapoesia@gmail.com - www.cappaz.com.br
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário