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Foto de José Greco, acervo do autor |
Aniceta, La Piorrita Petiça
Gerson Luis Barreto de Oliveira
Aniceta Correa nasceu em 6 de
fevereiro de 1870, em Cerro Chato, no Uruguai. Quando jovem não era de grande
beleza, mas sabia dançar muito bem e, segundo sei, o futuro esposo se encantou
com ela em um baile. Minha avó contava que ele sempre dizia que a esposa
"dançava como uma piorrinha".
Vinte anos depois, um dia antes de
seu aniversário, ela casaria com um jovem bageense, José Luiz Guasque, filho do
médico homeopata Ignácio Guasque e Anna Barcellos Guasque.
Ao se casar com José Luiz ele ainda
não era médico homeopata, como o pai, tinha como profissão Guardador de Livros,
no Departamento de Cerro Chato. Provavelmente por causas políticas ele havia
cruzado a fronteira e por lá morava, e seria lá que o casal teria os cinco
primeiros filhos.
Uma das filhas era minha avó
Orphelina, esta tinha tal admiração pelo pai, e vi isso também em outras
filhas, que certa vez me confessou que não sabia ao certo como ele havia se
interessado pela futura esposa, e vinha sempre a história de como ela dançava
bem. José Luiz, apesar do imponente bigode, não era um homem alto. Muito culto,
tinha uma personalidade reservada e exercia grande autoridade sobre todos.
Já a bisavó era baixinha, não media
mais do que um metro e 45 centímetros, mas mesmo assim teve fôlego para ter 17
gestações (11 mulheres e seis homens), sendo que só na última teve um parto
mais complicado. Tinha um temperamento forte que se perpetuou nas filhas, todas
decididas e determinadas.
Os irmãos da bisavó tinham campos em
Cerro Chato, e na matança de porcos a chamavam, pois era reconhecida como hábil
em fazer a manufatura de linguiças, patês, murcilhas, queijo de porco,
butifarras, que aliás só se vê hoje no Uruguai. O bageense que quiser comer tal
iguaria terá que atravessar a fronteira em Aceguá, e ir até Melo.
Depois do casal Guasque vir morar em
Bagé, na General Netto, nas primeiras décadas do século XX, periodicamente ela
chamava uma das filhas e tomava a diligência. Sim, Bagé tinha como meio de
transporte até o Uruguai não ônibus ou trem, e sim as diligências, tal qual o Velho
Oeste americano. Na volta o produto da matança era trazido imerso em banha, em
barricas, tudo acondicionado na parte de cima das tais diligências.
Uma tragédia foi a perda de José
Luiz, em 1937, fator que fragmentou a família. A casa foi vendida e Aniceta
começou um périplo pela casa dos filhos. Depois acabou indo para o Rio de
Janeiro com as filhas que tinham permanecido solteiras.
Mas até a partida para a Capital
Federal ela não perdia uma partida do Guarany F.C, e se era um clássico Baguá,
aí que ninguém a impedia de ir. E isso numa época que não era comum mulheres
frequentarem estádios para ver futebol. Pois a bisavó Guasque levava uma “arma”,
a sua sombrinha. E ai do engraçadinho
que a fizesse alvo de brincadeiras, pois a bisabuela
desferia um golpe certeiro com a sua “arma” para o mal educado se desculpar da
afronta a La Piorrita Petiça.
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