Saudade de Portugal
José Rodrigues Gomes Neto
Estive poucas
vezes lá e não é desses dias que sinto falta.
Meu avô – José
Rodrigues Gomes - veio de lá, com quatorze anos de idade, em 1877, a bordo de
um navio, prestando serviços em troca da passagem.
Aqui, como era
comum naquela época, ele foi recebido por uma família que já viera de lá,
antes.
Não fez nenhuma
escala, o que muitos faziam. Veio direto à Pelotas.
Logo começou a
trabalhar em atividades modestas e morava em um quarto que lhe fora destinado
pelos seus anfitriões.
Trabalhava,
trabalhava intensamente, com o objetivo de capitalizar-se, guardando cada moeda
que ganhasse, pensando em abrir seu próprio negócio.
Casou jovem,
muito jovem, com Anna Bandeira da Nova.
Nesses dias, ele
começara a trabalhar em uma fábrica de beneficiamento de fumo Não demorou
muito, assumiu o cargo de gerente e, pouco tempo depois,com o falecimento
do dono, comprou o estabelecimento. Para isso, teve de recorrer a empréstimos,
o que obteve com alguns compatriotas, a quem já se ligara por laços de amizade
e que confiavam em sua honestidade e competência.
Isso deveria ser
lá por 1900, quando já lhe nascera o primeiro dos onze filhos que teve.
Deu à sua prole,
e à sua mulher, uma vida confortável, chegando mesmo a amealhar um patrimônio
considerável.
Viveu até aos 82
anos de idade, apenas seis meses após ter perdido sua companheira de toda a
vida. Não me move, aqui, a intenção de traçar a bio grafia do meu avô, que,
praticamente um menino, deixou a Povoa do Varzin, seus pais, e tudo o mais que
lhe cercava, e veio para a América, fazer a América.
Hoje pensei nele
porque vi uma foto sua feita em louça e ali ele aparece com “plastron” e com
uma fisionomia forte, que demonstra ser um homem decidido.
Fiquei comovido,
primeiro porque eu tinha apenas dez anos quando ele faleceu e não tive a
oportunidade de trocar idéias com um homem, que depois, pela voz dos amigos
dele e pelos testemunhos da família, pareceu-me farto em qualidades.
Dei-me conta,
então, que, ele e tantos outros portugueses que vieram para cá, fizeram de
Pelotas uma grande cidade e que hoje desfrutamos deste legado graças ao
espírito empreendedor desses desbravadores corajosos.
Por que dei a
esta crônica o título Saudades de Portugal?
Porque, olhando
para sua foto, sinceramente emocionado, fiquei pensando quantas saudades lhe
acompanharam pela vida, pois ele nunca mais voltou lá.
Então, pela
minha condição, a de neto, que tem o seu nome, senti as saudades que eram dele.
__________________________________
.
4 comentários:
Tchê Vaz, por meio desta cronica vejo no José Rodrigues Neto, um novo Guasque, e pelo jeito se ele abrir esse baú teremos boas estórias de família para ler e apreciar aqui no blog. Um baita abraço José e te estimulo a fazer mais crônicas para lermos aqui no blog. Tchê Vaz um baita e macanudo abraço.
Gracias, Gerson.
Ele é um ótimo cronista... vamos ver se "compramos" mais direitos autorais dele..
Abraço
Vaz
Vazamigo
Primeiro que tudo, apresento a Vossa Insolência toneladas e quilolitros de desculpas, pois não venho aqui desde o Triássico, ou seja no período em que os dinossauros enchiam a Terra, antes do meteorito fatal.
Muitas e variadas razões tinha para aqui mencionar - e Vossa Insolência merece-as - mas de ingratos estão os cemitérios cheios... :-) Adiante.
Assim, aqui estou, de baraço ao pescoço, qual Egas Moniz perante o Rei Afonso Henriques. Mas, vamos ao que interessa.
Esta Saudade de Portugal é linda; ainda pensei que o texto fosse assassinado, ops, assinado por um tal Luiz Tchê Vaz (de acordo com o Gerson), mas é da autoria do José Rodrigues Gomes Neto.
Coisa bonita e misteriosa a saudade, palavra que só a língua portuguesa possui; ter saudades de alguém é uma mistura indissolúvel de nostalgia, tristeza, dor e sentimento. Só a língua romena tem algo semelhante: dor. Assim mesmo.
Pronto, aqui fica a minha intervenção talvez um tanto longa, mas enfim...
Qjs & abçs convenientemente distribuídos por toda a família, a começar pela Maribel, e um abção para tu.
Henrique
__________
PS - Espero visita e comentário lá na Travessa e aproveito o ensejo para um pedido, que não são €€€€€€€...
Quero ter a tua colaboração no nosso blogue. Texto à tua escolha. Tamanho 30/40 linhas em corpo 14. Periodicidade: mensal. Aguardo resposta POSITIVA que podes postar lá... Obrigado
Com certeza, Ferreiramigo, vamos acertar os Euros, rsrs
Abraços a toda Lisbótima!
Postar um comentário