"E ela ainda está lá como se perguntasse: onde foi parar a Padaria Sul Brasil? Que fizeram com a Esquina Bianchetti? Quem testemunha o tempo e pergunta isso ainda hoje é a Casa A Boneca, que aparece nesta imagem de mais de sessenta anos de Bagé. Uma cidade que sempre é notada pelos visitantes devido a suas ruas largas e com árvores no canteiro central. E essa norma de adotar ruas largas e com as vias separadas por árvores centrais é uma diretriz que foi instituída, pasmem, na metade do século XIX, quando a cidade tinha apenas 40 anos de existência. O motivo invulgar: para permitir o retorno e a manobra das carretas nas esquinas, muitas delas, com até seis juntas de bois, segundo relata a historiadora pelotense Elisabeth Macedo de Fagundes, atualmente radicada em Bagé. Mal podemos acreditar que éramos nessa época a terceira cidade mais importante do estado. E não era para menos, tínhamos telefonia desde 1901 e fomos a primeira cidade do Rio Grande do Sul, e a terceira do Brasil, a ter, desde 1899, energia elétrica. Essa afirmação é do jornalista e historiador Mário Nogueira Lopes, dedicado estudioso e pesquisador da cidade. No prédio que os mais novos conheceram por Esquina Bianchetti, vemos uma casa de residência, um "solar" como era conhecido, remanescente do final do século XIX ou início do século XX, com a arquitetura característica desse período. Note-se que houve uma adaptação das aberturas do prédio antigo para se adequar ao comércio que foi posteriormente instalado ali. Compare com a foto mais recente, tomada por Ivo Barros Coelho da Esquina Banchetti no post "Uma esquina no tempo". Pelos elementos que compõem a imagem, parece ser um retrato do final dos anos 40 ou início dos 50 pois ainda não havia calçamento de pedras. Um cavaleiro ao fundo tranquilamente desce a rua, acompanhando ao lado a sua carroça, ou carreta. O palacete do Pedro Osório, futura sede do Estadual, já se destacava na quadra com o seu majestoso arvoredo. A loja de tecidos Casa A Boneca já reinava naquela quadra. Um detalhe: a escultura acima da platibanda da loja não é de "uma boneca" como a população costuma dizer, mas a imagem do deus grego Hermes, protetor do comércio, segundo artigo da historiadora Clarisse Ismério. O proprietário de então, deve ter mandado colocar ali para que o deus grego protegesse seu prédio e seus negócios. E, pelo visto, Hermes tem cuidado de sua tarefa... A rede de fios pode parecer, para os mais novos, como de rede elétrica, mas são fios da rede de telefones, com postes bem característicos do início da prestação desse serviço no Brasil. Naquele tempo a rede elétrica passava rente às casas por meio de travessas metálicas com os fios quase colados às paredes. Se apurarmos a vista, veremos essas travessas metálicas apostas no alto da parede, nos dois prédios. Em várias casas de algumas quadras de Bagé ainda aparecem uma ou outra dessas travessas metálicas, "testemunhas" do antigo sistema de distribuição de energia. O conjunto do poste central e da luminária do cruzamento, importados da França, foram retirados de todas as ruas em nome da modernidade por ordem de Antonio Pires, governando Bagé, no início dos anos 70. Lamentamos que não tenham colocado na época um “deus grego” sobre cada poste para proteger essas relíquias. Tivessem feito isso, como o dono da Casa A Boneca, os postes franceses estariam nos seus lugares até hoje fazendo inveja à maioria das cidades históricas do Brasil.
Tem horas em que a mitologia grega faz uma falta..."
.Enviado pelo colega
Hamilton Caio
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Nota do Blog: Foto publicada no guia "Alô, Bagé! 200 anos", editado pelo Sindilojas.
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3 comentários:
Meu avô materno era "freguês" de caderneta da loa A Boneca, lembro de alguns presentes que ganhei dele, comprados nessa casa. Em especial do último, uma japona de lã de cor grafite com botões até o gogó, rapaz aquela japona me serviu anos a fio, mais de dez anos e acabei com ela quando trabalhei na aduana brasileira em Aceguá nos anos de 79 a 81, trabalho sob o regime de contrato com a Receita Federal, mas isso já é outra estória. Estive a um ano atrás em Bagé e essa esquina parece que não muda continua quase a mesma coisa da fotografia.
Agora o Gerson acaba de lembrar a modalidade de compras que existiu antes do crediário: A "Caderneta de compras". A expressão "freguês de caderno" vem dai mesmo. As cadernetas eram muito usadas nos armazéns da época. Hoje, como tudo vem da China e é feito de fibras sintéticas, duvido que uma japona dure dez anos como essa que teu avô comprou na Casa A Boneca...
Antes de ser a Esquina Bianchetti, o prédio serviu ao Hotel América.(aldoghisolfi@gmail.com)
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