25 de maio de 2010

O Navio Fantasma, A proeza do Djalma

Hoje, o navio que assustou o Djalma...

...não lembra mais o grande Altair...

...que aos poucos foi sendo devorado pelo mar.

Na madrugada do dia 6 de junho de 1976, soprava um vento fortíssimo em meio a uma tempestade nunca vista pelas praias do sul. Djalma, um pescador bageense acostumado a fisgar traíras no Arroio Valente, saiu de dentro da barraca armada nas areias do Cassino e se tocou em direção a um boteco, ali perto da Querência, para comprar uma garrafa de cana.

Com aquele vento, o negócio era ficar dentro da barraca e esperar o temporal passar. Djalma não tinha andado mais que uns cinco quilômetros quando avistou, na praia, o “maior peixe” de sua vida: um navio enorme, cujas cores, branco, cinza e laranja, brilhavam a cada novo relâmpago dentro da noite escura dando a impressão que continuava seu trajeto areia a dentro. Djalma, que ainda não tinha bebido nada, lembrou disso para se dar por conta que se tratava mesmo de um enorme navio encalhando na beira da praia e não de um tipo de visão etílica.

Djalma então voltou imediatamente para a barraca e convocou os colegas pescadores para ajudarem no salvamento dos marujos que procuravam sair do navio. Djalma, Beto e outros quatro pescadores da turma, levaram até o local a canoa Pingo de Ouro, que pertencia ao grupo, e demoraram quase três horas para retirar do Altair todos os 21 tripulantes sãos e salvos. Sim, Altair era o nome do navio de bandeira argentina que acabara de encalhar na Praia do Cassino.

A carga do Altair era de três mil toneladas de trigo que foi totalmente perdida. Durante muito tempo era possível ver aquela mancha amarelada composta pelos grãos do trigo na água que, de acordo com o vento e a direção das ondas, em alguns dias chegava até a praia do Hermenegildo, no Chuí. O lugar passou a ser ponto de referência na praia do Cassino. Tudo passou a ser, antes ou depois, do “navio afundado”. Várias espécies de peixes e outros animais marinhos passaram a fazer dos seus restos a sua morada e o local ficou também conhecido como um bom lugar para pescar.

Não há quem passe por lá e não bata uma foto, com os restos do navio encalhado ao fundo, como lembrança do Cassino. Quem ainda não fez isso poderá ter perdido a chance pois nestes últimos 34 anos o mar foi implacável com ele. Quase não há mais nada para se ver. Nada mesmo, se compararmos com as primeiras fotografias doAltair encalhado. Vários colegas do Estadual, como a nossa fotógrafa Liliana, já posaram com a família por lá. Muitos outros bageenses, além do Djalma e da Liliana, já viram esse navio. 

Não é de hoje que a Praia do Cassino é uma das preferidas do pessoal de Bagé. Outros naufrágios ocorreram na praia do Cassino, mas o único navio que permaneceu lá, com seus restos para contar a história, foi o Altair.

Nota: Texto escrito a partir de alguns dados reais obtidos na reportagem "Navio Altair vira assunto de sala de aula", de Tatiane Fernandes, no jornal Agora. Colaborou também com informações ao Blog, Miguel Sanchis.
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16 comentários:

Gerson Mendes Corrêa disse...

Eu ja conheci o Altair conforme a primeira foto de baixo para cima, porém nos oito anos que morei em Rio Grande, todavia me interessava mais em ir pescar nos moles. Mas o que falaste é verdade o pessoal gostava muito de ter o "navio" como cenario para uma foto.

Hamilton Caio disse...

Sobre os naufrágios na costa sul do Brasil, costa uruguaia e argentina, diz o historiador Hélio Moro Mariante, no seu livro - O Rio Grande do Sul em "aulinhas", da Edições EST, 1993:

""O litoral sul-rio-grandense, devido à sua larga plataforma marítima, extensa e de pouco profundidade, ficou vulgarmente conhecido por "cemitério de navios", tendo em vista o grande número de embarcações nela naufragadas.
Autoridades e viajantes dos primeiros tempos, batizaram-na de "costa brava e desastrosa, por ser todo o tempo mui borrascosa", conforme escreveu o padre Strasser, S. J., ou, então, "esparcelada costa, sem abrigo nem surgidouro", na pitoresca linguagem do Visconde de São Leopoldo.
O único abrigo de então, como o é ainda hoje, era o canal do Rio Grande, de difícil acesso até princípios deste século (XX), em virtude dos problemas oferecidos pela sua penosa entrada, batizada de "barra diabólica" por Gomes Freire de Andrade.
Dos vários registros de naufrágios, o de maior repercussão foi o do navio "Rio Apa", que viajava do Rio de Janeiro para Mato Grosso. Encontrando-se na costa sul-rio-grandense, no dia 11 de junho de 1887, foi colhido por violenta tempestade. A bordo encontravam-se 107 pessoas - 67 passageiros e 40 tripulantes. Todos morreram afogados.
Além do Rio Apa afundaram mais os vapores "Cavour" e "Rio Jaguarão", o pataco "D. Guilhermina", a escuna "Évora" e a barca "Edmar".
Essa violenta tempestade causou muitas vítimas também nas costas uruguaias e argentina, com embarcações de bandeiras inglesa, dinamarquesa, alemã, brasileira e sueca. ""

Nota: O historiador Hélio Moro Mariante é natural de Caxias do Sul, nasceu em 1915 e faleceu em Porto Alegre em 2005. Escreveu vários livros. Entre outras funções, foi membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul e da Academia Rio-Grandense de Letras.

Luiz Carlos Vaz disse...

Gersom, o Altair deverá "desaparecer" em breve. Só ficará o casco enterrado na areia e pouco visível. Quem viu, viu, quem não viu...

Luiz Carlos Vaz disse...

Hamilton, muito boas essas referências a costa sul. Muitos navios naufragaram por ai, e sempre existem muitas histórias para serem contadas. Cargas misteriosas, ouro, dinheiro...e, sempre, muita imaginação.

Helena Ortiz disse...

Pois não é que esta prosa está cada vez melhor?
Meio desatualizada, li agora a "Menina da bica" e adorei.
De Bagé, do mundo inteiro, sempre a boa poesia, que manténs na prosa.
beijo

Gerson Mendes Corrêa disse...

Bastante interessante essa postagem do Hamilaton, parabéns.

Luiz Carlos Vaz disse...

Helena, que bom te (re)ver por aqui... pois a Menina da Bica rendeu bastante prosa e verso.
E tem mais "aquelas outras" que tu sabes... Te esperamos aqui, dia 8/6, para o lançamento do teu novo livro, "O silêncio das xícaras", da Editora da Palavra, ai do teu Rio de Janeiro.
Até lá.

Silvana Moreira disse...

Adorei o post. Tenho algumas fotos no "Altair" por volta de 1999. Fiquei curiosa pra saber o estado que ele estava na época. Vou procurar as fotos pra conferir. Ah, Vaz, já votei no blog, no Top Blog, viu! bj bj

Luiz Carlos Vaz disse...

Silvana, obrigado pelo comentário e pelo voto. Depois manda as fotos do Altair, sempre é interessante comparar o avanço da corrosão dele que, nos últimos anos, aumentou muito.

Luiz Caminha disse...

Acabei por achar teu blog à procura do email do vazjornalista - e gostei muito. Belo trabalho, velho, parabéns. As pessoas que resgatam - e preservam, assim - a memória coletiva são sempre especiais e merecedoras da admiração de todos que consideram esses assuntos importantes para o progresso da humanidade, entre os quais me incluo.
Abraço
Caminha

Luiz Carlos Vaz disse...

Obrigado, xará, passe aqui sempre que quiser, a casa é tua. Abs.

marylaine teixeira disse...

adorei as fotos do navio ,pena eu nao ter sigo dessa epoca para ter visto o altair inteirinho,pois me amarro em navios,bjos

marylaine teixeira disse...

adorei as fotos do navio ,pena eu nao ter sigo dessa epoca para ter visto o altair inteirinho,pois me amarro em navios,bjos

Luiz Carlos Vaz disse...

Pois é, Marylaine, ele está bem acabadinho, olha as últimas fotos dele aqui: http://velhaguardacarloskluwe.blogspot.com/2011/03/o-navio-fantasma-iii-o-tempo-agua-e-o.html
Obrigado por passar aqui e comentar!

mylla disse...

OLA VAZ! BEM ACABEI DE VER AS FOTOS DO NAVIO ALTAIR E GOSTARIA MUITO DE SABER SE VOCÊ TEM ALGUMA NOTICIA SOBRE OS TRIPULANTES DA EPOCA? E SER O NAVIO ERA MESMO DA EMPRESA LIBRA?
VOU DEIXA MEU EMAIL PRA QUALQUE PESSOA QUE POSSA ME DA MAIS INFOMAÇÕES:mylla.ms@bol.com.br
DESDE JA AGADEÇO A RESPOSTA.

Luiz Carlos Vaz disse...

Oi Mylla, obrigado por comentar aqui... sugiro que entres em contato com o Miguel Sanchis, do blog conjuminando, que é quem mais entende desse tema. O endereço está ao final to texto e recomendo que leias as outras postagens sobre o mesmo tema: O navio fantasma I, II e III. Um abraço, Vaz.