4 de novembro de 2012

Topaze ... (Um doce toque de saudade...)



Topaze ...
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(Um Doce Toque de Saudade...)

J.J. Oliveira Gonçalves

  No meio da tarde, fui espairecer a Existência – como geralmente faço, aos sábados. (E, talvez, como enfatiza Vinícius, porque era sábado... Ah, aquele poetinha de poemas, letras e sonetos – que me traz na rima e nos versos brancos pedaços fragrantes e coloridos do mosaico de minha adolescência...)

  Mas, como ia dizendo, porque era sábado, saí no meio da tarde. E dando à calçada meus passos, tácitos e incertos, uma doce, suave fragrância me acompanhava. E aguardando no ponto de ônibus, essa fragrância também aguardava. Depois, tomando o ônibus, a fragrância também o tomou. Ah... que doce, sutil e evocadora fragrância... Aliás, ao fechar o portão, ela já se insinuou... E foi se infiltrando, (assim como quem não quer nada), pelo olfato da Alma... Muitas imagens. Muitas lembranças. Saudades que guardo, com carinho, no baú da Ilusões da Vida. Da Vida em seu começo. Nos idos começos de minha Vida. Daquele tempo do róseo dos Sonhos e do esmeraldino da Esperança. Dos projetos. Das ânsias. Dos devaneios inquietos... Das conjecturas com os olhos reticentes no incógnito futuro... (O futuro: essa charada malvada e indecifrável!) Do utópico mar-de-rosas que, logo ali, (porque Chronos galopa furiosa e velozmente!), tropeça nas pedras do caminho – parafraseando o tímido Drummond...

  Entretanto, tropeçar nas Pedras pelo Caminho faz parte. Faz parte das Lições. Do Aprendizado. Do jogo fero da Vida. Infelizmente, os bocados são mais amargos que doces... mais triste que alegres... São mais lágrimas que sorrisos... mais partidas que chegadas... Pelo menos, esse é o contexto que me coube aos Sentimentos nesta cotidiana Existência...

  Porém, eu falava em fragrância, em perfume. Num cheirinho doce que me embalava a rede da memória. As cordas do coração... Foi essa fragrância que me tocou os sentidos. E me acordou velhos e coloridos sentires. Sentires adolescentes...

Pegou-me pelo olfato e me transportou através de um túnel de tempo. As marcas em minha face desapareceram. E as cicatrizes d’Alma sumiram...

  E meu corpo, exausto destas andanças (sem nexo!) existenciais, assumiu a juventude que é a face, (verdadeira e oculta!), de meu Espírito. Sim: todas as imagens, todas as lembranças e as Saudades todas assomaram da fragrância, do perfume que usei – para a mim mesmo agradar e fazer sorrir os Anjos...

  Há quantos anos não via nem usava tal perfume! Dizem que esse perfume é feminino. Pois não é que até isso inventaram (e já faz tempo!): dar sexo aos perfumes, aos cheiros, às fragrâncias? Ah, mas eu nunca dei bola pra esse tipo de coisa – como para tantas outras em minha Vida... Minha mãe gostava de perfumes. E eu também. Ela usava os seus perfumes. E eu os perfumes dela. Nesta altura do (ingrato!) campeonato da Vida, tenho muitos perfumes. A maioria tem o “m” de masculino. Mas há, ainda, os que trazem o “f” de feminino. E todos me dão prazer. E não importa o que os outros pensem. Ou achem. Ou elocubrem... O que importa é o meu prazer. O me sentir bem. Afinal, talvez isto seja coisa de Aquariano – esse Signo cheio de cores, de nuanças, de contrastes. O mais não seja, Aquário é um Signo de Ar que parece de Água – não é verdade? Sua simbologia é um Anjo despejando um cântaro d’água que traz aos ombros. É o único Signo cuja figura não é um animal. Também é o único regido por dois planetas contrastosos: Saturno (Chronos) e Urano (o mais jovem). Saturno tem cor de terra, é escuro, e anda devagar “quase parando”... Urano é irisado, brilhante, e anda velozmente – se adequa ao “vai ou racha”... E a Guarda do pessoal de Aquário fica a cargo de Uriel – Potestade Angélica que contém os Sete Raios Coloridos do Arco-Íris. Conhecido como o “Signo Visionário” – futurista, afirma-se que está centena de anos à frente de sua época – o que, às vezes, gera certa ciumeira boba... Ora, durma-se com tanto barulho, isto é: como se adequar a tanto contraste? Como se aguentar entre tais Paradoxos – sádicos e inegavelmente eloquentes? Vai ver, por isso, não dou bola para o que digam ou pensem de meus contrastosos e explícitos gostos: no vestir, no calçar, no usar anéis, no usar colares, enfim, no ser como exatamente eu sou: um autêntico nativo de Aquário. E, sendo assim, me encantam as Artes, me fascinam as cores, me deliciam os perfumes... E amo, de corpo e Alma, (e coração volúvel!), as mulheres...

  Ao encerrar esta crônica – eis que hoje é domingo, (e adoro escrever aos domingos!), e porque ontem foi sábado, fica comigo aquele doce cheirinho de Saudade que me tocou, (liricamente!), no olfato da Alma...

  Dizem que a amarela é a rosa da Saudade, do Amor Eterno. E Topaze traz a mesma cor dessa rosa... Quanto ao sexo da fragrância, isso, sinceramente, não importa. Quem sabe, essa confessa indiferença satisfaça ao meu coração, (masculino), de índio que fala a voz profunda do Silêncio e a esta (feminina) Alma cigana que se ornamenta da explícita Beleza de adereços... Quem sabe?

JJ de Oliveira Gonçalves
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jjotapoesia@gmail.com - www.cappaz.com.br
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3 comentários:

jurvi disse...

Parabéns JJ , hoje você me fez voltar no tempo. Há 30 anos passados, quando encontrei o homem que me acompanha até hoje, senti a fragância do Topaze envolvendo profundidade do olhar que me atraiu.Belas recordações. Catálogos do Avon em alta na época, eu conhecia tão bem este cheiro, mas passei a gostar mais dele, quando senti perto do meu amor. Quando ele chegava, impecável nas visitas em minha casa era topaze na certa, era seu preferido,m e eu adorava...... até que casei, e 3 anos depois deste amor- topaze, meu sentimento pelo perfume virou feitiço contra a feiticeira. Verdade!! Ao engravidar do primeiro filho, meu primeiro enjoo foi o cheiro, ou odor do Topaze. Joguei o frasco fora, com medo de que alguémn chegassem em minha casa e abrisse, obrigando-me a correr para o banheiro fazer algo que odeio fazer. Até hoje só vomitei na gravidez e odiava ter q fazer isto; minha pressão baixava e parecia que ia morrer. Até hoje, quando sinto seu cheiro, coisa rara de acontecer, não sei se ainda está à venda nos catálogos do Avon; mas dia desses estava em casa de uma amiga que conserva estes frascos antigos, e por coincidência tinha um risquício do perfume em um frasco de Topaze. Fui constatar se já tinha passado o tal efeito gravidez e fiquei estarrecida, porque senti o estômago revirar.... incrível nosso organismo não??
Quando ao texto, como todos os teus textos, está belíssimo, profundo, nos remetem às lembranças de coisas boas, momentos vividos, experiências vividas. Lindo demais!!Parabéns!!!

Anônimo disse...

Oi, Vaz...

Quando reli esta crônica no "VG", me transportei lá para aquela tarde de sábado, quando fechei o pequeno portão de casa. Por alguma razão, na memória do olfato chegou, de repente, a fragrância do "Topaze". Penso que foi a presença Etérea de minha mãe... Dona Nena gostava muito desse perfume... E eu ia de carona... rs... Minha mãe gostava de me ver bem vestido (e calçado) e perfumado...
Teve um tempo, Vaz, em que ia todos os sábados, à tarde, passear na "Rua da Praia". Esse passeio fazia o papel de "analista", para me aliviar das lides (agitadas) de professor - que desempenhava de segunda à sexta-feira. Daí, surgiu uma amizade muito bonita com Marcos - um rapaz que vendia livros em sua estande, na "Rua da Praia", em frente ao Banco Safra. Muitos e muitos livros comprei do Marcos. Hoje, ele vende seus livros pela Internet. Trabalhou um tempo no chamado "camelódromo", mas não agüentou o aluguel de um cubículo, mal localizado, principalmente para a venda de livros, (que deveriam estar sempre numa vitrine, ao alcance do olhar de todos!), pois, infelizmente, nesse espaço as falcatruas, os favorecimentos, enfim, as maracutaias da vida viçam...
Mas, voltando à crônica, muito agradeço pela tua publicação, pois os sentimentos com que a escrevi são reminiscências, são suspiros, são Saudades... toques de "Topaze" para perfumar a Alma teimosamente sonhadora deste guri de Bagé.

Abraço franciscano!
JJ!



Anônimo disse...

Pois, Jurivi...

Sou um camarada feito de Lembranças, Saudades, Emoções... E é desta forma que muito agradeço pelas palavras fraternas e pelo elogio generoso que fazes ao texto e ao seu autor!
Com certeza, feliz com o que contas - de forma espontânea e sentimental, percebo - sobre essa fase bela, romântica e inesquecível de tua vida. Esses episódios, acredito, povoam e valorizam a historinha de vida que carregamos, a cada passo que damos nesta andança terrena, enriquecendo os "capítulos" que já se fizeram passado, os que estamos vivenciando e os inéditos - que estão à nossa espera, no futuro. Afinal, somos todos atores no imenso palco da Existência, com um "script" complexo ao qual não podemos escapar, penso eu...
Quanto à fragrância de "Topaze", sinto que "o feitiço tenha virado"... rs... Mas, a Vida é assim mesmo e cada um de nós tem lá suas "peculiaridades" inexplicáveis"... (Aqui, uma historinha, não sobre fragrância, mas sobre sabor... Já morava em Porto Alegre e meus pais tinham uma mercearia. Meu refrigerante preferido era o "Guaraná Frisante", o único que vinha em garrafa grande, igual de cerveja. Super gostoso. Um dia, porém, tive o que chamavam de "ataque de fígado"... rs... Fiquei bom. Porém, nunca mais pude beber meu "Guaraná Frisante" de que gostava tanto! Tanto o sabor quanto o aroma me davam náusea, me repugnavam. Tua narrativa me lembrou, em seguida, deste episódio semelhante. Não sei se o "Frisante" ainda existe. Acho que não. Vê só que fato semelhante - não é mesmo??)
Bem, do "Topaze" tenho um frasco... rs... É uma espécie de relíquia... Por isso mesmo, uso uma "pitadinha", apenas, de tempos em tempos... rs... É um delicado e marcante "toque-ouro-velho" do Passado para embriagar um pouquinho a Solidão do presente e suas Ausências...

Com franciscano abraço!
JJ!