15 de dezembro de 2012

No Ventre da Terra... No Éter de Deus!

Foto Marcelo Soares

No Ventre da Terra... No Éter de Deus!

J.J. Oliveira Gonçalves

No ventre da terra deitei minha face...

Aninhei-me todo como se feto fosse. Cerrei a cortina dos olhos. Corri a tranca dos lábios. E os ouvidos eu os fechei para os barulhos absurdos do mundo. Chorei lágrimas feitas de infância. E libertei gemidos nascidos do coração... Ah, este mundo feito de deletérios progressos... Progressos que aniquilam o homem – corroem, corrompem, escravizam... E o bicho-homem, acuado entre materialismo, sexo e droga, faz de sua existência uma droga de vida: estressante, cheia de violências, de medos, vazia, sem sentido... O bicho-homem: um bicho sobrevivendo nos rastros sombrios do que restou do homem... Cortou arrogantemente sua ligação com Ele e, não tendo, ou até fazendo de conta que tem uma religião, perdeu o contato com o Divino, com suas Raízes Espirituais. Esquecido, desligou-se do Alto. Não consegue mais (re)ligar. Pois perdeu mesmo o cacoete de ser religioso. Baniu as palavras mágicas do Livro da Vida. Relegou à indiferença os gestos sagrados. Renegou os Rituais que celebram o Pai, a Mãe e o Filho! Não mais reconhece os Símbolos! Não quer mais comungar do Éter de Deus!

E assim caminha a Humanidade sobre o dorso dorido da Terra. Murchado da Fé, corre em todas as direções para não chegar a lugar nenhum. Quando abatido pelas andanças do cotidiano e pelas dúvidas que carrega consigo, se questiona. Perdido, procura por Deus. Desiludido e vazio, comete graves pecados... Descuida do corpo. Ignora a Alma. Se socorre nos vícios. É o fumo. O álcool. A droga. Sem forças para aguentar o tranco da Vida, desespera-se. Olha em volta e, moribundo voluntário do ato de viver – ou sobreviver – transfigura-se em potencial suicida. (Bomba-relógio no tic-tac do tempo linear...) Pensando ser o fim de seus tormentos, de suas dores, de seus ferrenhos sofrimentos, volta-se contra a própria Vida. Crê que a porta da salvação é essa Chave instigante, proibida, velada... Vê-se agraciado descobridor da Panacéia que o livrará, de uma vez por todas, do peso insuportável da Cruz que se julga incapaz de carregar. Infeliz em sua ilusória e radical concepção, fecha o Portal da salvação: sua Jornada terrena – lições de aprendizado, resgates cármicos, crescimento espiritual. Engorda seu karma. Protela e acresce às suas dívidas o imperioso resgate de si mesmo.  Renega a evolução de seu eu divino. Transgride a Lei Universal... Enfim, joga fora suas tão necessárias e irreversíveis Dores de Crescimento!

Pobre homem! Veio ao mundo terreno. Viu. Mas não venceu. Antes, entregou-se às coisas mundanas, como se estas fossem eternas. Como se ele próprio eterno fosse. Os olhos, cegos, não romperam o Véu da ilusão – Maya. A boca, “faminta” e arrogante, fala demais, quer demais, exige demais. Os ouvidos, viciados, ouvem torto... As mãos, egoístas, lavam apenas o próprio rosto. O coração, frio e calculista, fossilizou-se. A Alma, baça e pesada, vagueia pelos guetos sombrios da Existência... E o Espírito... ah, o Espírito... esse é o Sopro Etéreo do Criador que – Imagem e Semelhança! – é o Anjo-da-Guarda que sempre salvará o homem! Que o resgatará de seus pecados! E o fará, um dia, voltar à Casa Augusta do Pai – sua luminosa e original Morada!

1º lugar – Concurso de Prosa e Verso/2001 – Grêmio Literárário Castro Alves – Porto Alegre/RS.
1º lugar – Concurso Nélson Fachinelli de Efemérides/2003 – Casa do Poeta Rio-Grandense – Porto Alegre/RS

Porto Alegre, 08/maio/2001. 18h17min
jjotapoesia@gmail.com - www.cappaz.com.br
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