26 de fevereiro de 2013

me vejo

Espirradeiras floridas no pátio do Estadual. Foto LC Vaz


me vejo
vera luiza vaz

me vejo no vento
na chuva
na gota corrente
transparente
mutante...

me vejo na fala
no poema
no dilema de ser
diferente...

me vejo adolescente
no estadual de bagé
no cine avenida
sozinha
da sessão da tarde rainha...

me vejo professoral
quase glacial
responsavelmente eloquente
afetuosamente coerente...

me vejo no agora
assim senhora
da luta do dia
da face lavada
da alma marcada
no verso aberto
um pouco de mim...
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Mais de Vera Luiza Vaz AQUI
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25 de fevereiro de 2013

Árvores cortadas lembram protesto de 1975


Hoje transcorre mais um "aniversário" do ato de protesto em favor do verde ocorrido no ano de 1975 na cidade de Porto Alegre. O fato foi manchete nacional e noticiado, inclusive, em jornais de fora do Brasil. Interessante observar que, passados quase 40 anos, a prefeitura de Porto Alegre voltou novamente a cortar árvores frondosas em benefício de uma obra viária  "para a Copa 2014". 

É, parece que não aprendemos nada esse tempo todo!


Recortes de jornal do arquivo pessoal do colega do Estadual Sergio Saraiva.
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Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Leia mais sobre o novo corte de árvores feito pela Prefeitura da Capital em 2013 AQUI
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24 de fevereiro de 2013

Evento

Foto Marcelo Soares

Evento

Marcelo Soares


Alguém me informa as horas?

Esta camisa não parece vestir-me bem, odeio compromissos de última hora. Sem vontade, todo compromisso é de última hora.

Será que chove?

Houve um dia em que o brim servia para tudo - atravessar gerações traz retrocessos (círculos): estou parecido com meu pai e não me importo mais com isso.

Não posso chegar molhado mas fico drenando dentro disso.

Cores:  nem o arco-íris monocromático ou os tons pastéis combinam com qualquer dos meus sapatos.

E se ficar frio? Tiro o casaco.

Se tiver dança? Finjo cansaço!

Não sou eu nestes espelhos, nem serei na recordação dos tantos retratos.

As meias estão a mostra, o cinto apertado.

Alguém me informa as horas?

Sem vontade... qualquer compromisso chega adiantado.

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Mais de Marcelo Soares em Diário de Canto
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22 de fevereiro de 2013

Três mineiros fora dos limites


Três pintores autodidatas mineiros estarão expondo em Bagé, no Espaço Da Maya, de hoje até dia 24 de março. Ver e conferir.
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20 de fevereiro de 2013

Quarta-feira sem cinzas


Foto Marcelo Soares

Quarta-feira sem cinzas (*)
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Marcelo Soares

Esta quente. Ninguém na rua. Eu mesmo deveria estar em casa. A noite foi curta e sem festa desperto com a esperança da ressaca de antigos carnavais.

Já vesti macacão, máscara de pano e calçados gastos. Até hoje associo dias nublados com o retorno das primeiras alvoradas, reconforto-me  na indefinição dos horizontes onde o que não pode ser visto antecipa novidades.

Porém, nem sujos, nem fantasiados, só eu caminhando na ilusão de ser acordado  por alguma referência -  mas não surgem imagens ou batuques que sacudam o pensamento além das nuvens, ou pior: não há nuvens, então  avalio se não deveria ter ficado em casa.

Allah-la-ô, mas que calor. Atravesso o deserto da cidade sem conseguir matar saudades.

Todos dormem, o dia é precocemente claro, minha roupa é mais  formal do que de operário e, apesar de confortável, sinto falta de meus tênis esgaçados.

Retorno queimando pela ausência das cinzas, pelo sol de um amanhecer que não surpreende, e pelo fim de uma memória que não se encontra, nem mais sente.
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(*) Crônica publicada originalmente no Diário de Canto na quarta-feira de cinzas.
Mas, como aqui o carnaval será "fora de época"...

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18 de fevereiro de 2013

Chico Bastos e o petróleo no Brasil

Chico Bastos em foto de 1933 com os colegas da  Viação Férrea


Chico Bastos, o pescador
de Willy Cesar Rodrigues Ferreira (*)

“A estância do pecuarista Júlio Martins e de sua mulher, Maria Conceição,
vê correr pelos campos a menina Maria Ondina Ferreira Martins.
Ela nasce em 23 de outubro de 1909 (...)
A propriedade fica na localidade de Bolena, a 40 quilômetros do centro de Bagé.
Da parte mais alta onde estão a casa de moradia, galpões
e cercado para os cavalos vê-se a imensidão da campanha.
E ao alcance do olhar, as jazidas de carvão
na localidade de Candiota, a uns 15 quilômetros,
fazem um contraponto com o verde do campo”.


Hoje recebi do Willy Cesar um exemplar do livro “Chico Bastos – o pescador”, biografia de Francisco Martins Bastos, fundador da Ypiranga S. A. Companhia Brasileira de Petróleos, ou simplesmente a Ipiranga, como ficou depois conhecida por todos, e que foi, durante décadas, um orgulho da indústria petrolífera gaúcha e brasileira. O livro, com mais de 350 páginas, conta em detalhes a saga deste homem de indústria, engenheiro, ex-funcionário da Viação Férrea em Bagé, cidade onde conheceu e se apaixonou pela bela Maria Ondina. Chico Bastos está intimamente ligado ao nascimento da indústria do petróleo brasileiro, atuou largamente na pecuária da região de fronteira e apoiou várias atividades sociais, esportivas e culturais principalmente em Rio Grande, o berço da Ipiranga.

A obra é ilustrado com inúmeras fotografias inéditas 

O livro pode ser adquirido na Cia dos Livros, dos amigos Cris e André, na rua XV de Novembro, 559, em Pelotas, ou fazendo pedidos pelo fone da livraria (53) 3025 6979.

(*) Willy César é jornalista e autor de vários livros, entre eles, O Centenário do Colégio Lemos Júnior e Um século de futebol popular - a história do Sport Club São Paulo.
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16 de fevereiro de 2013

O gelo de Macondo

Foto LC Vaz


O gelo de Macondo

(Para Ricardo Petrucci Souto)

Muchos años después, frente al pelotón de fusilamiento,
el coronel Aureliano Buendia había de recordar aquella tarde remota
 em que su padre lo llevó a conocer el hielo.

GG Marques,
Cien Años de Soledad

Com essa frase, ao mesmo tempo instigante e reveladora de um possível final, Gabriel García Marquez dá início a seu romance mais famoso e conhecido, Cem Anos de Solidão. O livro inicia contando que um cigano, de nome Melquíades, sempre no mês de março, levava até Macondo as novidades dos demais continentes para apresentá-las aos moradores do local. Ele montava uma carpa e demonstrava, mediante um pagamento modesto, coisas como os poderes de um ímã, uma lupa gigante, os segredos da alquimia e outras tantas coisas improváveis de existir, como o gelo.

Sempre que releio essa passagem lembro das coisas raras e estranhas que vi na Bagé dos anos cinquenta, como a aranha gigante que possuía cabeça de mulher, um faquir que dormia em uma cama de pregos, de um homem que se deixou enterrar em um caixão de vidro por dias... e outras tantas apresentações, dignas de Macondo, como o Ônibus das Cobras e das cabeças de Lampião e Maria Bonita num assustador Museu de Cera...

Outro dia, numa praia quase no fim do mundo (ou seria no início?), me deparei com o inédito e alto valor cobrado pelo gelo: vinte centavos a pedrinha! Pensei: será o gelo de Macondo? O gelo misterioso  e exótico apresentado como mais uma oitava maravilha do mundo ao menino Aureliano? Mas era muito calor para tomar um cowboy e, como um digno descendente de José Arcadio, paguei sessenta centavos e tomei meu Black Label com três pedrinhas do gelo mais caro do mundo: o gelo de Macondo.

Keep Walking, coronel Aureliano!
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12 de fevereiro de 2013

Sem Fantasia...

Foto Marcelo Soares


Sem Fantasia...
J.J. Oliveira Gonçalves
 
No Carnaval da Vida eu perdi
A Bela Fantasia... O que eu faço?
Da Voz Interior, tristonho, ouvi:
Vai, veste a fantasia de Palhaço!
 
Uma lágrima rolou... e eu sorri
E a Alma consolei com forte abraço!
Ao coração ninei... e o enterneci
Cantei pra sufocar cada fracasso!
 
Pierrot e Arlequim já fui um dia
E em carnavalesco e ledo passo
Amei e igual chorei por Colombina!
 
Mas, hoje, sendo Ocaso cumpro a Sina
De no Drama da Vida ser Palhaço...
Ó, Deus, sem precisar de fantasia!
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Porto Alegre, 08 de fevereiro/2013. 09h46min - HS
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8 de fevereiro de 2013

Os cem anos da dona Olívia...

Foto LC Vaz


Os cem anos da dona Olívia... 

Valacir Marques Gonçalves

Desde menino sofri com o excesso de peso. Depois de muitos regimes, emagreci. Mas tudo na vida tem dois lados: a direita e a esquerda, o amor e o ódio, e até ser gordo ou magro. Estou convencido de que isso é uma verdade, tive que escolher: emagrecer abdicando de coisas que gosto ou não abrir mão de nada e continuar acima do peso - escolhi a primeira, apesar dos sacrifícios. Lutei para conseguir meu objetivo. Consegui, mas estou sentindo falta do chopp, da batatinha, e do frango frito... Abandonar o cigarro foi difícil, quase uma traição ao companheiro das horas difíceis; aquela fumaça me confortava, era minha cúmplice. Sem falar nas feijoadas de sábado e no mocotó regado a vinho... Churrasco rodízio e café colonial nem vou falar, tenho receio de um reencontro...

Já estava conformado com essas perdas quando tomei conhecimento dos cem anos da dona Olívia. Todo mundo sabe que chegar nessa idade não é para qualquer um, poucos conseguem. Ela foi mais além: está lúcida, com saúde, e contando vantagem... Mas isso não foi o que mais me impressionou. Ela deu uma entrevista com um cigarro numa mão e um copo de cerveja na outra. Disse que pretende festejar seu centenário sem abrir mão do que lhe deixa feliz. Complementou explicando que no jantar não faltarão suas comidas prediletas: toucinho, torresmo, e morcilha... Com todos esses hábitos, não tem doença aparente, sequer alteração do colesterol... Diz que “a gente vai fazer o que, se não aproveitar a vida?”. Estou quase me convencendo de que ela tem razão...

Depois da entrevista da dona Olívia, recebo mensagens de amigos lembrando meu regime. Dizem que preciso reconsiderar, que o meu lugar não foi preenchido na “Caverna do Ratão”, que a “turma” está apostando na minha volta. Informam que no primeiro dia vai ser tudo de graça - até jazz vão ouvir para me agradar... Estou em dúvida, mas eles mexem com minhas convicções. Imagino um chopp gelado, acompanhado de pastel e bolinho de bacalhau... Lembro da dona Olívia: se ela conseguiu, eu posso tentar também. Mas lembrei aqueles caras com barrigas enormes e com a pressão lá em cima. Vou conversar com meu médico, ele vai ter que explicar se o regime era mesmo necessário. Será que os magrelos que vejo fazendo farras lá no “Ratão” têm a fórmula da dona Olívia?

Mas preciso contar um segredo. Fiz uma experiência, abandonei o regime por algum tempo. Obviamente longe da “Caverna”. Procurei lugares desconhecidos, longe dos “fiscais”. Tomei cerveja com todos os acompanhamentos, não abri mão nem mesmo da farofa e dos ovos cozidos que ficam guardados naqueles vidros enormes. O bolinho de bacalhau acompanhado do azeite de oliva parecia que vinha do céu. Era sexta feira. No domingo almocei numa churrascaria, daquelas que colocam bandeira vermelha para travar o garçon - tudo regado a cerveja. Para encerrar, encarei a sobremesa: atirei-me na cocada e no pudim de leite acompanhados da coca-cola vermelha... Finalizei com um glorioso cafezinho, sem o maldito adoçante... 

Na segunda feira procurei uma balança. Estava preocupado, parecia que tinha assaltado um banco no fim de semana. No caminho desviava dos espelhos e dos reflexos das vitrines. Estava com a consciência pesada, tinha a sensação de que todos que passavam por mim me olhavam com vontade de gritar: olha o gordo, olha o gordo... Parecia que a roupa não era minha, o cinto pedia um buraco a mais, mas não cedi, continuei com ele apertado, quase sem poder respirar... Quando desci da balança caí na real. Eu sabia, só estava tentando me enganar, pensando naqueles malditos magrelos que comem e bebem de tudo à vontade. A balança foi cruel, mostrou que não posso voltar para a vida maravilhosa dos que convivem com a gula e o álcool impunemente.

Voltei para o meu regime. Recuperei o peso de magro. Mas olho ressentido para a provocante picanha gordurosa, para a cocada e o maldito torresmo... Eles quase acabaram comigo... Concluindo: rendo-me à sabedoria da Dona Olívia. Ela diz que vai continuar fumando, bebendo e comendo morcilha, mas não recomenda ninguém a seguir o seu exemplo. Sabiamente, ensina a todos: “Tem que pedir a ajuda de Deus, que ele é quem sabe”. Tava na cara, só podia ter a ajuda de gente muito poderosa...
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Valacir, leitor e amigo do Blog, publica o Blog do Vala
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5 de fevereiro de 2013

Felicidade máxima

Foto LC Vaz

Outro dia falei sobre como as coisas simples deveriam ser consideradas como fundamentais para a vida. Hoje, vendo esta menina cavalgando solitária uma vassoura, completo dizendo: isto sim, é que é um momento de felicidade máxima!
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3 de fevereiro de 2013

Telhado

Foto LC Vaz

Um telhado de antigamente que ainda resiste às reformas brasilíticas dos dias atuais.
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Comentário poético, enviado pelo amigo JJ, que coloco aqui, unto à postagem:


Velho Telhado...

J.J. Oliveira Gonçalves

(Ao amigo Luiz C. S. Vaz)

Velho telhado, avivas róseos anos
Da minha leda infância, lá, em Bagé!
Ares de humildade... Franciscanos
Bucólico e aguerrido... Ainda em pé!

Velho telhado, encarnas a Amizade
De tempos belos, francos, que vivi!
De antanho me ficou esta Saudade
Dos lúdicos folguedos de guri!

Velho telhado, ouve o assobio do Vento
A Chuva a tilintar... te dando alento
Como a lavar-te a Alma - em Solidão!

Velho telhado, meu eu no dia-a-dia
Em tua Beleza antiga dás Poesia
E ao poeta démodé: Inspiração!

(Ah, quando o Sol sorri o corpo aqueces...
E dos beijos da Lua... não te esqueces!)
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