30 de março de 2013

Aleluia para três vaqueanos

Foto Alexandre S Gomes


Aleluia para três vaqueanos

Paulo Mendes

A tarde daquela sexta-feira se espichou preguiçosa até às 4h. Recolhíamos os pelegos da sesteada debaixo dos cinamomos quando enxergamos, no poente, uma grossa nuvem negra que se formou de repente. Logo depois vieram raios e trovões. A chuva desabou graúda, encharcando tudo, campos, várzeas, a estrada real parecia um rio. O pátio salpicava e logo depois se formaram poças e torrentes.

Seu Agripino, encostado na porta do bolicho, deu-se conta de que o Passo dos Buracos ia encher e que talvez o melhor fosse pousar. A mula Pedrita pastava ao lado do Tostado no potreiro, perto das taquareiras. As tambeiras trotearam junto com os terneiros para a mangueira. Juca, o cusquinho hosco, comera tanto resto de comida que dormia a sono solto num oitão do galpão das lenhas.

Seu Agripino naquela noite nos contou sobre umas cidades que visitara, tempos atrás, acompanhando o patrão, onde no Sábado de Aleluia era comum o povo fazer uma tal de Malhação de Judas, atando um boneco numa árvore ou num caibro, passando o laço, carcando a sova, atirando pedra, esgualepando o pano, para vingar a traição ao Cristo.

Eu e meu primo da cidade ficamos só escutando, imaginando aqueles lugares distantes, lá para onde iam todos os anos os bois gordos da antiga Fazenda Coqueiro, uma pioneira na criação do gado Charolês, e que agora, conforme nos contara seu Agripino, iria se transformar numa granja, com grandes lavouras de soja.

Depois, quando os causos descambaram para as assombrações, minha mãe nos mandou dormir. No outro dia, ainda cedo, soube que seu Agripino se acomodara no galpão, sobre os pelegos e se tapou com seu velho poncho de baeta colorada. Era um gauchão dos antigos, tinha tropeado, fora alambrador, era afamado por saber curar uma rês bichada, exímio castrador e, diziam, sabia preparar um cavalo para uma carreira de cancha reta.

Viúvo, agora vivia solito com alguns peões num fundão de campo, numa estância que estava se findando. Depois do mate e do café, seu Agripino encilhou a Pedrita e saiu ao tranco, de volta pra casa. Eu e o primo ficamos surrando um improvisado Judas de estopa.

Lá na estrada víamos a mula, que sabia o caminho, o velho que carregava o cachorro.

Qual deles o mais vaqueano, quem seria o mais gaúcho, qual dos três o mais campeiro?
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Paulo Mendes escreve todos os domingos a coluna Campereada no jornal Correio do Povo. Contato com o autor pelo mail pmendes@correiodopovo.com.br
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29 de março de 2013

The Raven

Foto Alexandre S Gomes (não são corvos, mas a foto é muito boa)


"The Raven"
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(Lembrando Edgar Allan Poe e Augusto dos Anjos!)

J.J. Oliveira Gonçalves

Ó, pássaro infeliz - de asa quebrada
Nem o Tempo - que é Eterno - ele cura
A Chaga em tua asa remendada
A de tão belos Voos de Ternura!

Ah, o Sonho te caiu na Desventura
Quando roubou-te a Dor a Bem-Amada!
E a noite enluarada fez-se escura...
Uma Estrela sequer na madrugada!

Também, assim, é a Sina de um menino
Que o Sonho verde-e-rosa, setembrino
Teceu, ai, floresceu... mas não vingou!

Ó, Pássaro Molhado, meu irmão
(Esta asa - a arrastá-la pelo chão!)
Um dia, o Voo chega... E eu me vou!
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Porto Alegre, março/2013. 10h55min
jjotapoesia@gmail.com - www.cappaz.com.br
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28 de março de 2013

Um ano sem Millôr



Fopos de Esábula
Uma tentativa de contar as histórias como
no tempo em que os animais falavam.

O Macorvo e o Caco (*)
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Millôr Fernandes
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Andesta na florando um enaco macorme avistorvo um cou com um beço pedalo de quico no beijo. "Ver comou aqueijo quele ou não me chaco macamo", vangloriaco o macouse de sara pigo consi.
 .
E berrorvo para o cou: "Oládre compá! Voçá estê bonoje hito! Loso, maravilhindo! Jami o vais tem bão Nante, brilhio, luzidegro. Poje que enso, se quisasse canter, sua vém tamboz serela a mais bia de testa a floroda. Gostarilo de ouvia, comporvo cadre, per podara dizodo a tundo mer que vocé ê o Rássaros dos Pei". Caorvo na cantida o cado abico o briu a far de cantim sor melhão cansua.
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Naturalmeijo o quente caão no chiu e fente imediatamoi devoraco pelo astaco macuto. "Obriqueijo pelo gado!", gritiz o felaco macou. "E a far de provim o mento agradecimeu var lhe delho um consou:
 .
Jamie confais em pacos-suxa" 
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NOTA DO BLOG - Nos meus tempos de guri do Estadual, entre outras tantas habilidades “não acadêmicas" sempre me destaquei pelo humor. O saudoso Pedro Farias sempre lembrava do meu famoso Caderninho de Piadas – que era uma pequena caderneta de molinha – onde eu anotava anedotas para depois contar nos grupinhos que se formavam antes, durante e depois das nossas aulas. A cada piada nova que aparecia pela boca de alguém, lá ia eu anotar e, assim, cheguei a 410 piadas e pequenos contos do Bocage, devidamente anotados que, contadas em momentos apropriados, chegavam a uma narrativa de mais de uma hora... Uma desses textos humorísticos era a famosa fábula do Macorvo e do Caco, reescrita genialmente pelo Millôr Fernandes. Graças a esse gênio da raça, animei muitas rodas de conversa, não só no recreio do Estadual, como em viagens, em festinhas e em outras situações. Naquela época a carreira de humorista - e outras ligadas à Arte - não era recomendada para um guri do interior de Bagé. Então acabei virando jornalista para contar histórias sérias que, na sua absoluta maioria, são totalmente desprovidas de graça. Claro, eu jamais abandonei esse meu perfil de humorista e, no Millor, sempre busquei inspiração para a minha constante crítica às instituições sociais atrasadas, corruptas e castradoras da criatividade do ser humano. Peguei o gosto pela charge e pelo fundamental bom humor sem o qual não se vive. A fábula do Macorvo e do Caco, recortada de uma revista e que ainda hoje guardo comigo, consigo ainda, sem esforço algum, recitar de cor.
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Obrigado, Millôr Fernandes.
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Apesar da sua morte, o mundo continuará sendo muito engraçado.
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(*) Publicado aqui no Blog da VG em 28 de março de 2012
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27 de março de 2013

Cruzeiro do Sul

imagem pedagógica de orientação pelo cruzeiro do sul em www.cdcc.usp.br


cruzeiro do sul
vera vaz

mente se aclara a mirar o céu azul
da memória chegam imagens de beleza
ar noturno debaixo das estrelas
infinito estrelado da américa do sul...

bendito céu a acolher desde a infância
grata vivência sob celeste manto
encanto infantil adormecido
desperta ao sopro de sentido...

vivo aprendizado de astronomia
orientação na amplidão dos pampas
na hora própria de geração do amor
entendimento do infinito ao dispor...

noites bageenses ... minuano de frias geadas
passarada ao pouso cedo se recolhia
criançada livremente o céu observava
na cintilante presença do cruzeiro do sul...
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mais de vera vaz AQUI

26 de março de 2013

Coisas da vida (terra em transe)

Foto Marcelo Soares em Diário de canto


Coisas da vida (terra em transe)
Sergio Vaz (*)

Hoje
Eu vi uma criança acordada
comendo pão dormido.
Um homem desempregado
empregando uma arma.
Uma mulher vestida em trapos
lavando roupa cara.
Um policial desalmado
separando um corpo da alma.
Uma menina desnutrida
com a barriga cheia.
Uma bala perdida
procurando uma veia.
Senhoras de joelhos
andando sem destino.
Velhos com olhos vermelhos
chorando como menino.
Poetas loucos
cuspindo razão.
Anjos e demônios
na mesma religião.
A miséria na coleira da fartura
a vida fácil
às custas da vida dura.
Gente sorrindo
com o coração em pranto
surdos ouvindo
a canção dos falsos santos.
Vi mãos calejadas
beijando mãos macias
José nas enxadas
no cabo delas, Maria.

Com mansos olhos de fel
E a boca dura de fera
vi um país no céu
E o inferno na terra.

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(*) do livro Colecionador de pedras "Global Editora"

24 de março de 2013

Saiu o Nosso Jornal


Hoje a Hulha Negra está de aniversário. Na sua "maioridade" - 21 anos - a Hulha Negra ganha de presente o Nosso Jornal.
Vida longa ao Nosso Jornal!
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22 de março de 2013

A Filosofia e o Cinema existencial - Les quatre cents coups



O Ciclo "A Filosofia e o Cinema existencial" exibirá nesta sexta-feira, dia 22 de Março, o filme "Os incompreendidos", de François Truffaut. Cineasta francês (1932-1984), Truffaut é autor de obras cinematográficas como "A noite americana" e "O último metrô". O Ciclo, promovido pelo Departamento de Filosofia da UFPel, sob a coordenação do professor dr. Luís Rubira, ocorre todas as sextas às 20h, no Centro de Integração do Mercosul, em Pelotas. A entrada é FRANCA (retire sua senha no local, em horário comercial).
A programação completa do CICLO está disponível na página da UFPel.

22/03 – OS INCOMPREENDIDOS, Les quatre cents coups, 1959, França. Direção: François Truffaut. Com: Jean-Pierre Léaud, Albert Rémy e Claire Maurier. (99 min).
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20 de março de 2013

Novo livro de Mário Lopes



Mario Lopes, alguém  capaz de guardar uma cidade inteira no coração
Elvira Nascimento

Ninguém desconfia que, em sua própria casa, ele retém o tempo de sua aldeia. São muitas as vozes, as vidas, os muitos olhares, feitos e fatos de nossa história, registrados nas inúmeras publicações que compõem, hoje, o curioso e singular pequeno grande Museu que ele montou na rua General Osório.

Mas todo mundo agradece quando ele partilha, com zelosa  e pontual generosidade, com todos nós, nos jornais e publicações locais, como esta, a fecunda provisão de uma memória  coletiva ali, cuidadosamente, guardada.

Desde a cultura Inca narradores são designados para contarem seu mundo porque, sabia ela, da grande  e indefensável distração  humana. Também nós sabemos dela e de um tempo volátil e líquido que nos atravessa, desfaz pegadas, descarta ciclos e rostos e nos confunde nas engrenagens brumosas da incerteza. Por isso os documentaristas e as biografias se multiplicam.

A História precisa se olhar em várias perspectivas, fazer, incessantemente, sua autocrítica, avançar e se revisar. Precisa ,ela, sempre de rumos mais humanos. Mario Lopes colecionador de personagens, atento habitante do território da Memória, em seu severo ofício, comemora aqui suas contribuições. É integrante do Núcleo de Pesquisas Tarcísio Taborda, dirigido, hoje, pelo incomum dinamismo de Heloisa Beckman.



Ele tem 90 anos e, dentro, todas as idades do mundo.

Com certeza, a um canto de sua alma um ATOR do Teatro em Família, dos sonhadores anos 40, conversa com o experiente JORNALISTA e, este, com o perspicaz COMENTARISTA ESPORTIVO e, todos eles, com o ESCRITOR E MEMORIALISTA. Dessa roda plural de conversa nós recolhemos o mais caloroso resultado: o convívio com um ser humano sensível, especial, plenamente presente  na cena cultural da cidade, inquieto e vitalizante e apaixonado pelo que faz. Um ator de nossa história enquanto narrador, aquele que nunca abandonou a  cena mas  deslocou-a e alargou-a para  o grande palco  das narrações.

Mario Lopes é patrimônio humano de Bagé.

Quando sobe a sua Rua 7, dentro de seus passos, vai  alma dessa cidade, seus silêncios, resistências e a cintilante música da memória.


16 de março de 2013

Lembranças do Estadual

Foto LC Vaz


Lembranças do Estadual

Álvaro Barreto (*)

Vaz:

Há tempos que as lembranças do estadual andam meios esquecidas. Então, segue um pequeno relato de minhas recordações como aluno, vindas diretamente dos anos 1980.

Estive no Estadual de 1983 a 1985, cumpri lá todo o então segundo grau. No primeiro ano minhas aulas eram no turno da tarde e nos dois seguintes pela manhã. Bem, o que posso dizer daquele período: era feliz e sabia, pois sempre me senti muito bem por lá. Mas hoje sei de modo ainda mais forte o quão era feliz e também o quanto a felicidade custava tão pouco.

Apesar de ser um sujeito tímido e retraído, tinha muitos amigos e me dava bem com muita gente. Participei ativamente do Grêmio Estudantil em 1985 e tive a oportunidade de brincar de jornalismo, então a profissão com a qual sonhava, ao editar o jornalzinho “Cem Juízo”. Saíram uns três ou quatro números. Ainda guardo alguns exemplares e qualquer dia divulgo para conhecimento de uns e recordação de outros.

Como participava do Grêmio, ainda em 1985 fui a Santa Maria participar de um curso oferecido pelo governo do estado. A minha intenção era conhecer aquela cidade, pois estava dividido entre fazer a faculdade de Comunicação Social na UFSM ou em Pelotas, onde já havia morado e que claramente era a minha preferência. Esse fato mostra o valor de meus pais: minha mãe era professora do estado e meu pai, comerciário. Vivíamos como a classe média daquele período, sem luxos e folgas orçamentárias. A possibilidade de escolher Santa Maria ou Pelotas, simplesmente pelo meu gosto sempre esteve em primeiro lugar. Jamais eles disseram: “meu filho, a escolha é entre uma universidade pública e uma privada, entre um custo alto no orçamento familiar e entre um custo que nem sabemos como vamos suportar”, pois jornalismo em Pelotas significava cursar a UCPel. Gostei de Santa Maria, mas Pelotas já estava no meu coração, assim destemperadamente optei pela católica, universidade pela qual me formei. Bravamente, meus pais não disseram nada e suportaram o custo a mais que a minha vontade impôs a eles.

Lembro do dia, ainda em 1985, que saí do Estadual e fui ao fotógrafo que ficava ali na frente para “tirar o retrato” para fazer a Carteira de Identidade. Era o documento necessário para fazer a inscrição no vestibular. Ainda guardo aquela carteira de identidade. A foto, aliás, é um registro de alguém que se perdeu no tempo: nem minha mãe me reconhece nela. Não sei se isso é bom ou ruim. Mas a foto existe, aquele era e sou eu.

No Estadual tive excelentes professores. São doces lembranças que tenho, alguns nunca mas vi, de outros esqueci o nome, por falha minha, bem entendido. Tive ótima formação e não precisei de cursinho para passar nos dois vestibulares que fiz: jornalismo na UCPel e filosofia na UFPel. Fiquei em segundo e em quarto lugar, respectivamente.  Muitos professores ficaram em minha memória em razão das aulas, mas também da palavra certa, proferida na hora exata para um bando de adolescentes, arrogantes e barulhentos, como todos eles são e um dia nós fomos.

Sei que para quem viveu determinada experiência, ela parece única e especial, ainda mais quando se refere à juventude, período que se torna mais vigoroso e belo à medida que nos tornamos mais velhos. Não posso garantir que o Estadual fosse uma exceção naquela época, mas tenho que testemunhar: ele cumpriu integralmente aquilo que se espera para a formação de um estudante de nível médio. Não tenho reparos a fazer à qualidade das aulas que recebi, passados tantos anos e quando eu próprio já acumulo 20 anos de experiência docente. Das possibilidades de conhecer pessoas, fazer amizades e trocar ideias, então, nem se fala. Das perturbações da adolescência também. Das inseguranças e incertezas, mais ainda. Contudo, era reconfortante – e hoje é mais ainda – passar por tudo isso naquele ambiente. Para mim, o Estadual não era e não foi apenas o colégio em que fiz o segundo grau, um entre tantas opções, ele foi algo muito importante em minha vida e continua a ser. 

Este texto, aliás, comprova isso. 
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(*) O nosso conterrâneo Álvaro Barreto estudou no Estadual e atualmente é professor da Universidade Federal de Pelotas. Diretor em segundo mandato do Instituto de Filosofia, Sociologia e Política (IFISP/UFPel), é Doutor em História pela PUC/RS, Mestre em História pela UFRGS, Especialista em Ciência Política pela UFPel, graduado em Comunicação Social pela Universidade Católica de Pelotas e em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas.
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Ah!, já ia esquecendo, o Álvaro me deu o prazer de ser meu aluno no Jornalismo da UCPel...
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12 de março de 2013

Luciana Pestano no João Gilberto


A cantora pelotense Luciana Pestano se apresenta na sua cidade, dia 13,
no Bar João Gilberto. Produção da Adriane Santi.
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11 de março de 2013

Beijo de volta

Foto Alexandre S Gomes


Beijo de volta 
(*)
Sergio Vaz 

Estou partindo
Enquanto você dorme feito Cinderela
Branca e linda
Frágil como brilho de vela.
Levo comigo um beijo seu
Que roubei durante a noite,
No bocejo do seu sono
No açoite do seu abandono.

Deixei do meu rosto
Uma lágrima pra você guardar
Na úmida página
Do livro do nosso olhar.

Vou discreto como a brisa
Como boca de batom
Na gola da camisa,
Que é beijo sem som
É beijo sem se tocar.

Prometo voltar com o vento
Se no caminho do meu amor
Encontrar seu pensamento
Sem mágoa nem dor,
Sem temor de voltar.
Com a boca seca de saliva
Em carne viva de saudade e cor
Pedindo pra você molhar.

Então,
Devolver o beijo que roubei
Secar a lágrima que deixei
Antes mesmo de você acordar.

Sérgio Vaz, 

(*) do livro "Colecionador de pedras" Global Editora
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9 de março de 2013

Novo Ciclo de Cinema da Filosofia/UFPel




O IV Ciclo de Cinema do Departamento de Filosofia da UFPEL, intitulado "A Filosofia e o Cinema existencial", começa no dia 15 de março de 2013. Ao longo do ano serão exibidas 30 obras cinematográficas, divididas em dois blocos temáticos e cronológicos: I - Do início ao fim; II - Do fim ao início.

Tendo como fio-condutor "O homem a sós consigo", o presente Ciclo radicaliza a abordagem do homem-no-mundo para além da política, da religião e da psicologia. Trata-se, agora, do valor e do sentido da existência, das vivências que imprimem singularidade e autenticidade, da finitude humana, bem como dos caminhos para romper com a solidão existencial.

Projeto de Extensão sob a coordenação do Prof. Dr. Luís Rubira, o Ciclo ocorrerá todas as sextas, às 20h, no Centro de Integração do Mercosul. As senhas para assistir ao filme devem ser retiradas no dia da sessão, em horário comercial, na secretaria do Centro de Integração do Mercosul, n na rua Andrade Neves, 1529, em Pelotas. A entrada é FRANCA.
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8 de março de 2013

As Mulheres do Novo Século



As Mulheres do Novo Século

Luiz Coronel

Uma homenagem ao Dia Internacional das Mulheres

Elas vieram

pelas ruelas dos séculos
gerando filhos que moldaram
a história.

E podem dizer:
– nós geramos com amor,
é nosso o leite
e não o fel do mundo.

Nós colocaremos o futuro
no colo,
vamos pentear seus cabelos,
proteger seu passo trôpego.

As mulheres descobriram
o segredo do cofre
e as receitas do poder.
Mas nem por isso dispensam
rosas e perfumes.

Elas têm a sensibilidade
como bússola
e a obstinação como guia.
E são fecundadas
pela aurora.

Senhoras dos enigmas,
garças com garras de leoa,
elas desenharão o amanhã
em sua nova arquitetura
em cima de aventais e pranchetas.
Imperceptivelmente
elas orquestram o tempo.

A esperança do mundo
está no reboliço de suas bolsas
e no mais recôndito escaninho
de seus corações.
 .

7 de março de 2013

Vocês conhecem o Zé do Serrote?

Foto LC Vaz


Vocês conhecem o Zé do Serrote?

Hoje conheci o Zé do Serrote. Melhor dizendo, conheci o senhor Cláudio José Canez, o filho do seu Arlindo, que já na casa dos sessenta, vejam só, fabrica serrotes manualmente. Faz cabo e lâmina. Serrotes de todos os tamanhos, com todos os tipos de dentes. Zé do Serrote, que aprendeu com pai, agricultor e carpinteiro, a fazer serrotes, começou fazendo um para ele mesmo. Depois fez outro para um amigo, depois fez mais dois e depois já eram uns cinco ou seis. Não parou mais, e hoje chega a fazer um por dia. Os comprados nas lojas, diz ele, torcem a lâmina, perdem o fio muito rápido e não duram nada.

Foto LC Vaz


Em pleno século XXI, apesar de todas as automações possíveis e imagináveis, e com toda a parafernália tecnológica disponível, um artesão ganha seus dias fazendo serrotes com suas próprias mãos. E se pedirem, ele faz também uma faquinha especial, para escamar peixes, que é uma beleza! Faz tudo à mão. Eu até digo mais, faz com o coração.

Zé do Serrote, um trabalhador brasileiro. Um nome que vocês não ouvirão no noticiário da tv.

Luiz Carlos Vaz.
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6 de março de 2013

Quarta-feira, dia nacional do sofá - LVI, Dança das cadeiras

Foto LC Vaz


Não bastavam os sofás, agora chegou a vez das cadeiras “dançarem”. Nada mais de festinha ingênua, tomando pépis e propondo a tradicional dança das cadeiras. Será que elas renunciaram o lugar privilegiado na sala de jantar? Jantar? Ninguém janta mais, ninguém mais senta em cadeiras, então... rua com elas. 
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4 de março de 2013

Retrô!



Retrô!
J.J. Oliveira Gonçalves

Sou retrô! Aliás, sempre fui. Por quê? Porque já nasci retrô! Sem vergonha nenhuma, eu confesso. Pelo contrário, sinto orgulho disso. Sou um homem-comum retrô. Um poeta retrô. Gosto da roupa antiga. Da moda antiga. Da moça antiga. Vestida femininamente de mulher. De saia. De blusa. Ou de vestido elegantemente belo. De sapatos nostalgicamente retrôs. Com meia fumé. Ou, com delicadas anabelas, calçando pezinhos sensuais de gurias - com unhas pintadinhas de rosa desbotado ou de vermelho vivo. Sou um saudosista gostosamente retrô. Serei piegas, por isso? E daí? Isso não é problema meu. É de quem assim me acha, me vê assim, me interpreta assim. Afinal, até esta timidez que trago, em meu meio-sorriso acanhado, mantém sua nuança indisfarçável e desavergonhadamente retrô!

(Amo ser retrô. Por isso, te amo também. Com teu riso rosa-antigo. Com teus olhos meigos e graúdos de dama-antiga. O que te deixa maravilhosamente retrô. Apesar de tua jovial modern(a)idade...)

Sou do tempo das cartas de Amor... escritas à mão. Nelas, o coração tem asas. Diz bobagens. Tece fantasias. Confessa toda uma arquitetura amorosa de Sonhos. Eis que jura, leviana e gentilmente, sua despudorada Paixão... Há coisa mais ridiculamente bela e piegas do que as longas e apaixonadas cartas de amor? Ah, e aqueles bilhetinhos curtos - mensageiros das coisas amorosamente íntimas do coração? Quase uma mensagem telegrafada, onde a Poesia é o próprio Amor! Um bilhetinho, por exemplo: "João, me espera, amanhã, na saída do colégio. Beijinho, D. Meu Deus, haverá lembrança tão belamente retrô quanto esta?

Quando Charles Aznavour esteve em Porto Alegre, faz alguns anos, fui vê-lo. Foi um show retrô de enternecimento. De Lirismo. De Romantismo. Só eu sei a Emoção que mexeu com meus Sentidos e com meus Sentimentos! Foi uma enorme e cândida volta ao Passado... Como se eu voltara à Mágica e Luminosa Paris... Aznavour, com uma voz mais potente e mais redondamente melodiosa, apesar de seus mais de 80 anos, não só cantou divinamente, mas interpretou e também dançou alguns de seus números musicais. Dançou e interpretou - como se fora um fogoso adolescente no palco - "La Bohème" e "The Old Fashioned". No Silêncio do coração, agradeci àquele Artista que ali estava, à minha frente, e que jamais imaginei vê-lo cantar, dançar e interpretar, para mim. Charles Aznavour me conquistou quando eu era ainda um guri. Um garoto. Um adolescente. Ele, assim como outros "monstros sagrados", (expressão retrô ou saudoso clichê ?), fez mais bela, colorida, esperançosa e rica minha adolescência. Vivi, durante seu show de voz, de dança e interpretação, um momento genuinamente retrô! E voltei ao Passado. Embora, lá, não se possa voltar...

Reafirmo: sou retrô! Afinal, retrô não é doença. Não faz mal a ninguém. Muito pelo contrário... E quem afirma é meu coração, é minha Alma... Ser retrô é simplesmente uma maneira de ser. Um comportamento. É uma moda que não morre. Seja no vestir. No calçar. No assistir a um filme. No ouvir vinis, LPs... No decorar da casa - ou de um espaço só seu dentro dela. No possuir um automóvel de românticas e priscas eras. Enfim, entre outros tantos aspectos, no ser e assumir-se retrô. Ah, e de não "estar nem aí", para o que pensem ou digam... Sendo Aquariano, creio seja bem mais fácil declarar-me um cara prazerosa e assumidamente retrô!! Ao fim e ao cabo, retrô é um Estilo: único e gostosamente charmoso de ver, sentir e viver a Vida!
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Porto Alegre, 04 de março/2013. 10h
jjotapoesia@gmail.com - www.cappaz.com.br
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3 de março de 2013

Tinha que ser em Bagé - XII, Galinhas protestam e põem ovos vazios

Galinhas - possivelmente em protesto à história do coelhinho da páscoa - põem ovos vazios! Isso tinha que ser em Bagé!!!

A notícia saiu no jornal Minuano Online:
Foto Daine Lima/especial JM


"Galinhas de uma propriedade rural de Bagé põem ovos vazios
Especialista diz que fato é inédito e outro afirma que isso é impossível de acontecer

Indiara Deamici/Especial JM

Um caso, no mínimo curioso, acontece na casa de Alceu Alves Pereira. Ele é o proprietário de uma casa próxima do cemitério do distrito de Palmas, às margens da BR 153. Quem cuida do local é o sogro de Pereira, Domingos Martin. Um fato intriga ambos. Nos últimos três meses, algumas galinhas da criação que Martin cuida têm colocado ovos completamente vazios, sem clara ou gema.
A criação conta com cerca de 10 aves e, aproximadamente três vezes por semana são colocados ovos totalmente vazios, segundo Pereira. A situação inusitada assustou Martin que, em função disso, procurou o Jornal MINUANO para mostrar, o que acabou se tornando um problema e causando prejuízos para o criador.
Pereira conta que nunca, antes deste caso, tinha visto uma galinha que colocasse ovos vazios.

O que diz a Emater

Assim como ele, o chefe do escritório municipal da Emater, Eloi Joaquim Pozzer, também desconhece os motivos que podem ter levado a esta situação. Para descobrir os reais motivos deste mistério, Pozzer diz que seria preciso visitar o local e analisar a situação em que as galinhas são criadas por Martin. Entre os possíveis motivos, de acordo com ele, estão o excesso de sol do lugar, a comida ou a idade das aves.

Novidade para um experiente

Para um dos mais antigos criadores e expositores de galinhas da região, Silvério Dias de Morais, uma ave que coloca ovos vazios também é novidade. Ele trabalha na área avícola há 63 anos, e hoje, lida com 20 raças diferentes. Morais conta que começou em 1949, quando ganhou seus primeiros animais, e hoje, realiza o trabalho como hobby.
O criador relata que já viu alguns ovos sem casca. “Quando a galinha está muito gorda, os ovos vão ficando menores e podem sair sem casca”, explica. Ele conta também, que teve em sua casa, há um tempo, um frango com quatro patas. Lembrando do caso, Morais afirma que, mesmo nunca tendo visto uma situação como a destas aves, é sempre possível conhecer algo diferente. “Eu nunca vi uma galinha botar ovos vazios, mas a gente tá sempre vendo novidades e não pode duvidar de nada”, diz.

Posição de um especialista

Para o especialista em Patologias Viárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Carlos Tadeu Pippi Salle, a situação também é inédita. Ele afirma que nunca presenciou um caso em que uma galinha botasse um ovo vazio. Salle explica que conhece casos em que a casca não se forma corretamente e fica “mole”. Mesmo assim, relata que provavelmente não está acontecendo ovulação nos animais.

Biologicamente impossível

Para a empresa Imunova Análises Biológicas, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que tem como objetivo prestar serviço para a agroindústria, a situação é biologicamente impossível. De acordo com o especialista da empresa, Breno Beirão, a casca do ovo é produzida pela glândula produtora da casca após a formação da clara e da gema. Assim, a matriz de cálcio e de proteínas que formam a casca se deposita sobre a clara do ovo, criando o ovo como ele é. “Assim, é impossível que a casca crie por si só o formato ovalado se não dispuser de algum substrato para se moldar”, argumenta Beirão."
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