16 de março de 2013

Lembranças do Estadual

Foto LC Vaz


Lembranças do Estadual

Álvaro Barreto (*)

Vaz:

Há tempos que as lembranças do estadual andam meios esquecidas. Então, segue um pequeno relato de minhas recordações como aluno, vindas diretamente dos anos 1980.

Estive no Estadual de 1983 a 1985, cumpri lá todo o então segundo grau. No primeiro ano minhas aulas eram no turno da tarde e nos dois seguintes pela manhã. Bem, o que posso dizer daquele período: era feliz e sabia, pois sempre me senti muito bem por lá. Mas hoje sei de modo ainda mais forte o quão era feliz e também o quanto a felicidade custava tão pouco.

Apesar de ser um sujeito tímido e retraído, tinha muitos amigos e me dava bem com muita gente. Participei ativamente do Grêmio Estudantil em 1985 e tive a oportunidade de brincar de jornalismo, então a profissão com a qual sonhava, ao editar o jornalzinho “Cem Juízo”. Saíram uns três ou quatro números. Ainda guardo alguns exemplares e qualquer dia divulgo para conhecimento de uns e recordação de outros.

Como participava do Grêmio, ainda em 1985 fui a Santa Maria participar de um curso oferecido pelo governo do estado. A minha intenção era conhecer aquela cidade, pois estava dividido entre fazer a faculdade de Comunicação Social na UFSM ou em Pelotas, onde já havia morado e que claramente era a minha preferência. Esse fato mostra o valor de meus pais: minha mãe era professora do estado e meu pai, comerciário. Vivíamos como a classe média daquele período, sem luxos e folgas orçamentárias. A possibilidade de escolher Santa Maria ou Pelotas, simplesmente pelo meu gosto sempre esteve em primeiro lugar. Jamais eles disseram: “meu filho, a escolha é entre uma universidade pública e uma privada, entre um custo alto no orçamento familiar e entre um custo que nem sabemos como vamos suportar”, pois jornalismo em Pelotas significava cursar a UCPel. Gostei de Santa Maria, mas Pelotas já estava no meu coração, assim destemperadamente optei pela católica, universidade pela qual me formei. Bravamente, meus pais não disseram nada e suportaram o custo a mais que a minha vontade impôs a eles.

Lembro do dia, ainda em 1985, que saí do Estadual e fui ao fotógrafo que ficava ali na frente para “tirar o retrato” para fazer a Carteira de Identidade. Era o documento necessário para fazer a inscrição no vestibular. Ainda guardo aquela carteira de identidade. A foto, aliás, é um registro de alguém que se perdeu no tempo: nem minha mãe me reconhece nela. Não sei se isso é bom ou ruim. Mas a foto existe, aquele era e sou eu.

No Estadual tive excelentes professores. São doces lembranças que tenho, alguns nunca mas vi, de outros esqueci o nome, por falha minha, bem entendido. Tive ótima formação e não precisei de cursinho para passar nos dois vestibulares que fiz: jornalismo na UCPel e filosofia na UFPel. Fiquei em segundo e em quarto lugar, respectivamente.  Muitos professores ficaram em minha memória em razão das aulas, mas também da palavra certa, proferida na hora exata para um bando de adolescentes, arrogantes e barulhentos, como todos eles são e um dia nós fomos.

Sei que para quem viveu determinada experiência, ela parece única e especial, ainda mais quando se refere à juventude, período que se torna mais vigoroso e belo à medida que nos tornamos mais velhos. Não posso garantir que o Estadual fosse uma exceção naquela época, mas tenho que testemunhar: ele cumpriu integralmente aquilo que se espera para a formação de um estudante de nível médio. Não tenho reparos a fazer à qualidade das aulas que recebi, passados tantos anos e quando eu próprio já acumulo 20 anos de experiência docente. Das possibilidades de conhecer pessoas, fazer amizades e trocar ideias, então, nem se fala. Das perturbações da adolescência também. Das inseguranças e incertezas, mais ainda. Contudo, era reconfortante – e hoje é mais ainda – passar por tudo isso naquele ambiente. Para mim, o Estadual não era e não foi apenas o colégio em que fiz o segundo grau, um entre tantas opções, ele foi algo muito importante em minha vida e continua a ser. 

Este texto, aliás, comprova isso. 
________________________________________
.
(*) O nosso conterrâneo Álvaro Barreto estudou no Estadual e atualmente é professor da Universidade Federal de Pelotas. Diretor em segundo mandato do Instituto de Filosofia, Sociologia e Política (IFISP/UFPel), é Doutor em História pela PUC/RS, Mestre em História pela UFRGS, Especialista em Ciência Política pela UFPel, graduado em Comunicação Social pela Universidade Católica de Pelotas e em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas.
.
Ah!, já ia esquecendo, o Álvaro me deu o prazer de ser meu aluno no Jornalismo da UCPel...
.

Nenhum comentário: