29 de setembro de 2021

Eu, o VAZ, naquela época era quase um VAR...

 



Luiz Carlos Vaz (*) 

Quando eu comecei a fotografar, “lá em 1927”, uma das coisas que gostava de fazer era tirar um bom retrato dos times fardados, antes da partida começar. Afinal, seriam possíveis 22 cópias “tamanho postal” para vender e ajudar na compra dos próximos rolos do meu filme preferido: o Kodak Panatomic-X! Era quase uma raridade para achar numa cidade do interior, e que naquela época, eu só encontrava em Santa Maria. Os que havia em Bagé, eu já queimara todo o estoque... e o dono da loja – que era fotógrafo profissional, meio enciumado com meu sucesso, não repunha no estoque da casa justo esse, o filme de 32 ASA, que na hora da ampliação não dava grão nenhum...

Mas havia uma lenda urbana – ou seria esportiva? de que no futebol de “varge”, quem tirava foto antes do jogo, perdia! Levei um tempo, e fui amansando a turma da várzea, e achei a solução: pedia com antecedência para que os dois scratchs posassem para mim antes do juiz apitar o início do match. Naquele tempo não havia árbitro, o cara era o juiz mesmo! Imagino que muitas vezes alguém, desconfiando de um offside deve ter gritado, o guri bateu o retrato do “forfe” impedido, pode ver depois... Eu, o VAZ, naquela época era quase um VAR...

Mas o que eu quero contar mesmo é que agora há pouco ouvi um estardalhaço de sirenes, buzinas e veículos da Brigada Militar fazendo muito alvoroço... pensei logo em uma perseguição de perigosos bandidos e etc, devido à velocidade com que os batedores empreendiam, e pensei cá comigo: É coisa feia. Parei, liguei a câmera para registrar os detalhes, mas, para nooosa alegriaa... era o ônibus do Xavante em direção à Baixada. Imagino que esse aparato todo seja uma exigência das regras pelo fato do G.E. Brasil estar entre os 40 melhores times do País - 39, para ser mais exato, disputando a segunda maior competição esportiva da CBF.

Lembrei logo da lenda urbana (ou futebolística?) de que quem bate foto antes do jogo, perde. Mas também recordei do esforço que fiz, lá do meu tempo de guri, para registrar no celuloide até as imprudências dos foot-ballers dentro do relvado...

Vamos lá, Xavante! Estamos “mal na foto” nessa Série B do Certame Nacional! O espírito do Marcola estará junto com todo o Scratch! Hoje, com retrato antes da partida e tudo mais, vamos vencer o prélio!

“Tókio” é logo ali!


(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo e Editor deste Blog


22 de setembro de 2021

Habemus Primavera!

                                                              Foto Luiz Carlos Vaz

Quero apenas cinco coisas...

 

Primeiro é o amor sem fim

A segunda é ver o outono

A terceira é o grave inverno

Em quarto lugar o verão

A quinta coisa são teus olhos

Não quero dormir sem teus olhos.

Não quero ser... sem que me olhes.

Abro mão da primavera para que continues me olhando.

 

Pablo Neruda




11 de setembro de 2021

Os 130 (?) anos de um 11 de setembro inesquecível

Diadorim, xilogravura de Arlindo Daibert, 1952-1993


Luiz Carlos Vaz (*)

Tudo já foi dito uma vez

mas como ninguém escuta,

é preciso dizer de novo.

Andre Gide

 

Para Ricardo Petrucci

 

            Quando recordamos os “11 de setembro” na história, ou nas nossas vidas, temos sempre alguns desses dias para lembrar ou comemorar em especial; os fotógrafos certamente se referem ao do ano de 1816, ano do nascimento de Carl Zeiss, o cara que revolucionou as nossas lentes; mas há muita gente famosa, claro, que nasceu nessa mesma data. São de 11 de setembro Theodor Adorno, D. H. Lawrence, Valentino Fioravanti, Brian De Palma... mas nesse dia a cegonha também trouxe ao mundo pessoas bem mais populares como Leivinha, Everaldo e Franz Beckenbauer.

            Muitos acontecimentos, da mesma forma, marcam esse dia. Alguns deles trouxeram sorte ou alegria para o mundo. Outros, nem tanto. Talvez o mais triste para os tempos em que vivi tenha sido o 11 de setembro de 1973, quando foi bombardeado o Palácio La Moneda, em Santiago, e que colocou fim na normalidade institucional e democrática do Chile. O que veio a seguir envergonha o gênero humano pela violência, pelas incontáveis e anônimas mortes e sequestros de cientistas, professores, jornalistas, artistas e intelectuais.

            Mas para enfrentar tudo isso precisamos lutar; lutar muito; lutar com as palavras, vencer pelo convencimento das palavras, pela explicitação da verdade contida nas palavras. Nem que se tenha que repetir muitas vezes, pois as pessoas não escutam...

Talvez nenhum homem ou mulher – nascido num 11 de setembro, tenha tido tanta garra, coragem e determinação para viver e lutar por sua causa como Maria Deodorina. Sua vida foi narrada por João Guimarães Rosa com uma fartura de atos de bravura e coragem de dar inveja a muita gente metida a valente que anda por aí; tipo os “valentes de rede social”, como feicibuque, tuíter e uátis, onde se esgotam seus argumentos e atos de suposta bravura.

Conversando outro dia com o amigo Ricardo Petrucci, ele me recordou que Ela também havia nascido nesse dia. Coisa que eu jamais lembraria por ter lido essa história lá nos tempos “da mocidade”.  Deixo então esse pequeno recorte da obra do João para a apreciação de vocês, sobre o achado do registro de nascimento dessa mulher que nunca teve medo.

“Aonde fui, a um lugar, nos gerais de Lassance, Os-Porcos. Assim lá estivemos. A todos eu perguntei, em toda porta bati; triste pouco foi o que me resultaram. O que pensei encontrar: alguma velha, ou um velho, que da história soubessem  ̶ dela lembrados quando tinha sido menina  ̶ e então a razão rastraz de muitas coisas haviam de poder me expor, muito mundo. Isso não achamos. Rumamos daí então para bem longe reato: Juramento, o Peixe-Crú, Terra-Branca e Capela, a Capelinha-do-Chumbo. Só um letreiro achei. Este papel, que eu trouxe  ̶  batistério. Da matriz de Itacambira, onde tem tantos mortos enterrados. Lá ela foi levada à pia. Lá registrada, assim. Em um 11 de setembro da éra de 1800 e tantos... O senhor lê. De Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins  ̶  que nasceu para o dever de guerrear e nunca ter medo, e mais para muito amar, sem gozo de amor... Reze o senhor por essa alma. O senhor acha que a vida é tristonha?

Mas ninguém não pode me impedir de rezar; pode algum? O existir da alma é a reza... Quando estou rezando, estou fora de sujidade, à parte de toda loucura. Ou o acordar da alma é que é?”

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Em um 11 de setembro da éra de 1800 e tantos nasceu Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins. Ou terá nascido Reinaldo?
Ou terá nascido Diadorim  ̶  “a mulher dada por Deus”?

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(*) Luiz Carlos Vaz é Jornalista, Fotógrafo e Editor deste Blog