Márcia Duarte
Se eu olhar para minha vida, diria que no
passado era difícil pensar em um futuro melhor.
Muito do que sou hoje foi conquistado a duras
penas.
Eu me libertei. E isso, por si só, é algo
digno de celebração, pois quantas pessoas desejariam ser livres? Quantas não
conseguem enxergar uma vida melhor por não terem condições de se manter?
Quantas ainda estão aprisionadas no medo, na insegurança e na desesperança?
São sentimentos que conheço muito bem.
Acho que estou bem apesar da árdua batalha
pela qual tenho passado.
É difícil abrir mão de sonhos que não se
concretizaram.
É difícil pensar que tanto potencial está
aprisionado num lugar onde não existe a menor identificação profissional.
E é difícil entender que eu não escuto. Mais
difícil ainda é explicar para as pessoas que não sou obrigada, automaticamente,
a saber a língua de sinais porque minha língua é o português.
Eu não entendia até dizer para alguém: "esse
foi o maior absurdo que já OUVI".
A ficha caiu e eu percebi que meu cérebro
funciona como o de um ouvinte, mas meus ouvidos não.
Vejam: eu não estou reclamando da vida. Ela é
bela, há pessoas incríveis no meu mundo, pessoas com as quais me identifico e
respeito.
Estou apenas dizendo que um lado meu está
infeliz e quer, desesperadamente, encontrar um caminho para seguir adiante e
ter todo o potencial expresso e utilizado em algo satisfatório.
Quero me sentir realizada. Plenamente capaz de
estar neste vasto mundo.
Tenho me questionado incessantemente, tenho
procurado as respostas e ainda não as encontrei.
E isso, meus caros, é uma jornada silenciosa e
barulhenta ao mesmo tempo.
Se tenho silêncio do mundo externo, por outro
lado, meus barulhos são tão intensos quanto as ondas do mar nas pedras dos
molhes da barra* em um dia de tempestade.
___________
(*) Molhes da barra da Praia do Cassino.
Foto tirada por @jornalistavaz no Mercado
Público de Pelotas.
Márcia Duarte, 52 anos, pedagoga, leitora
voraz e escritora nas horas vagas.
Pós-Graduada em Leitura e Produção textual pela UFPel, publicou o texto Uma Menina querendo ser jornalista no
livro Algumas muitas ideias sobre alfabetização
literária, organizado pela professora Cristina Maria Rosa, em 2024.
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