17 de fevereiro de 2010

Máscara negra - IV, Quarta-feira de cinzas

Eu, na época já saindo do Estadual, e meu amigo Vinicius de Moraes
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No nosso tempo do Estadual, a Quarta-feira de Cinzas era o período que marcava o fim do Carnaval e o consequente início da Quaresma. Hoje, evidentemente, continua igual. Só que naquele tempo, nesses quarenta dias, os clubes sociais não organizavam bailes ou outras festas de maior vulto que envolvessem a comunidade (1). Era um período de calmaria e retiro espiritual para uma grande parte das pessoas confessadamente católicas. Conforme o maior ou menor fervor religioso das famílias, já não haveria o consumo de carne em todas as sextas feiras da Quaresma. Havia um controle social muito grande sobre o comportamento de todos, inclusive nas escolas públicas, e uma longa espera pelo Sábado de Aleluia(2), onde, após a Sexta-feira da Paixão, tudo estaria liberado de novo. Os bailes, as festas, as grandes comemorações públicas... tudo era possível outra vez, até cantar em voz alta no banheiro.
Vinícius de Moraes escreveu um poema em que retrata muito bem todo esse clima de fim-de-festa da Quarta-feira de cinzas e que reproduzimos abaixo, lembrando sempre que, apesar de tudo e de todos "...no entanto é preciso cantar."
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Marcha de Quarta-feira de cinzas
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Poema de Vinicius de Moraes
Musicado por Vinicius de Moraes e Carlos Lyra
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Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou
Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor
E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade
A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe
Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz
Seu canto de paz
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(1) Lembro de uma excursão de um time de futebol amador do Bairro São Judas, numa Sexta-feira Santa, em que o ônibus da Empresa Frederico, que levava jogadores e torcedores, na volta da festa virou com toda a turma dentro. Toda a cidade comentou que seria castigo por não respeitarem a Paixão de Cristo. Não morreu ninguém, mas muitos feridos foram encaminhados para a Santa Casa na ambulância do SAMDU. Castigo ou não, meu tio, José Oliveira, que estava na tal excursão pecadora, teve as costas totalmente queimadas e dormiu de bruços por muito tempo.
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(2) Era costume entre os guris receber os colegas pela manhã na escola com um chute na bunda quando, depois do gesto, se gritava dizendo: Aleluia!
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10 comentários:

Miriam Volpiceli disse...

Sou da Velha Guarda tb.

Luiz Carlos Vaz disse...

Mirian, em que ano estudaste no Estadual? Manda uma foto tua para a gente publicar. Já dei uma olhada nos teus álbuns no TREKEARTH...

Léli disse...

Adorei a foto!!!!
E a história também. Hoje em dia teoricamente continua tudo igual, mas na prática... aqui mesmo teremos carnaval até dia 27. Se bobear seguimos pulando todas as sextas feiras, até chegar a paixão.
Valeu por adicionar o Luna. Lá tem mais histórias. Beijão!

Luiz Carlos Vaz disse...

É, estamos "bem na foto".
O carnaval, como quase tudo hoje, está cheio de violência, mas, "no entanto é preciso cantar..."

ana disse...

Oi Vaz....dei uma olhadinha básica em seu blog...nas fotos antigas e me lembrei rapidamente que tenho centenas de fotos dessa época e de outras...claro que dos meus pais, meus avós, etc...pena não ter um scanner para poder passar para o pc...mas prometo que assim que conseguir, te mando para vc postar em seu blog...adorei tudinho!!!
ahhhhhhhh em fotos de professores...mais atuais....não esquecer do Professor Nereu e da Professora Jeny Pimentel....foram meus mestres no Espirito Santo...
bjos, fica com Deus!

Luiz Carlos Vaz disse...

Ana, obrigado por visitar o Blog. Em que época passaste pelo Estadual? Me manda um mail para ver como podemos resolver o scaneamento das fotos. Bjos pra ti tbm.

Manoel Ianzer disse...

Vaz essa foto foi tirada em Bagé ou no Rio?
Você já tinha decidido pelo jornalismo e fotografia?
Saudades do Vinicius!

Luiz Carlos Vaz disse...

Foi tirada em Pelotas, anos 70, na casa de uns amigos. A fotografia eu comecei com 12 anos e o jornalismo está no DNA. O Vinicius e o Tom Jobim nos deixaram cedo demais.

Igor Vaz disse...

Bah tche, Empresa Frederico... Esta até eu fiquei pasmo em lembrar. Ainda existe?
A propósito, o que faz o Bernardo Vaz nesta foto com o VdeM?

Luiz Carlos Vaz disse...

Ora Igor, é com o dizia uma personagem do "Balança mas não cai", programa da Rádio Nacional do Rio de Janeiro criado e escrito por Max Nunes e Paulo Gracindo na década de 50, "Genética meu bem, genética..." Pergunta para o Hamilton.