11 de março de 2010

Às nove era o jogo

Carlos, que virou corinthiano, continua com uma visão "jalde-negra" do mundo

Pois outro dia encontrei nessa via intergaláctica da web o Carlos Moraes (1). O Padre que nos dava palestras e comunhão na Páscoa dos Estudantes no Estadual. Embora, como ele mesmo diz, tenha uma visão "jalde negra" do mundo, virou corinthiano e mora em São Paulo há quase quarenta anos. O Carlos já publicou vários livros, mas o primeiro a gente não esquece: O Lobisanjo, ainda quando “morava” no prédio da esquina da Barão do Triunfo com Dr. Veríssimo, em frente ao XV. A cela que ele ocupou, segundo o Sérgio Saraiva, passou a expor flores, frutas e legumes pois a cadeia virou mercado... O Carlos, que é das "Lavra", confessa que quando escreve só tem Bagé como referência de seus primeiros anos de vida. Ele vai mandar um texto para o Blog, mas por enquanto, para relembrar as palestras da Páscoa dos Estudantes, publicamos um texto do Lobisanjo que me foi resgatado pela amiga Dra Maria Luiza Silveira que é psicóloga e tradutora. Poucos escritores conseguem significar tanto as palavras como o Carlos. Confesso que também achei que o jogo não sairia, embora estivesse marcado para às nove. Pois às nove choveu. E às nove era o jogo...
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Às nove era o jogo (2)

NO PRINCÍPIO era a chuva. E pulo n’água, atacação de barro, nariz pingando, e banho quente, cachacinha, sova. Sova esquentava mais e prevenia com mais autoridade os vírus de futuras gripes. Diziam os antigos.
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Depois a vida se veio, nos fêz sábios, torcedores do Grêmio Esportivo Bagé e outras coisas importantes.
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Pura ilusão. Basta uma chuvinha para nos quebrar os óculos e levar na correnteza êsse ar respeitável que a vida, coitada, nos deu.
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Ontem era dia do presidiário e lá na cadeia saiu missa e futebol, que cristão e brasileiro todo mundo era.
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Pois às nove era o jogo. E às nove choveu. E não saiu o jogo, dirá o compadre Meléu, homem provecto. Patrícios les digo: saiu o jogo. Com chuva saiu o jogo. Era água correndo e bola rolando e gente caindo e padre berrando e guarda torcendo, no barro todas as respeitabilidades. A partida terminou quando estava dando jundiá lá pelo gol do Honorato. 2x2.
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(1) Carlos Machado Moraes, nasceu em Lavras do Sul mas veio cedo para nossa cidade. Morou nas "Popular", ali perto do “Grondi” do Bagé, e não estudou no Estadual. Ordenou-se padre e trabalhou muito tempo nas cidades pertencentes à Diocese. Ainda no início dos anos 70 foi para São Paulo onde, desde então, trabalha como Editor, Jornalista e Escritor. Tudo com Maiúscula. Atualmente está escrevendo o livro dos Cem Anos do Corinthians, embora, desejasse mesmo escrever sobre os cem anos do Grêmio Esportivo Bagé. Irmão do professor Guido Machado Moraes, já falecido, (ver o post Felizes? Sim...) o Carlos passou por várias atribulações que lhe deram o apelido de padre vermelho e uma residência temporária na Cadeia Civil. Publicou, entre outros, os livros O Lobisanjo, A vingança do timão, Desculpem, sou novo aqui e Agora Deus vai te pegar lá fora..
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(2) Crônica XXVII, do livro O Lobisanjo, de Carlos Moares.

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11 comentários:

Anônimo disse...

Deixando claro: o padre Carlos foi preso político da ditadura militar. Isso talvez não explique o fato de que sua cela virou banca de frutas, mas talvez ajude. Outra coisa: se não me engano, o padre Carlos foi o primeiro escritor bageense a ganhar o Prêmio Jabuti de Literatura.

Sérgio Saraiva

Luiz Carlos Vaz disse...

Claro Sérgio, a ironia é para tentar fazer jus ao seu estilo de dizer e escrever as coisas.

Luiz Carlos Vaz disse...

E prá quem não sabe, o Sérgio foi o segundo... Únicos até agora, creio.

Anônimo disse...

OPA!! Lavras do Sul só exporta gente de talento! Parabéns a mais este Lavrense!!

Luiz Carlos Vaz disse...

Alô "Anônimo das 08:54"! Pode repetir o comentário e assinar que a gente apaga esse primeiro.
Grato por comentar no nosso Blog, Vaz

Hamilton Caio disse...

Bah, Carlos, que baita crônica, plagiando teu comentário naquele post e já querendo imitar esse teu estilo com respingo gaudério. Uma maneira de escrever muito ao agrado do povo destas bandas. Palavras como as que escreves viciam mais que a cachacinha. Precisamos urgente que reedites esse e outros livros para lançar nestas plagas. Le garanto, é aqui o teu chão, tchê, neste sul vais ter muito mais leitores do que possas imaginar. Acho que os guascas daqui leem mais que a turma de São Paulo. Vivente, se lançarmos os teus livros no bicentenário destas cochilhas, vão vender mais que pastel em carreira. Eu já coloquei meu nome na lista.

Luiz Carlos Vaz disse...

Olha Hamilton, é uma ótima dica. Não sei se existe uma "comissão" recebendo sugestões, essa é bem interessante.

Ana Saturnina disse...

Eu saí de Bagé há 33 anos, mas continuo jalde-negra e colorada. Tenho uma quedinha pelo São Paulo, já q moro aqui, mas meus 1ºs times continuam sendo o Bagé e o Internacional.

pequena arqueologia disse...

Caro Vaz:

Quero apenas fazer um adendo, lá na mini-biografia do CARLOS MORAES. É preciso que conste um livro genial, o primeiro que li do Carlos, chamado COMO SER FELIZ SEM DAR CERTO: A SALVAÇÃO PELA BOBAGEM.

Maria Luiza Silveira

Luiz Carlos Vaz disse...

Pois que coisa maluca são os livros do Carlos. Alguma editora vai ter que "botar ordem no salão", como se diz lá nas Lavra, e reeditar esses livros. A procura, pelo que sei, é grande.

Luiz Carlos Vaz disse...

Ana, na verdade os times do coração são esses que a gente escolhe quando é criança e nem sabe o motivo. Já eu sou Guarany. Pergunta a razão? Não sei.