28 de março de 2010

Desenha-me um carneiro?

"Desenha-me um carneiro?", pedia o príncipe ao aviador...
.
Eu ainda usava calças curtas quando ouvi pela primeira vez o pedido insistente: “Desenha-me um carneiro?” A professora Maria Veleda levara para a sala de aula não apenas o livro O Pequeno Príncipe de Saint-Exuperry, mas também um “LP” (1) com a história interpretada por artistas do rádio e do teatro. Paulo Autran fazia a voz do autor e o Príncipe era interpretado por Glória Cometh. “Desenha-me um carneiro?” repetia o menino mais uma vez. Mas o disco não tocou em aula. A professora perguntou quem tinha um toca-discos em casa e eu, que sentava na primeira classe, mais do que depressa, respondi. Eu tenho professora! Lá em casa temos uma eletrola Phillips... e pronto, fui “sorteado” para levar o disco e ouvir com a família. No Estadual não havia um toca discos. À noite, em casa, quando ainda não havia televisão em Bagé, nos reunimos para ouvir a história do príncipe, que morava em um pequeno planeta, filosofar sobre a vida e a morte e pedir: “Desenha-me um carneiro?” Depois, durante a semana, várias foram as lições que a professora Maria Veleda nos ajudou a extrair da história do livro e do disco. Uma delas foi que nos tornamos responsáveis por aqueles que cativamos! Essa era a possibilidade entre o príncipe e a raposa da história. Esse seria o livro que todas as candidatas a “miss” deveriam citar pelo resto de suas vidas. E, a frase, “desenha-me um carneiro?” ficou em minha mente até hoje. Ainda posso ouvir Glória Cometh repetir a frase como se a tivesse ouvido ontem. No mais, só lamentei que o príncipe precisasse morrer para conseguir o seu intento. A professora Maria Veleda explicou de tudo que era jeito, mas muitas gurias da primeira série do ginásio do Estadual não deixaram de chorar ao final da história. Não queriam que o príncipe loirinho fosse picado pela cobra. A lição de se tornar responsável por aqueles que cativamos é a que foi mais debatida. O Blog está completando hoje quatro meses. Três mil pessoas já o acessaram mais de 10.000 vezes. Todo dia, ao ver esse número crescer, o Blog, como o Príncipe de Exuperry, percebe que está se tornando responsável por ter cativado tanta gente. Mas o que nos deixa tranquilos é que quando pedimos para os colegas “desenharem um carneiro”, todos estão prontos a colaborar e a manter o Blog interessante, criativo e atualizado. Obrigado a todos por “desenharem os carneiros”, e um obrigado muito especial a professora Maria Veleda que teve coragem suficiente de nos apresentar o Príncipe de Antoine de Saint-Exuperry quando nós, os guris, ainda usavam calças curtas e as gurias prendiam os cabelos com singelas marias-chiquinhas.
.
(1) O disco foi gravado em 1957 pela gravadora Festa, de Irineu Garcia. Paulo Autran interpreta o escritor, Glória Cometh, o Príncipe, Oswaldo Loureiro Filho, o acendedor de lampiões, Margarida Rey, a serpente, Benedito Corsi, a raposa e Auri Cahete, a rosa. A música é do maestro Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom Jobim.
.

8 comentários:

Manoel Ianzer disse...

Recordação dos anos dourados: Estadual (realização), rock(divertimento), jovem guarda(alegria), tv (show), corrida espacial(uma realidade), perdidos no espaço(devaneio) jornada nas estrelas (fantasia).
Muitos professores, artistas e colegas já marcaram presença no nosso blog.
A nossa imaginação a galope.
A finalidade deste blog era de unir ex-colegas do Estadual, aproximar lembranças, relatar fatos, expor as idéias de guris e gurias de uma época saudosa. Já atingiu o seu objetivo, além de estar brotando um carinho muito grande e especial pelo nosso relacionamento afetivo de internautas.
Todos que estão participando dele, sabem de um ponto de referência que é nosso querido jornalista Vaz. Ele definiu um encontro anual no Colégio Estadual de Bagé.
Ainda estou me sentindo solitário. Nenhum colega da minha turma se manifestou. Como ainda é cedo, tenho esperança de encontrá-los vivos e com saúde. Mas estou feliz com tudo que venho sentindo: prazer e alegria de estar diariamente em contato com vocês.

dos sempre laços
fortes
de fraternidade
e amizade
aos laços elevados
do coração terreno
e terno
ao depósito maior
O AMOR

Manoel

Luiz Carlos Vaz disse...

O Ianzer é sempre exagerado nos elogios... fruto exclusivo de sua bondade. Mas não desanima Ianzer, teus colegas vão aparecer. Ou já apareceram e estão só "chuleando" o Blog, qualquer hora eles se manifestam... Grande abraço. (A foto da Danielle já está na fila...)

Vera Luiza disse...

Memória plena de sensibilidade!! Emocionante esse post, Vaz!Também fico pensando que foi lá no nosso Estadual que esses nobres Mestres deixaram marcadas indelevelmente suas passagens! Ensinaram-nos a "ver com o coração"! Abraço!

Luiz Carlos Vaz disse...

Obrigado Vera Luiza. Como dizem o Hamilton e o Ianzer, são os "anos dourados do Estadual..." Mas eu só queria mesmo é que alguém de Bagé me desse notícias da professora Maria Veleda...

Léli disse...

Que vontade me deu de ouvir estas vozes com o bom e velho chiado do LP!!!!! Eu sou um pouquinho mais novinha... hahahaha e li o livro e vi o filme. Mas, em compensação, não tive o privilégio de ouvir o Paulo Autran, com sua voz melodiosa, contar a história do aviador que fazia desenhos que somente as crianças eram capazes de entender. Confesso que adoro a rosa, sinto-me ansiosa como a rapoza, mas duas coisas me marcaram muito mais que estas passagens na história de Exúpery, o fato de ele criticar os adultos que só se importam com números, sejam eles cifras ou tamanhos; e a jibóia que engoliu o elefante. Eu sempre tento me manter com o pensamento das crianças, conseguindo ver a jibóia ao invés do chapéu e me pegando ao som da risada das pessoas ao invés dos números pelos quais algumas delas se apresentam. Se bem que... é impossível não gostar de tudo n'O pequeno príncipe.
Adoro este espaço. São memórias dos outros que me fazem muito bem.
Beijão

Luiz Carlos Vaz disse...

Pois Léli, eu já estou quase comprando um bom exemplar desse "LP", sem arranhões. Vou fazer a pergunta da professora Maria Veleda: Tens toca-disco em casa?

Léli disse...

O pior é que eu tenho!!! Mas ele tá sem funcionar há muito tempo e pra completar tem um problema na correia que não nos permite escutar os discos. Uma pena!!! Porque lá em casa tem umas relíquias

Luiz Carlos Vaz disse...

Mas hoje tudo se resolve com um MP3, 4, 9, 11, não é mesmo?