3 de março de 2010

Meu primeiro terremoto

A cidade de Valdivia foi arrasada pelos sismos de 1960


Eu era um guri, ainda nem estava no Estadual, mas lembro que em 22 de maio de 1960 as rádios só falavam no terremoto de Valdívia. O Chile, país que sediaria a copa de 62, sofrera um conjunto incrível de nove terremotos, sendo que o mais forte, de magnitude 9,5 graus, se deu na cidade de Valdivia, às 15 horas e 11 minutos. Não havia televisão em Bagé e as revistas O Cruzeiro e Machete só chegariam na cidade uma semana depois com fotos estarrecedores da destruição causada pelos abalos sísmicos. Terremotos e maremotos, num intevalo de 48 horas, mudaram completamente a geografia do país. Depois da tragédia, rios mudaram de curso, surgiram novos lagos, novas cadeias de montanhas. Duas mil pessoas morreram, três mil ficaram feridas e 2 milhões sem abrigo. Em Bagé o frio já era intenso no mês de maio e a cada tempo feio que surgia eu lembrava da catástrofe de Valdívia e sentia muito medo de morrer. Durante muito tempo só se falou nisso até que nos primeiros ventos quentes da primavera de 1960 Valdívia saiu da minha cabeça. Muito tempo depois, em 1990, eu estava na Costa Rica e um terremoto de 4.8 graus, durante a noite, me jogou para fora da cama em que dormia no Hotel Amstel em San José. Muita correria, vidros quebrados, sirenes, uma rachadura na fachada do prédio do hotel e... a lembrança de Valdivia. Hoje, passados cinquenta anos da catástrofe de 1960, o Chile é abalado mais uma vez. As recordações de Valdivia voltam como num filme. Lembro de tudo, das fotografias da revista Manchete, dos boletins da Rádio Guaiba, tudo tudo. Mas, não sei porque, Valdivia não me assusta mais. Talvez porque aprendi com Neruda que
.
Muere lentamente...
quien pasa los días quejándose de su mala suerte
o de la lluvia incesante.
Muere lentamente...
quien abandona un proyecto antes de iniciarlo,
no pregunta de un asunto que desconoce
o no responde cuando le indagan sobre algo que sabe.
Evitemos la muerte en suaves cuotas,
recordando siempre que estar vivo
exige un esfuerzo mucho mayor
que el simple hecho de respirar
.

2 comentários:

Fátima Bunselmeyer disse...

descobriste que depois do primeiro muuuuitos outros "terremotos" vieram...

Luiz Carlos Vaz disse...

Sim, Fátima, e como no Chile, eles vão se sucedendo, e formando novos rios, novas montanhas...