13 de março de 2010

No "Ritmo da chuva"

Hoje sobra apenas o tronco da Estremosa...


... que deu um banho no inspetor Wilson no pátio do Estadual.

Um episódio cômico nos foi contado pela colega Clara Marineli, sempre de memória prodigiosa com os detalhes, envolvendo o Inspetor Wilson (1) e tendo como figura coadjuvante a Profa Eva da Nova. O Inspetor Wilson foi da nova equipe de contratados. O Estadual já ficava grande no final da década de 50 e ja à vista do anos 60. O inspetor Catalino Brasil Machado já não dava conta de cuidar da gurizada que crescia em número, a cada ano. Na nova equipe, entraram os Inspetores Wilson Lucareli e João Olaves. Lembro bem da estréia deles. Este último aparece no post "Nas Asas da Panair". O João Olaves, inicialmente, muito tímido, quando designado para cuidar uma turma sem professor, ficava postado na sala de aula, frente à turma, próximo a porta, olhando para todos imóvel e calado. Depois, naturalmente, com o passar do tempo, começou a ficar "complicador". Já o Inspetor Wilson era mais extrovertido e já "complicava" desde o início.
Um dia, na quarta série ginasial, em 1963, em plena primavera, com a turma já pensando nas provas finais, houve um desentendimento entre a Clara e o Inspetor Wilson. Tudo começou com a falta de um professor. E, como era hábito no Estadual, um inspetor de disciplina foi "tomar conta" da turma para evitar a desordem. Habitualmente, o inspetor ficava com um caderninho anotando os nomes dos alunos que saiam da linha, conversando, levantando do lugar e outras coisas, na verdade, sem grande importância. Logo no início dessa aula sem professor aconteceu um bate-boca entre a colega Clara e o Inspetor Wilson que estava encarregado de cuidar da turma. O motivo é que ele confundira a Clara com outra colega e porque estava assumindo como autora da “desordem” e defendendo a outra aluna inocente. Em certo momento, ela não aturou mais a intransigência do Wilson, levantou, foi até ele e arrancou o caderninho de anotações das suas mãos e saiu da aula correndo e, naturalmente, o inspetor correndo atrás! A essa altura já havia uma platéia de colegas seguindo-os pelo pátio afora. Havia chovido há poucos minutos. A colega logo vislumbrou uma brincadeira comum nessa época, uma "pegadinha" como se fala hoje. Sussurrou rapidamente ao ouvido de um colega que avisou os demais para assistirem. Tinham sido plantadas "Espirradeiras" e "Estremosas" no pátio, os caules ainda eram finos e vergáveis. Estavam com as folhas completamente carregadas com as gotas da chuva. A Clara se dirigiu até uma dessas árvores e ficou embaixo dela. Com uma das mãos no caule e a outra brandindo o caderninho e provocando o Wilson: "Vem pegar se tu és homem!", dizia. Ele, imediatamente, foi até debaixo da árvore onde ela estava inocentemente. Quando ele chegou bem perto, a Clara, de pronto baixou a mão com o caderninho e com a outra sacudiu forte o caule da árvore tomado pela chuva. Resultado: um inspetor todo molhado (2) e uma gargalhada geral dos colegas que assistiam. Mas a comédia pastelão não terminou aí. Ela partiu correndo até o banheiro feminino, mas ele a seguiu, entrou lá, lugar onde não lhe era devido, e conseguiu arrancar o tal caderninho das suas mãos. Imediatamente já sentenciou uma suspensão de "uma semana, no mínimo!" Como na aula a seguir haveria prova de matemática com a professora Eva da Nova, e ela ficou sabendo do episódio e da "sentença", saiu na defesa da aluna. Ela foi taxativa, falando alto e veemente, como lhe era peculiar : "Vais fazer a prova agora e se fores suspensa eu não vou dar aula". Depois da prova, a professora foi falar com o diretor, na época o professor José Albino Avancini, e a suspensão foi anulada, devido ao comportamento do inspetor e a invasão indevida ao banheiro femininio. Esse relato, segundo a Clara, é preciso em todos os detalhes e não tem qualquer elemento de ficção.
Portanto, como vemos, as brincadeiras e as situações inusitadas sempre fizeram parte da nossa vida diária no Estadual e muito contribuíram para manter o coleguismo, a amizade e, principalmente, para marcar a nossa memória nesses anos lá passados e podermos contar para as atuais gerações de alunos, que também fomos guris e gurias como hoje eles são, tentando estudar bastante, mas, também, fazendo as brincadeiras sadias terem um lugar garantido no curriculum vitae de cada um.
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Enviado pelo colega
Hamilton Caio
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(1) Não será falta de respeito, e nem de memória, lembrar que o inspetor Wilson tinha o apelido de Capincho. Ele odiava esse apelido e muitas vezes desentendeu-se com alunos e professores em virtude disso. Quando passava por um grupo sempre alguém, em tom meio baixo, sussurava: "tchimbum!", (barulho que uma capivara faz ao mergulhar) e lá vinha a bronca prá cima do grupo... Mas isso não impediu que ele também fosse, fora do horário de expediente, amigo de todos e muito brincalhão. Depois que se aposentou do serviço público o inspetor Wilson trabalha como cobrador e é sempre visto pela cidade com uma pastinha própria da atividade.
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(2) As brincadeiras nunca passaram disso. Bem diferente do que ocorre hoje, quando o diretor do Carlos Kluwe, o nosso colega professor Palomeque, teve que tomar atitudes bem mais sérias com relação aos fatos acontecidos nesta semana. Veja o link do jornal Minuano On Line:
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9 comentários:

Igor Vaz disse...

Mas que barbaridade.... Agora eu já sei porque eu fora um baita bagunçeiro durante minha vida escolar. Sou filho da autora desta proeza... Espero que meus filhos não puxem a mim e a minha mãe kkkk.

Luiz Carlos Vaz disse...

Igor bagunceiro? Nãããão, não acredito...

Igor Vaz disse...

Mas e' tche eu fui uma peste! tanto que ha alguns anos eu pedi desculpa para meus pais por ter sido tao pivete. Pensando bem agora vou retirar as desculpas, eu tive a quem puxar.... rs

BLOG DA JAN disse...

ESTA ESTÁ MUITO BOA...AH SABES, SEMPRE QUE LEMBRAVA DO OLAVES O ASSOCIAVA AO AMIGO DA ONÇA... ACHAVA-O SUPER PARECIDO FISICAMENTE A ESSE LENDÁRIO PERSONAGEM DE NOSSA REVISTA " O CRUZEIRO"

Luiz Carlos Vaz disse...

Olha, quem conheceu o Olaves pode mesmo concordar com a Janice. O "Amigo da onça" foi uma criação do chargista pernambucano Péricles - Péricles de Andrade Maranhão, para a revista O Cruzeiro, em 1943. Péricles suicidou-se em 1961, abrindo o gás da cozinha. Deixou um bilhete que dizia: "Não risque fósforo, é gás!" Morreu fazendo humor.

Léli disse...

Pois é, as brincadeiras eram bem mais saudáveis e mesmo as desobediências e traquinagens eram inocentes. Hoje em dia quando um professor repreende um aluno esta repreensão vira o estopim para o planejamento de uma vingança que pode ir de danos ao carro da professora até agressões físicas, facadas e até tiros. Antes tivéssemos continuados todos assim fugindo dos inspetores e lhes dando banho com as gotas de chuva... Pelo menos a água seca e não causa morte.

Luiz Carlos Vaz disse...

É Léli, as relações professor/aluno evoluiram para o lado errado e parece que sairam do controle. Vê a praga dos celulares na sala de aula, em mãos de crianças que ficam mandando mensagens, telefonando, o tempo todo... hoje fiquei sabendo da história das pulseiras... é muita evolução para o meu gosto!

Hamilton Caio disse...

Essas árvores (espirradeiras) são as originais de 1963, com exceção da primeira da fila que foi replantada, anos depois. Nessa época eram plantas novas com, no máximo, três anos de idade. Hoje, portanto, são cinquentenárias. Foram plantadas alternadamente, uma espirradeira e uma estremosa. Todas as estremosas morreram ou sofreram algum dano irreversível, restando no lugar só o canteiro com a moldura de alvenaria. A que foi motivo da brincadeira (uma estremosa), parece ter sido a que mais tempo sobreviveu, pois o caule já era forte. Foi serrada, ficando o tronco com quase dois metros de altura. Quem quiser saber como seriam hoje essas estremosas, dê uma passada na rua Marcílio Dias, entre as quadras Fernando Machado e Venâncio Aires, próximo a esquina com esta última, e verá no canteiro central algumas ainda cheias das flores vermelhas. Essas foram plantadas poucos anos depois das do Estadual. Mas existem estremosas plantadas em vários locais pelas ruas da cidade.

Luiz Carlos Vaz disse...

Importante é que até hoje elas são cuidadas e preservadas e, de certa forma, também preservam as nossas memórias.