5 de março de 2010

O filho de Dona Severina

O Mercado Público de Bagé em foto exposta na Casa de Cultura
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A foto que ilustra esta postagem é do antigo Mercado Público de Bagé, que foi vendido pela Prefeitura para a iniciativa privada por "Doze milhões" pelo prefeito João Fico (1), do PTB, no início da década de 50. Lembro que quando os sucessores do prefeito Fico alegavam que a prefeitura não tinha dinheiro ele sempre em algum discurso repetia à exaustão a frase que era uma pergunta: "E os doze milhões que eu deixei na prefeitura...? As crianças lá em casa respondiam sem pestanejar um chavão já automático para nós: "...os ratos comeram e cagaram..." e lá vinha um imediato cala-te boca do nosso pai ou de nossa mãe pois aquilo era "pura falta de respeito com o Dr. Fico." Brincadeiras à parte, o prédio do mercado era um dos mais belos desse gênero no Brasil. Muito mais bonito que o de Pelotas ou o de Porto Alegre. Venderam, desmancharam. Chorar, não adianta mais. Só lamentar a destruição desse belíssimo exemplar do patrimônio histórico e arquitetônico da cidade. O detalhe importante dessa foto é que aparece, em primeiro plano, um vendedor de frutas, de nome João de Deus Collares, casado com dona Severina Trassante Collares, que são os pais do ex governador do estado Alceu de Deus Collares. Há poucos anos mostrei uma cópia que tenho desta foto ao Collares e pude ver sua emoção e suas lágrimas ao lembrar o sacrifício feito por seus pais para possibiltar-lhe estudos já que eram de família muito pobre. Na oportunidade, o filho de dona Severina, como bom trabalhista, empolgou-se como o prefeito Fico, e na hora fez um emocionante pronunciamento lembrando a incessante luta do então lider Leonel Brizola em pról da educação. Esta foto, e outras tantas, estão expostas na casa de Cultura Pedro Wayne em Bagé.
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(1) João Fico foi eleito prefeito de Bagé nas eleições gerais de 1950. Ele substituiu o médico Carlos Kluwe, que havia sido eleito em 1946. Carlos Antonio Kluwe dá hoje nome ao nosso Estadual. As eleições de 1950 elegeram para presidente o sãoborjense Getúlio Vargas.
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4 comentários:

Manoel Ianzer disse...

Que direito tem um prefeito, vender um prédio público? Ainda mais, sendo uma jóia arquitetônica e que já fazia parte integrante não só do centro, mas de toda a cidade de Bagé. No meu ponto de vista, precisava ter a aprovação da maioria da população. O prefeito não é proprietário dos bens públicos, ele é eleito, para ADMINISTRAR o que é do POVO.

"Uma relação de progresso até chegar a demolição do Mercado Municipal"

1884 - Libertação dos ESCRAVOS de Bagé.
1884 - Inauguração da estrada de TREM.
1889 - Bagé foi a PRIMEIRA cidade do RGS, a ter energia elétrica.
1900 - ALGUNS estabelecimentos de Bagé estavam entre os 100 maiores indústrias do Brasil.
1940 - Bagé é a TERCEIRA cidade do RGS em população e prosperidade. Uma das mais ricas cidades do RGS e do Brasil.
1947 - Bagé atinge o AUGE de prosperidade, com a construção do primeiro prédio com elevador.
1951 - Fundação do Clube da gravura, pelos QUATRO de Bagé: Glauco Rodrigues, Glênio Bianchetti, Danúbio Gonçalves e Carlos Scliar.
1952 - Bagé tem uma população de 70.000 HABITANTES.

Mercado - demolido.
Anos 50/60 - decadência de Bagé.

Hamilton Caio disse...

Manoel Ianzer, concordo plenamente com tua contrariedade pela destruição do Mercado Público. Hoje, se fosse realizada uma pesquisa, essa venda teria reprovação maciça. Mas, é bom lembrarmos, a decisão não pode ter sido somente do prefeito. Obrigatoriamente, houve aprovação da câmara. Certamente, houve muitos debates, opiniões contra e a favor, como na boa democracia. Sem precisar levar em conta que a câmara era a representação dos habitantes da cidade, que podia decidir sobre isso, o que faltou, mesmo, foi a população ter se levantado contra a decisão, por não ter concordado com a aprovação pelos seus representantes legais, fazendo uma simples manifestação na frente da prefeitura, tomando todo quarteirão. Será que os vereadores não iam mudar de idéia ? E o prefeito não iria ceder ? Porém, observemos o seguinte: os tempos eram outros, não havia, ainda, esse sentimento de conservação do patrimônio histórico, e ,deve ter havido uma euforia nos meios comerciais, pelo "belo" (?) edifício que seria erguido naquele "local feio e arcaico", com centenas de apartamentos, com um hotel cinco estrelas e garagens, no lugar daquelas "horrorosas torres". Hoje só temos a lamentar. Pelotas e Porto Alegre conservaram os seus belos e antigos mercados públicos. Como bem mostras, nessa ótima cronologia, Bagé já foi a terceira cidade do estado, em prosperidade e população. As outras eram a capital e Pelotas, as que conservaram os seus mercados. A partir daí, Bagé desabou nessa escala de riqueza. Seria uma maldição de antigos fantasmas, decorrente do fato da cidade ter destruido seu mercado ?
Um grande abraço.

Manoel Ianzer disse...

Hamilton Caio
agradeço sua participação. O seu comentário só veio ajudar a clarear a história de Bagé.
Sou a favor sempre de diálogos e debates, que levem a um lugar de respeito pelo homem e pela vida.
Um abraço bem tchê aqui de São Paulo.

Luiz Carlos Vaz disse...

É preciso que esses temas sejam discutidos nos 200 anos da cidade...