12 de abril de 2010

Uma esquina no tempo - II, Nem só de pão...

A Continental, com seu nome em letras góticas,
é uma das mais antigas padarias de Bagé

Neste prédio funcionou a Escola Rotária Dr Penna

Nem só de pão...

Hamilton Caio

"Quero falar de uma lembrança de pão. Da lembrança de uma padaria tradicional que já desapareceu. A Padaria Lamas. Uma padaria tão antiga e conhecida como a Padaria Continental. Quando nossa família voltou para Bagé em março de 1953, eu já estava pensando que seria aluno do Colégio Auxiliadora e lembro até do uniforme, pois tínhamos um vizinho que era aluno interno de lá. 

O Estadual ainda não existia. Vínhamos da Hulha Negra das "marias sentadas", onde a família passou a maior parte da minha infância, e fomos morar na rua General Sampaio, número 498, que era no lado oeste. Hoje essa rua se chama Monsenhor Costábile Hipólito. Eu era encarregado de comprar o pão pela manhã bem cedo, antes da aula. Vem daí a primeira lembrança do pão chinelo, grande, que eu apanhava na Padaria Lamas, que ficava na rua Barão do Triunfo, entre as quadras da Sampaio e General Neto. Depois ela andou por outros locais, ao que parece. 

O prédio ainda existe, posteriormente ali já funcionou um supermercado. As imagens que ficaram na minha lembrança: o trajeto até a padaria, descendo pela rua Sampaio, passando pela ponte (hoje com o arroio canalizado) próximo onde está a Auditoria Militar, e a subida da próxima quadra, onde eu ficava intrigado porque a rua tinha duas mãos, com canteiro central, e os carros só subiam pela rua (mão) da direita. Eu me perguntava: Por que será que eles não sobem pela outra rua também, de vez em quando? Depois vinha a passagem pelo lado da Uzina Elétrica, onde hoje é a sede da CEEE, com aquele ruído forte bem característico, e contínuo, dia e noite, de motores, geradores e radiadores funcionando. Não sei como os moradores daquelas quadras em frente aguentavam. Esse ruído eu tenho gravado até hoje na memória. Da nossa casa ainda era possível ouvir, embora mais fraco, principalmente com o silêncio da noite. 

Na próxima quadra à padaria, uma imagem indelével daquele interior... o ar quente, levemente úmido e enfumaçado (ou seria enfarinhado?) da fabricação dos pães, e massas também, em contraste com o ar frio da manhã, e o ruído dos aparatos e das máquinas trabalhando. Eu via as massas estendidas em suportes verticais e várias funcionárias manuseando-as. Aí eu apanhava os "chinelos", e na volta, o preparo para a aula. 

Eu estudava em um colégio chamado "Escola Rotária Dr Penna", há umas três quadras de casa, na rua Dr Penna. As professoras eram a Heloisa Bellaguarda, a minha do segundo ano primário e a Ildara Barros Coelho (a nossa conhecida de outro post), a professora da minha irmã, Maria Gleide, no primeiro ano primário. A fisionomia e a voz delas, claro, tenho gravadas na memória. 

Mas o fato marcante é que o pão "chinelo" ficou sempre associado a essa ida diária na Padaria Lamas. Uma curiosidade: por muitas décadas ainda a população, principalmente os mais velhos, continuou a chamar a CEEE de "uzina", quando se referiam a qualquer problema com a luz. Era um "ir na uzina", um "vou na uzina reclamar" ou "chama a uzina", mas a CEEE já estava ali há muito anos. Enfim, esse tempo - que já vai longe, nos traz à memória muitas coisas pois nem só (de lembranças) de pão viverá o homem..."
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Enviado pelo colega
Hamilton Caio
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15 comentários:

Luiz Carlos Vaz disse...

Hamilton, eu lembro que o "Checo" Maydana Figueiró, locutor da Difusora, lia ao vivo, no Domingo Alegre, a propaganda da Padaria Continental. Deveria ser assim: "Pães, bolachas e biscoitinhos é na Padaria Continantal!" Mas, no entusiasmo de fazer uma boa leitura comercial, ao vivo, e com empostação de vóz, ele emendava tudo e saia mais ou menos assim: "Pãesbolchsebicotnhos é na Padaria Côôôôôôtientallllll"

Hamilton Caio disse...

Pois é, o comércio, a publicidade e a imprensa locais sempre fizeram uma boa parceria, com toda comunidade lucrando.
Lembram que quarta feira era o dia da bolachinha na Continental ? E parece que bolacha e bolachinha é um termo do sul. Lá para outras bandas o pessoal conhece por biscoito, independente do formato, redondo ou não.
Quando passamos a morar distante apenas uma quadra da padaria, era uma festa. Pelas quatro horas da tarde D. Loracy já tinha um café com leite e pão quente da Continental. Da porta da cozinha ela falava bem alto: "Quem quer café !". Pode parecer "conversa fiada", mas não é que eu sempre lembro desses cafés da nossa mãe quando passo na Marcílio Dias, pela frente da Continental ! Seguidamente falo isso para ela. Bons e despreocupados tempos de adolescente, apesar da tabuada, das equações, das provas, das ...

Luiz Carlos Vaz disse...

Eu gostava também do "Pão d'água de meio quilo". Nas fatias grossas se passava uma camada de manteiga e, por cima, uma outra de mel. Deus do céu! tem algo melhor que uma fatia dessas acompanhando um café com leite bem quente?...

Anônimo disse...

Olá! e da sorveteria do seu Venâncio na saída da galeria alda assumpção (pela rua lateral que não lembro o nome, vocês lembram?). visitar as memórias tão lindas de todos vocês me trouxeram os cheiros da padaria continental, da sorveteria do venâncio, do supermercado do vigil, do armazem salvador la porta, da antiga padaria moderna, da miscelânea (floriano esquina presidente vargas). Saí de Bagé em 1980, volto sempre por lá...e sempre sinto saudade! abraços. obrigada pelo privilégio da leitura. Dóris Schuch

Luiz Carlos Vaz disse...

Dóris, tua memória está melhor do que as nossas, rsrsrs, preciso entrar em contato contigo, manda um mail...

Hamilton Caio disse...

Dóris, a memória e os aromas, como o Vaz já falou... O cheirinho de pão da Continental sempre foi marcante, e onde a gente andar e sentir esse aroma, vamos lembrar das visitas àquela esquina. E que combinação perfeita e saborosa é a da manteira com o mel, em duas camadas. Só é preciso ficar atento aos níveis de colesterol e glicose, rsrsrs ! A rua da sorveteria é a Ismael Soares, faz frente para a lateral do Clube Caixeral. E eu continuo indo no "Vigil", não importa o nome que tem ali agora.

Luiz Carlos Vaz disse...

Dóris e Hamilton: vou providenciar uma foto do "Vigil" em homenagem a vocês...

Aldo Ghisolfi disse...

MAIS para trás, então: há de ser lembrada a Padaria Cruz, do seu Ney Paiva, do seu Rui, da Eva, dos chinelos, das ferraduras... a Sorveteria Brasil, do seu Honório... o Galeto Cambruzzi... a Fruteira, que concorria com o Amarelinho na saída do cinema... (aldoghisolfi@gmail.com)

Argemiro de Brito disse...

É isso ai Ghisolfi, bota a memória pra funcionar...

domingos mascarenhas disse...

comprei algum pao de meio quilo com manteiga enrolado com papel pardo e barbante e tanbem aqueles bolachoes. frequentei com minha mae a sorveteria do seu venancio a ismael soares era a minha rua da praia. um abraço.

Luiz Carlos Vaz disse...

Bah! Domingos, um comentário desses, bem na hora do café, deveria até ser proibido, hahaha
Um abraço

Carolina Beatriz disse...

Meu Deus!! Eu retorno ao passado. tenho 43 anos, era pequena quando ouvia estas coisas. meu pai (já falecido, seu Garcia) morou muito tempo ao lado da padaria continental, depois viemos para Porto Alegre. Esta padaria acabou por comprar a casa do meu avô, por ser ao lado. Meu tio mora até hoje na General Samapio, tio Lohen. Eu estudei no colégi Santo Antônio em 1975/76.. quanta saudade....

Luiz Carlos Vaz disse...

Gláucia, muito pão quentinho a gente comprava lá...

Anônimo disse...

Falaram da sorveteria, e esqueceram que gostávamos de comprar sorvete e ficar escutando as últimas musicas dos Lps lançamentos,músicas de Roberto Carlos, etc...era uma loja que ficava na 7 de setembro,ao lado da galeria Alda, lá onde escutei ás primeiras músicas de bossa nova rsrsrs.

Rosangela Rosa Herrmann

Luiz Carlos Vaz disse...

Ali perto, Rosângela, ficava a Casa Galo... junto a Radio Difusora. Seria essa?