30 de junho de 2010

A taça do mundo é nossa! - XIII, A laranja mecânica

O cartaz alemão, sem valorizar a língua pátria,
ainda deixava transparecer o receio ao nacionalismo
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Depois de 1970, o Brasil estava tranquilo. Sua relação com a taça Jules Rimet era para o resto da vida, como um casamento antigo, “até que a morte os separe”. Na Alemanha, em 1974, uma outra musa passaria a ser disputada: a Copa FIFA. E ninguém mais ficaria com ela para sempre. Seriam romances de quatro anos, no máximo, mas com direito a renovar contrato. Nossa seleção, já desfalcada dos principais tricampeões de 70, foi à Alemanha como quem vai a passeio. Pela primeira vez a outra Alemanha, a do lado Oriental, disputou uma Copa, e no jogo com sua cara metade, ganhou por 1x0, pois a anfitriã afrouxou por não querer enfrentar o Brasil que também ficara em segundo lugar no seu grupo. O Brasil empatou com a Iugoslávia em zero, com a Escócia também em zero. No terceiro jogo, com o inexperiente Zaire, quem esperava um saco de gols, teve que contentar com um necessário 3x0, suficiente para classificar o Brasil na segunda colocação do seu grupo para a próxima fase. Valdomiro Vaz Franco, o Valdomiro do Inter, fez o gol salvador quando faltavam 11 minutinhos para terminar a partida contra o tal de Zaire. Ufa, que sufoco! Os cartões, que foram lançados no México continuaram. Pela primeira vez foi usado o vermelho para expulsar o chileno Carlos Caszely. Quando ele voltou para casa, Pinochet, também lhe mostrou o seu cartão vermelho. Proibiu o atleta de jogar no Chile. Mas a sensação da Copa ficou mesmo com a Laranja Mecânica do capitão Hendrick Jahannes Crujff, o Johan Cruijff. A seleção da Holanda passou a ser chamada assim por causa do filme de Stanley Kubrick, Clockwork Orange, de 1971, que os alunos do Estadual assistiram no ano seguinte no Cine Avenida. O Carrossel Holandês, pôs a rodar o Brasil, a Argentina, a Alemanha Oriental... e só parou de girar na final, diante da Alemanha Ocidental de Franz Beckenbauer. O Brasil contentou-se com o quarto lugar depois de perder para a Polônia, com um gol de Lato, aos 30 do segundo tempo. Como em 1966 na Inglaterra, ganhar em casa começava a virar moda. E a próxima copa seria na Argentina...
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Fonte FIFA e arquivo de jornais
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(continua)
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29 de junho de 2010

A taça do mundo é nossa! - XII, As feras do Saldanha

O cartaz da Copa do México já traduzia o estipo Pop para os anos 70

Vários colegas do Estadual saíram às ruas para festejar o tri.
Na foto, Marília Lo Iácono, Heloisa Beckman e Bayard Gonzaga
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Foi um gaúcho do Alegrete, da mesma terra de Osvaldo Aranha, Gildo de Freitas e Mário Quintana, que formaria a seleção do tri: João Alves Jobim Saldanha, o João Saldanha, o “João Sem Medo”. Maior crítico e porta voz do fracasso de 1966, quando denunciava a falta de um time base, Saldanha foi escolhido para convocar a seleção, em 1968, pelo outro João, o Havelange, presidente da CBD. Era preciso recuperar a confiança dos jogadores, dos dirigentes e dos torcedores na nossa seleção. Saldanha utilizou os times do Santos e do Botafogo, os melhores da época, e foi logo dizendo: Só vou convocar “feras”. Pronto. Neste momento surgiram As Feras do Saldanha. E não era somente um codinome. A seleção do João Sem Medo obteve aproveitamento de 100% nas eliminatórias. Os jogadores acostumados a atuarem juntos em seus times de origem, na seleção jogavam por música. Pelé, Gerson, Jairzinho, Tostão, Carlos Alberto, Rivelino... todos eles, verdadeiras “feras” do futebol brasileiro, numa época em que os jogadores brasileiros jogavam no Brasil. Mas ai... Médici, o general presidente, queria o Dario na seleção, João era militante do Partido Comunista... o caldo começou a engrossar. Não seria possível imaginar um comunista desembarcando no Galeão com a Jules Rimet no colo, e sem o Dario. Médici mandou, pelo outro João, recado para o Saldanha convocar Dario. O João Sem Medo respondeu: Diga ao presidente que ele escala seus ministros e eu escalo a seleção! Pronto, era o que faltava para derrubarem o João. O João que devolvera a auto estima para a seleção brasileira, o João que obtivera 100% de aproveitamento nas eliminatórias, o João que era comunista. Segundo o jornalista Carlos Ferreira Vilarinho, em seu livro Quem derrubou João Saldanha, Brito, que liderava o grupo, iniciou uma resistência com o apoio de todos os atletas. Menos de Pelé. Dona Tereza Bulhões, mulher do João, tirou da cabeça do Brito tal idéia. Faltavam só três meses para começar a copa, seria uma loucura. Ainda segundo Vilarinho, num almoço no Palácio das Laranjeiras, Médici e Dona Scylla, recepcionaram a seleção com o novo técnico que aceitara convocar Dario, às vésperas do embarque para o México. Ele falou particularmente com os jogadores e disse o que ele e o país esperavam de cada um deles. Sobre Everaldo, ele disse à Dona Scylla: “este vai representar o nosso Grêmio lá no México”. As feras do Saldanha (que não assinou as súmulas da Copa do mundo de 1970), não deixaram por menos. Ganharam todas, sem deixar dúvidas! Ganharam o tão esperado tri. Ganharam a Copa do México. A copa onde lançaram os cartões amarelo e vermelho; onde passaram a permitir as substituições de jogadores durante as partidas; onde houve transmissão direta de TV para todo o mundo, inclusive para o Brasil. Duas seleções bi campeãs foram para a final: Brasil e Itália. Era a última copa da Jules Rimet. Ela ganharia um dono definitivo. Em função disso, a comissão técnica italiana chegou a mostrar aos jornalistas que cobriam o mundial o lugar no avião onde a taça iria viajar... Mas a taça não embarcou no voo da Alitalia. Ela tomou um avião da Varig e veio para o Brasil. Veio para ficar. Os jogadores, entre eles Dario que não jogou nenhuma partida, chegaram ao Brasil no dia 23 de julho de 1970. Médici, não deixou por menos: decretou Feriado Nacional! Maluf, não deixou por menos: deu de presente a cada jogador tri campeão um fuca zero quilômetro comprado com o dinheiro dos contribuintes! Enquanto isso, o milagre brasileiro acontecia, embalado pelo Ato Institucional Número Cinco, pelo tri e pela censura total à imprensa. Ninguém segurava mais o Brasil. Afinal de contas, eram noventa milhões em ação!

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Fonte FIFA e arquivo de jornais

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(continua)

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28 de junho de 2010

Tinha que ser em Bagé! - Um aluno, um computador

Hoje inauguramos a série intitulada "Tinha que ser em Bagé!" Nela falaremos de coisas, de ontem e da atualidade, que, cá para nós, só acontecem mesmo na nossa cidade! Iniciamos com esta reportagem publicada na Zero Hora de hoje.


Leonardo Rodrigues Campos (à esquerda)
e Márcio poderão acessar a internet direto da escola
(Foto:Cristiano Lameira, Especial)

Bagé e Candiota inauguram
projeto federal de

inclusão digital no Estado

Objetivo é que cada instituição tenha um computador por aluno

Por Sancler Ebert

Os alunos de três escolas da região da Campanha não precisarão mais se revezar em frente aos computadores para acessar a internet a partir de hoje. As instituições de Bagé e Candiota serão as primeiras do Estado a colocarem em prática o projeto do governo federal que prevê a entrega de um aparelho para cada aluno.
Os laptops chegaram em maio nas escolas municipais Professora Reny da Rosa Collares, (*) de Bagé, e Santa Izabel e Neli Betemps, de Candiota. Agora, após o treinamento dos professores, passarão a ser usados em aula. A iniciativa atinge cerca de 900 alunos.
Márcio Messias Milano, 14 anos, estudante de Bagé, realizará o sonho de ter um computador somente seu.
– Meus pais teriam de fazer um sacrifício muito grande para comprar um computador para mim – revela.
De acordo com Iracilda Pacheco, diretora da Escola Professora Reny da Rosa Collares, a tecnologia permitirá a inclusão dos jovens no mundo digital. A princípio, os laptops serão usados somente na escola, até que os estudantes se habituem, mas depois poderão ser levados para casa.
– A maioria não tem computador em casa, e, a partir de agora, poderão aprender muito mais – diz Iracilda.
O projeto Um Computador por Aluno (UCA) prevê a distribuição de um laptop com acesso à internet para cada aluno e professor de educação básica das escolas públicas. O programa entregou 5.890 laptops para 14 escolas no Estado, em sua primeira fase. Até o final do projeto, serão entregues cerca de 150 mil máquinas a 300 escolas.
O Ministério da Educação instalou infraestrutura de rede sem fio, servidores e conexão entre os laptops. Já os professores receberam treinamento para operar os equipamentos.
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Nota do Blog (*) Reny da Rosa Collares foi professora do nosso Estadual.
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Sete meses

Jânio, o homem da vassoura, queria varrer a corrupção da politica...

...mas acabou renunciando, sete meses depois, escrevendo um último bilhetinho.

Sete meses de governo. Sete meses de Blog da Velha Guarda do Estadual. Esta é hoje a semelhança do nosso Blog com o governo do presidente Jânio quadros. O tempo de duração. Sete meses. Eleito em 3 de outubro de 1960, Jânio da Silva Quadros, governou o Brasil de 31 de janeiro a 25 de agosto de 1961, quando renunciou, alegando pressão de “forças ocultas” que o obrigavam a isso. Jânio elegeu-se pela coligação PTN, PDC, UDN, PR e PL com a maior votação conseguida até então por um candidato a presidente: 5,6 milhões de votos. Num sistema eleitoral onde se votava no vice separadamente, Jânio não conseguiu eleger Milton Campos, seu candidato de chapa, como vice-presidente. O povo preferiu votar na dupla Jan-Jan. Janio para presidente e João Goulart, o Jango do PTB, para vice. Jânio ficou conhecido como “o homem da vassoura” pois prometia varrer a corrupção da política brasileira. Polêmico e imprimindo um “estilo novo de governar”, despachava com seus ministros através dos famosos bilhetinhos. Jânio procurava se envolver em questões polêmicas para chamar a atenção do povo que o elegera, enquanto não conseguia varrer quase nada da velha política brasileira: proibiu as rinhas de galo, o lança perfume nos bailes de carnaval e o biquíni em concurso de miss. Condecorou Ernesto Che Guevara com a Grã Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, numa triangulação política complicada que envolvia o Itamaraty, a Santa Sé e a libertação em Cuba de padres condenados a morte... Mas, ai é uma outra história. Só lembrei disso agora, pois há exatos sete meses nosso Blog está “no ar”. Mas, ao contrário do Jânio, não estamos pensando em renunciar, pelo contrário, pretendemos ampliar nossas alianças, ajudar a varrer a sujeira da web e construir relações sólidas com os mais de 7.000 internautas dos 24 países que seguem nosso blog e que já o acessaram mais de 25.000 vezes! Ainda temos muito o que fazer pela nossa memória coletiva, pela memória do Carlos Kluwe, o nosso Colégio Estadual de Bagé. Como já vencemos a marca do Jânio, vamos em frente! Vamos tocando nossa vuvuzela pois alcançamos mais uma marca importante no nosso placar, marcamos mais um golaço em pleno mês de Copa do Mundo.

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27 de junho de 2010

No escurinho do cinema com Danúbio

Série Grandes Mestres começa com Danúbio, dia 27 de julho, em Porto Alegre
(Clique sobre as imagens para aumentar)

Trajetória artística, e momentos informais como este, fazem parte do filme

"O documentário sobre a vida e obra de Danúbio Gonçalves, produzido pelo cineasta Henrique de Freitas Lima, é um registro fundamental para as Artes Plásticas do Brasil, já que Danúbio é considerado o artista mais importante de nosso estado. Danúbio, além de dominar criativamente todas as técnicas, é pleno de grandeza. Repartiu seu talento com centenas de alunos por mais de 30 anos no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, realizou exposições e ganhou premios no Brasil e no mundo. Tem posicionado-se de forma crítica sobre o que hoje é considerado arte e seus lamentáveis e oportunos equívocos. O filme da série "Grandes Mestres", é uma justa homenagem a quem dedicou emoção, pesquisa e conhecimento, e sua insuperável vitalidade, à arte. Várias cenas foram gravadas no México mostrando a influência do gravador Leopoldo Mendez na criação do famoso Clube da Gravura de Bagé. Também possui cenas feitas em Torres, onde o artista passa férias e registra o Festival de Balonismo. Algumas cenas foram tomadas em Bagé. Uma delas, um bate papo entre Danúbio Gonçalves, Ito Carvalho e Heloisa Beckman."

Nota do Blog: Quando do nosso encontro da Velha Guarda do Estadual, no ano passado, a Secretaria de Cultura estava expondo uma série de trabalhos deste grande artista bageense.
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Enviado pela colega
Heloisa Beckman
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26 de junho de 2010

A taça do mundo é nossa! – XI, Um cãozinho chamado Pickles

O cartaz inglês apresentou o mascote Willie...

...que perdeu as atenções para Pickes, que foi até condecorado.

Bem, depois de ganhar o bi, sem Pelé, e com o Rei recuperadíssimo, ir à copa de 1966 na Inglaterra era só uma formalidade. Seríamos tri na casa da Rainha Elizabeth II. Era coisa de Rei para Rainha. Seria? Sim, na primeira partida já despachamos a Bulgária por 2x0, com gols de Pelé e Garrincha. Que barbada! O único problema que impediria o Brasil de ficar definitivamente com a Jules Rimet, é que ela tinha sido roubada da vitrine do Center Hall Westminster, onde estava à mostra junto com uma exposição filatélica. Mas ora vejam só !? Até hoje a Scotland Yard não sabe quem roubou a taça. Só sabe quem a achou. Um cãozinho, chamado Pickles, farejou-a enrolada em jornais, enterrada num jardim de um bairro londrino. Bem, se já temos de volta o nosso caneco, pensava a torcida brasileira, era só entrar em campo mais umas vezes. Mas a copa foi se complicando. O presidente da FIFA, o inglês sir Stanley Rous, parecia disposto a não permitir que os três favoritos ao título, Brasil, Uruguai e Argentina, fossem campeões em solo nobre. Os árbitros não marcavam faltas graves e a violência começou a tomar conta da primeira grande copa transmitida diretamente para 20 países pela Eurovision, ainda que empobrecida pelo boicote das seleções africanas, garfeadas depois de classificadas pela sua confederação, pela FIFA de Rous. O primeiro mascote de uma competição esportiva, o leão Willie, queria mesmo abocanhar o título para a seleção inglesa. A cada partida, mais violência por parte dos jogadores, e mais benevolência por parte dos árbitros, principalmente os ingleses. Em algumas partidas, jogadores eram expulsos em demasia, como no jogo Alemanha e Uruguai, onde o árbitro inglês, Jim Finney, expulsou Horácio Troche e Hector Silva para que a Alemanha pudesse, ai sim com facilidade, vencer de 4x0. Foi assim na segunda partida em que perdemos para a Hungria por 3x1. Bateram muito num Pelé escaldado de lesões. Na última partida da primeira fase, com um excessivo número de faltas contra os jogadores brasileiros, Portugal ganhou por 3x1, quando Euzébio, depois de um gol de Simões, ainda nos fez mais dois. O Brasil estava fora. O Brasil não passara da primeira fase. O Brasil, bicampeão mundial de futebol, não seria mais tri. E Pelé, de novo, só faria UM gol numa copa, na copa da Inglaterra, organizada pelo inglês, presidente ditador da FIFA, sir Stanley Rous. A partida final entre Inglaterra e Alemanha também foi muito conturbada. Após um empate em 2x2 no tempo regulamentar, uma bola chutada na trave por Goff Hurst, rebateu sobre a linha e o árbitro suiço validou o gol inglês. Um gol de uma bola que não entrou e que desequilibrou a partida. Os ingleses até fizeram mais um, ganharam por 4x2. O título era inglês, não tinha como não ser. As imagens do cinema, que os guris do Estadual viram depois, mostravam que a bola realmente não entrou. Mostravam também Alcindo Martha de Freitas, o Alcindo do Grêmio, chorando sentado no gramado, a cada vez que perdia um lance, um chute a gol... Era muita imaturidade para uma seleção que tinha ido apenas cumprir o carnê. Nem o boato de que os coreanos trocavam de time no intervalo das partidas, nem a história do cãozinho Pickles, foram suficientes para tirar das nossas cabeças a dura realidade de termos sido eliminados ainda na primeira fase. Era o fim! Era o fim para os bicampeões de 58 e 62, era o fim da democracia, era o fim da liberdade, era o fim das eleições diretas. Dizem que Castelo Branco, o general que assumira o governo em 1964 com o golpe militar, até queria convocar eleições (?) em 1966 e para isso transformou o Congresso em Assembléia Constituinte, em 13 de dezembro, para que decidissem isso. Mas seus colegas militares não deixaram. Como no futebol, eles queriam o mesmo que sir Stanley Rous: ficar com o “título”, ficar mandando, e com muita, muita, prorrogação.
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Fonte FIFA e arquivo de jornais
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(continua)

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24 de junho de 2010

75 anos sem Gardel

Gardel nos deixou há 75 anos... mas continua "cantando cada vez melhor"

Amigo e leitor deste Blog, o Dr José Maria Del Rey Morató(*), lembra que num dia como hoje, em Medelin, morreu em um desastre aéreo o maior cantor de tangos de todos os tempos: Carlos Gardel. Aliado, como pode se comprovar, à ideia de que Gardel nasceu em Tacuarembó, no Uruguai, ele relata isso lembrando uma conversa que teve com sua avó, há muito tempo atrás. Dr Del Rey envia este texto ao Blog do Estadual e esperamos, que com ele, inaugure uma serie. Nosso Blog já está mesmo ultrapasando as fronteiras.
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"El jueves 24 de junio se cumple un nuevo aniversario de la muerte de Carlos Gardel, ocurrida en el accidente de aviación del 24 de junio de 1935 en Medellín, Colombia. Recuerdo una conversación con mi abuela que tuvimos hace medio siglo, en 1960. Se cumplían veinticinco años de la tragedia y andaba en la vuelta o había empezado a moverse, no recuerdo con precisión, la cuestión de la nacionalidad de «El Mago», en distintos países, fechas, sus madres y sus padres: ninguna de sus combinaciones posibles conformaba a todos. Las posiciones principales decían que «El Zorzal criollo» era francés o uruguayo, pero mientras muchos preferían que «El Mudo» siguiera siendo francés, algunos pocos investigadores sostenían que «El bronce que ríe» había nacido en Uruguay, en Tacuarembó. Gardel, para los que decían que era francés, habría nacido en 1890 y, en cambio, para los que decían que era uruguayo, en 1883. En 1885 nació mi abuela. Por lo tanto, ella y el famoso cantor nacido en 1883 o en 1890 eran de la misma época. Mi abuela –aclaro– era bien predispuesta hacia todo lo que fuera francés, más allá de que los bebés venían de París. Había estado en Francia varias veces, educó a sus seis hijos con institutrices francesas, en su casa se hablaba francés. Ella había heredado de su padre un campo en las costas del Queguay, en el Este del departamento de Paysandú, a unas veinte leguas de Tambores. En 1960 yo visitaba a mi abuela todos los domingos, almorzaba con ella y conversábamos. Tenía entonces setenta y cinco años. Un día me dio por sacar el tema del nacimiento de Gardel. –¡Qué va a ser francés! –escuché para mi sorpresa– Nació cerca de Tambores en unos campos de Tacuarembó… –¿Cerca de Tambores, en Tacuarembó¿ ¿Estás segura? –supongo que le pregunté. –Sí. El padre de Gardel y Papá eran conocidos, correligionarios. Hubo un problema en esa familia… pero de esas cosas no se habla. No se debe hablar, ¿sabés? De esa charla me quedó la reserva de los detalles. Pero me la juego: mi abuela no podía mentirme aunque no me dijera todo. Por lo tanto, para mí, Carlos Gardel nació en Tacuarembó."
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José Maria Del Rey
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(*) José Maria Del Rey Morató, é advogado, professor e jornalista. Reside atualmente em Atlántida, no Uruguai, e já escreveu diversos livros técnicos. Hoje dedica-se à literatura escrevendo contos e memórias. Publicou Llevo cuentos, Escritura sin frontera, La valija, Vidas Y Leyendas en la costa del Queguay
, entre outros títulos, que lhe renderam vários prêmios literários.
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A taça do mundo é nossa! - X, A Copa sem Pelé

O Chile, reerguido de Valdívia, organizou a copa do nosso bi...

...onde era cobrada de Pelé uma atuação digna de Rei.

Foi no Chile, em 1962, que a Copa do Mundo começou a ganhar a mídia de televisão. A Europa só não pode vê-la, ao vivo e em preto e branco, pois o satélite de comunicações Telstar foi lançado um pouco depois. No entanto, no Brasil as fitas com os “vídeo-tapes” eram mandadas pelos aviões da - Varig Varig Varig, e a TV passava os jogos já no dia seguinte. Na Europa isso acontecia dois dias depois. As transmissões pelo rádio comandavam o espetáculo mas tudo podia ser conferido logo em seguida na televisão. Uma grande novidade. Os ingressos, todos apresentando os preços em dólares, na final foram vendidos por dois valores: U$ 2,20 e U$ 5,00. A frase que resumia a realização da competição no Chile, ainda sofrendo os efeitos do terremoto de Valdívia, em 1960, foi pronunciada num discurso, pós catástrofe, pelo brasileiro, naturalizado chileno, e presidente da Confederação Chilena de Futebol, Carlos Dittborn: “Porque nada tenemos, lo haremos todo!” Essa frase teria convencido a Fifa da capacidade dos chilenos de, reerguidos do sismo, realizar a Copa sem problema algum. O Brasil, campeão em 58, era uma euforia só. Várias emissoras de rádio, patrocinadas por inúmeras marcas comerciais, lançaram dezenas de concursos com o mote: “Quantos gols Pelé marcará na Copa de 1962 ?”. Depois de nascer Pelé, em 1958, o não mais garoto Édison, era a nossa maior estrela. A imprensa cobrava muito, o Santos Futebol Clube cobrava muito e os torcedores cobravam mais ainda. No dia marcado, 30 de maio de 1962, em vários estádios ao mesmo tempo, começou a copa do Chile, a Copa da consagração do recém iniciado reinado de Pelé, o Rei do Futebol. E nesse dia já ganhamos do México por 2x0, com um magnífico gol de Pelé. O que ninguém esperava, entretanto, é que na segunda partida da primeira fase, jogando contra a Tchecoslováquia, com uma regra que não permitia banco, portanto, sem substituições, o nosso Rei sofresse uma contusão na coxa e ficasse de fora da copa da sua consagração. Ele tentou permanecer no jogo, mesmo contundido, auxiliando os colegas no posicionamento em campo que, diante de tamanho desastre, só conseguiram manter um digno empate em 0x0. “É incrível, torcida brasileira, o Rei do Futebol, o Rei Pelé, está sendo retirado de campo, mancando” - dizia com a voz embargada o locutor da Rádio Guaíba. E nós, que só falávamos no Estadual que esse era a copa Dele, ficamos mudos, ouvindo a narração emocionada do locutor informando que a nossa esperança do bi, saía, se arrastando numa perna só, do estádio Sausalito em Viña Del Mar. O café com Bolachas Vênus, que a mãe servia para nós naquele fim de tarde, daquele triste dois de junho, foi ganhando um gosto salgado pois as lágrimas que escorriam do rosto misturavam-se ao leite na xícara azul de louça águeda... Era o fim do sonho. O Rei estava "morto". Não havia herdeiro pra aquele trono.

Mas ai chamaram o príncipe, o Amarildo, com a enorme tarefa de substituir o Rei lesionado... E ele o fez. De cara, no terceiro jogo da nossa seleção, o primeiro sem Pelé, Amarildo fez os dois gols na vitória apertada contra a Espanha, por 2x1. Estávamos na segunda fase! Ainda que sem Pelé. Na partida das quartas de final, Brasil x Inglaterra, um cãozinho entrou em campo e driblou até o craque das pernas tortas, o Garrincha. Foi um jogador do English Team, Jimmy Graves, que "hipnotizou" o cão e, ficando “de quatro” no gramado, segurou firme o animalzinho tirando-o de campo. Que presságio!!! Vamos perder!!! Que nada, ganhamos dos ingleses de 3x1. E fomos avançando. Sem Pelé. No dia 13 enfrentamos a seleção "dona da casa". Fizemos 4x2 sem maiores cerimônias. E esse escore nos levou à final com a.... Tchecoslováquia, de novo! Não! Mas ai eram 11 contra 11. Sem Pelé, ganhamos com Amarildo, com Garricha, Vavá, Didi, Nilton Santos...

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Carlos Dittborn, não viu a copa que organizou, teve um infarto e morreu um mês antes do início. Como disse: “por não termos nada, vamos fazer tudo”. E ele levou ao pé da letra sua frase. Deu a sua vida para que saísse a Copa do Chile. O estádio de Arica recebeu seu nome ainda antes de iniciar a Copa de 1962, a Copa em que ganhamos o bi, a Copa onde Pelé, para desespero de todos os apostadores, fez apenas UM gol.


Fonte Fifa, Arquivo Público Municipal de Bagé e arquivo de jornais.


(continua)


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23 de junho de 2010

Exposição "Dois Séculos do Cotidiano em Bagé..." com data marcada

A primeira etapa do projeto apresenta "Imagem, Poesia e História"

Heloisa Beckman, presidente do IPHTT, manda para o Blog o convite para a exposição Dois Séculos do Cotidiano em Bagé - Imagem, Poesia e História. A Abertura da exposição se dará no dia 13 de julho, às 19horas, e permanecerá aberta à visitação na CCPW até dia 5 de agosto. Marquem em suas agendas, o frio de Bagé espera todos os colegas do Estadual... A exposição é uma realização da Prefeitura de Bagé, Secretaria Municipal de Cultura, Casa de Cultura Pedro Wayne e Núcleo de Pesquisas Históricas tarcisio Taborda. Apoio CULTURASUL e Grupo Teatral de Santa Thereza.
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22 de junho de 2010

A taça do mundo é nossa! – IX, Do couro de boi à Jabulani

(Imagem do globoesporte.com)
A Bola de couro de boi, costurada à mão, que conheci...


...frequentando a Casa Rodrigues, de propriedade do Cônsul do Uruguai em Bagé.
Anúncio publicado num rodapé do jornal Correio do Sul de 18 de fevereiro de 1948.
(Coleção do Arquivo Público Municipal. Clique na imagem para obter maior resolução)

Foi frequentando a loja onde meu pai trabalhava, a Casa Rodrigues, do uruguaio Martimiano Rodrigues Baisón, que conheci as primeiras bolas de couro. Indo ou vindo para o Estadual, sempre achava um motivo para passar por ali e me maravilhar com tudo o mais que era vendido na tradicional loja, além das "pelotas de cuero". Lembro perfeitamente que eram feitas de couro de boi e oferecidas em tamanhos que variavam do Um ao Cinco. A número Cinco era a profissional, a que era usada pelo Guarany Futebol Clube e pelo Grêmio Esportivo Bagé. No início eram bolas "de tentos" (tiras de couro), com doze gomos, e, em um deles havia uma abertura, para ser fechada com um cadarço, por onde se enchia a bola. O pneumático de borracha vermelha era provido de um canudo por onde se injetava o ar. Depois de dar a pressão adequada, ele funcionava como um cordão umbelical. Era dobrado e atado com uma piola de algodão trançado. Fechado o gomo do cadarço, a bola estava pronta para entar em campo. Por vezes, esse gomo, ficava com uma bochecha de dente inchado e deixava a bola em condições ideais para tentar o famoso chute da "folha seca", imortalizado por Didi, um dos campeões de 58. A Casa Rodrigues também vendia esporas e facas de pura prata, ponchos de lã, lenços e palas de seda. Malas de garupa, guaiacas e sapatos. Fabricava botas estilo uruguaio, além de vender selas, serigotes, sinchas, correias, laços de 30 braças e todo e qualquer tipo de argola para os artesãos do pampa gaúcho fabricarem toda sorte de apetrechos para a lida do campo. Martimiano também era o Cônsul do Uruguai em Bagé, e ali, na Casa Rodrigues, era possível para um chiquelin como eu, desfrutar, desde cedo, do convívio de uma cultura irmã, de uma língua diferente. Ali eu aprendi que as fronteiras não faziam sentido para os homens de paz, os homens verdadeiramente grandes e verdadeiramente homens. Era tudo uma terra só, a linha divisória era uma invenção dos colonizadores e, definitivamente, me senti um guri do pampa. Aqueles niños uruguaios, que eu seguidamente encontrava ali, e platicava con ellos, eram como eu, do Pampa Gaúcho. E, como todos gaúchos fronteiriços, aprendemos desde cedo que Em la Pampa no hay frontera... Depois das bolas de tento, de cordão umbelical e cadarço, vieram as bolas com válvulas de nylon, que não ficavam ovais, e dificilmente perdiam a pressão. Elas se juntaram àquelelas outras, do enorme cercado de madeira, lá da Casa Rodrigues, onde além das bolas para futebol, também conheci as bolas de rugby, tênis, basquete, salão, e aquelas usadas pelos boxers para treinarem seus diretos de esquerda e direita. Ai veio a transmissão do futebol pela televisão, e não se enxergava a bola... então, a bola que era marrom, da cor de uma bota ou sapato, ficou branca, depois branca e preta, como a dos os famosos gomos pentagonais da Copa do México. A bola do nosso tri foi a primeira a recebar nome oficial: Telstar. Depois veio a Tango, em 78, a Azteca, em 86, a Etrusco, em 90, a Questra, do tetra, em 94. Sempre em preto e branco. Na França, em 98, ela deixou o contraste de lado, e iniciou a sua fase em cores. A Tricolore, que lembrava Liberté, Égalité, Fraternité, deu o título aos donos da casa. Em 2002 ganhamos o penta com a Fevenova, e em 2006 tivemos o espírito de equipe alemão com a Teamgeist. Hoje temos a multicolorida Jabulani, com 11 cores, que lembram os 11 jogadores, os 11 idiomas oficiais da África do Sul e as 11 tribos que formaram o País. A bola foi feita como o mundo: redondo, com gomos sem divisões. São "gomos" que, unidos, formam uma esfera, e não a separam, ao contrário, formam uma bola sem fronteiras. Quem separou o mundo em "gomos que desunem" foram os homens menores, com agá minúsculo. Foi assim com a África. A divisão artificial foi a forma que os colonizadores brancos inventaram para dominar, para explorar e para escravizar as nações africanas. Criaram fronteiras e pátrias inexistentes no coração dos povos de nossa mãe primeira, de nossa Mama África. Por isso, essa é a copa do Continente Negro, da África, não só do país África do Sul. Por aqui foi mais ou menos a mesma coisa. Criaram fronteiras no nosso Pampa Gaúcho. Mas, como diz nosso poeta maior, Jayme Caetano Braun, "... eu já estava tomando mate quando a pátria amanheceu..." A seleção da África do Sul "já foi para casa" mesmo estando em sua casa. Não foi adiante. Mas muitas outras nações irmãs continuam na Copa de 2010. Na copa da Jabulani. Cada vez que ela é chutada em direção ao gol, as vuvuzelas fabricadas na China tocam alto para tormento dos ouvidos mais sensíveis. Vamos lá. A copa de todas as nações está indo para a fase seguinte. Seja o leitor um descendente de Don Guasque, como o Gerson Oliveira, ou seja o português Ferreira, fã de Cristiano Ronaldo, ou uruguaio como Damián Gonzales ou José Del Rey, torcedores de Diego Forlán, chinês, russo, norte-americano ou qualquer outro descendente de Lucy, como um dos 7.000 internautas dos 24 países que nos seguem: esta é a copa de todos nós. É a copa da alegria e da confraternização mundial através do futebol. Não há lugar para tristeza. Só quando o goleiro "engole um frango." Mas, cá para nós, quem é que quer ver um goleiro se dar bem?
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Clique aqui e assista neste vídeo, as complicadíssimas etapas de fabricação da já famosa Jabulani. Fácil, mesmo, deve ser fabricar uma vuvuzela...
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Fonte: Fifa e arquivo de jornais
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(continua)
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21 de junho de 2010

A taça do mundo é nossa! - VIII, Herói de dois mundos

Schlee falando na Palavraria sobre o seu último livro
"Os limites do impossível - Contos gardelianos",
lançado na Feira do Livro de Porto Alegre em 2009.

(Foto de Carla Osório)

O Blog da Velha Guarda do Estadual reproduz hoje o artigo das jornalistas da Folha de São Paulo, Thaís e da Anna Virginia, sobre o criador da Camisa Canarinho, publicado na Folha, deste dia 20, e no Blog ARdoTEmpo, intitulado Herói de dois mundos.

Herói de dois mundos

Torcedor do Uruguai, criador do uniforme da Seleção Brasileira: Aldyr Garcia Schlee

Dona Marlene, 75, está revoltada. Desde que conheceu seu marido, há quase 55 anos, é a mesma história: chega a Copa do Mundo e Aldyr está lá, com o coração na mão pela seleção que, em 1950, tirou do Brasil o sonho do primeiro título. Aldyr Garcia Schlee, 75, criou há 57 anos a camisa verde e amarelo da seleção - um dos mais eficientes cartões de visita brasileiros, da Palestina aos Alpes suíços. Mas ele vai torcer pelo Uruguai, como faz desde que se entende por gente. Nada de birra, garante.

É que Aldyr nasceu em Jaguarão, cidade do Rio Grande do Sul que faz fronteira com o país vizinho, e cresceu "escutando na rádio tangos, boleros e notícias do Uruguai". Ele morava em Pelotas (RS) quando, aos 19 anos, soube do concurso aberto pelo extinto jornal "Correio da Manhã". O desafio: dar nova cara ao uniforme da seleção brasileira, até então azul e branco.

O jovem Aldyr correu para comprar "umas tintas gouaches holandesas, que foram pagas em prestações por quase um ano". E começou a rabiscar. Usar as quatro cores da bandeira no uniforme era uma das exigências da CBD (Confederação Brasileira de Desportos, antepassada da CBF). Um horror para Aldyr, já que "isso, quatro cores, não é uma tradição no futebol mundial". Para driblar o regulamento, ele decidiu "despejar o azul e branco nas meias e calções". A ideia colou. Reza a lenda que o modelo repaginado serviria para tirar a zica daquela derrota para o Uruguai no Maracanã. "Não é verdade. É preciso desmentir isso", diz. "Tanto que o Brasil perdeu em 1954, na Suíça".

No dia 15 de dezembro de 1953, o "Correio da Manhã" reproduziu pela primeira vez o modelo canarinho.O vencedor recebeu convite para estagiar como ilustrador no jornal, "uma bolada que dava para comprar um carro popular" e "uma cadeira 'perpétua' no Maracanã". Pouco depois, Aldyr foi entregar sua criação aos jogadores.

Na vez de Zizinho, craque do Bangu, escutou o que até hoje considera "a maior definição" para o esporte."Como torcedor, encaro futebol com paixão. Mas tenho certeza de que, em épocas de amadorismo ou hiperprofissionalismo, nada mais certo do que a frase do Zizinho: 'Futebol é uma merda'".

Toda Copa ele faz sempre tudo igual. Com um mês de antecedência, começa a confeccionar um livrinho da Copa, uma espécie de álbum de figurinhas artesanal. Nele, registra todos os resultados, desenha a carinha dos jogadores de cada seleção e anota impressões gerais sobre o torneio. Ele e a mulher acompanharão todos os jogos - na primeira fase, são três por dia, ou 270 minutos diários de futebol.

Aldyr não gostou da escalação de Dunga. Mas não viu tanto problema no técnico ter deixado Neymar de lado na hora de montar a equipe. Garrincha, afinal, também ficou de fora em 1954. Quatro anos depois, deu no que deu. De 1953 para cá, Aldyr foi rebatendo todas as bolas que a vida lhe jogou. No passado, dividiu plantões de trabalho e mesas de bar com ilustres do jornalismo, de Samuel Wainer a Nelson Rodrigues. Também foi professor de direito internacional. Por conta disso, na metade dos anos 1960, virou persona non grata para a ditadura.

Chegou a ser banido de uma faculdade no Rio Grande do Sul por três anos, acusado de "atividades filocomunistas", segundo documento que afirma ter recebido em 1965. Tudo intriga da oposição, já que mexer com política não era a dele, garante Aldyr. Afirma, contudo, diz ter abrigado em seu apartamento de Pelotas algumas "cabeças a prêmio" do regime militar. No começo daquela década, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (região Sul) por uma matéria, sobre combustível mineral, que entusiasmou o presidente João Goulart . A década de 1980 lhe rendeu dois prêmios na Bienal de Literatura.

Escritor criativo e de muita produção, Aldyr tem duas gavetas cheias de livros de sua autoria, com temas que vão de contos de futebol a uma suposta "identidade secreta uruguaia" de Carlos Gardel (Os limites do impossível - Edições ARdoTEmpo, 2009) Vive num sítio em Capão do Leão (perto de Pelotas). Numa parede da casa, a plaquinha da "Rua Uruguai". Dona Marlene nem esquenta a cabeça: prefere jogar na cara do companheiro a vitória contra o Uruguai, de 4 a 0, nas eliminatórias 2010.

Thaís Bilenky e Anna Virginia Balloussier - Publicado na Folha de São Paulo (desde Capão do Leão RS)

(continua)

20 de junho de 2010

A taça do mundo é nossa! – VII, Maugeri, Müller, Sobrinho e Dagô

Football, Futbol, Fussball - como chamaram
no cartaz da Suécia - é com o Brasil
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Muitos são os jogadores que podem nos lembrar da copa da Suécia. Muitos foram os craques de 58. Muitos foram os primeiros Campeões do Mundo. Mas um deles, Edison Arantes do Nascimento, que naquela copa nasceu Pelé, foi o único que se tornou rei. Rei do futebol. Reinou jogando, e reina até hoje, quando o mundo lembra das suas jogadas de craque, do seu primeiro gol em copa do mundo, do seu milésimo gol, do seu último gol, dos seus 1.284 gols marcados ao longo da sua carreira. No Santos, na Seleção, no New York Cosmos... A nossa seleção, novamente usando a Camisa Canarinho, partira para a Suécia confiante, mas levando um jogador muito jovem que certamente nem jogaria. Ele tinha 16 para 17 anos e cumpriria seu papel de reserva de Dida, que já jogara como titular algumas partidas, enquanto o guri se recuperava de lesões no tornozelo e joelho. O tratamento da época, segundo ele, era na base do contraste: toalha quente e balde de gelo... o joelho do guri, que era chamado por Zito de Gasolina, era uma bolha só. Ele não gostava de ser chamado de Pelé, e preferia o apelido dado por Zito, Gasolina, por correr muito dentro de campo. Mas... Edison acabou virando mesmo Pelé. E virou definitivamente no dia 29 de junho de 1958, quando em Bagé o relógio marcava 10 horas da manhã. Pelos microfones da recém inaugurada Rádio Guaíba de Porto Alegre, os narradores gritavam: O Brasil é Campeão Mundial de Futebol!!! Os alunos do Estadual puderam ver depois, na edição especial da revista Sétimo Céu, as fotos do menino Pelé chorando no ombro de Gilmar. Ele acabara de realizar a promessa feita ao seu pai, Dondinho, em 1950, enquanto ele chorava a derrota da seleção no Maracanã: ser campeão do mundo de futebol. E foi nesse embalo que os compositores Maugeri, Müller, Sobrinho e Dagô, compuseram a música que até hoje lembra esse fato:

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A taça do mundo é nossa!

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A taça do mundo é nossa
Com brasileiro não há quem possa
Êh eta esquadrão de ouro
É bom no samba, é bom no couro

O brasileiro lá no estrangeiro
Mostrou o futebol como é que é
Ganhou a taça do mundo
Sambando com a bola no pé
Goool!

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Nota: Algumas fontes citam 1282, outras 1285, os gols que Pelé marcou. Não importa muito quantos tenham sido. Foram todos gols de craque.

(continua)

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Fonte FIFA e arquivo de jornais

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19 de junho de 2010

O ano da morte de José Saramago

O Nobel de Literatura José Saramago e Pilar Del Rio
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Luto em vermelho
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Helena Ortiz
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"A amiga me liga pela manhã para me contar. Foi assim que eu soube, por telefone, como se recebe a notícia da morte de um parente. Estamos viúvas, ela disse, e chorava. Mas eu sou forte, ainda consegui dizer à doutora que não tomo remédios, não tenho deficiência física e a pressão é boa. E daí, o que importava isso? José Saramago estava morto, e eu pensava primeiro no mundo, depois em Pilar del Rio, porque a ela sim foi dada a sorte de ter se tornado a amada do escritor. Foi para ela que ele escreveu a mais linda dedicatória que já vi: "A Pilar, como se dissesse água". E será ela, certamente, quem mais sentirá a falta dele.
Temos os livros, e a eles voltaremos quantas vezes quisermos. Ela não. Não mais a convivência em Lanzarote, não lerá os originais em primeira mão, não trocará com ele as carícias possíveis, não recolherá os silêncios em que trabalhava.
Para nós foi-se o grande escritor, um humanista que se teimava comunista, o anti-clerical por natureza (e acho que se divertia com isso). Um homem de talento, mas de igual coragem, que se aprendeu e se fez homem em condições difíceis, sem nunca esquecer. Mas para ela foi-se não só o grande escritor, o homo politicus que apontava os vícios neoliberais, o desvario belicista, a intolerância, foi-se o homem que amava, deixando mudos os espaços do entendimento, a casa, a sala, a cama, a intimidade. Escrevo isso porque uma das coisas que mais me chamava atenção na obra de Saramago era sua consideração pelas mulheres, pelo sentimento feminino que tão bem apreendeu, pela importância que reconhecia e conferia à mulher. Daí porque imagino com que delicadeza devia tratar sua Pilar.
Depois pensei em mim, na minha própria tristeza, na certeza de saber que perdi aquele que era meu deleite, fonte de compreensão, orgulho da espécie, que eu sempre achei que o artista deve ter um papel político, deve dizer o que pensa, deve assumir o que sente. Ele era assim. E quem mais? Me diga por favor que eu quero saber.
Em casa, não pude fazer mais nada que pensar, pensar em que talvez o poema de Idea Vilariño postado há dois dias, Pobre Mundo, tenha vindo ao encontro desse acontecimento tão temido, tão indesejado e tão previsível. Que ao morrer o escritor, o poeta, o incansável lutador, nossa voz ficou ainda mais fraca porque era ele, com sua coragem e lucidez, que nos abria os olhos para os equívocos dos caminhos obscuros que aceitamos percorrer.
E então fui à cozinha, e chorando sobre pimentões vermelhos e berinjelas pensei no luto vermelho daqueles que não podiam nem chorar, que precisavam se esconder para prosseguir, calar a respiração a bem de se manterem vivos, retrair-se para avançar, e sempre engolir o choro. Agora podemos chorar alto, falar palavrão, reacender as dúvidas. Mas porque aprendemos (ou ainda não?) a lição de Saramago: "Já estamos a viver neste planeta como sobreviventes. A cada dia que amanhece temos que fazer o possível para sobreviver. E devemos fazê-lo como insurgentes sistemáticos". Talvez assim descubramos, cada um de nós, o segredo da
ilha desconhecida
."
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(*) Helena Ortiz, que não estudou no Estadual, edita o blog Integrada e Marginal e a revista eletrônica Panorama da Palavra. Já recebeu várias premiações literárias e publicou mais de uma dezena de livros, entre eles, Azul e sem sapatos, O silêncio das xícaras, Margaridas e Sol sobre o dilúvio. Mora atualmente no Rio de Janeiro.
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18 de junho de 2010

A taça do mundo é nossa! – VI, “Das Wunder von Bern”

No cartaz suiço, a bola que vence o goleiro
parece aquela chutada por Rahn na final

Os rascunhos de 1953 que Schlee guarda até hoje

A história da copa de 1954 não precisa ser contada. Basta que se assista o filme Das Wunder Von Bern (O milagre de Berna), produção alemã de 2003, do diretor Sönke Wortmann. As duas histórias narradas no filme têm por cenário a Copa da Suíça. Uma acompanha um casal de jornalistas que cobre a competição; a outra é sobre uma família que, como a Alemanha, foi brutalmente partida em dois pedaços no fim da segunda guerra. A sede do evento esportivo foi na neutra Suíça, endereço da então cinquentenária FIFA. Essa foi também a primeira copa do Estadual. O Brasil, exorcizando os azares passados do uniforme branco, fazia a estréia em copa do mundo da Camisa Canarinho, desenhada em 1953 por um guri de Jaguarão, o meu amigo Aldyr Garcia Schlee. No entanto, nossa seleção chegou somente às quartas de final, onde foi sumariamente derrotada por 4x2 pela fortíssima Hungria, do craque de todos os tempos, Ferenc Puskás. Na semi final ela confirmou o seu favoritismo despachando o campeão do Mundo de 1950, o Uruguai, pelo mesmo contundente placar. O fornecedor do material esportivo da Alemanha, a Adidas, lançou na copa da Suíça a chuteira de agarradeiras removíveis. Como na Fórmula 1 moderna, a seleção alemã dispunha de “pneus de chuva” e “pneus para pista seca”. Isso deve ter ajudado muito pois choveu durante o dia fazendo um “Fritz-Walter-Wetter” (tempo de Fritz Walter), já que os torcedores alemães acreditavam que o capitão da sua seleção, Fritz Walter, jogava melhor em campo molhado. As chuteiras criadas por herr Adi Dassler, deveriam então fazer a sua parte. A Hungria, aplicadíssima, ignorando as variações climáticas do dia e o desempenho das novas chuteiras da adversária, tratou logo no início do jogo de marcar 2x0, com gols aos seis e aos oito minutos. No entanto, os alemães conseguiram reagir e empatar ainda no primeiro tempo. Numa segunda etapa muito tensa, as duas seleções jogavam a vida naquela partida. Já quase ao final do jogo, um popular narrador esportivo alemão, Herbert Zimmermann, ao ver o jogador Rahn com a bola ainda no seu campo, teria gritado ao microfone em meio a total emoção: “...aus dem Hintergrund müsste Rahn schieβen”, (...chute ai do meio da rua, Rahn). Como se ouvisse o apelo desesperado do narrador, ele chutou. A bola saiu do pé de Rahn e foi inexoravelmente fazendo uma trajetória perfeita até vencer a meta defendida pelo goleiro húngaro, Grosics. A torcida foi ao delírio quando ainda faltavam seis minutos para o encerramento da partida no Wankdorf Stadium. A Alemanha, agora dividida em duas, conquistava seu primeiro título mundial, sem poder contar com os atletas que haviam ficado do lado oriental do muro. Foi um verdadeiro milagre! Um milagre em Berna. Já o nosso milagre só aconteceria quatro anos mais tarde, em Estocolmo. (continua)
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Fonte: FIFA e arquivo de jornais.
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17 de junho de 2010

A taça do mundo é nossa! – V, O maracanaço

O cartaz da Copa de 1950 parecia já mostrar
o Brasil "pisando na bola"

"Eu seguia pelo túnel, em direção ao campo.

A saída do túnel, um silêncio desolador havia tomado o lugar de todo aquele júbilo.

Não havia guarda de honra, nem hino nacional, nem entrega solene.

Achei-me sozinho, no meio da multidão, empurrado para todos os lados,

com a Copa debaixo do braço"


Jules Rimet, presidente da FIFA

L’ histoire merveilleuse de La Coupe Du Monde

Union européenne d’éditions, Paris,1954


As palavras de Jules Rimet, em seu livro de memórias, dão exatamente a dimensão da tragédia vivida pelos quase 200 mil brasileiros que assistiram, em pleno Maracanã, a derrota da nossa seleção para o Uruguai por 2x1 na final da Copa do Mundo do Brasil, em 1950. Não havíamos perdido apenas a copa. Perdíamos também a alegria, a esperança e a fé na nossa seleção. Após a década de 40, quando a FIFA interrompeu a realização dos mundiais, o retorno do campeonato, agora disputado em nossa casa, seria a oportunidade real de sairmos daquele modesto terceiro lugar conquistado na França para um título de campeão mundial de futebol. A taça já havia inclusive sido batizada de Jules Rimet, na convenção da FIFA de 1946, em homenagem ao homem que, ao final da história, presidiria a Federação Francesa de Futebol por 26 anos e a da FIFA por outros 33, monsieur Rimet. Foi construído o estádio do Maracanã, o maior do mundo, vieram até o Brasil, um total de 13 seleções das 32 inscritas para as eliminatórias. Vários estados sediariam os grupos. Em Porto Alegre, o Estádio dos Eucaliptos foi o palco para o México jogar e perder para a Iugoslávia e a Suíça em duas partidas que tiveram público de 11 mil e três mil e quinhentos espectadores respectivamente. Por muito tempo as goleadas do Brasil sobre a Suécia, 7x1, e sobre a Espanha, 6x1, foram as maiores em copas do mundo. Esse era mais um motivo para crer que nada nos tiraria a taça. Só esses 13 gols das duas partidas nos davam uma enorme vantagem sobre a seleção com que jogaríamos a final, o Uruguai. O Rio de Janeiro tinha à época, dois milhões de habitantes. É possível dizer que, de cada 10 pessoas, uma delas foi ao Maracanã naquela tarde. Após um primeiro tempo empatados – o que garantia o título ao Brasil, logo ao início da etapa complementar, aos dois minutos, Friaça fez 1x0 para o estádio inteiro explodir de emoção. O presidente da FIFA já sabia o protocolo da entrega da taça. Um guarda de honra, formada a partir da entrada lateral do gramado, até o centro do campo, veria passar o presidente da entidade maior do futebol mundial, Jules Rimet, com a taça que agora levava o seu nome. Ele deveria só esperar a execução do hino e entregar o troféu para o capitão do selecionado brasileiro. Aos 21 minutos, Schiaffino empata. Tudo bem, esse resultado não muda em nada o protocolo. Milhares de lenços brancos saúdam os novos campeões mundiais... porém, aos 34 minutos, numa bola saída pela direita, tal qual no jogo contra a Suécia, Ghiggia vence Barboza e faz o dos uno que transformou toda aquela alegria, toda aquela festa e toda aquela emoção, no dia mais triste do nosso futebol. O dia do Maracanazo, que foi como os uruguaios batizaram esse feito. Lá no Estadual sempre se comentou muito sobre essa copa que perdemos em casa, a copa que deixamos escapar. Encerrava-se ali, em 1950, uma etapa. Era preciso ressurgir das lágrimas do Estádio Jornalista Mario Filho para uma nova época de vitórias. A próxima copa seria em 1954, na Suíça, tínhamos quatro anos para esquecer o maracanaço. Esquecemos? Lembramos, certamente, de Barboza, de Juvenal, de Friaça... e de quem mais recordamos? No entando, jamais vamos esquecer de:


Máspoli,

Gambetta, Matias González e Rodriguez Andrade;

Tejera, Obdulio Varela, Julio Perez e Schiaffino;

Ghiggia, Miguez e Morán.

(continua)


Fonte: FIFA e arquivo de jornais.

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